sábado, fevereiro 27, 2010

 

Segundo o Barómetro da Marktest

Cavaco Silva---- 55,5%
José Sócrates ----29,4 (desce 11 pontos)
PS ---------- 36% (perde 4 pontos)
PSD---------31% ( subiu 1,7%
BE---------- 10,6% (sobe 5 pontos)~
CDS---------9,5%
PCP----------6,8%

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

 

Por Fernando Nobre

Manuel Alegre é uma pessoa que se gosta ouvir, mas já passou a sua horinha na política. É um barão, sem ideias novas numa sociedade sem esperança e num mundo descontrolado. Fala muito em liberdade, mas hoje esse conceito liga-se ao combate à insegurança e ao medo em massa. Não responde ao medo em massa (das crises económicas e financeiras, da instabilidade profissional, do desespero pelo trabalho, dos receios da velhice, das rupturas ambientais, da fragilização do capital social e até da coesão, etc) que se foi instalando, na medida em que a política se preocupa mais com os proventos do poder do que em fazer funcionar as instituições com regras que corrijam o descontrolo. Manuel Alegre é incapaz de promover a dignidade das instituições partidárias (dominadas por barões que formam oligarquias de interesses), pertence ao mundo descontrolado que nos deixou os políticos da sua geração, sem nunca ter sofrido os seus efeitos. Fernando Nobre é o homem que vive por dentro aquilo que Beck chama “sociedade do risco”. É o homem que se precisa. Dizer que é de direita é encontrar um conceito vazio. Direita e esquerda já não é medido pelos padrões da segunda guerra mundial. Há gente de esquerda que está à direita em muitas coisas e o inverso também é verdadeiro. A palavra que hoje se precisa é solidariedade contra o medo, contra a insegurança e Fernando Nobre vive com a sua vida esta palavra.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

 

Despertar dos Alquimistas

No despertar dos Alquimistas, Mário Soares, Jorge Lacão, Santos Silva, Mário Lino, Capoulas e poucos mais, apressam-se a garantir, por todos os meios, que Sócrates é um homem de carácter. E, para que o pobre não desconfie da abastança da garantia e a tome por contrafacção, vão incorporar o desfile espontâneo que no sábado, aqui, no Porto, certificará que o Chico-esperto dos mamarrachos na Cova da Beira, do Freeport, dos empregos a granel, dos exames ao domingo, da “Face Oculta”, etc., não é o Sócrates de quem se fala por aí. E acrescentarão aos costumes socratinos que não há alternativa credível a tal prestidigitação que ainda faz ver camelos, onde só há carneiros.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

 

Os monges de Salamanca e o maléfico vício de pôr a pensar


Nos finais da Idade Média, os monges de Salamanca tornaram-se politicamente correctos, ao exclamarem perante Isabel, a Católica: “Deus afaste de nós o maléfico vício de pensar!”
Anos depois, Descartes abria as portas à modernidade, afirmando:”Não é suficiente ter bom espírito, mas o principal é aplicá-lo bem”. E justifica: “As maiores almas são capazes dos maiores vícios e das maiores virtudes, se não seguirem o caminho do melhor uso da razão: o de pôr tudo em dúvida”. E porquê? Ele próprio explica: “só fica esclarecido quem dissipou as suas próprias dúvidas”. Quem não encontrou razões para esclarecimento não supera as suas suspeitas e não percebe quais são as razões que possam justificar determinado procedimento, nem fica com a luz do pensar que potencializa a descoberta das melhores ideias para melhor orientar a sua acção. Com os propósitos de Descartes, surgiu, assim, um paradigma incorrecto a que, paradoxalmente, foi chamado modernidade.

A ideia de paradigma terá surgido a Wittgenstein, um filósofo austríaco, considerado por muitos, o maior filósofo do século XX. No seu entender, o conceito não só significa “um modo de ver” ou “sistema de crenças” como também “uma técnica de operar”. O “modo de ver” configurado por um paradigma tem, segundo o Filósofo, um papel análogo ao de um par de óculos com certas características (por exemplo, cor e graduação).

Aceitando esta explicação, ao ouvirmos Sócrates, o Governo e o Partido Socialista temos de concordar que se aproximam mais do paradigma dos monges de Salamanca do que do Pai da modernidade. Os seus óculos funcionam como um retrovisor de um carro: reconhecem os erros dos outros no passado, mas não são capazes de dar razões para justificar as dúvidas que lhe são colocadas no momento. Preferem justificar um erro do presente com erros do passado e recusam fazer da argumentação uma interacção que produza os denominadores comuns que fazem avançar consensos e encontrar os bons entendimentos indispensáveis à resolução dos problemas que nos apoquentam. Por isso, não sabem ouvir, respeitar o oponente, valorizar argumentos contrários e muito menos aderir á força argumentativa das propostas contrárias.

Não havendo diálogo, é politicamente correcto usar expedientes para não deixar falar do que não convém. E já não é só Sócrates, nem só este Governo a seguir o paradigma dos monges de Salamanca na Assembleia e nas interferências nos noticiários da comunicação social. A providência cautelar (duma empresa onde o Estado é dominante) visando a "não publicação no jornal, em papel e ou formato informático, da transcrição de comunicações que envolvam o requerente" Rui Pedro Soares (que, como se sabe, apareceu envolvido nas escutas do chamado “Face Oculta”) são um bom exemplo disso.

Vai ficando para longe um dos baluartes da democracia: a liberdade de imprensa. Cada vez mais este Governo, José Sócrates e os seus sequazes se vão aproximando dos monges de Salamanca

Não há dúvida nenhuma: temos de mudar de paradigma para nos aproximarmos da modernidade!

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sexta-feira, fevereiro 12, 2010

 

Crise profunda.

No semaário Grande Porto, pg.25, escrevi o seguinte texto:
As escutas do “Face Oculta” tornaram público que vivemos uma profunda crise: não é só moral, nem financeira, nem política, mas sobretudo da justiça. Não está só no seu mau, lento e muito caro funcionamento, mas situa-se no seu próprio interior, onde dois modos de entender a Justiça se encontram de costas um para o outro: um, ao nível da primeira instância, procurou que os indícios revelados nas escutas do “Face Oculta” fossem objecto de instrução dum processo de averiguações que esclarecesse, face á lei, se havia ou não arbitrariedades do poder político; outro, ao mais alto nível, não só considerou que não havia razões para mandar instruir o respectivo processo ou necessidade de aguardar prudentemente melhores provas, como se virou contra essa instância, determinando a destruição imediata de tais indícios.

Num mesmo sistema, estão de costas voltadas duas formas de entender o modo de proteger direitos e defender um Estado de direito. E para agravar esta situação, o Governo, que deveria ser neutro nesta contenda, toma partido por uma das partes, precisamente pela parte representada nas principais figuras do sistema judicial, donde saiu a determinação de destruir os referidos indícios.

A obrigação de respeitar a divisão de poderes está em causa e a necessidade de zelar pela defesa de um Estado de direito surge como uma batalha cívica de todos os que prezam a democracia e a transparência.

Desde a Revolução Francesa que na “Carta dos Direitos do Homem e do Cidadão”(1789) está escrito: “A sociedade em que a garantia dos direitos não está assegurada, nem a separação dos poderes determinada, carece de constituição.” (art.º 16).

Sem respeito pela divisão de poderes (legislativo, executivo e judicial) ficam abertas as portas da arbitrariedade e desaparecem os alicerces de um Estado de direito.

Nunca uma decisão de um tribunal, de qualquer instância, foi concebida como verdade absoluta, decidida de forma fechada e à maneira das demonstrações matemáticas. Sempre a prática jurídica se pautou pela ideia de que a legitimidade das decisões dos magistrados não é pessoal, mas argumentativa. Nem os factos nem as leis falam por si e é preciso que qualquer interpretação da lei seja em função dos valores que pretende defender, sujeitando-se sempre ao contraditório ou refutação dos bens que estão em causa.

Nada disso foi feito. Além disso, o Primeiro-ministro, visado neste caso, também nada esclarece. Seguindo a estratégia da avestruz deixa sem esclarecimento o que é fundamental em democracia: dar respostas às acusações.

Sócrates, nas declarações que vai prestando sobre o “Face Oculta”, diz sempre o mesmo, parecendo comportar-se como um qualquer arguido: nega tudo e vitimiza-se.

Precisamos de uma reforma da Justiça que dignifique os seus agentes, se oriente pela protecção dos valores que configuram um Estado de direito e uma sociedade transparente. Sem esta reforma nenhum capital social se desenvolve para superar as profundas crises em que vivemos. E, nestas circunstâncias, não haverá pessoas de mérito e com sentido de responsabilidade, que possam orientar o nosso destino colectivo.


Os “chicos-espertos”, aqueles que se servem de todos os estratagemas para atingir os seus objectivos, continuarão a perpetuar esta crise e não demorará muito tempo que nos situemos ao nível da pior fasquia: a dos países do Terceiro-Mundo.

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quarta-feira, fevereiro 10, 2010

 

Mudar de paradigma

Nos finais da Idade Média, os monges de Salamanca tornaram-se politicamente correctos, ao exclamarem perante Isabel, a Católica: “Deus afaste de nós o maléfico vício de pensar!”.

Anos depois, Descartes abria as portas à modernidade, afirmando:”Não é suficiente ter bom espírito, mas o principal é aplicá-lo bem”. E justifica: “As maiores almas são capazes dos maiores vícios e das maiores virtudes”. Por esse motivo, concluía que o melhor uso da razão obrigava a uma espécie de profilaxia do erro: “pôr tudo em dúvida”.


Nasce assim, com a modernidade, o paradigma do politicamente incorrecto.Ao ouvirmos Sócrates, o Governo e o líder do Partido Socialista temos de concordar que se aproximam mais do paradigma dos monges de Salamanca do que do Pai da modernidade. Os seus óculos funcionam como o retrovisor de um carro: reconhecem os erros dos outros no passado, mas são incapazes de decifrar os seus males para o futuro. Não podemos contar com o que para eles é correcto para dar esperança ao futuro.


Temos de mudar de paradigma!

 
A todas as mulheres que se levantam num dia sem cor

A todas as mulheres que ouvem os risos de crianças
A todas as mulheres que nos olhares colocam anjos serenos
A todas as mulheres que fizeram o meu sonâmbulo jardim-de-infância
Nos segredos de promessas que fazem o dia dos namorados
Deixo-lhes um ramo de rosas da cor de um pôr de sol
E no silêncio do amor que se transforma em madrugadas
Permitam-me um beijo cansado de tanto sonhar
Que faça  de todos os dias, um dia dos namorados

terça-feira, fevereiro 09, 2010

 
A questão política da actualidade faz-me associar Sócrates ao Titanic. Tudo fantástico, mas o rombo é profundo.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

 

«BASTA de corrupção e conivência . Demitam-se.»

A sua assinatura na petição necessita de ser confirmada para garantir a autenticidade dos dados.
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domingo, fevereiro 07, 2010

 

O" "buraco da fechadura"

Primeiro-ministro diz que temos “um jornalismo de buraco de fechadura”. A metáfora é perfeita. Foi sempre essa a razão de ser do jornalismo. Falar do que os leitores desconhecem, do “risco que é pisado às escondidas” e têm interesse público. O jornalismo não é uma profissão de “recadeiros” que dizem o que o poder gosta de ouvir ou que o bajule.


Por natureza, o jornalismo deve ser uma profissão anti-poder. Precisamos duma informação que nos leve, como diriam os romanos, a saber se a mulher de César só parece ser séria ou se é mesmo séria.

Há quem fique fora de si com a violação do segredo de justiça pelos jornalistas, mas isso só acontece com gente importante, os outros não falam disso. Aliás o segredo de justiça já não serve a tranquila progressão dos processos, mas tornou-se no véu que esconde a “pouca vergonha”.Devia acabar para maior transparência da vida política.

Sócrates construiu, com a sua propaganda, um “país” que existe apenas na sua megalomania e na cabeça dos seus apaniguados. Os portugueses já deram conta que a realidade é muito diferente daquela que “prega” o Primeiro-ministro e é trágica pela incompetência e ausência de sentido de Estado de quem nos governa.


 

Apresentação do livro Anamnese na Casa dos Açores

Não terão passado de trinta as personalidades ilustres que, vivendo no Porto, criaram a casa da sua terra, a Casa dos Açores. No entanto, conseguem associar às suas iniciativas culturais os muitos continentais que com eles se cruzam nas universidades e nos locais de trabalho.

As suas instalações encheram-se para uma romagem de afectos, a propósito do livro Anamnese de José Ferraz Alçada, ilustre médico que em Coimbra, na Real República Corsários das Ilhas, foi adoptado açoriano.

O evento tornou-se, rapidamente, num encontro com a memória de pessoas, lugares, canções e acontecimentos que fizeram muitas das tertúlias dos Corsários das Ilhas.

Além da apresentação do livro de José Alçada pelo Prof.Dr. Cristóvão de Aguiar, co-repúblico dos Corsários, inaugurou-se uma exposição de fotografias de Laurindo Almeida e António Paes Cardoso, recordou-se Nemésio e Natália Correia em inúmeros quadros que constituem o rico espólio da Casa dos Açores e ouviu-se música executada por dois jovens açorianos.

Como referiu o apresentador, “logo a partir do título”, os contos, muito ao estilo de Miguel Torga, harmonizavam-se com as memórias, por todos, ali vividas. E isso aconteceu, logo de início, quando um diaporama do texto de Alçada “uma crónica duma morte anunciada” trazia ao convívio Zeca Afonso. Com um fundo musical, uma voz feminina lia a crónica que lembrava o Cantor de Grândola Vila Morena, afirmando a certo passo: “sob o olhar atento de Antero de Quental imortalizado num punhado de versos pintados a negro no fundo branco duma parede (Zeca) temperava as canções do folclore açoriano, com o mesmo afinco e com o mesmo carinho com que temperava as canções da Beira Baixa, do Minho, de Trás-os-Montes, do Algarve ou do Alentejo que tanto, tanto amava. (Chamava-se Catarina/ O Alentejo a viu nascer/Serranos viram-na em vida/ Baleizão a viu morrer)”.

Depois, o apresentador lembrou que os contos e crónicas de José Alçada estavam marcados pela sua condição de médico e, por isso, foram elaborados a partir de “um inquérito à realidade que o rodeava para dela arrancar a matéria que mais lhe interessava, com a qual, depois de amalgamada e bem digerida, construiu a sua ficção plausível.” E, em forma de advertência, Cristóvão de Aguiar assinalou: “Os contos e as crónicas de Anamnese são tudo menos anódinos. Estabelecem um compromisso com a vida e a gente que nela luta num sofrido dia-a-dia, com o povo esquecido da serra, da África da Guerra colonial, da gente simples do interior da Beira Alta. Não se trata, porém, do empenho panfletário tão próprio do neo-realismo puro e duro da primeira fase (…) como poderia a um olhar distraído fazer crer”.

José Alçada, após agradecer o privilégio de ver o seu livro apresentado na Casa dos Açores e de doar o apuro da venda às vitimas dos recentes temporais naquela Região, recordou o tempo que passou em Coimbra na República dos Corsários, as lutas dos açorianos contra a ditadura e como a todos serviu de bandeira as palavras de Antero, escritas no rés-do-chão da República, no fundo branco da parede: “A liberdade não é tudo, mas é o primeiro passo para se alcançar tudo que é justo e santo”.

O autor de Anamnese esteve ligado à luta contra a tuberculose, fez parte da Direcção da Associação de Escritores de Gaia e, entre diversos prémios, foi distinguido com o “Prémio Dr. Joaquim Namorado. Publicou crónicas em diversos jornais, inclusivamente no Comércio do Porto e no Jornal de Notícias.

Não será por mero acaso que a apresentação do livro de José Alçada tenha sido feita em Janeiro. Aproxima-se a data da Revolta que pretendeu instaurar a República e é muito natural que naquele tempo as tertúlias fossem galvanizadas pelos mesmos ideais que nortearam a elaboração deste livro.

Feliz coincidência para todos os que viveram o evento promovido pela Casa dos Açores!

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

 

O cerne do problema!


O ex-ministro João Cravinho vai ao cerne do problema português: «o centro da corrupção grave em Portugal» está «no sector político». «Isso é o grande problema que nós temos pela frente», declarou ao “Sol” o autor de um pacote anti-corrupção recusado pelo Governo.


E esse é um facto indesmentível, para a resolução do qual não parece que possamos contar com as instâncias superiores da Justiça, o que é grave, muito grave!

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

 

Ruptura ou truque

Aí vem a ruptura. A crise já cá mora há muito tempo. Sobretudo a moral!
Sócrates conta com a antipatia que, geralmente os portugueses devotam a Jardim e aos seus gastos, para provocar uma ruptura, mas parece-me que as suas contas vão sair trocadas. Não ganhará as próximas eleições!

terça-feira, fevereiro 02, 2010

 

Faleceu Manuel Serra


Faleceu Manuel Serra. Portugal seria outro, se Manuel Serra tivesse ganho o primeiro congresso do PS, depois do 25 de Abril. Perdeu a favor de Mário Soares, devido a uma intervenção muito emotiva do “seu amigo” Manuel Alegre que nessa altura (1974) acabara de entrar para o Partido (nunca foi seu fundador como por aí se diz).


Manuel Serra era, ideologicamente, oriundo da acção católica progressista. Tinha uma concepção da política que nada condizia com a retórica republicana. Era um homem bom e de convicções. Esteve no Golpe de Beja, participou, com Miguel Sousa Tavares, na intentona fracassada da Sé de Lisboa e foi um dos fundadores do Movimento Socialista Popular (um grupo autónomo do PS).


Defendia um socialismo aberto aos valores cristão, expressos na “Rerum Novarum” e uma militância inserida no tecido social, onde, segundo ele, se fazia a escola do socialismo humano. Por não ver que o PS seguia esse rumo, mas o do “aparelhismo” (sindicância de votos, retórica falaciosa, etc.) que levava a esvaziar os seus valores, abandonou este Partido, logo a seguir ao Congresso.


Conhecia-o e admirava-o. Onde estiver, o meu abraço.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

 

Um texto proibido


Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.


Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicacado hoje (1/2/2010) na imprensa.

 

Mário Crespo censurado, abandona colaboração com JN

Todos os que compravam o JN para ler Mário Crespo ou António Pina, já têm menos razões para o fazer.


O Primeiro-ministro não convive bem com a liberdade de imprensa e o JN submete-se, com vassalagem, à vontade de José Sócrates.

Também não convive bem com a justiça e felizmente o sindicato dos magistrados não deixa que a espinha da independência seja vergada.

Orgulha-nos uma emissora, como a SIC, que presa o direito à verdade dos seus telespectadores e, por isso, solidarizou-se de forma inequívoca com Mário Crespo.

A verdade, a honra e a dignidade de um órgão de informação vale mais que a falta de sentido democrático de um José Sócrates e isso é tão relevante que merece que, por exemplo, em minha casa seja a SIC o única canal televisivo que se sintoniza.

O Jornal de Notícias recusou publicar um texto de opinião, onde Mário Crespo relata um encontro entre Sócrates (com o seu cinturão protector), Lacão, Silva Pereira e um executivo de televisão, onde Crespo foi referido como um «problema» que tinha de ter «solução». Não estranhamos!


José Sócrates nunca leu o livro de Karl Popper “A sociedade aberta e os seus inimigos” e, naturalmente, não percebe que é um embuste chamar democracia a um regime que vive da propaganda e da vassalagem.


O fundamental de uma democracia é a crítica e é no saber responder às críticas que os governantes se fortalecem e a democracia se afirma, como um regime responsável.

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