segunda-feira, fevereiro 15, 2010

 

Os monges de Salamanca e o maléfico vício de pôr a pensar


Nos finais da Idade Média, os monges de Salamanca tornaram-se politicamente correctos, ao exclamarem perante Isabel, a Católica: “Deus afaste de nós o maléfico vício de pensar!”
Anos depois, Descartes abria as portas à modernidade, afirmando:”Não é suficiente ter bom espírito, mas o principal é aplicá-lo bem”. E justifica: “As maiores almas são capazes dos maiores vícios e das maiores virtudes, se não seguirem o caminho do melhor uso da razão: o de pôr tudo em dúvida”. E porquê? Ele próprio explica: “só fica esclarecido quem dissipou as suas próprias dúvidas”. Quem não encontrou razões para esclarecimento não supera as suas suspeitas e não percebe quais são as razões que possam justificar determinado procedimento, nem fica com a luz do pensar que potencializa a descoberta das melhores ideias para melhor orientar a sua acção. Com os propósitos de Descartes, surgiu, assim, um paradigma incorrecto a que, paradoxalmente, foi chamado modernidade.

A ideia de paradigma terá surgido a Wittgenstein, um filósofo austríaco, considerado por muitos, o maior filósofo do século XX. No seu entender, o conceito não só significa “um modo de ver” ou “sistema de crenças” como também “uma técnica de operar”. O “modo de ver” configurado por um paradigma tem, segundo o Filósofo, um papel análogo ao de um par de óculos com certas características (por exemplo, cor e graduação).

Aceitando esta explicação, ao ouvirmos Sócrates, o Governo e o Partido Socialista temos de concordar que se aproximam mais do paradigma dos monges de Salamanca do que do Pai da modernidade. Os seus óculos funcionam como um retrovisor de um carro: reconhecem os erros dos outros no passado, mas não são capazes de dar razões para justificar as dúvidas que lhe são colocadas no momento. Preferem justificar um erro do presente com erros do passado e recusam fazer da argumentação uma interacção que produza os denominadores comuns que fazem avançar consensos e encontrar os bons entendimentos indispensáveis à resolução dos problemas que nos apoquentam. Por isso, não sabem ouvir, respeitar o oponente, valorizar argumentos contrários e muito menos aderir á força argumentativa das propostas contrárias.

Não havendo diálogo, é politicamente correcto usar expedientes para não deixar falar do que não convém. E já não é só Sócrates, nem só este Governo a seguir o paradigma dos monges de Salamanca na Assembleia e nas interferências nos noticiários da comunicação social. A providência cautelar (duma empresa onde o Estado é dominante) visando a "não publicação no jornal, em papel e ou formato informático, da transcrição de comunicações que envolvam o requerente" Rui Pedro Soares (que, como se sabe, apareceu envolvido nas escutas do chamado “Face Oculta”) são um bom exemplo disso.

Vai ficando para longe um dos baluartes da democracia: a liberdade de imprensa. Cada vez mais este Governo, José Sócrates e os seus sequazes se vão aproximando dos monges de Salamanca

Não há dúvida nenhuma: temos de mudar de paradigma para nos aproximarmos da modernidade!

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