sábado, dezembro 31, 2011

 

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ver,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra
birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta ou recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
http://www.youtube.com/watch?v=LJfsf5a8Fbo&feature=related 
Carlos Drummond de Andrade

 

Um retrato lucido!

Vasco Pulido Valente, no seu melhor estilo, escreve, hoje, no “Público” um texto a não perder. Num daqueles momentos em que a lucidez é fulgurante teve pontaria certeira para definir Cavaco Silva, Sócrates, Pedro Passos Coelho, José Seguro e a Troika.

Sobre Cavaco não tem rodeios: “foi um discípulo menor de Marcelo Caetano, com uma vaguíssima inclinação para a social-democracia. Num aperto, não se pode contar com ele”. Melhor retrato não se consegue!

Mostra em Passos Coelho a sua mais evidente contradição: “alguma retórica “liberalizadora”, ainda por cima obscura e ambígua (…).”

Quanto a Seguro é premonitório: “Veio do nada, não fez nada, vai voltar para o nada”.

Sobre a Troika não podia ter melhor pontaria: “uns funcionários, que não conhecem Portugal e não falam português. Mas que por inspiração doutrinária já traziam a receita para nos reformar (…) Se as coisas se estragarem, paciência. Eles não se importam. Há no mundo outras freguesias para irem pregar. Esta é a “Europa”, onde nos meteram.”

terça-feira, dezembro 27, 2011

 

Em que País vivemos, em que mundo estamos?

Lê-se os Jornais e, como me aconteceu hoje, talvez por ser época natalícia, ficamos com imensa perplexidade que nos leva a interrogarmo-nos: em que País vivemos, em que mundo estamos?


Lê-se no “Público”, logo na primeira página: o Ministério da Justiça vendeu o estabelecimento Prisional de Lisboa em 2006 a uma empresa pública,” Parpública”. Isto é, criou-se uma empresa pública para vender o que é bem público. Não é espantoso!...

A notícia acrescenta: não foi construído o estabelecimento que substituísse o vendido e o Estado (figura que já não sei o que representa!) passou a pagar uma renda à empresa pública do bem público no valor de 220 mil euros. Em Novembro, a dívida totalizava 9,8 milhões de euros. Pergunta-se: que tipo de negócio foi este, em que o comprador recebe mais do que o valor da compra? Alguém foi preso? O jornal nada diz.

Na pág. 21 do mesmo Jornal, fica-se a saber que, em Braga, o “dono de uma pastelaria foi detido 16 vezes pela GNR em 3 meses”. Vai-se saber porquê e a notícia esclarece: o pasteleiro tem no mesmo prédio, como vizinho, um magistrado que não gosta do barulho. E para além de interpor uma providência cautelar que encurtou, em tempos de crise, ao pasteleiro o tempo do seu ganha pão, a GNR, por coincidência, não lhe “larga a porta, a controlar a hora de abertura e do fecho”. E se trabalha para além da hora dois minutos, é logo conduzido ao posto com ordem de detenção.

Lida a notícia, nova dúvida se nos coloca: será que a Justiça tornou-se célere ou é perigoso ter como vizinho um magistrado?!...

Seria bom saber-se o que sobre isto pensam os órgãos da magistratura responsáveis pela conduta desinteressada dos magistrados e o próprio sindicato?

Em resumo: Portugal está na Europa, mas podia, muito bem, estar perto da China. Talvez isso explique o conceito de solidariedade europeia na privatização da EDP, passando-a para o sector público da China (potência concorrente com a que estamos "unidos") e o artigo, no mesmo jornal, de Paulo Rangel, com o significativo título:”Contra os canhões, migrar, migrar”

sexta-feira, dezembro 23, 2011

 

Votos para um bom Natal

 Escrevi para o Semanário Grande porto este texto:

Natal é, sobretudo, a festa dos afectos, do encontro com a saudade da família, dos amigos e até dos locais por onde crescemos, amamos e nos tornamos homens.

O dia terá sido fixado pelo Papa Júlio I, no séc. III, coincidindo com a festa pagã do solstício de Inverno que celebrava o deus Mitra. Acreditava-se que esta divindade se tinha aliado ao Sol para obter o calor e a luz que faziam com que as raízes das plantas rompessem a terra e florissem.

É um pouco o que o nascimento do Menino Jesus significa. Está na Bíblia que um anjo anunciou a Maria que daria à luz Jesus, o filho de Deus, que viria à Terra para salvar os homens. Por alguma razão, o conceito terra está conotado com mãe. É que, tal como a terra, a Mãe de Jesus terá de promover boas condições para que o seu Menino cresça e possa ser, como refere a Bíblia, exemplo, caminho e vida de um mundo mais justo e mais humano. E este horizonte de sentido é vivido em cada Natal como um mistério insondável. Leonardo Coimbra na sua obra “Jesus” diz: «Ele sabe esperar, fazer-se oculto, pequeno, humilde, companheiro e amigo, para dar às almas o exemplo da sua vida, o calor das suas certezas, o infinito afago do seu coração transbordante».

O Natal associa-se, assim, à ideia de luz que dá esperança ao futuro, de mãe que protege os seus filhos, de calor humano que alimenta a reunião com a família, a terra e os amigos e de magnanimidade que nos torna solidários, humildes, generosos, autênticos e justos.

Vivemos uma época contrária ao espírito do Natal e essa é a nossa maior crise. O nosso País caiu num protectorado que nos obriga a uma austeridade de indigência. Os responsáveis pela crise que sofremos, passeiam-se impunes. Os que nada fizeram para ter de sofrer a crise que sofrem, sentem a ameaça do desemprego que alastra e vão sendo privados dos direitos sociais elementares que marcam o avanço de uma civilização.

Sentimo-nos prisioneiros de um poder incapaz de abrir horizontes de Futuro, de um mundo que valoriza mais o dinheiro que o ser humano, mais o chico-espertismo que a honradez. Surgem, por todos os lados, bolsas de miséria, o egoísmo vai cavando a indiferença pelo bem-comum e a hipocrisia, a arrogância e a venalidade moldam o homem de sucesso.

Precisamos que o Natal humanize as nossas vidas e promova a força que nos falta para, colectivamente, construirmos um futuro de esperança que tire duma “miséria imerecida” os que mais sofrem com a crise que vivemos.

São estes os nossos votos para um bom Natal.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

 

Um discurso que vale a pena ler.

Anda por aí muita gente a pensar que a globalização é o fim da história. Supõem-se muito sabedores, decretando o fim do trabalho na mesma empresa, o fim das profissões, a deslocação global, etc.

Mas a globalização não é um fenómeno circunscrito ao nosso tempo.

Sempre que um povo ou uma nação ou uma crença conseguiu uma situação privilegiada aspirou dominar globalmente. Assim aconteceu com os impérios gregos e romanos, coma as cruzadas, com os descobrimentos, com o nazismo, etc.

A U.E. surgiu, precisamente, pela necessidade de equilíbrios que desaconselhassem tais ambições na Europa e na relação da Europa com outros povos, nomeadamente os E.U. Naturalmente, hoje a globalização, com as novas tecnologias da informação, tornou-se quase instantânea e essa é a grande diferença das mundializações de outras épocas.

Penso que vale a pena ler aqui http://www.slideshare.net/nas72/discurso-de-helmut-schmidt-no-congresso-do-spd o discurso de Helmut Schidt.

Sublinhava apenas seis ideias que julgo importantes para se compreender o que deveria ser o papel da U.E.:
1ª.- “propagação dos direitos das pessoas e da sua dignidade”(pg 5);
2ª.- o “princípio da subsidiariedade: aquilo que um estado não pode ou não consegue resolver, tem de ser assumido pela U.E”(pg. 8);
3ª.-“O C.E, a Com… e toda a burocracia de Bruxelas marginalizaram em conjunto o princípio democrático”(pg.9);
4ª.- “O globalizado lobby dos banqueiros empregou todos os meios para impedir toda a regulação”(p.g.10);
5ª.- “Sem crescimento, sem novos postos de trabalho, nenhum Estado pode sanear o seu orçamento” (ibidem),
6ª- “Quem acredita que a Europa pode, através de poupanças orçamentais, recompor-se faça o favor de estudar o resultado fatal da política de deflação de Heiinrich Bruning em 1930/32” (pg 11).

Naturalmente, há uma enorme diferença entre a estatura intelectual e dimensão política de Helmut Schmidt e os aprendizes de feiticeiros troikianos que andam por aí.

E isso é a nossa desgraça!

quarta-feira, dezembro 21, 2011

 

O novo Hino Nacional

Sabe-se, agora, a razão dos ministros se fecharem durante 11 horas numa reunião, em mangas de camisa: adoptaram um novo hino nacional.

Passos Coelho, em coerência com o seu lema “falar verdade”, defende que a música de Alfredo Keil e a letra de Henrique Lopes não se harmonizam com as exigências da Troika.

E nas suas obrigações para com o País, delegaram no conjunto Maria Albertina um novo hino. Será desde já cantado no início das aulas e no fim das mesmas de todos as escolas públicas. E alargar-se-á, em breve, para que seja sustentável, a todas as cerimónias nacionais, civis e militares, como está no memorando.

Miguel Relvas sente-se orgulhoso, Paulo Rangel já criou a agência que patrioticamente o irá impulsionar e Carlos Amorim considera, desde já, que a letra faz todo o sentido.


Habituem-se!
http://www.youtube.com/watch?v=YF4OP0M3e_s&feature=related

segunda-feira, dezembro 19, 2011

 

Há gente no Governo e no seu cinturão protector que ensandeceu.

Miguel Relvas sente-se orgulhoso dos portugueses não encontrarem resposta para os seus problemas e, por via disso, terem de emigrar.

O Deputado Carlos Amorim garante que faz todo o sentido o Primeiro Ministro aconselhar os professores a emigrar.

Nós pensávamos que elegíamos um governo para que os cidadãos não procurassem na emigração a resposta para os seus problemas.

É que a emigração foi sempre o espelho da miséria, da pobreza e da incapacidade de encontrar resposta para as preocupações sentidas na própria Terra, na Terra onde se nasce, se tem a família e se criaram as raízes. Se este Governo pensa que o nosso destino é emigrar, não respeita as raízes da história de cada um de nós, demitiu-se de ser governo e, então, por que não dá já o exemplo?

É que, pela ordem das prioridades, nós já cá estávamos antes de o Governo existir e Carlos Amorim ser o cinturão protector das boutades do Primeiro-Ministro.

A lógia deste Governo parece ser: sempre que um membro do Governo diz um disparate, todos os outros membros têm de o repetir.

Ora digam-me, se isto não são “Ideias de crianças”!

http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/miguel-relvas-afirma-orgulho-nos_1929.html

domingo, dezembro 18, 2011

 

Invasão de Goa, Damão e Diu

Foi em 18/19 de 1961. Lembro-me bem! Seguia-se passo a passo, pela rádio, a invasão. A desinformação que havia não nos deixava perceber a abissal diferença de poder militar entre a Índia e os militares (sobretudo marinheiros) portugueses!!!... Salazar tinha determinado: resistir até morrer, mas só fazia sentido a rendição. Conheci amigos que estiveram presos num campo de concentração indiano. E, quando regressaram, foram humilhados durante muito tempo. A ditadura colocava o Império acima dos cidadãos.

Foi o princípio da queda do Império: um período negro e desumano!
http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=54MwHlRisMg

sábado, dezembro 17, 2011

 
Uma boa ideia! Não há democracia, quando os cidadãos não tomam conta do que aos cidadãos diz respeito. Muitos e muitos cidadãos querem saber por que chegamos a esta situação de crise, quem foram os culpados e que responsabilidades o Governo lhes pediu. É uma prepotência horrível, só compreendida em ditadura, que sejam os que não são responsáveis pela dívida pública, a serem eles a pagá-la não só com impostos intoleráveis, mas também com o desemprego e a perda direitos sociais que eram a marca da nossa civilização.

sexta-feira, dezembro 16, 2011

 

Encontro de Natal

Amanhã participo num Almoço de Natal de antigos residentes do ex-lar da JUC, no Porto. É sempre uma ocasião para reviver um mundo, onde as amizades se cimentavam com a partilha de sonhos que se construíam por altas horas da noite.

Sonhávamos o impossível! Brilhava no nosso pensamento um mundo onde não morávamos e isso nos tornava felizes. Queríamos um mundo mais justo e só desejávamos ser dignos dessa ambição.

Amanhã plana entre nós a memória desses tempos e nessa memória se faz a história do lar.

Uma das personagens que passou pelo Lar foi o Prof. Levy Guerra. Embora não fôssemos seus contemporâneos e tivéssemos ideologias diferentes, admirávamos a sua envergadura intelectual e moral, bem como a coerência do seu percurso.

Deixo aqui a sua recente entrevista à RDP como homenagem a um passado a quem devo muito.
http://mp3.rtp.pt/mp3/wavrss/at2/1658467_102052-1111251059.mp3

 

E se "não pagar" significar um direito à resistência a uma exploração inaceitável?

Luís Montenegro, líder de pouca imaginação do PSD, continua a explorar a questão “não pagar a dívida”

Duvido que retirará muito proveito desse truque. Toda a gente sabe que os empréstimos provêm de bancos que recebem depósitos com juros de1,5% para, depois, emprestarem esse dinheiro com lucros astronómicos. E como já disse Freitas de Amaral pode-se suspeitar duma conivência dos líderes europeus com os mercados e os bancos que financiam os débitos soberanos, o que é uma exploração inaceitável.

Sendo assim, o direito á resistência pode significar “não pagamos”!
http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=36427 

quinta-feira, dezembro 15, 2011

 

"Justiceiros" no poder

Todos devemos ter muito respeito pelo drama vivido por muita gente que teve de abandonar as ex-colónias, mas o espírito ressabiado de colonialistas deve ser repudiado. O lema "temos de empobrecer" é bem significativo: significa vais ter o castigo que tivemos. Só isso pode explicar ter a pobreza como meta de governação.

Peos curriculos,tudo indica que estamos a ser governados por quem veio ressabiado das ex-colónias, tem ainda no seu inconsciente um desejo de vingança em relação à esquerda que se aliou à descolonização, procurou um estatuto social nesses supermercados do ensino superior privado, é preconceituoso em relação ao serviço público, viu nas sociedades secretas uma escudo de protecção e entrou para a política com o espírito de olhar pela “vidinha”.


Sendo uns desenraizados, não espanta a forma como se sujeitam aos imperativos da Troika e o desprezo que nutrem pelos movimentos sociais, nomeadamente sindicatos. Mas a culpa não é só deles, mas de quem os escolheu.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

 

É muito chato ser pobre!

Já estamos mais pobres que os gregos e caminhamos por “passos” apressado para ficarmos ao nível da Nigéria, mas é muito chato ser pobre neste País! Tem contra si os próprios pobres.

Ouvi um debate sobre o subsídio de desemprego e reparei que até os que são tramados por este Governo conseguem milhentas razões para dizer que o Governo anda a dar subsídios a quem não quer trabalhar.

E, obcecados com as migalhas que escorrem do orçamento do Estado para os mais pobres, generalizam casos esporádicos, fazem confusão entre o subsídio social de desemprego e subsídio de desemprego, esquecem os balúrdios do BPN, das parcerias público-privadas, das administrações das empresas municipais falidas, do que leva a corrupção e têm longe da vista (ou talvez vejam como referência de vida) os duartes limas e quejandos que proliferam neste País.

Fico a pensar: será que este País poderia ter outra gente a governá-lo que não fosse Sócrates ou Passos Coelho?!...

segunda-feira, dezembro 12, 2011

 

Faz toda a diferença

Desde sempre ( e basta ler a História Do Declínio e Queda do Império Romano - Edward Gibbon) que se percebe que governar não é fazer contabilidade financeira e construir cenários de ilusões, mas saber interpretara a vontade dos povos. Esta “arte” é diferente da arte de manipular vontades, arregimentar cidadãos, elaborar jogos de sedução; tudo o que se aprende nos partidos. Falta-nos, por isso, governantes que representem a vontade colectiva. Naturalmente, esta vontade pode ser mais esclarecida ou menos, conforme o grau de transparência da informação prestada aos cidadãos.

Vem tudo isto a propósito da posição na cimeira dos países da U.E. Não podemos avaliar a opção de David Cameron sem ter em conta o princípio que cimenta a coesão dos povos e evita o declínio dos Estados.

Temos governantes que não entendem isso: falta-lhes aprender com os erros do passado e perceber que todos os imperativos troquianos ou de cimeiras entre nações não são para receber ordens nem ditam dogmas inquestionáveis.

Davi Cameron é um académico. E isso faz toda a diferença! Por cá temos políticos de meia-tigela, formados em hipermercados de diplomas, ditos de esquerda ou de direita, mas que se comportam como “novos-ricos” que desprezam os interesses nacionais e a vontade dos cidadãos.
http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2011/12/12/maioria-dos-britanicos-aprova-veto-a-revisao-de-tratado-europeu

quinta-feira, dezembro 08, 2011

 

Antropofagia na U.E.

Há uma diferença entre um grupo de países e uma união.

A U.E. funciona como um grupo, onde os países mais ricos, tal como os capitalistas de cada país, procuram tornar-se mais ricos à custa dos mais pobres.

Essa antropofagia social já foi denunciada pelo Padre António Vieira no “Sermão aos peixes”, mas, tal como os colonos de Maranhão em 1654 não souberam ouvir o Grande Pregador (e, por isso,foram vencidos pelos indigenas), o mesmo acontece, hoje, com os novos colonos do grupo a que chamam U.E.

E o Padre António Vieira foi claro: “Guarde-se o peixe que persegue o mais fraco para o comer, não se ache na boca do mais forte, que o engula a ele”.

Se nesta cimeira o “Sermão aos peixes” não for ouvido, nenhuma solução haverá para a Europa.

 

É preciso filtrar a engrenagem que nos instrumentaliza e manipula.

A coisa está estudada e este Governo utiliza-a bem. Não admira, as faculdades de comunicação social só têm (ou quase só têm!) como armazéns de escoamento do seu produto os lugares de assessores de ministros. E eles estudaram a maneira de dar a volta aos problemas da governação para fazer crer aos cidadãos o que é mais conveniente para o governo.

Chamemos-lhe propaganda ou, então, o que é mais preciso, manipulação ou, numa linguagem mais fria, “controlo social”. Chomsky, a propósito, escreveu:“a propaganda representa para a democracia aquilo que a cassete significa para o estado totalitário”.


A propaganda utiliza o jogo de sedução, a cassete a repetição exaustiva. Nos manuais dos grandes manipuladores são aos montes as técnicas de sedução manipuladora. Lembro três estratégias:

1ª- a estratégia da distracção: leva os media a fazer estrondo com factos sem valor de verdade, deixando submersas questões políticas relevantes. Por exemplo, a orgia da notícia do estripador conduz à desatenção para os efeitos perversos da “Casa dos Segredos” ou das questões relativas aos novos boys do CDS/PSD.

2ª- a estratégia do diferido: faz-se aceitar uma decisão impopular, fazendo crer que é dolorosa, mas necessária e que a solução apresentada pelo Governo é a única possível e foi já aceite por todos os cidadãos. A forma como tornam necessários os impostos, a alteração das leis do trabalho, os cortes nos salários e nos apoios sociais é um exemplo claro dessa estratégia.

3ª- a estratégia do apelo ás emoções em vez da reflexão: é uma estratégia clássica para chantagear. Os nossos validadores de argumentos não são racionais, mas emocionais (“O coração tem razões que a razão desconhece”, dizia Pascal). Geralmente, é pelas falácias que se condiciona a aceitação de argumentos: “se criticas o governo, fazes o jogo da oposição”.”Se pertences aos indignados, és anarquista”, etc. Com estes condicionamentos, o Governo não só define comportamentos convenientes, como nos impõe uma ideologia. Quem se manifesta contra essas medidas não quer combater a dívida soberana ou é anarquista. O próprio conceito de dívida soberana é um conceito-armadilha, na medida em que sugere todos os cidadãos responsáveis por uma divida que só foi contraída por alguns.

Para além destas estratégias, há a utilização de adjectivos que forçam desvios para uma interpretação do que é dito que convenha ao Governo. Aristóteles chamava-lhes topoi. São os “lugares do preferível” que criam a predisposição do auditório para aceitar o que é dito da forma que convém ao emissor.

E estas técnicas, com os avanços da neurociência, todos os dias são mais sibilinas. Lá nos interstícios, as estratégias estudam o tom, o contexto ambiental, a própria luz e o timbre da voz que pode condicionar melhor a nossa vontade, as nossas emoções e a nossa razão.

Se não quisermos ser tratados por mentecaptos, se não quisermos empobrecer mecanizando-nos, se não quisermos pertencer a um puzzle de um jogo que nos desumaniza, nos coisifica e nos acinzenta, colocando-nos em saldo numa feira de espantalhos de pele e medo e sem pátria, compete-nos desenvolver o espírito crítico que sirva de filtro à engrenagem que nos instrumentaliza e manipula.

quarta-feira, dezembro 07, 2011

 
Quem troca lambreta por um Audi de luxo, naturalmente tem de ter uma sensibilidade à pobreza que não se harmonia com a sua retórica. Protege mais o capital que a família:
http://economico.sapo.pt/noticias/governo-prepara-novo-corte-no-abono-de-familia_133193.html

Por isso, não se estranha a onda de revolta que vem da Grécia, há-de chegar Portugal, a Espanha, a Itália, à Irlanda, à França, à Alemanha, etc.

Ninguém consegue ver lógica no ter de pagar uma dívida que não contraiu e ter de assistir impávido e sereno a que o mundo esteja capturado por grupos plutocratas, em nome de uma máscara de democracia.

 
Em matéria de cortes, desemprego e austeridade, Passos Coelho é um esmerado aluno da Troika e vai mais longe do que o mestre. Em matéria de boys, mesmo tendo em campanha jurado que não os recrutaria, mesmo que a Troyka recomendasse que não fossem substituídos administradores, hoje, o “Público” anuncia que os gestores do PS estão a ser trocados por boys do PSD e do CDS.

E haverá quem se espante?!... Então, não se previa que iríamos substituir um Pinóquio por outro?

domingo, dezembro 04, 2011

 

U.E. ou Soc de Resp. Ilim.Merkozy

A União Europeia tornou-se numa sociedade de responsabilidade ilimitada Merkarzy.

Os únicos líderes desta sociedade são Merkel e Sarkozy. Não foram escolhidos pelos cidadãos europeus, nem estes os podem responsabilizar nas urnas pelas decisões que tomam. São os patrões de um protectorado que sujeita os países cotados (com representações) às determinações da C.E. do B.C.E. e do F.M.I.

A crise não é para os mercados financeiros, representados pela Troyka. Por isso, de um empréstimo de 78 mil milhões de euros, Portugal tem de pagar 34.400€; ou seja, quase metade do empréstimo.

Precisamos de uma República Democrática de Estados Europeus, onde os cidadãos possam ter uma palavra sobre essa “coisa” pública.

A alternativa é entre o protectorado em que se tornou, hoje, a U.E. e o federalismo de uma República de Estados Europeus.

O resto é conversa!

sexta-feira, dezembro 02, 2011

 

Fuga COLOSSAL de capitais.

As consequências desta política de esmagamento da economia com impostos e mais impostos estão à vista: segundo o Banco de Portugal o índice M1 (refere a tendência da economia e corresponde à moeda em circulação mais depósitos á ordem) diminuiu, nos 2º e 3º trimestres, cerca de 21%.

Significa uma fuga COLOSSAL de capitais de Portugal. Naturalmente, não o levaram os desempregados que o Secretário de Estado aconselhou a emigrar nem os pequenos e médios empresários têm capitais que justifiquem a sua colocação em paraísos fiscais. Mas há uma questão que nos preocupa: por que será que os Bancos não querem que o Estado controle a sua recapitalização com os empréstimos da Troika?!...

Muita gente anda a tirar uma mesma conclusão: estamos a ser governados por quem não tem saber nem experiência nem sentido de Estado para defender os interesses de Portugal.

 

Não temos estadistas!

Que impostos pagarão os fundos financeiros internacionais aos governos onde estão instalados? Se estão sediados em offshores, porque não se aplica a esses paraísos fiscais o mesmo que se aplica aos países que não respeitam regras internacionais, como, por exemplo, os direitos humanos?

Esses fundos, através do seu agiotismo, estão a contribuir para um retrocesso civilizacional nos direitos sociais dos países com dívidas soberanas.

Deve-se pagar o que é pedido emprestado. Mas o agiotismo é uma inadmissível corda no pescoço dos devedores. Isto só acontece, porque a política foi capturada por esses “ladrões” e não há políticos com dimensão de estadistas.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

 

avaliar consequências

Podíamos aplicar à política o “Princípio da Responsabilidade” de Hans Jonas, da seguinte forma: o político responsável avalia os efeitos que eventualmente as suas ideias ou decisões podem causar na coesão social, nas gerações vindouras e na qualidade de vida da pessoa humana.


A política não é uma decisão técnica, mas uma decisão que tem em conta todas as dimensões da condição humana. Não é para piorar a vida dos cidadãos que se justifica a política.

Que consequência terá este Orçamento na coesão social (sacrificando mais uns do que outros), no sentido que as pessoas procuram para o seu futuro e futuro dos seus filhos (diz o Primeiro-ministro que para o ano podem haver mais sacrifícios), nas expectativas que se criam (será melhor emigrar), na qualidade de vida (haverá ausência de apoios sociais e mais desamparo na saúde, trabalho, educação e pão), nos impostos que são criados (sobre um copo de leite e sobre um iate); nos valores (ou desvalores) que orientam as estratégicas políticas (há sempre mais do que uma opção estratégica), que modelo de sociedade configura?

Gostaria de ouvir o PS a fazer esta avaliação, mas Seguro só explicou a qualidade da oposição que faz (não é um bota abaixo, mas responsável). Uma tal explicação só se justifica como deriva retórico para visar um pedir desculpa por se dizer oposição.

“O+posição” não significa luta de galos! Significa ter ideias que são inversas à posição colocada. Não há oposição mais responsável do que outras: há formas de organizar a vida, as pessoas e o futuro diferentes e, por isso, se opõem.

Faltando tais ideias, surge a luta de galos e, na retórica, as derivas de uma desculpa envergonhada para colocar o mesmo a opor-se ao mesmo.

É neste absurdo que Passos Coelho diz a Seguro como deve fazer oposição e Seguro diz a Passos Coelho como deve governar. Não se avalia as consequências deste Orçamento nas diferentes dimensões da condição humana. P.Q.P.!

 

Um dia para a Restauração

O 1º de Dezembro deixou de ser 1º de Dezembro. Agora, só há Restauração em contrafacção. Estamos dependentes da troika, braço armado dos Fundos Financeiros Internacionais, e seis destes já têm lucros superiores ao PIB de vinte países, incluindo Portugal.


A “Transparência Internacional” indica que a corrupção está na origem da perda da independência. Para resolver a crise, a administração do reino foi entregue aos filipinos trokianos. E os miguéis de vasconcelos cá estão a cumprir ordens: num tom delicodoce dizem que os portugueses compreendem a necessidade de lhes meter a mão no bolso, com cortes, impostos e desemprego.

O “Motim das Maçarocas” pode não acontecer no Porto, nem se sabe se já há conjurados, mas o povo precisa de um dia para a Restauração.
http://youtu.be/CX2roSxua3k

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