quarta-feira, novembro 30, 2011

 

O ideal europeu

Enviei para o Semanário Grande Porto, o seguinte texto:

Passaram-se 25 anos sobre a adesão de Portugal à Comunidade Europeia. O sonho de uma Europa unida é muito antigo. Inspirou-se num ideal de paz, solidariedade e humanismo por oposição à guerra, ao egoísmo e à barbárie.

O primeiro a ter essa ideia foi o Abade Saint-Pierre. Num ensaio com o título “Tornar a paz perpétua” (1717) considera que a dupla ambição dos governos de “expandir a força para além fronteiras e ao mesmo tempo tornar absoluta a dominação interna” não se corrige “procurando ser sensato entre loucos”, mas com a instituição de relações entre os povos da Europa baseada em princípios que promovam “uma doce e sossegada sociedade de irmãos, vivendo em concórdia eterna, conduzidos pelas mesmas máximas, todos felizes com a felicidade comum”.

Este ideal, enraizado no mais profundo sentimento cristão (já quase esquecido), foi sublinhado por Rousseau, a quem coube reeditar o ensaio de Saint-Pierre. Adverte, no entanto, para a necessidade de salvaguardar a soberania dos pequenos Estados. No seu entender, os grandes Estados têm tendências hegemónicas que só podem ser contrariadas pela”primazia da política sobre os interesses”. Advoga “um pacto de associação e não de sujeição” que garanta a cada Estado direitos semelhantes ao que o Contrato Social estabelece com os indivíduos.

Poucos anos depois (1795), Immanuel Kant, inspirado em Saint-Pierre, escreve “A paz perpétua”. Neste opúsculo, defende uma sociedade das nações, formada por um conjunto de Estados com constituições democráticas, com o objectivo político de construir uma paz perpétua, baseada na segurança, no respeito recíproco e na liberdade. Acredita que a interdependência em torno de interesses comuns tem virtudes: propicia a renúncia ao expansionismo militarista, evita a primazia de um Estado sobre outros, promove a protecção, a paz e o desenvolvimento do comércio.

Contrariando Rousseau, que privilegiava o respeito pela soberania dos pequenos Estados, defende um federalismo, fundado na instituição de laços permanentes entre os Estados. Para Kant, só a perda de alguma soberania poderia reforçar a “sociedade das nações”, permitindo uma paz perpétua, apoiada em três princípios: resolver conflitos de interesses, sem permitir egoísmos; preservar a liberdade, sem cair na anarquia; manter a segurança, sem cair na tirania.

Após a barbárie da Segunda Guerra Mundial, políticos como Jean Monet e estadistas, como Robert Schuman, Adenauer e Churchill, inspiraram-se nesse legado filosófico para institucionalizarem uma integração de Estados Europeus, como forma de contrariar o chauvinismo belicista e abrir um espaço de liberdade, segurança, justiça, defesa da dignidade da pessoa humana e cooperação no desenvolvimento.

Aproveitando uma ideia de Jean Monet, a produção de carvão e aço de países outrora inimigos passou a ter uma autoridade comum na CECA (1950). Sete anos depois, surgiu o Tratado de Roma e foi criada a CEE; em 1992 surgiu o tratado de Maastricht que instituiu a União Europeia. Seguiu-se a moeda única, o Tratado de Nice (2001) e o Tratado de Lisboa (2007).

A União Europeia tornou-se numa região rica e de bem-estar social. Isso deveu-se a um pensamento político que privilegiou a dignidade humana, o bem-estar, a paz e o progresso. Não foi um produto da tecnocracia, nem da engenharia financeira e muito menos da pragmática troikiana.

A crise que, actualmente, a Europa vive tem tudo a ver com o desprezo pelo pensamento e valores que a configuraram.

Significa o abandono do pensamento humanista, a desvalorização do papel do Estado, a subordinação neoliberal da política ao mercado, a captura dos Estados pelos fundos financeiros, a incapacidade de monitorizar Tratados, de enfrentar riscos comuns e de contrariar o descalabro financeiro que degrada os valores do trabalho e da vida em sociedade, afundando a Unidade Europeia numa desagregação iminente.

Se não for contrariada esta situação, que consequências advirão?

A resposta atira-nos para os receios de Mário Soares, receios que o Abade Saint-Pierre, Rousseau, Kant e os fundadores da Comunidade Europeia procuraram combater e que, agora, são desdenhados, por políticos menores.

Não haja dúvidas!

domingo, novembro 27, 2011

 

O nosso destino é o fado.

O Fado tornou-se Património Imaterial da Humanidade.


Não sei se há o Fado ou se há fados.

Diz-se que o fado conta uma história triste que se desenvolve com fatalismo.

Penso que Portugal é um Fado.

Na nossa história verificamos que logo aos acontecimentos de excelência o destino empurrou-nos para a desgraça. Assim aconteceu após os descobrimentos e acontece, agora, depois do 25 de Abril, com o golpe palaciano que rasgou a nossa Carta Constitucional. Quem mais sofre é sempre o Povo. É ele o mais sacrificado e ao mesmo tempo (fatalmente) foi sempre o mais culpado: deixou-se enganar. É o seu fado!

O fado entrou na vida do Povo, do “povo que lava no rio”. Mas sempre numa “estranha forma de vida”.

É com esta história que homenageio o nosso Fado.
http://www.youtube.com/watch?v=HJ-ugf0_YPg
 http://www.youtube.com/watch?v=uFgctURyGp4

sexta-feira, novembro 25, 2011

 

Falando comigo mesmo!

Estava a subir, hoje, a Rua 31 de Janeiro e ouvi um senhor ao meu lado a dizer, sozinho, palavrões. Percebi, então, que também falava sozinho.

A solidão obriga-nos a ouvir-nos a nós próprios já que ninguém mais nos ouve. Foi assim com o Sermão aos Peixes do Padre António Vieira!

Há fantasmas que surgem em noites de solidão: veio-me à memória a divisão salazarenta entre situacionistas e oposição a quem se recusava o direito a pensar de forma diferente. Era até acusada de ser comandada por forças estranhas.

Configurava-se a OPOSIÇÃO no pensar diferente. E assim, demonizavam-se os sindicatos e poucos lhes queriam reconhecer que afirmavam a solidariedade contra o egoísmo, poucos queriam reconhecer a importância que, por exemplo, a social-democracia deu ao diálogo com os sindicatos, com vista à correcção de políticas, a melhor servir os cidadãos e evitar que o descontentamento deslizasse para a violência da revolta. Poucos queriam compreender que, na história da humanidade, a luta por um bom governo gerou-se sempre pela necessidade que todo o homem tem, dentro de si, de diminuir o sofrimento que lhe é imposto; e que um bom governo sempre foi o que diminui o sofrimento dos que mais sofrem.

A ideologia situacionista alimenta-se do medo e o medo fantasia-se na criação de inimigos: o pensamento divergente, os sindicatos, a oposição.

Esses fantasmas voltaram e foi, com um sentimento de profunda frustração, que ia dizendo para comigo mesmo: esta gente que critica a greve, não percebe a importância histórica dessa luta na institucionalização da sociedade moderna, na conquista dos direitos sociais e de quem trabalha; essa gente que vê nos indignados, marionetas comandadas por forças estranhas, com hora marcada, continua a julgar que o único pensamento, as únicas emoções, com direito à expressão, são as do situacionismo.

Pensava comigo mesmo em voz alta, com a voz de quem ergue o repúdio de fantasmas num deserto onde tudo é areia agreste, sem as diferenças que os cravos vermelhos riscam num clamor por primaveras.
http://www.youtube.com/watch?v=ex7OherCoek

quinta-feira, novembro 24, 2011

 

Um estrondoso grito de revolta!

Seis multinacionais, ligadas aos grandes fundos financeiros, tiveram lucros superiores ao PIB de 20 países, entre os quais Portugal.

E diz quem sabe: essas multinacionais dominam as agências de rating, desconhecem a existência de Vítor Gaspar e muito menos estão interessadas em saber se é muito ou pouco competente (mesmo que competente signifique servir os seus interesses).

O que lhes interessa... é a forma como querem fazer subir os juros dos dinheiros que emprestam aos governos dos países em crise. Por isso, vão baixando as notas de rating dos países que ficaram com uma corda ao pescoço, para os esmifrarem até ao tutano.

Os lucros do agiotismo multinacional apoiam-se nos conceitos-armadilha "rigor",”exigência”,"consolidação orçamental" através de impostos, cortes, destruição do Estado social e do próprio Estado de direito.

Sem mudarmos de rumo, um vampirismo de uma enorme ladroagem vai tomando conta do destino de milhões de pessoas, confiscando o seu direito a serem livres e a viverem com dignidade. E isso acontece porque os governos têm estado de joelhos ao serviço desses vampiros e não de quem os elegeu.

A Greve geral foi um grito de repúdio. Nenhum autismo governamental, nenhum sofisma retórico, consegue limpar esta situação de revolta que vivemos, mesmo que o Governo manipule, vergonhosamente, os números da greve.

 

Um direito à indignação

O sucesso de uma greve não aparece de um dia para o outro. É, sobretudo, a única forma de obrigar o Governo a pensar sobre a justeza ou não das políticas que adopta.

Os governos não governam fechados sobre si mesmos: governar é servir o interesse público.

A greve é o limite no direito à indignação.

Nunca tantos movimentos cívicos apoiaram esta greve geral, porque nunca os mais desprotegidos, os aposentados, os que precisam do apoio na doença, na escola, etc., foram tão vilipendiados.

O Governo não pode ficar indiferente a esta manifestação de indignação.

quarta-feira, novembro 23, 2011

 

A resposta possível

Criou-se uma nova mitologia, a de que há opiniões privilegiadas, geradas por crânios muito competentes, a quem uma multidão de gente sem emprego, espoliada dos seus vencimentos, do direito à saúde, à escola e a uma vida decente têm de perguntar se deve fazer greve, sair à rua, existir, manifestar-se, dizer basta!


Argumentam esses crânios que em vez de fazer greves devíamos trabalhar, em vez de sermos solidários devíamos olhar pela vidinha, em vez de dizer “não queremos ir por aí” devíamos entregar uma bisnaga de vaselina, em vez de afirmarmos que o Sol quando nasce é para todos deveríamos pedir uma candeia só para nós.

Para eles, a vida difícil, o desemprego, a miséria são maleitas como a gripe, a tísica ou o sarampo: acontecem porque têm de acontecer. Para todos eles, tais maleitas até são boas: permitem-lhes ficar impunes nos desmandos que fizeram, explorar melhor o próximo e até comprar empresas públicas ao preço da uva mijona.

Para eles, só há uma resposta possível: a que universalizou Rafael Bordalo Pinheiro.

domingo, novembro 20, 2011

 

Dia da Memória

Hoje, é o Dia da Memória. A sua persistência foi pintada por Salvador Dali.


Mas a memória não é um cemitério abandonado, como escreveu Margarite Yourcenar: é a escultura do tempo que molda um desejo originário de felicidade reconhecido no interior da nossa própria história individual e colectiva.


“Recordar, é viver”, já diz o ditado. O que fica para lá da vida é a morte. E é a certeza da morte que nos adverte do valor da vida.


Não se vive fechado sobre si mesmo, como náufrago numa ilha deserta entregue aos próprios recursos.


A vida acontece pela abertura aos outros, à vida e ao mundo. A forma humana superior de viver é a solidariedade: sentir o sofrimento dos outros como nosso próprio sofrimento. E quem o disse foi Santo Agostinho no imperativo: “ ama os outros como a ti mesmo”.

O Bispo de Hipona fez da memória uma ética do desejo. Dizia que, pela memória, o homem procura no interior de si próprio uma felicidade originária (a que foi por si vivida antes do pecado original).

O amor surge, nesta perspectiva, como o desejo de usufruir um paraíso perdido.

Na ética do desejo, o amor é pensado, segundo o modelo da “Cidade de Deus”: um mundo mais humano e mais fraterno. E gera a luta por uma “Cidade melhor”.

A perda da ética do desejo é o egoísmo, a indiferença, a resignação que esquece o lugar do outro na vida humana. No seu limite, traduz-se, como diria a Filósofa da “Condição Humana” (Hannah Arendt), na banalização da política “como acção e como processo, de conquista do direito a uma vida feliz”, no deixar que o mal se banalize.


Foi esta a lição dos melhores, entre os nossos antepassados: recusar a indiferença perante o sofrimento dos seus semelhantes, lutar para que o relógio do tempo não pare no desprezo, na resignação, no egoísmo.


É respeitando este legado, que estaremos em luta na próxima Quinta Feira contra o empobrecimento, a injustiça, a prepotência, a indignidade, a necessidade de salvar a democracia e lutar pela JUSTIÇA.

Pelo direito à MEMÓRIA, estaremos na GREVE com as esperanças que ABRIL criou.

 

Um postal para um amigo

Estive, ontem, como era minha obrigação, na inauguração da Sede do Clube de Caçadores de Soalhães.

O local é paradisíaco, como a foto testemunha, e o almoço de anho, com uma canja de galinha e doces regionais, foi divinal.

Esqueci a crise, esqueci a inconsequência das palavras de Cavaco Silva, não ouvi as iniquidades de Miguel Relvas, não me fixei naquele apinocanço nariz de Passos Coelho nem ouvi o Álvaro no tarot a dizer o que vai acontecer e muito menos me preocupei com as questões do IVA das fraldas de Seguro. Também não assisti à hecatombe do F.C.P. Foi um dia perfeito!

Fiquei com os meus amigos caçadores no alto da Serra. Lembrei-me só do meu amigo Ventura, de como gostaria de o ouvir cantar a Samarita ou, no seu estilo pavorettiano ,“O sole mio” na naquele deslumbrante local. Fica para a próxima, (a)Ventura.

Sei que detestas a caça, mas devo dizer-te que a caça não é matar perdizes ou coelhos. A caça é sobretudo o que aconteceu, ontem, em Soalhães.


Sabes, a caça e a ruralidade estiveram sempre associadas. Nasci no meio rural, numa freguesia vizinha de Soalhães, Várzea de Ovelha, onde nasceu Carmen Miranda que quase cantava como tu. Por lá fiz amigos e comecei a caçar muito cedo.


Caçar é mais do que um desporto, é, sobretudo, uma forma de conviver, fazer amigos, defender a natureza e cultivar o gosto pelo património natural e pantagruélico.

Acredita que ninguém mais do que os caçadores vive a necessidade de proteger o património cinegético, sofrer com o abandono dos campos, a tragédia dos incêndios e a desertificação do interior.

Nos momentos de convívio, os caçadores não falam só da caça: divulgam a paisagem da sua Terra, a cozinha tradicional, os monumentos históricos, as festas e as tradições.

Por tudo isto, gostava tanto que partilhasses da inauguração da nossa Sede, em Soalhães, mesmo nas faldas da serra da Aboboreira.

Fica para a próxima, Camarada e Amigo!

sexta-feira, novembro 18, 2011

 

“Recessão voltou a agravar-se em Portugal”.

“Recessão voltou a agravar-se em Portugal”. Quem pensaria o contrário? Não há dinheiro, não há produção, não há consumo, logo o produto interno bruto baixa e continuará a baixar. O que sobe é o produto das instituições financeiras.

Os políticos deitam lágrimas de crocodilo, mas quem permitiu o jogo bolsista, o “compre agora e pague depois”, o seguir esta lógica nas parcerias público-privadas, nas obras faraónicas, nos buracos por todo o lado, nos ordenados fabulosos dos administradores de empresas falidas do Estado, etc;? E quem permitiu que os produtos financeiros façam crescer obscenamente os lucros astronómicos da economia virtual?

Naturalmente, só pode ser quem faz as leis. Mas, como já foi noticiado, uma grande parte dos deputados está dependurada nos interesses de empresas que prestam serviço ao Estado. Naturalmente, não se pode esperar que sirvam de igual modo dois senhores com interesses contrários!

A geração dos “chicos-espertos” tomou conta do poder e quem se lixa é o mexilhão!

É um imperativo cívico e moral mostrar a nossa indignação na GREVE GERAL.


quinta-feira, novembro 17, 2011

 

Lamentam-se,mas são incapazes de tirar conclusões!

Mário Monti formou, em Itália, um governo de “tecnocratas, intelectuais independentes e mulheres poderosas”, como refere o “Público”. Não quis políticos. Tudo isso em nome de um “bom-governo”. E dizem ser assim por necessidade de obter a confiança das instituições financeiras europeias.

Os políticos, (como Francisco Assis, faz, hoje, no mesmo jornal), lamentam-se (curioso!) da forma “como os governos legítimos têm vindo a ser corroídos e destroçados pelas pressões externas”.

Não se faz uma autocrítica da falta de credibilidade dos políticos, da demissão do papel que deveria caber aos partidos, da forma como estes se organizam, de como os políticos se deslegitimam ao trair os contratos que estabelecem com os eleitores, dos apoios financeiros que “mendigam” junto do poder económico para as campanhas eleitorais (em troca de favores), da prática do caudilhismo, do aparelhismo, da desideologização, etc., etc.

Os políticos vitimizam-se em vez de tirar conclusões, fazer reformas e credibilizarem-se. Não conseguem perceber que se tornaram numa categoria social rasca que está a corroer a própria democracia.

Sem se credibilizarem pela qualidade da postura política, nenhuma retórica entravará o divórcio crescente entre cidadãos e políticos e o apoucamento a que estes estão sujeitos pelo poder económico.

segunda-feira, novembro 14, 2011

 
A chefe de gabinete do Superministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, ganha 5.821,3 euros, mais do que o chefe de gabinete do primeiro-ministro. Tudo natural, por que, segundo o Ministro, a senhora ganhava muito mais na vida privada.


Para quem se lembra do congelamento dos salários e dos cortes no 13º e 14º mês dos funcionários públicos e aposentados, a justificação do Ministro não pode deixar de causar profunda revolta.


Para além de levarem o País para a miséria (o que não foi culpa dos funcionários públicos), de dividirem os portugueses entre “bons” e maus”, esta gente trata os servidores do estado como uma categoria abaixo de cão!


Os comentadores de serviço ficaram muito exaltados com o que disse Otelo, mas Otelo disse o que já pensam muitos milhares de portugueses.

quinta-feira, novembro 10, 2011

 
Está a decorrer o debate na Assembleia da República sobre o orçamento. Chamam-lhe debate, mas o debate implica procura de convergências e já se sabe que os partidos do governo fazem cinturão de protecção ao Governo e os partidos da oposição não são capazes de penetrar nessa fortaleza. Passos Coelho diz que ouve toda a gente, mas nada conclui do que ouve. Seria melhor dizer que está surdo e, já agora, mudo, porque não é falar se a comunicação não é aberta à procura de convergências com o interlocutor.

Fiscalistas, patrões, ex-ministros e sindicalistas consideram "um absoluto disparate" cortar os subsídios de Natal ou de férias no sector público. O Governo prefere o disparate à razoabilidade.

Somos assim governados!
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=24&did=38369

terça-feira, novembro 08, 2011

 

A vida que recebemos foi-nos dada vazia.

Paradoxalmente, isso tornou-se numa desvantagem em relação aos animais. Não trazemos um repertório para responder às necessidades da própria vida. Temos de ser nós próprios a preenchê-la. Ou seja, precisamos de argumentos para ocupar a vida. E os melhores argumentos são os que servem para viver a vida com gosto, de forma feliz.


Paradoxalmente, as ocupações impostas magoam-nos: não se enquadram com o gosto de viver, com a felicidade a que genuinamente aspiramos; mas sem ocupação, o vazio torna a vida insuportável.

Ganhamos o sentido da vida, quando, com gosto, tomamos conta de nós mesmos. Mas, como somos-ser-com-os-outros, não podemos ser felizes, deixando os outros na infelicidade. A solidariedade nasce, assim, de uma dimensão de fraternidade.

Sentimo-nos parte de um mesmo corpo — a HUMANIDADE. E nesta fraternidade transcendemo-nos.

Perdemos o sentido da vida, quando não temos argumentos para ultrapassar os nossos próprios problemas e tomar conta de nós mesmos: ficamos órfãos, numa ilha deserta, a viver com o peso de se suportar a “andar por aí”.

segunda-feira, novembro 07, 2011

 

Uma desrazão vai obscurecendo as nossas vidas.

No meu modesto parecer, a razão, essa capacidade de fazer luz sobre o que é obscuro, de promover uma verdade que se vai construindo com a descoberta de erros, foi atirada ao caixote do lixo. Ouvi Miguel Júdice, num dos seus documentários na TV, dizer que tem de ser assim: “dizer uma coisa na campanha eleitoral e fazer outra na governação, porque de contrário não ganhavam eleições”. Pensei que não podia ser assim, pensei que a democracia era diferente de outros regimes, porque era o único que recusava a arbitrariedade, apoiando-se nos contratos que eram estabelecidos entre eleitos e eleitores. Hoje, leio num jornal que Ribeiro e Castro considera que as declarações de Alexandre Mestre (quem está desempregado deve emigrar) são acertadas. Pensei que era impossível ser governante sem sentido patriótico: defender o seu País e fazer tudo para que ninguém o tivesse de abandonar para ser feliz. Agora, estou a ler a opinião de um articulista que diz que Seguro faz muito bem em se abster na votação do Orçamento, porque assim abriu as portas a que venhamos a ter o 13º mês (criado por Marcelo Caetano). Mas então, a ideologia do PS é o negociozinho? Abandonou um pensamento para Portugal, capaz de se confrontar com outras ideias? Depois, Seguro diz que vai fazer uma crítica feroz ao orçamento, lembrando-nos aqueles que dizem “agarrem-me que eu mato-o!”. Porque será que o PS não dá conta de cavar a sua inutilidade?


Uma enorme frustração é sentida por toda a gente que não gostava de Sócrates e que esperava um governo que contrariasse a lógica do darwinismo social que vai tornando os ricos cada vez mais ricos e em menor número (nem pagam impostos, já colocaram a sede das suas empresas na Holanda e noutros países) e os pobres cada vez mais pobres e em maior número?

Cada vez nos identificamos mais com a Grécia e cada vez é para Portugal premonitório o que está a acontecer nesse País, onde se fundou a democracia.

sexta-feira, novembro 04, 2011

 

Sabia-se que era fraquinho, mas nem tanto!

Os comentaristas que pululam na TV, que até agora ouvi, nunca tiveram da minha parte tanto acordo: Seguro é muito fraquinho. Esconde-se em frases redondas, cita-se a si mesmo sem qualquer relevância e demonstra um vazio insuportável. Ninguém sabe o que o PS pensa sobre o rumo que esta governação impõe ao país, ninguém sabe o que o PS pensa sobre a greve geral, os problemas na educação, na saúde, nos transportes, etc.

O secretário geral do PS podia, ao menos, ler este manifesto: http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=DEMO11

Se alguém quiser ter um apoio à revolta que sente pela escravatura dos impostos, dos cortes na saúde, na educação, nos transportes, em suma, em tudo o que mexe, não se pode segurar neste (in)Seguro que o aparelhismo partidário pariu.

Diz que está com Portugal, mas o Portugal dele não é o que todos nós sentimos no dia-a-dia, no que queremos para os nossos filhos e nossos netos.

Temos aqui a explicação da razão pela qual o PS não sobe nas sondagens, muito embora uma enorme maioria de portugueses manifeste a repulsa pela forma como está a ser (des)governada.

Sabia-se que era fraquinho, mas nem tanto! Até parece que Cavaco está mais à esquerda que Seguro!

quinta-feira, novembro 03, 2011

 

Um cinismo insuportável

Escrevi para o Semanário Grande Porto o seguinte texto:


A crise na Zona Euro tem uma explicação: a liberalização do comércio internacional passou a fazer “girar” a economia em torno da livre concorrência de bens e de moeda.

Deram-se apoios para que cada país deixasse de produzir o que não fosse concorrencial. Apareceram os estímulos ao abandono da agricultura, da pesca e das indústrias associadas a estas actividades.

Simultaneamente, o consumismo que a agressividade do marketing promovia deu um valor desmesurado ao crédito e o agiotismo dos bancos ganhou uma dimensão impensável. Foi neste contexto que surgiu o BPN e o BPP com as negociatas que todos conhecemos.

Os bancos nacionais pediram dinheiro à banca estrangeira, capitalizando rendimentos com as mais-valias das diferenças entre juros de empréstimos. O predomínio do capital financeiro sobre o capital produtivo tornou-se, assim, abissal.

Na economia real, a livre concorrência obrigou a produzir cada vez mais barato. Muitas empresas deslocaram-se para os países emergentes, como a China, onde o trabalho não tem direitos e o recurso à exploração do trabalho infantil é prática corrente. As fronteiras nacionais deixaram de ter importância para o comércio e os chineses inundaram os mercados nacionais sem abrirem um único posto de trabalho. Não houve a preocupação de proteger os interesses económicos nacionais e a concorrência, em circunstâncias desiguais, foi empobrecendo o País

A União Europeia passou a ser um mito e o seu destino foi entregue a Merkel e Sarkozy.

Os governos dos países limítrofes, como o de Portugal, foram ficando sem os recursos internos que possibilitavam cobrir as despesas do Estado. E, em vez de regularem os mercados financeiros, apostarem na produção interna e colocarem travão à dívida pública, seguiram o mesmo pragmatismo que promovia o crédito (compre agora e pague depois), engrossando a divida do Estado com instituições desnecessárias, obras faraónicas, parcerias que iam empenhando o erário público.

Tudo isto foi acontecendo com muita suspeita de corrupção, ao mesmo tempo que se ganhava consciência de que a produção interna já não dava para pagar juros.

Foi neste contexto que apareceu a Troika com as medidas draconianas de resgate da dívida.

Num cinismo chocante, o Governo, em vez de mobilizar o País para enfrentar a crise, acusou os assalariados de viverem acima das suas possibilidades. Mas, quem vive acima das suas possibilidades e é responsável pela situação de crise em que mergulhámos é a oligarquia autista que nos tem desgovernado.

Asseguram que a escravização pelos impostos, os cortes nos salários e nos direitos sociais são do interesse geral, mas entram em pânico com a possibilidade de um referendo que ajuíze da justeza de tais medidas.

Será que compreenderam que, em democracia, ninguém pode governar contra a vontade dos cidadãos?

terça-feira, novembro 01, 2011

 
Paulo Portas diz que a sua abstenção na votação para a entrada da Palestina como membro de pleno direito da ENESCO seguiu a orientação europeia. Mas que orientação europeia? A Europa, como um todo, não existe, porque não há espírito de corpo europeu, nem de solidariedade. O que existe é a Alemanha e a França. Depois há os países colonizados por estas duas potências que, esperando umas migalhas do poder financeiro, vão hipotecando o futuro dos seus cidadãos, como acontece em Portugal e na Grécia.

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