domingo, dezembro 31, 2006

 

Para o Primo de Amarante, com votos de um Bom Ano de 2007, uma imagem da cidade de Amarante, neste último dia de 2006, esperando que continue a editar este seu Blog, rico de conteúdo e propostas de reflexão que acompanho com muito
interesse.

Ao companheiro de muitas lutas, um abraço do amigo

Hugo Silva

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Agradeço as tuas palavras amigas e generosamente simpáticas, mas não te esqueças que o blog (que não é meu) só existe, porque foste tu que o criaste.

Retribuo os votos de um Bom Ano de 2007 e torno extensivo este desejo a todos os que andam por esta Margem.


Jbmagalhaes

 


Transcrevo do http://www.causa-nossa.blogspot.com/ um texto que muito gostaria de ser eu a escrevê-lo:

«É o que representa a execução de Saddam Hussein. Um passo mais na escalada caótica de regressão civilizacional no Iraque e no mundo, cortesia da Administração Bush e governos coligados. Saddam foi um dos mais cruéis torcionários do sec. XX. Merecia um julgamento exemplar, processualmente inquestionável. E uma condenação severa, justa. Mas a pena de morte nunca pode ser justa: é uma barbaridade, ao nível das que Saddam cometeu. Cortesia da Administração Bush e governos coligados, sujeitaram-no antes a uma fantochada de justiça e executaram-no. Saddam merecia viver para cumprir pena pesada e expiar de forma humilhante as incontáveis atrocidades que ordenou contra o seu povo e outros povos. Para que morresse um dia sabendo que ninguém mais no mundo árabe dava o seu nome a um filho. Em vez disso, cortesia da Administração Bush e governos coligados, morreu confortado por se tornar um mártir para muitos sunitas. Porque não se julgou Saddam numa instância de justiça inquestionável, como poderia ser um tribunal no Iraque, mas obedecendo aos padrões do direito internacional e integrado por juízes, advogados e procuradores estrangeiros (americanos até), ao lado dos iraquianos?Porque não interessava fazer luz sobre muitos dos mais tenebrosos crimes cometidos pelo regime de Saddam Hussein. Porque muitas potências, com os EUA à cabeça, e muitos governantes estrangeiros (incluindo Donald Rumsfeld) haviam sido cúmplices ou encobridores desses mesmos crimes. Como o extermínio dos habitantes da aldeia curda de Halabja, em 1988».
[Publicado por AG] 30.12.06


sábado, dezembro 30, 2006

 

Saddam Hussein executado

Pouco antes das três da manhã (nossa hora) Saddam Hussein foi enforcado.

Hoje é o dia mais sagrado do calendário muçulmano. Receio bem que um conceito de justiça militar imposto pelos EU seja entendido como a expressão de uma guerra entre religiões.

Sempre fui contra a condenação à morte. Acho que é uma barbárie. Sempre pensei que a administração de George W. Bush, para além de estúpida e arrogante, ficará para a história como a administração que desprezou os direitos humanos e cavou o descrédito dos valores da nossa civilização (se é que ainda existem!...) perante o resto do mundo. E as consequências são previsíveis.

sexta-feira, dezembro 29, 2006

 

Joaquim:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irreflectidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto

In: Os Três Mal-Amados

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Enviado por Amélia Pais

 

Silêncio sobre o silêncio








Silêncio sobre as palavras que se acumulam
Silêncio sobre as madrugadas que anoitecem
Silêncio sobre a poesia que não volta à rua
Silêncio sobre as portas do desconhecido
Silêncio sobre o inolvidável – e que tristeza!
- feito de memória atada em nó cerrado entre dentes
Silêncio sobre o silêncio.

Foram capturados caminhos
Uma incomensurável distância
Castiga-nos com a saudade de amigos

Estamos mais sós!

quinta-feira, dezembro 28, 2006

 

Mais um amigo que partiu

Tinha chegado do Marco. O telefone tocou. O Mesquita atira-me a noticia: «Olha, o José Gomes Bandeira faleceu».
O José Gomes Bandeira não era um amigo: era um irmão. Conhecíamo-nos desde o tempo em que estive em Viseu a prestar serviço militar. Tinha estado com ele, há dias, na FNAC. Sempre que nos encontrávamos falávamos de tudo e de todos. Lembrou-me o vício da pesca e a minha mania de convidar toda a gente para ir comigo pescar. A propósito, recordou o episódio em que o seu afilhado, o João Martins, filho do Alberto Martins, depois da minha insistência, ter pedido à mãe para me dizer que não queria ir à pesca. Falamos depois sobre cinema, sobre livros, sobre amigos, sobre os que o deixaram de ser e sobre a viagem que ia fazer a Cabo Verde.
Disse-me a Leonida que estava a enviar-me uma mensagem, quando partiu.

 












nada os meus olhos deixarão na cinza
das vastas folhas envidraçadas: nem
o astrológico número das horas
autorizadas pela autoridade e sua penumbra.
a “penumbra da autoridade” vem vestida
de muitos horizontes com, aqui ou além, um barco
de velas estilhaçadas, ou a capa de um livro
de viagens na vitrina.
então o amor mistura-se com as coisas breves,
os pássaros, o rumor dos alicates na gaveta branca.
foi esta a sua história? esta canção pertence-lhe?
a “greve” alourou-lhe as sobrancelhas? estes olhos
têm plástico ao contrário. e o ruído
das torneiras no balde, mesmo
à beira do precipício,
é um inconveniente que convém manter
sob vigilância.

António Franco Alexandre
in “Poemas”, Assírio & Alvim
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Enviado por AméliaPais
http://barcosflores.blogspot.com/
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quarta-feira, dezembro 27, 2006

 

A memória de um amigo

Estava a ler o “Público”, quando a notícia implacável me chegou: José Leal Loureiro faleceu. Não sei o que li a seguir, mas lembro-me de ter recordado as reuniões que tivemos, muito antes do 25 de Abril, num andar que ele alugara num velho edifício, bem perto da Sé do Porto; de sentir o tapete onde nos sentávamos numa sala grande do seu andar para discutir e preparar algumas acções de intervenção política; de ter pensado na sua companheira dessa altura, a Isabel; de me vir à memória os tempos em que o visitei em França, onde esteve fugido à prisão; do que ele me disse, quando um dia me viu a ler “A Teoria da Revolução” de Vladimir Ilitch: «Deixa o Lenine! Lê bem Karl Marx -- nele está tudo o que é preciso saber». Lembrei-me da “Afrontamento”, da “Confronto” e da “Regra do Jogo”; de ter estado com ele nas Edições “Afrontamento” e na "Cooperativa Confronto”. Lembrei-me de Sartre. O José Leal Loureiro conhecia-o e trouxe-o ao Porto, logo após o 25 de Abril. Lembrei-me dos “Cadernos de Circunstância”, de muitos amigos comuns e senti que também estava já na fila da implacável lei da vida.

Ainda quis ir ao seu funeral, mas, sem saber como, perdi-me no trânsito. E que iria lá fazer? Ouvir falar de amigos comuns que já partiram, ver sofrer gente de quem gosto!?...

Regressei a casa. O José Leal Loureiro compreenderá por que não estive na sua última despedida. Até breve, José!

terça-feira, dezembro 26, 2006

 

2006 será o seu ANO.
Fã de tudo e de todos, mas sobretudo da “nota”

segunda-feira, dezembro 25, 2006

 

A moda pegará?!...

O bispo católico Fernando Lugo acaba de anunciar que renunciou, esta segunda-feira, oficialmente ao bispado para se candidatar às eleições presidenciais do Paraguai, previstas para 2008. Pretende, assim, liderar a oposição ao Partido Colorado, no poder desde 1947.

A isto se chama “dar a cara” na política. Será que a moda pega?! …

A maioria dos bispos habituaram-nos a desempenhar este papel de outra forma.

domingo, dezembro 24, 2006

 
Mateus Capítulo : 5

1 Jesus, pois, vendo as multidões, subiu ao monte; e, tendo se assentado, aproximaram-se os seus discípulos,

2 e ele se pôs a ensiná-los, dizendo:

Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.

4 Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.

5 Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.

6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos.

7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.

8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.

9 Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.

10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa.

12 Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós.

13 Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? para nada mais presta, senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens.

14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte;

15 nem os que acendem uma candeia a colocam debaixo do alqueire, mas no velador, e assim ilumina a todos que estão na casa.

16 Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.

De Louis Aragon:

Il n'y a pas d'amour heureux

Rien n'est jamais acquis à l'homme
Ni sa forceNi sa faiblesse ni son coeur
Et quand il croit
Ouvrir ses bras son ombre est celle d'une croix
Et quand il croit serrer son bonheur il le broie
Sa vie est un étrange et douloureux divorce

Il n'y a pas d'amour heureux

Sa vie Elle ressemble à ces soldats sans armes
Qu'on avait habillés pour un autre destin
A quoi peut leur servir de se lever matin
Eux qu'on retrouve au soir désoeuvrés incertainsDites ces mots
Ma vie Et retenez vos larmes

Il n'y a pas d'amour heureux

Mon bel amour mon cher amour ma déchirure
Je te porte dans moi comme un oiseau blessé
Et ceux-là sans savoir nous regardent passer
Répétant après moi les mots que j'ai tressés
Et qui pour tes grands yeux tout aussitôt moururent

Il n'y a pas d'amour heureux

Le temps d'apprendre à vivre il est déjà trop tard
Que pleurent dans la nuit nos coeurs à l'unisson
Ce qu'il faut de malheur pour la moindre chanson
Ce qu'il faut de regrets pour payer un frisson
Ce qu'il faut de sanglots pour un air de guitare

Il n'y a pas d'amour heureux

Il n'y a pas d'amour qui ne soit à douleur
Il n'y a pas d'amour dont on ne soit meurtri
Il n'y a pas d'amour dont on ne soit flétri
Et pas plus que de toi l'amour de la patrie
Il n'y a pas d'amour qui ne vive de pleurs

Il n'y a pas d'amour heureux

Mais c'est notre amour à tous les deux

Louis Aragon (La Diane Francaise, Seghers 1946)

[Este poema, como se sabe, foi cantado por Françoise Hardy]

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Obrigado Amélia Pais

sábado, dezembro 23, 2006

 

Um titulo trivial

No DIÁRIO ECONÓMICO de ontem está escrito :

"BARROSO ACUSADO DE SÓ APOIAR PAÍSES GRANDES”

E acrescenta: «Comissários Europeus de peso, como Mcgreevy, Mandelson e Kroes, acusam Barroso de ceder ao eixo Paris-Berlim para garantir segundo mandato».

Mas esperavam que Durão Barroso apoiasse os que não têm poder, os mais pobres e os mais oprimidos?!...

Durão Barroso apenas segue a “linha justa” a que nos habituaram os governantes.


Naturalmente, o que lhes dá votos é falar dos pobres, oprimidos… blá… blá… blá…

sexta-feira, dezembro 22, 2006

 
Transmutação do PAI NATAL

 

DESPONDENCY





















Deixá-la ir, a ave, a quem roubaram
Ninho e filhos e tudo, sem piedade...
Que a leve o ar sem fim da soledade
Onde as asas partidas a levaram...

Deixá-la ir, a vela que arrojaram
Os tufões pelo mar, na escuridade,
Quando a noite surgiu da imensidade,
Quando os ventos do Sul se levantaram...

Deixá-la ir, a alma lastimosa,
Que perdeu fé e paz e confiança,
À morte queda, à morte silenciosa...

Deixá-la ir, a nota desprendida
Dum canto extremo... e a última esperança...
E a vida... e o amor... deixá-la ir, a vida!

Antero de Quental (1842 - 1891)


Enviado por Amélia Pais

quinta-feira, dezembro 21, 2006

 














Todo o meu ser é um cântico negro
que te levará
fazendo-te durar
ao despertar dos crescimentos e florescimentos eternos
neste cântico eu suspirei tu suspiraste
neste cântico
eu acrescentei-te à árvore à água ao fogo.

A vida é talvez
uma rua comprida pela qual uma mulher segurando
um cesto passa todos os dias.

A vida é talvez
uma corda com a qual um homem se enforca num ramo
a vida é talvez uma criança a regressar a casa da escola.

A vida é talvez acender um cigarro
na pausa narcótica entre fazer amor e fazer amor
ou o olhar ausente de um homem que passa
tirando o chapéu a um outro homem que passa
com um sorriso vazio e um bom dia.

A vida é talvez esse momento fechado
quando o meu olhar se destrói na pupila dos teus olhos
e está no sentimento
que eu irei pôr na impressão da Lua
e na percepção da Noite.

Num quarto grande como a solidão
o meu coração
que é grande como o amor
olha os simples pretextos da sua felicidade
o belo murchar das flores no vaso
a jovem árvore que plantaste no teu jardim
e o canto dos canários
que cantam para o tamanho de uma janela.

Ah
este é o meu destino
este é o meu destino
o meu destino é
um céu que desaparece com a queda de uma cortina
o meu destino é despenhar-me no voo de estrelas agora inúteis
reconquistar qualquer coisa no meio da putrefacção e da nostalgia
o meu destino é um passeio triste no jardim das memórias
e morrer na dor de uma voz que me diz
eu amo
as tuas mãos.

Irei plantar as minhas mãos no jardim
crescerei eu sei eu sei eu sei
e as andorinhas virão pôr ovos
no vazio das minhas mãos manchadas de tinta.

Vou usar
um par de cerejas gémeas como brincos
e pôr pétalas de dália nas minhas unhas
há um beco
onde os rapazes que se apaixonaram por mim
se demoram ainda com o mesmo cabelo despenteado
os mesmos pescoços finos e as mesmas pernas magras
e pensam nos sorrisos inocentes de uma rapariga
que foi levada pelo vento uma noite.

Há um beco
que o meu coração roubou
às ruas da minha infância.
A viagem de uma forma na linha do tempo
fecundando a linha do tempo com a forma
uma forma consciente de uma imagem
a regressar de uma carícia num espelho.

E é desta maneira
que alguém morre
e alguém segue vivendo.

Nenhum pescador jamais achará uma pérola num pequeno regato
que se esvazia num lago.

Eu conheço uma pequena e triste fada
que vive num oceano
e toca a flauta mágica do seu coração
suave, suavemente
pequena e triste fada
que morre com um beijo todas as noites
e com um beijo renasce a cada amanhecer.

Forough Farrokhzad -Irão
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Enviado por Amélia Pais
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quarta-feira, dezembro 20, 2006

 
Obrigado, velho amigo José Escaleira.
Permite-me que torne extensivo este lindo postal aos amigos deste bolg.

 

terça-feira, dezembro 19, 2006

 
A todos os que visitam este blog e o enriquecem com comentários desejo um Natal Feliz e um Ano Novo que corresponda às suas melhores expectativas.

 

POEMA II















queria dizer-te como as minhas mãos te procuram.
como há um sentido próximo à nossa delicadeza.

queria que soubesses a música. o mar dentro da concha.

um gesto com o pesar da sede. a coincidência da paz.

queria que regressasses bebendo deste poema anelante.

a tempo de escutares a impassível alma dos pássaros.
desentardecendo a meu lado. azulando a última flor.

porque tudo se levanta no murmúrio breve do outono.

tudo se perpetua. tudo se reacende. tudo se comemora.
unindo as águas dos sentidos à mais longa hora do dia.
suspendendo docemente um dos lados do esquecimento.

e tudo procura uma voz. um rio. uma irreversível alegria.
uma inspiração. um gesto interior ao coração do tempo.

uma palavra pulsando fremindo a folhagem da ternura.
as mãos cercando o teu corpo. a tua voz diluindo a sede.


daniel gonçalves

Obs.:este poeta tem o blogue:

afectos e palavras-
http://afectosepalavras.blogspot.com/


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Enviado por Amélia Pais
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segunda-feira, dezembro 18, 2006

 









o meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher
entra em casa pela janela e não pela porta
por uma porta entra-se em muitos sítios
no trabalho, no quartel, na prisão,
em todos os edifícios do mundo
mas não no mundo

juan gelman

Enviado por Amélia Pais

sexta-feira, dezembro 15, 2006

 

Ainda há quem tenha bons sentimentos...

De vez em quando mudo de passeio para não me encontrar com tipos “chatos”. Desta vez não consegui. E o tipo atira-me à queima-roupa: «já leste o livro da Carolina?!..» Devolvi-lhe a pergunta. Nunca mais me largava com aquelas explicações moraleiras que, depois de as ouvir, sempre me fizeram sentir a necessidade de meter a mão ao bolso para me certificar se ainda tinha a carteira. Lembrei-me duma conversa que há muito tempo tinha tido com a mesma criatura. Nessa conversa, ele, que hoje se insurgia contra a ligação de Pinto da Costa a Carolina, defendia, como manifestação de superioridade moral, o Presidente do FCP fazer-se acompanhar publicamente da mulher de quem gostava, apesar de toda a gente saber que a tinha encontrado num bar de alterne.

São, assim, as criaturas muito moraleiras.

Contrariando a sua declarada recusa em ler o livro, entrei na FNAC e comprei “Eu, Carolina”.

Carolina começa por dedicar a autobiografia do seu mundo à família e termina nestes termos: “E, por fim, ao Jorge Nuno, por tudo o que me ensinou. Sem ele, este livro nunca teria sido possível”.

E, para que a autobiografante tenha paz e tranquilidade, o “Tal & Qual” garante que “Diabos vermelhos protegem Carolina”.

Como se vê, ainda há quem tenha bons sentimentos.

 

há-de flutuar uma cidade...













há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulhere
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentado à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem

ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma

pérola no
coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século

recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a

felicidade

Alberto

Enviado por Amélia Pais

quinta-feira, dezembro 14, 2006

 

Uma medida que se aplaude.

A procuradora-geral adjunta, Maria José Morgado, foi nomeada para dirigir e coordenar todos os processos relativos ao caso " Apito Dourado".

A concentração dos inquéritos numa única equipa constitui uma esperança de que a complexidade dos ilícitos que se prendem com o chamado caso “Apito Dourado” não venha a frustrar expectativas.

A medida, agora, tomada vale mais do que cem comunicados a garantir intenções ou de lamentações. Esta é uma medida prática que racionaliza a operacionalidade, dá uma imagem de eficácia, prestigia os responsáveis pela aplicação da Justiça e, por isso, credibiliza o sistema. Todos os que estão preocupados com a inoperância do sistema judicial não deixarão, por certo, de apoiar esta medida estejam eles na comunicação social ou noutras instituições.

É com medidas do género que a Justiça ganha credibilidade e não com apelos a solidariedades institucionais ou da comunicação social. Apelos que não poderão ser entendidos senão como sintomas de fragilidades. O que é mau!


Queremos uma Justiça que se baste a si própria e, por isso, se exerça com autoridade, independência e sentido profissional.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

 

Estou banzado!!!!...

Noticia, hoje, o “Público”: «Número dois do DIAP onde se investiga “Apito Dourado” aceita cargo na Federação de Futebol». E a notícia acrescenta. «O outro vice-presidente daquele organismo (Conselho de Justiça da FPF) é outro magistrado». Mais adiante, referindo-se a um destes magistrados, escreve-se: «ao magistrado em causa estão afectas as investigações dos crimes mais complexos» da corrupção no futebol.

No mesmo Jornal, e na página seguinte, vem outra notícia: o Presidente do Sindicato dos Ministério Público insurge-se contra o Governo, nos seguintes termos: “O poder político, sempre tão zeloso na defesa dos direitos, liberdades e garantias não foi capaz de transmitir uma palavra de apoio, de incentivo, de solidariedade aos elementos que conduziram a investigação deste caso» (referindo-se ao “Apito Dourado”).

O dirigente sindical nada diz sobre a aceitação de cargos (nas condições e no contexto em que são aceites) nos órgãos da justiça da FPF pelos magistrados. Também não se percebe que palavra haveria de ter o Governo, sem correr o risco de ser acusado de se imiscuir num assunto que é do foro da Justiça! Além disso, não estará nas mãos do Ministério Público fazer aplicar a «defesa dos direitos, liberdades e garantias»?!...

Acreditem: estou banzado!!!!...

terça-feira, dezembro 12, 2006

 

Aniversário de Gustave Flaubert


"O que o dinheiro faz por nós não compensa o que fazemos por ele".

Gustave Flaubert nasce em Rouen, 1821 e morre em Croisset, próximo de Rouen, 1880.

"Madame Bovary" é um seu romance de amor de enorme transcendência na literatura moderna. Conta o caso de uma burguesa provinciana com a imaginação exaltada pelas leituras românticas. Emma Bovary, levada pela ambição de uma vida mais intensa que a que pode dar-lhe o ambiente em que vive com o marido, um médico de aldeia medíocre e simples, corre várias infelizes e turvas aventuras com sem-vergonhas mais ou menos proveitos, precipitando-se num desespero escandaloso que a leva ao suicídio.

Está maravilhosamente pintado o contraste entre as ansiedades apaixonadas e ardentes de Emma e a povoação e os personagens que a rodeiam.

Flaubert leva à perfeição o romance realista e consegue a mais completa harmonia entre a arte e a realidade. Para ele, a verdade e a beleza vão unidas; por isso põe tanto cuidado na sintaxe e na escolha do vocabulário e concede tanta importância à estrutura. Na sua obra literária, não muito extensa, Flaubert aspira à criação de um conjunto harmónico, à elaboração de toda uma trama simbólica que une os diferentes personagens.

A sensibilidade de Flaubert chega a cair no sentimentalismo e, nesses momentos, entrega-se ao deísmo e a vagos sentimentos rousseaunianos envoltos em oratória; mas quando se recupera destes desvios a obra de Flaubert, trabalhada com uma ânsia de perfeição e um esforço quase dolorosos, é uma maravilha de harmonia e de realidade.

Os romances e contos de Flaubert oferecem um panorama do realismo em diversos campos. Madame Bovary e Bouvard et Pécuchet movem-se no campo do realismo burguês. Salammbô no do realismo histórico. Os Três Contos caracterizam-se pelo seu realismo imaginativo e romântico e A Educação Sentimental mostra um amplo realismo vital.

Retirado de um e-mail enviado por Amélia Pais

segunda-feira, dezembro 11, 2006

 

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Adira à Festa Universal da Humanidade

Hoje, comemora-se mais um aniversário da carta dos Direitos Humanos.

Inscreva-se, aqui:

http://www.oei.es/decada/boletin014.htm

 

Continua o processo contra Pinochet

O juiz espanhol Baltasar Garzon, defendeu, hoje, a continuação das acções judiciais iniciadas contra o ex-ditador chileno.

Está em causa a necessidade de obtenção de uma «reparação» para as vítimas «que não foram apenas as de Pinochet, mas também de outras pessoas militares e não militares», declarou Garzon.

De facto, o julgamento da história esquece-se sempre das vítimas e dos que beneficiaram das acções dos facínoras.

domingo, dezembro 10, 2006

 

Morreu o ditador Pinochet

Com 91 anos morreu o antigo ditador chileno, general Augusto Pinochet.

Este homem, através de um golpe militar apoiado pelos EU, depôs de forma cruel e assassina, o Presidente, democraticamente eleito, Salvador Allende.

Durante 17 anos, Pinochet impôs ao Chile uma ditadura cruel, sendo responsável por três mil opositores mortos, cerca de 200 mil exilados e milhares de torturados nas prisões do general.

Em 1998 foi detido em Londres por ordem do juiz espanhol, Baltazar. E este facto pode ser o prenúncio de uma justiça global, aplicável em tempo de vida a todos os ditadores que vagueiam por este mundo. E isso é positivo.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

 

A autobiografia do mundo de Carolina

Não sei por que há quem se espante com as declarações da ex-mulher de Pinto da Costa!

O espanto para mim só está na menina Carolina Salgado ter publicado uma autobiografia do seu mundo. Tirou o véu àquilo de que, em surdina, muita gente suspeitava.


Sabia-se que algumas máfias com interesses cruzados na política e no futebol eram capazes de tudo para calarem as vozes incómodas que se erguiam no direito/dever de exercerem a cidadania. Pois é do exercício da cidadania que se trata, quando Ricardo Bexiga denunciou a promiscuidade entre a política e o futebol, ou quando Gil Mendes e, depois, eu próprio, denunciamos as arbitrariedades e ilegalidades do ex-presidente da Câmara do Marco.

Na altura, Gil Mendes foi convidado a ir à autarquia receber um subsídio e saiu de lá todo partido, com uma tareia. O Tio de Gil Mendes, que havia testemunhado algumas denúncias, foi agredido violentamente junto à sua casa comercial e eu recebi, durante meses e meses, telefonemas anónimos com ameaças (sabia-se bem de quem só poderiam vir e isso foi, por mim, denunciado. Um critico de Avelino, conhecido pela tára de escrever cartas anónimas tornara-se seu assessor). E repare-se: numa das primeiras vezes consegui apanhar o número do telemóvel e esse número, inclusivamente, apareceu quando fazia, diante de agentes da PJ, as denúncias e imediatamente disse aos agentes: «olhem, cá está ele!» E nada resultou.

De tudo isto foi dado conta a quem de direito e tornado público. Muita gente assobiou para o lado. Não se conheceu, com excepção do Bloco de Esquerda (nada tenho a ver com esta força política), nenhuma reacção dos partidos, muito embora todas as denúncias tivessem a ver com determinada forma de estar na política, fazer política e utilizar dinheiros dos contribuintes. O que diz muito da qualidade da democracia e das preocupações dos partidos.


Aliás, não sei se seria mais correcto falar em oligarquias partidárias: os líderes de uns partidos cruzem famílias com os de outros partidos, saltam para a coluna dos notáveis partidários e aí ficam para a eternidade (sempre exigindo que lhes agradeçamos o favor de se terem por alguém), são sempre os mesmos a serem ouvidos pela comunicação social e escolhidos para cargos importantes, dizem as mesmas coisas (só variando o pólo em que se encontram) e há já famílias a dominar territórios partidários (como é o caso do PS no Porto).

Voltando ao fundamental: não sei se o “Caso Carolina”, como ficará para a história, terá consequências! Só me recordo do processo que me foi movido, onde a acusação dizia que eu “sabia muito bem que era mentira o que afirmava”, coisa que eu, sinceramente, não sabia!


Fui a julgamento. Durante o julgamento, o Avelino era tratado por Doutor e eu por sr. … Além disso, Avelino permitiu-se afirmar em pleno tribunal que eu "não tinha corpo para duas latadas”. Nada lhe aconteceu.

A absolvição disse-me tanto como se fosse condenado. E, por que até hoje nada aconteceu ao Avelino, continuo a pensar que, em matéria deste género, deveriam dar uma comenda ao Avelino. Já, agora, a todos os Avelinos da Carolina ou de outras carolinas.

Como imaginam, em expecativas de se fazer justiça, eu estou aviado.

Só há, no “caso carolina” um pormenor que me satisfaz: o sorriso que estou a ver desprender-se do magistrado honesto e com sentido profissional que se empenhou neste caso. O seu sorriso vale a autobiografia do mundo de Carolina.

Se valesse a pena, ainda emigrava!


A bem da Pátria, espero, pelo menos, que os Gatos Fedorentos tirem partido destas cenas e dos capítulos que lhes sucederão.

 

Florbela Espanca (1894-1930)




















OUTONAL

Caem as folhas mortas sobre o lago!
Na penumbra outonal, não sei quem tece
As rendas do silêncio... Olha, anoitece!
-Brumas longínquas do País Vago...

Veludos a ondear... Mistério mago...
Encantamento... A hora que não esquece,
A luz que a pouco e pouco desfalece,
Que lança em mim a bênção dum afago...

Outono dos crepúsculos doirados,
De púrpuras, damascos e brocados!
_ Vestes a Terra inteira de esplendor!


Outono das tardinhas silenciosas,
Das magníficas noites, voluptuosas
Em que soluço a delirar de amor...
____


Enviado por Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com/
http://cristalina.multiply.com/

quinta-feira, dezembro 07, 2006

 

Pobre Marco!!!...

Vejam em http://www.oanonimoanonimo.blogspot.com/as últimas do último Regedor do Marco. Dizem que já trocou os amores de Amarante pelos do Marco.
Pobre Marco!!!...

 

Sondagem

Segundo a Eurosondagem, se as eleições legislativas fossem hoje, o PS manter-se-ia no Governo.

O PS recuperou nas intenções de voto, enquanto os sociais-democratas, em relação ao mês passado, continuam em queda.

PS- 43.7
PSD -32.2
CDU – 9,2
CDS/PP - 4,6
BE – 6,9

Porque será?!...

Para se perceber o estado de espírito da maioria dos sondados, basta, no meu entender, ter em consideração dois factores:
a)- a confusão que reina no PSD, descaracterizado ideológicamente e com várias figuras a atropelarem-se na procura de protagonismo
b)-o facto do PS estar a fazer o que o PSD não conseguiu (isto nas palavras do próprio governo socialista)

Mas, pode acontecer que quando o PS olhar para trás, já não encontre socialistas.

 

Só o diálogo é solução

O relatório da comissão independente que analisou a situação no Iraque não deixa dúvidas: não há solução militar para a guerra no Iraque. "Os Estados Unidos devem encontrar um meio para falar com o ayatollah Ali Sistani (a mais alta autoridade xiita do Iraque), com Moqtada Sadr (o maior adversário da ocupação) e com os líderes das milícias e dos rebeldes", indicou o relatório.

Só o diálogo com todas as forças envolvidas nesta guerra pode obter a pacificação.

Recordamos um “delgado” analista que quase todos os dias entra pela nossa casa dentro através da TV, afirmando convictamente: “Para os Americanos esta guerra é um passei pelo Oriente e vão morrer menos gente no Iraque que nas estradas portuguesas”.

Os que olham para as guerras como jogos de poder são assim. A guerra não é mero jogo de poder, nem o negócio do armamento: a guerra é sofrimento é fome, é miséria, como diria o Padre António Vieira.


Só o diálogo pode resolver conflitos. Por que será que esta conclusão, evidente em todas os conflitos, tem o preço de milhares de mortes, chegando sempre muito tarde!...

 

A Lágrima


















Manhã de Junho ardente. Uma encosta escavada,
Seca, deserta e nua, à beira d'uma estrada.

Terra ingrata, onde a urze a custo desabrocha,
Bebendo o sol, comendo o pó, mordendo a rocha.

Sobre uma folha hostil duma figueira brava,
Mendiga que se nutre a pedregulho e lava,

A aurora desprendeu, compassiva e divina,
Uma lágrima etérea, enorme e cristalina.

Lágrima tão ideal, tão límpida, que ao vê-la,
De perto era um diamante e de longe uma estrela.

Passa um rei com o seu cortejo de espavento,
Elmos, lanças, clarins, trinta pendões ao vento.

- "No meu diadema, disse o rei, quedando a olhar,
Há safiras sem conta e brilhantes sem par,

"Há rubins orientais, sangrentos e doirados,
Como beijos d'amor, a arder, cristalizados.

"Há pérolas que são gotas de mágoa imensa,
Que a lua chora e verte, e o mar gela e condensa.

"Pois, brilhantes, rubins e pérolas de Ofir,
Tudo isso eu dou, e vem, ó lágrima, fulgir

"Nesta c'roa orgulhosa, olímpica, suprema,
Vendo o Globo a teus pés do alto do teu diadema!"

E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Ouviu, sorriu, tremeu, e quedou silenciosa.

Couraçado de ferro, épico e deslumbrante,
Passa no seu ginete um cavaleiro andante.

E o cavaleiro diz à lágrima irisada:
"Vem brilhar, por Jesus, na cruz da minha espada!

"Far-te hei relampejar, de vitória em vitória,
Na Terra Santa, à luz da Fé, ao sol da Glória!

"E à volta há-de guardar-te a minha noiva, ó astro,
Em seu colo auroreal de rosa e de alabastro.

"E assim alumiarás com teu vivo esplendor
Mil combates de heróis e mil sonhos d'amor!"

E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Ouviu, sorriu, tremeu e quedou silenciosa.

Montado numa mula escura, de caminho,
Passa um velho judeu, avarento e mesquinho.

Mulas de carga atrás levavam-lhe o tesoiro:
Grandes arcas de cedro, abarrotadas d'oiro.

E o velhinho andrajoso e magro como um junco,
O crânio calvo, o olhar febril, o bico adunco,

Vendo a estrela, exclamou: "Oh Deus, que maravilha!
Como ela resplandece, e tremeluz, e brilha!

"Com meu oiro em montão podiam-se comprar
Os impérios dos reis e os navios do mar,

"E por esse diamante esplêndido trocara
Todo o meu oiro imenso a minha mão avara!"

E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Ouviu, sorriu, tremeu, e quedou silenciosa.

Debaixo da figueira, então, um cardo agreste,
Já ressequido, disse à lágrima celeste:

"A terra onde o lilás e a balsamina medra
Para mim teve sempre um coração de pedra.

"Se a queixar-me, ergo ao céu os braços por acaso,
O céu manda-me em paga o fogo em que me abraso.

"Nunca junto de mim, ulcerado de espinhos,
Ouvi trinar, gorjear a música dos ninhos.

"Nunca junto de mim ranchos de namoradas
Debandaram, cantando, em noites estreladas.

"Voa a ave no azul e passa longe o amor,
Porque ai! Nunca dei sombra e nunca tive flor!...

"Ó lágrima de Deus, ó astro, ó gota d'água,
Cai na desolação desta infinita mágoa!"

E a lágrima celeste, ingénua e luminosa,
Tremeu, tremeu, tremeu... e caiu silenciosa!...

E algum tempo depois o triste cardo exangue,
Reverdecendo, dava uma flor cor de sangue,

Dum roxo macerado, e dorido, e desfeito,
Como as chagas que tem Nosso Senhor no peito...

E ao cálix virginal da pobre flor vermelha
Ia buscar, zumbindo, o mel doirado a abelha!...

abílio guerra junqueiro (1850-1923)

_______
Enviado por Amélia Pais
______________

Nota pessoal:

Nunca poercebi por que foram retirados dos programas do ensino secundário os poetas da última fase do romantismo, como Guerra Junqueiro e Gomes Leal. Será que estes poetas não ajudariam a desenvolver nos jovens uma sensibilidade ecológica, promover o amor à Terra, a ligação ao "humus"e às referências da memória?!...

A memória das origens, da protecção familiar, da vida em comum e das expectativas em relação à vida e ao mundo fazem a nossa identidade. Não há família, nem amigos, sem a memória de encontros, de afectos e de utopias.

Pela memória, o homem é espírito, abre-se aos valores e constrói o Futuro. A memória é central na coesão da família, dos amigos e da vida social.

A própria democracia exige memória. Sem memória, a vontade colectiva não se afirma . No meu entender, a crise da democracia é sobretudo um reflexo do despreso pela memória.

terça-feira, dezembro 05, 2006

 

Forças Armadas no "Prós & Contras"

O “Prós & Contras” debateu, ontem, a questão das Forças Armadas.

O debate centrou-se na diferença entre funcionários públicos e forças armadas e no problema da disciplina militar. Mas a sombra negra que percorreu toda a discussão foi o “passeio do descontentamento” com que os militares manifestaram a sua indignação relativamente á forma como o Governo os tem tratado. Houve quem utilizasse a metáfora da boa e má moeda, para dizer que umas forças armadas sindicalizadas (má moeda)acabavam por se impor à própria hierarquia militar (boa moeda) e isso constituía um perigo para a democracia. Este receio conduziu à ideia de que a governamentalização das chefias militares acabava por promover a sindicalização das mesmas, retirando autoridade à cadeia de comando.

Talvez, porque esta questão se tornasse no grande receio dos participantes do debate, a disciplina militar foi apresentada como uma relação de poder cego, estando para além da lei e dos tribunais que a interpretam.

Não se compreende esta forma de entender a disciplina que faz dos militares meras peças de uma máquina. Num Estado de Direito a disciplina é uma relação com uma autoridade cujo poder é delegado e enquadra-se no respeito pelas regras constitucionais.

Um governo, como responsável superior, não pode consentir que, num Estado de Direito, as forças armadas constituam uma ilha indiferente aos Tribunais e à Costituição da República.


Aceitamos que as forças armadas tenham um estatuto diferente dos funcionários públicos pela sua própria especificidade (dão a vida pela Nação), mas não queremos que estejam à margem da democracia e, particularmente, da Constituição da República.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

 

Dá que pensar!!!...

Será que a Igreja, os partidos, as organizações de pais, etc., vão ficar, perante as conclusões do relatório da “condição juvenil portuguesa na viragem do milénio”, indiferentes?!...

O estudo salienta que em número cada vez maior, os jovens são dependentes da família, têm dificuldades em conseguir emprego estável, adiam para muito tarde o casamento, sentem que não têm condições para ter filhos, praticamente 50 por cento dos jovens empregados em 2004 não têm mais do que a escolaridade mínima obrigatória e 35 por cento não completaram os nove anos de escolaridade obrigatória.

É que os problemas do desenvolvimento do País, da natalidade, da inclusão, da segurança, da inserção social dos jovens e do seu futuro, da estruturação da sociedade passam por aqui. Será que as políticas económicas, de educação e do trabalho estão a dar um sentido ao futuro dos nossos filhos?!...

Que sociedade queremos para amanhã?!...

domingo, dezembro 03, 2006

 













Arca

Tenho,
na velha arca,
minha provisão
de estrelas.

Noites quietas
e nítidas manhãs.

Asas
sobre a tarde.

Um campo de lilases
na tela de Monet.

Cisnes sobre o lago
de Lugano.

E as pupilas
Luminosas
de um cão.

O perfume
do tabaco
impregnando
a casa.

E, no silêncio,
o livro,
a palavra.

Ivanira Bohn Prado (Brasil -contemporânea)
_______
Enviado por Amélia Pais

sábado, dezembro 02, 2006

 

Aniversário de Maria Calas

Biografia

Filha de imigrantes
gregos, Άννα Μαρία Καικιλία Σοφία Καλογεροπούλου (Ánna María Cecilía Sofía Kalogerópulu) nasceu em Nova Iorque. Devido às dificuldades económicas de seus pais, teve que regressar à Grécia com a mãe em 1937. Estudou canto no Conservatório de Atenas, com a soprano coloratura Elvira de Hidalgo.

Existem diferentes versões sobre sua estreia. Alguns situam-na em
1937, como Santuzza em uma montagem estudantil da Cavalleria Rusticana, de Mascagni; outros, à Tosca (Puccini) de 1941, na Ópera de Atenas. De todo modo, seu primeiro papel na Itália teve lugar em 1947, na Arena de Verona, com a ópera La Gioconda, de Ponchielli, sob a direcção de Tullio Serafin, que logo se tornaria seu “mentor”.

Callas começou a despontar no cenário lírico em
1948, com uma interpretação bastante notável para a protagonista da ópera Norma, de Bellini, em Florença. Todavia, sua carreira só viria a projectar-se em escala mundial no ano seguinte, quando a cantora surpreendeu crítica e público ao alternar, na mesma semana, récitas de I Puritani, de Bellini, e Die Walküre, de Wagner. Ela preparara o papel de Elvira para a primeira ópera em apenas dois dias, a convite de Serafin.

A partir dos
anos 50, Callas começou a apresentar-se regularmente nas mais importantes casas de espectáculo dedicadas à ópera, tais como La Scala, Convent Garden e Metropolitan. Sua voz começou a apresentar sinais de declínio no final dessa década, e a cantora diminuiu consideravelmente suas participações em montagens de óperas completas, limitando sua carreira a recitais e noites de gala e terminando por abandonar os palcos em 1965.
No início dos
anos 70, passou a dedicar-se ao ensino de música na Juilliard School. Em 1974, entretanto, retornou aos palcos para realizar uma série de concertos pela Europa, Estados Unidos e Extremo Oriente ao lado do tenor Giuseppe Di Stefano. Sucesso de público, o programa foi todavia massacrado pela crítica especializada, e Callas decidiu abandonar, desta vez em definitivo, a carreira de cantora lírica.

Recolhida em seu apartamento na cidade de
Paris, Callas faleceu em 1977 - pouco antes de completar 54 anos - em decorrência de um ataque cardíaco. Atendendo a seu pedido, suas cinzas foram espalhadas no Mar Egeu.

Vida pessoal

Maria Callas foi a mais controversa e possivelmente a mais dedicada intérprete lírica. Com uma voz de considerável alcance, Callas encantou nos teatros mundiais de maior destaque. Esta intérprete, senhora de raros dotes vocais e interpretativos, revolucionou o mundo da Ópera trazendo-a novamente às origens. Para Maria Callas a expressão vocal era primordial em detrimento dos exageros vocais injustificados - tudo na Ópera tem que fazer sentido por forma a dar ao público algo que o mova, algo credível. Esta foi a mais destacada e famosa cantora lírica e fez jus à sua fama, pois interpretou várias dezenas de Óperas de diversíssimos estilos. Callas perpetuou-se em papéis como Medea, Norma, Tosca, Violetta, Lucia, Gioconda, Amina, entre outros, continuando, nestes papéis, a não existir nenhuma artista que lhe faça sombra.

Um dos aspectos que certamente contribuiu para a lenda que se formou em torno de Maria Callas diz respeito a sua conturbada vida pessoal. Dona de um temperamento forte (sofria de Transtorno de Humor Bipolar), que parecia o correlato perfeito para a intensa carga dramática com que costumava abordar suas personagens no palco (veja abaixo), tornou-se famosa por indispor-se com maestros e colegas em nome de suas crenças estéticas. Em 1958, entrou em disputa com Antonio Ghiringhelli e deixou de apresentar-se no
La Scala enquanto ele permaneceu como director do teatro; no mesmo ano, foi sumariamente demitida do Metropolitan por Rudolf Bing.

Em
1959, rompeu um casamento de dez anos com seu empresário G. B. Meneghini, muito mais velho do que ela. Manteve, em seguida, uma tórrida relação com o milionário grego Aristoteles Onassis, com quem não foi feliz e que rendeu variado material para tablóides sensacionalistas.
Trabalhava intensamente e em mais de uma ocasião subiu aos palcos contra a recomendação de seus médicos. Com um forte resfriado, escapou em
2 de janeiro de 1958 da Ópera de Roma pela porta dos fundos após um primeiro ato sofrível de Norma, de Bellini, em uma récita prestigiada pelo então presidente da Itália, Giovanni Gronchi. Em 29 de maio de 1965, ao concluir a primeira cena do segundo ato de Norma, Callas desfaleceu e a apresentação foi interrompida.

Poucos sopranos podem rivalizar com Callas no que diz respeito à capacidade de despertar reacções intensas entre seus admiradores e detractores. Elevada à categoria de “mito” e conhecida mesmo fora do círculo de amantes de
ópera, ela criou em torno de si uma legião de fanáticos entusiastas capazes de defender a todo custo os méritos da cantora. Apesar da mútua amizade, as disputas entre seus fãs e os de Renata Tebaldi tornaram-se célebres, chegando mesmo em alguns casos às vias de fato.

Características

Callas possuía uma voz poderosa que, embora não se destacasse pela beleza do timbre, possuía amplitude fora do comum. Isto permitia à cantora abordar papéis desde o alcance do
mezzo-soprano até o do soprano coloratura. Com domínio perfeito das técnicas do canto lírico, possuía um repertório incrivelmente versátil, que incluía obras do bel canto (Lucia de Lammermoor, Anna Bolena, Norma), de Verdi (Un ballo in maschera, Macbeth, (La Traviata) e do verismo italiano (Tosca), e até mesmo Wagner (Tristan und Isolde, Die Walküre).

Apesar destas características, Callas entrou para a história da ópera por suas inigualáveis habilidades cénicas. Levando à perfeição a habilidade de alterar a "cor" da voz com o objectivo de expressar emoções, e explorando cada oportunidade de representar no palco as minúcias psicológicas de suas personagens, Callas mostrou que era possível imprimir dramaticidade mesmo em papéis que exigiam grande virtuosismo vocal por parte do intérprete - o que usualmente significava, entre as grandes divas da época, privilegiar o canto em detrimento da cena.
Muitos consideram que seu estilo de interpretação imprimiu uma revolução sem precedentes na ópera. Segundo este ponto de vista, Callas seria tributária da importância que assumiram contemporaneamente os aspectos cénicos das montagens. Em particular, é claramente perceptível desde a segunda metade do
século XX uma tendência entre os cantores em favor da valorização de sua formação dramatúrgica e de sua figura cénica - que se traduz, por exemplo, na constante preocupação em manter a forma física. Em última análise, esta tendência foi responsável pelo surgimento de toda uma geração de sopranos que, graças às suas habilidades de palco, poderiam ser considerados legítimos herdeiros de Callas, tais como Joan Sutherland ou Renata Scotto.

in: http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Callas#Biografia

Obs: Enviado por Amélia Pais

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