segunda-feira, abril 30, 2012

 

Viva o 1º de Maio

O trabalho não é um esbulho. Este Governo precisava de saber que o Dia do Trabalhador não aconteceu por acaso; precisava de não desvalorizar as lutas dos trabalhadores; precisava de que alguém lhes dissesse que tem razão de ser falar-se em direitos adquiridos; precisava de perceber que há dias que não podem ser deixados para trás. Precisávamos de um Governo que não fosse feito por quem andou sempre com um cartão de crédito no bolso
http://www.youtube.com/watch?v=LjqvQl9yALc&feature=share

domingo, abril 29, 2012

 

Não há só tristezas!

Hoje estive entregue aos cuidados agrícolas numa quinta que herdei dos meus pais.

Não foi por obediência à Ministra, mas porque as minhas raízes são o campo e eu ainda sou daqueles que estimam as referências. Perdi, no entanto, a sabedoria dos meus pais e dos meus avós e já cometi um grande disparate. Com a mania de ser generoso, coisa que não consegui perder com a Troika, deitei demasiado adubo nas macieiras e nas tangerineiras que plantei e elas morreram com a abastança. Fiquei triste, mas aprendo sempre com os erros. E não foram poucos!


Entretanto, cumpriu-se o que eu dizia ao meu amigo Pinto, um ilustre clínico fundamentalista do F.C.P. : O Porto arrisca-se a ser campeão! E aconteceu o inesperado há uns tempos atrás.

Na minha Rua as festivas buzinas já são acompanhadas de tambor.

Parabéns aos Portistas. Viva o Porto!


quinta-feira, abril 26, 2012

 

Uma conversa sobre o 25 de Abril


Pediram-me para falar sobre o 25 de Abril na Escola Aurélia de Sousa. Ficou ao meu lado um velho amigo, Avelino Pacheco Gonçalves, que já não via há algum tempo. O Avelino foi ministro do trabalho, mas quando deixou de fazer parte do governo, regressou à vida que tinha dantes: ligou-se ao sindicato dos bancários e passou a dar aulas numa escola. Hoje, é um pequeno agricultor em Cinfães. Foi o destino de alguns ministros nos primeiros governos logo após o 25 de Abril. Agora, significativamente, o que está a dar (e muito!) é ser ex-ministro: sobe logo para administrador de uma multinacional, com um vencimento milionário.


Esteve também comigo o José Soeiro, um jovem ex-deputado do BE, brilhante interventor na política e filho de um velho amigo.

A conversa foi interessante e o tema da liberdade veio ao de cima. Procurei colocar na reflexão duas ideias: a de que não há democracia sem liberdade e tentei explicar as diferentes interpretações do conceito. Na segunda ideia defendi que não é possível uma democracia política sem democracia social e tentei reflectir, com os muitos jovens que estiveram na sala, que a diminuição do Estado social é um empobrecimento da própria democracia.

Não sei se consegui, mas os meus outros amigos da mesa ajudaram a aprofundar o tema.

O debate foi interessante. Espero que tenha sido útil!


 

Os donos de Portugal

Vale a pena ver. É um retrato deste País que se tornou numa coutada das mesmas famílias. Percebe-se por que tanto elogiam uma democracia política e nada querem com uma democracia social; percebe-se por que nos convidam a emigrar e a empobrecer; percebe-se por que estamos tão longe e tão perto do 25 de Abril; e percebe-se por que a A25A considerou que o paradigma da governação já nada tem a ver com os ideais de Abril.


Não percam e partilhem!
http://vimeo.com/40658606

quarta-feira, abril 25, 2012

 

Retórica do vazio!

Quatro embustes que orientaram certos discursos, hoje, no 25 de Abril, na Assembleia da República:

1º “A Assembleia da República é a casa da democracia”. Por que será, então, que os deputados obedecem cegamente aos partidos que os escolheram e não aos eleitores que os elegeram?

2º “Vivemos em liberdade”. Perguntem a um cidadão desempregado, com três filhos para alimentar, renda de casa para pagar, o que significa para ele a liberdade?

3º “Respeito a opinião dos outros, espero que os outros respeitem a minha”. É a plataforma que mais convém à avestruz: mete a cabeça na areia, não houve as vozes da razão e procura que tudo se equivalha num nihilismo sem relevância

4º “O 25 de Abri não tem donos”. Se não há proprietários do 25 de Abril, por que pode haver quem, arrogantemente, se julgue no direito de poder destruir os seus valores, as esperanças que o 25 de Abril criou, a memória do que deu sentido à Revolução dos Cravos?
http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2012/04/25/oposicao-nao-poupa-criticas-ao-governo-nos-discursos-do-25-de-abril


terça-feira, abril 24, 2012

 

Não o podemos esquecer!

Miguel Portas deixou-nos. Recordo-o no Marco de Canaveses, junto à Igreja projetada por Siza Vieira, e numa das iniciativas dos Amigos do Marco: a comemoração do aniversário do 25 de Abril, numa altura do consulado de Avelino Ferreira Torres, em que o Marco se tornara num buraco negro da democracia.


Não era um político de aviário. Aos 11 anos foi preso pela PIDE.

Nunca se diz o suficiente sobre alguém de quem gostamos e admiramos muito. Deixo apenas a sua memória nestas duas fotos e, onde estiver, receba o abraço de todos os que o conheceram, com ele partilharam causas e construíram amizades.


 

Estou com o Manifesto da A25A



Vivi o 25 de Abril como toda a gente daquele tempo normalmente viveu. Não era só a liberdade. Com o 25 de Abril surgiram todas as expectativas que se criaram por oposição ao que o fascismo significava. E isso esteve, a partir de uma certa altura, no pensamento dos que fizeram a Revolução. No fascismo também havia uma certa liberdade e o conceito de liberdade era parecido com o de hoje: podes votar, mas não podes dizer mal do governo. Havia eleições naquele tempo. Naturalmente havia “chapeladas” e isso talvez tenha desaparecido. Hoje, perde-se o emprego por ser crítico em relação ao partido que está no poder e o rumo da política assemelha-se muito ao que o fascismo desenvolvia. O rumo neo-liberal coincide com o corporativismo num darwinismo social, criando as desigualdades abissais que havia durante o fascismo. Por alguma razão os donos de Portugal são os mesmos.

A corrupção, a partidocracia esvaziaram o sentido da democracia. Os portugueses, tal como no tempo de Salazar, já ganham três vezes menos do que na média da Europa, enquanto alguns (que se aproveitaram do 25 de Abril) ganham mais dos que os que muito ganham na Europa. O Governo empurra-nos para a emigração e, retirando todos os direitos adquiridos, colocam-nos ao nível da situação que vivíamos antes do 25 de Abril.

Este Governo rompeu com os anteriores: desenvolve um novo paradigma, destruindo o Estado Social, a protecção na educação na saúde e no emprego. Todos os dias ouço culpar o 25 de Abril de todos estes males.

Portugal deste Governo não é o Portugal do 25 de Abril

Foi bom que a A25A se demarcasse deste sentido de governação. E o Governo não tem amanhã o jarro de cravos que gostaria de ter na assembleia da república. Só nos dão espinhos, por que havia de lá estar cravos?!...

http://pegada.blogs.sapo.pt/1689579.html
 
Passos Coelho, como Primeiro-ministro não tem ideia nenhuma do lugar que ocupa, mas como cidadão, ao dizer que Mário Sores e Manuel Alegre procuram protagonismo (com aquela idade e currículo) ao solidarizarem-se com a A25A, equiparou-se ao nível do cabotino.



 

25 de Abril com os que estão com Abril

Era esperado e eu já o sabia! Os militares de Abril não estarão nas comemorações do 25 de Abril. Só não se sente quem não é de boa gente. Os militares de Abril têm sido mal tratados por este Governo. E os ideais de Abril (o que Abril significou para um povo que viveu uma ditadura, uma guerra sem solução e o arbítrio nos seus direitos sociais e políticos) são todos os dias vilipendiados. Tudo o que significa conquistas de Abril, direitos adquiridos é o hoje olhado ostensivamente com desprezo.


Pertenço aos corpos sociais da Delegação Norte da A25A . Não só estou solidário, como sinto-me honrado com essa posição, a primeira depois de tantos anos duma democracia conquistada pelos militares de Abril. Estamos entregues a gente sem história e, por isso, o seu 25 de abril não é o da gente que sofreu e lutou por um Portugal mais justo e mais humano.
http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2012/04/23/mario-soares-e-manuel-alegre-nao-vao-participar-nas-cerimonias-oficiais-do-25-de-abril

sexta-feira, abril 20, 2012

 

Gosto muito desta canção!

Dizem que o hip hop tem origem na cultura (chamam-lhe subcultura) africo-americana. Seja como for representa um estilo musical jovem, de jovens atentos ao seu mundo e com vontade de o tornar mais humano.

As sirenes dos carros da polícia despertaram em mim, hoje, esta canção. Disseram-me que os carros da polícia iam, novamente, para o Bairro das Fontinhas, onde jovens se ocupavam na animação cultural com jogos, teatro, música, etc.

Doí-me uma interpretação da lei que não tenha em conta os valores que ela deve defender e doí-me também, e muito, que as potencialidades geradas pelas virtudes de grupos de jovens generosos não sejam apoiadas. Parece-me que essa é a função primordial de qualquer político, sobretudo quando se sabe que isso não traz qualquer custo para os contribuintes e o espaço que, eventualmente, ocupam nenhuma utilidade vai ter.

Deixo esta canção a todos os que partilham desta minha amargura. Se forem ver o filme Capitães da Areia, lembrem-se dos jovens da Fontinha!
http://www.youtube.com/watch?v=xcsSpB3cN70&feature=share

quinta-feira, abril 19, 2012

 

Sem futuro, a vida é uma “vidinha”!

Enviei para o Semanário Grande Porto o segunte texto:

As imposições da Troika tornam evidente que Portugal perdeu soberania. Não foi a primeira vez que isso aconteceu e, também, não é nisso que somos originais. Mas também é certo, que a história das nações nos revela exemplos em abundância de que essa situação, quase sempre, tem consequências terríveis. Foi no apelo ao orgulho da soberania nacional, que os totalitarismos ganharam força e tiranizaram povos.

Talvez fosse acertado reflectir sobre esta questão, tentar perceber de que forma se pode evitar que, num povo, o sentimento de perda de soberania derive para a desconfiança da própria democracia.

Um dos filósofos que melhor refletiu sobre as condições que moldam o totalitarismo, foi Ortega e Gasset. E, como prolifera, entre nós, gente que se diz social-democrata, nada melhor do que recorrer a um defensor confesso desse sistema, como foi Ortega, para pensar sobre as causas da deriva totalitária.

No fascículo “Sobre o fascismo” das suas “Obras Completas”, o Filósofo propõe-nos, para reflexão, uma ideia-chave: o totalitarismo utilizou a seu favor o desinteresse pela democracia causado pelo apoucamento dos sucessos do passado, gerados na liberdade e na pluralidade de opiniões. Esconder ou desconsiderar os motivos de orgulho do passado ou, ainda, denegri-los para justificar medidas impopulares do presente é uma forma de impedir que um povo se apegue às suas virtudes, desenvolva a autoestima necessária para enfrentar os problemas com que se debate.

Nenhum povo desenvolve a confiança na sua capacidade para superar os seus problemas, se não é estimulado nem envolvido na resolução dos mesmos. E, segundo Ortega, isso resulta do separar a política da vida social e da incapacidade de compreender, como acontece com os tecnocratas, que os problemas sociais têm de ser analisados mais com a sensibilidade do que com a razão.

O Filósofo considera que a principal característica do totalitarismo é ser fabricante de “homens massa” e criar “sociedades de massa” , sem espírito de corpo nem coesão. Mas a sociedade não é um mero agregado de indivíduos, onde o cidadão, tornado “homem massa”, é mera peça de uma engrenagem colocada num palco a desempenhar um papel que não escolheu. E uma geração, que não é preparada para moralmente resolver as suas dificuldades, deixa questões não resolvidas, que podem tornar-se trágicas, para as gerações futuras.

A partir da primeira pessoa, Ortega construiu um conceito de Homem: ”sou eu e a minha circunstância”. Isto é, a circunstância (o modo com as coisas são ligadas numa sociedade), sendo distinta de mim é, no entanto, o cordão umbilical que alimenta o meu modo de viver e encarar os problemas.

Vivemos, hoje, uma profunda crise de valores e de esperança. Desaparecem os feriados que serviam de referência das nossas virtudes coletivas e ao 25 de Abril aconteceu o mesmo que a Camões: à custa do 25 de Abril muitos se tornaram poderosos, enquanto o seu significado vai sendo aviltado.

Somos governados por um pragmatismo político que tem como único critério a contabilidade. Mas que futuro pode ter um povo, tratado como mero agregado de indivíduos, sem raízes nem futuro, obrigados a viver a vida da forma como O´Neil soube, como ninguém, interpretar: “já não é poesia – é só vidinha”?!

domingo, abril 15, 2012

 

Uma entrevista a não perder!

Vale a pena ouvir esta entrevista e partilhá-la com amigos. Carvalho da Silva construiu a sua vida a pensar nos outros: caminho inverso ao dos nossos políticos e isso marca uma diferença abissal. Não imita modelos desenraizados, nem serve de tropa de choque de interesses inconfessos, nem papagueia um catequismo importado de Chicago. Carvalho da Silva fala com o que o coração amassou com a solidariedade e a luta por um mundo mais justo e mais humano.



Ouçam-no, por favor!
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=2420999

segunda-feira, abril 09, 2012

 

Que chato!...

Ninguém dirá a Seguro que, a tradição do humanismo socialista ou social-democrata, enraíza no repúdio pelo discurso na primeira pessoa singular. O socialismo fundou-se na força do solidário, do “eu” com os outros.

A hegemonia do eu, surgiu com a ideia de “política-espetáculo”, do protagonismo egocêntrico, e alimenta-se do pensamento único do neoliberalismo, que Seguro, em contradição com o seu estilo comunicacional (conjugar tudo na primeira pessoa) pretende combater. Precisa de mudar de óculos, deixar de olhar para o seu umbigo.

Se o seu discurso fosse envolvente, não teria necessidade de se vitimizar.

sexta-feira, abril 06, 2012

 
Páscoa traz-me à memória a família, os amigos e a terra onde nasci e cresci. Representa para mim as raízes do que sou, a lembrança da visita pascal, das amêndoas, do pão-de-ló e do anho assado num ágape familiar. Mas também a missa de aleluia que reservo no ouvido.

Páscoa já não é a para mim a festa que tive. O retorno é impossível, mesmo que Nietzsche assegure que é a lei da vida.

Mas as sementes do passado germinam sempre no futuro.

Lembrei-me da parábola da figueira, quando é dito: “há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro; podes cortá-la para não ocupar inutilmente a terra”. E o agricultor respondeu: “deixa-a, ainda este ano, vou escavar ao redor dela e pôr-lhe estrume”.

E, com a ideia de saber adubar para esperar melhores tempos,  ajudei, ontem, a minha netinha a plantar uma figueira. Foi ela que abriu o buraco, deitou o estrume e cobriu com terra as raízes com muito cuidado e no fim regou-a.

Fiquei feliz! O tempo do futuro é das crianças.

Neste tempo de Páscoa é preciso que a memória cultive a esperança e penso que a esperança é uma virtude da Páscoa. Alleluia!

Tenho esperança que a figueira venha a ter frutos e com os acordos de alleluia, alleluia, quero partilhar com as minhas amigas e meus amigos, neste época de Pascoa, os mesmos votos, votos de esperança num tempo frutuoso, de alelluia, alleluia, com justiça, fraternidade e paz para todos Vocês.
Um abraço
http://www.youtube.com/watch?v=76RrdwElnTU&feature=fvsr

quinta-feira, abril 05, 2012

 

A ética como arma de cinismo

Escrevi para o Semanário Grande Porto o seguinte texto:

O conceito que mais se ouve na boca dos governantes, particularmente ao Ministro da Solidariedade, é “ética da austeridade” ou, então, “ética social da austeridade”.

Envolver a ética na austeridade é levar o cinismo ao insuportável. A ética está do lado oposto à austeridade.

Visa tornar o homem feliz e senhor do seu próprio destino, evitando o sofrimento e a diminuição da sua dignidade. Por alguma razão se considera que tempos de crise são tempos maus.

Somos o país onde a discrepância entre ricos e pobres é maior. A crise poderia ajudar a reduzir esse fosso que não dá dignidade ética ao Estado, mas só tem servido para acentuar injustiças.

A austeridade está a ser o rolo compressor que esmaga os mais pobres e a classe média. Embora a retórica e a propaganda façam crer o contrário, o que se verifica na prática é um desprezo chocante pelo princípio da equidade na distribuição de sacrifícios.

Mas não há só uma contradição na própria natureza do conceito “ética da austeridade”: o próprio Governo com essa expressão parece fazer crer que é um valor o desemprego, a pobreza, o apoucamento dos Funcionários Públicos (os únicos a quem foram retirados o 13º mês e o subsídio de férias), o associar o rendimento mínimo à ideia de vadiagem, a ausência de justiça social, a arbitrariedade dos cortes e, ainda, o convite à desterritorização pela emigração. E isso raia a obscenidade.

Os mais pobres, os mais carenciados são, em qualquer circunstância, sujeitos de direitos e o direito é dar a cada um o que lhe pertence, a ter como sua casa a Terra onde nasceu, nasceram os seus pais e criou os seus filhos. Não é a generosidade farisaica ou o empurrão para “fora de casa”.

Retirar direitos e, em seguida, falar em “ética social da austeridade” é de um cinismo insuportável que só se explica por uma estratégia de manipulação e populismo. O governo liga o conceito de ética á palavra austeridade para fazer dessa mistura uma “palavra-armadilha”: caça os mais incautos pela crença de que a austeridade é uma virtude e que não é a obrigação de um Estado de direito diminuir o sofrimento dos que mais sofrem.

Contra esta impostura, convém lembrar que a ética, sendo uma reflexão sobre a moral (o que está na ordem dos costumes), visa promover uma postura pessoal que se harmonize com a formação de um bom carácter, o que corresponde a uma personalidade integra.

Não há ausência de ética mais perversa do que o cinismo de usá-la como arma política de arremesso contra os mais pobres, os que todos os dias vão perdendo direitos que foram conquistados à medida que foi conquistado o próprio direito a viver em democracia.

Por alguma razão, perder direitos é diminuir o essencial da democracia.

A crise que vivemos é não só financeira, mas também de valores, de sentido de estado e do próprio regime democrático

domingo, abril 01, 2012

 

Um reencontro com um amigo.

Foi por mero acaso. Disseram-me que no espaço do Emmaús havia roupas, móveis e livros à venda. A crise obrigou-me a passar por lá para procurar alguns móveis para uma casa da aldeia. O espaço estava cheio de clientes. Procuravam auxílio para as precaridades que a vida lhes traz, mas havia também quem já não tivesse braços para tantos livros. Eram alfarrabistas que os compravam por uma “côdea” para depois os venderem por  um “dinheirão”. Comprei quatro livros. A “Cabra cega” de Rogger Vailland (livro que perdi há muitos anos), um dos primeiros livros de poemas de Eugénio de Andrade e um outro de Sophia. Tudo por 4 euros. Comprei ainda dois móveis.

Mas do que mais beneficiei foi o ter encontrado o Padre Serafim. Já não o via há mais de meio século. Fez questão de me levar os móveis, depois de um grande abraço, aquele abraço que traz consigo a nostalgia dos sulcos da partilha de alegrias, das boas e más horas, das tristezas e esperanças e nos faz sublinhar o que Aristóteles, na Ética a Nicómaco, escreveu: “Sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que houvesse outros bens.” Veio com dois companheiros de gestos fraternos, mas de rostos sombrios, como quem tinha por madrasta uma vida. Fiquei a conhecer a obra dos companheiros de Emmaus e interroguei-me: o que seria de tanta gente, nossos irmãos, que suportam a crise no limite da pobreza, sem padres Serafim? Para que servirá um governo que não toma por fundamental da governação de um povo diminuir o sofrimento dos que mais sofrem?

This page is powered by Blogger. Isn't yours?