quinta-feira, agosto 31, 2006

 

A RAPARIGA

A casa está a transbordar de alegria
Como uma bilha cheia de leite ao sol
Uma rapariga à janela ocultamente
Dá os seus seios às pombas.

Repletos palpitam os seios
Espetam-se os mamilos
Titilam-nos as aves
E subitamente o leite transborda.

Andréas Empeiríkos (1901-1975)

in: "A Ternura dos Seios"
trad. de Manuel Resende

OBbs: enviado por A.P.

quarta-feira, agosto 30, 2006

 

Novo ano judicial

O novo ano judicial inicia-se na próxima sexta-feira. Segundo a LUSA, a efeméride será dominada por criticas relativamente à redução para um mês, o mês de Agosto, das férias judiciais.

Talvez, do ponto de vista da credibilidade da Justiça e da dignificação dos órgãos que a tutelam, a análise do papel dos magistrados nos conselhos disciplinares dos organismos do futebol exigisse uma mais oportuna e urgente reflexão.

É que a imagem da justiça não vem das férias dos magistrados, mas da postura dos seus agentes e do funcionamento das instituições que a representam.

terça-feira, agosto 29, 2006

 

Que venha a noite

Que venha a noite e deixe o seu mistério
sobre nós dois, amor.
Não fomos feitos para andar ao sol
continuamente,
nem para ter saudades do passado
ou para chorar um sonho que se esfolha.
Nascemos só para viver e amar
e construir na sombra e no silêncio;
nascemos só para cantar e encher do nosso canto
confiado e heróico
a calma da alvorada que se espera;
nascemos só para nos confundirmos
na imensa teoria humana que se forma
e caminha consciente…
Que venha a noite e deixe o seu mistério
sobre nós
e traga, sobre nós, o esquecimento.

Álvaro Feijó
Portugal,1916-1041
Obs: enviado por Amélia Pais

segunda-feira, agosto 28, 2006

 

Uma medida justa

Foi hoje publicada, no Diário da República, a lei anti-discriminação.
Não se compreendia que um ser humano, por ter uma deficiência física ou mental, fosse discriminado nos seus direitos sociais, culturais, económicos, de acesso aos serviços de saúde ou outros.
A partir de amanhã será punida a prática de actos discriminatórios, como a recusa ao direito de fruir bens e serviços, bem como a limitação de acesso a estabelecimentos de saúde. Será também penalizada a produção ou difusão de anúncios de ofertas de emprego que contenham quaisquer especificações sobre critérios de preferência baseados em factores de discriminação em razão de deficiência.

O desrespeito por esta lei dará lugar ao direito de indemnização e a aplicação de coimas que poderão ir de 5 a 10 vezes o valor da retribuição mínima garantida, no caso de actos discriminatórios praticados por pessoas singulares; e 20 a 30 vezes o mesmo valor no caso da mesma prática por pessoas colectivas de direito privado.

domingo, agosto 27, 2006

 

Deixou-nos Veiga de Oliveira

Faleceu o Eng. Alvaro Veiga de Oliveira. Conheci-o em casa do meu compadre, José Mendonça. Eram amigos desde os tempos de estudante, participaram ambos nas lutas académicas e os dois fundaram, pouco depois de se terem licenciado, a Betar, uma empresa de projectos da construção civil. Foi a forma que encontraram para, nessa altura, superar as dificuldades de emprego na função pública.

Veiga de Oliveira nasceu em S. João da Pesqueira, estudou no IST, desde muito cedo ligou-se ao PCP, foi diversas vezes preso pela PIDE e atribuíam-lhe o recorde de resistência à tortura do sono. Depois do 25 de Abril foi ministro dos Transportes e Comunicações do IV Governo Provisório e Ministro do Equipamento Social e Obras Públicas do VI Governo Provisório do almirante Pinheiro de Azevedo.

De convicções muito firmes, era, no entanto, um homem de diálogo e de um pensamento livre. Com Silva Graça, Sousa Marques, Vítor Louro,Dulce Martins e Vital Moreira integrou o conjunto de dissidentes comunistas conhecido como «grupo dos seis».


Após a saída do PCP, integrou em 1995 a Plataforma de Esquerda e mais tarde filiou-se no PS. O seu último acto político público foi o apoio à candidatura a Belém do actual Presidente da República, Cavaco Silva.

Deixou-nos com 77 anos. Pediu para ser cremado e da sua morte só avisar alguns amigos, entre os quais o meu compadre.

Estou a vê-lo enfiado num sofá a afivelar um sorriso que intervalava com gestos determinados durante uma amiga conversa.

Deixou-nos uma saudade imensa.



 

Ai TIMOR!!!...

Um grupo de polícias de Timor, incluindo o director da Academia de Polícia, Júlio Hornay, dirigia-se ao comando da ONU. Cumpria uma ordem do ministro do Interior para comparecer no comando da ONU, a fim de conhecer as suas competências na nova missão das Nações Unidas.

Interceptado pelos polícias australianos, todos os policias foram obrigados a despirem-se no meio da rua, em frente de toda a gente, ficando apenas com a roupa interior, sob o pretexto de vestirem fardas ilegais. De nada adiantaram os protestos e o garantirem que aquelas eram as suas fardas.

Aqui está um facto que deveria obrigar Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Ramos Horta e todos os responsáveis pelos destinos de Timor a pensarem nas consequências de permitirem ou criarem condições para uma eventual transformação de Timor num protectorado da Austrália.

sábado, agosto 26, 2006

 

O futebolismo

O Futebol é o espelho do País.

Desapareceu o sentido do interesse público e quem está na política ou no futebol vai tornando claro que não está para servir o prestígio das instituições, mas os das suas “capelinhas”.

A “ditadura” da lábia já não consegue esconder a crueza dos factos.

O caso Mateus demonstra, de forma evidente, que o império da “retórica” não consegue iludir os jogos de interesses e tornou-se numa peça de hilariante surrealismo que só pode escandalizar quem não se apercebeu do gigantismo do polvo configurado pelo “Apito Dourado”.

Precisamos de um tribunal do desporto que funcione de forma independente e autónoma e não conselhos disciplinares com magistrados amarrados aos clubes que os indicam; precisamos de uma reforma da lei de bases do desporto que evite a divisão de competências pelos vários organismos; precisamos de credibilizar as instituições do futebol e produzir leis que possam apoiar o seu funcionamento de forma autónoma e responsável.


O caso Mateus arrastou-se na Liga de Clubes não só por incompetência, mas também porque as instituições do futebol estão amarradas aos jogos de poder que reflectem as pressões dos clubes.

É preciso que a Liga e a Federação sirvam o futebol e não o clubismo que vai “engordando” o negócio de muitos patrões do futebolismo.

 

As férias terminaram

Marrakech e Agadir ficam já no passado.

Num futuro, não muito distante, Marrocos será um país idêntico a um outro qualquer da Europa.

São os efeitos da globalização. E isso já se revela nas praias de Agadir.

O fim de férias poderia significar a entrada num “novo ciclo” para se cumprir o que diz o poeta: «o mundo pula e avança»

Mas esse salto não se adivinha.

Na política, na economia, na educação, na justiça, no futebol -- em todos os sectores da nossa vida colectiva -- nada de novo.

Tudo flui baço e como dantes: o futebol joga-se na confusão e continua rico nas suas peripécias; o país esqueceu-se de Marques Mendes; a renúncia de Carlos de Sousa à Câmara de Setúbal demonstra, à evidência, que o PCP não é só a festa do AVANTE; Sócrates continua a vestir bem e o PS a liofilizar-se; de vez em quando os noticiários lembram-nos que Cavaco Silva já é Presidente da República; e os touros continuam a morrer em Barrancos. Também o azedado Vasco Pulido Valente continua arreliado
com a vida e em baixo na sua auto-estima de portugês.

Nenhuma desilusão apaga esperanças.

E porque o marasmo que todos nós vivemos parece a todos não incomodar, que poderá este cronista dizer que traga interesse neste regresso de férias?!...

Esperam-se sugestões!

domingo, agosto 13, 2006

 

É altura de ir para férias.

A paz no Médio-Oriente parece possível: aguardamos que Israel cumpra os acordos, perceba que o seu belicismo só agrava os seus problemas com os àrabes e o diálogo vá construindo um entendimento entre culturas diferentes e evitando o regresso da barbárie.

Assistimos ao concerto dos Rolling Stones e do mais fundo da nossa memória regressaram, quase conspirativamente, lendas e luas míticas trazidas por velhos temas que, num ritmo alucinante, despertavam impulsos que nos forçavam a entrar na vertigem frenética da interpretação genuína dos Stones.

O espectáculo deslumbrante terminou com "Satisfaction".

Mick Jagger, Keith Richards e os outros elementos da banda continuam iguais na sua energia. A bruma dos muitos anos que nos acompanham (somos da mesma idade dos Stones) furtou-se à inevitabilidade do tempo e perdemo-nos no ritmo alucinante dos Stones. Foram duas horas inesquecíveis e os nossos músculos dão hoje sinais de algum ressentimento.

Precisamos de férias!

Vamos somar a esta noite mais mil e uma. Na quarta – feira partimos para Marrakech e depois visitaremos Agadir.

Esperamos, nessas poucas noites que por aí vamos estar, reencontrar os sonhos que em outros tempos pisaram os canteiros das nossas fantasias, mirando as fortalezas daqueles véus que guardavam as mulheres mais belas do mundo.

Com os marroquinos, gente com um modo de ser muito parecido com o nosso (não tivessem eles andado durante alguns séculos por esta banda e não fosse um português a erguer a fortaleza de Agadir), também temos a expectativa de reconfortar energias perdidas.


Não sei se o reconforto é a palavra acertada: o que espero é sentir que me foram devolvidas as noites em que me perdi de poesia, que retome o barco que lançou a minha geração numa praia à procura de pássaros azuis em campos verdes que anunciassem a primavera de um mundo mais justo, mais humano e mais feliz.

Até aos finais deste mês.


Termino com um poema que me enviou por e-mail Amélia Pais:













Ao gosto da vida

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!
Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!

Miguel Torga

Até breve! Sejam felizes.

sexta-feira, agosto 11, 2006

 

Só há uma solução para a paz: promover a pacificação

A Rússia entregou ontem ao Conselho de Segurança das Nações Unidas um projecto, solicitando um cessar-fogo de 72 horas no Líbano por razões humanitárias e pretende que o documento seja aprovado hoje.

Israel discorda, argumentando que "seria uma solução muito má" para a crise, porque "permitiria ao Hezbollah reorganizar-se".

Pergunta-se: será que também não permitiria o mesmo a Israel?!...

Há muitos exemplos na história a demonstrarem que a paz não se consegue com o mero esmagamento do adversário. A paz consegue-se promovendo a pacificação e esta só se atinge com menos guerra e mais diálogo.

Sempre qu
e uma das partes beligerantes fica esmagada, o sentimento mais profundo é o de humilhação que pede vingança e é a vingança dos traídos pela história que está na base do terrorismo. É preciso que Israel, Bush e Tony Blair entendam isto, para que o mundo não seja um global barril de pólvora!

Só há uma via para a paz e para acabar com o terrorismo: não gerar injustiçados e promover a pacificação pelo diálogo.

 
Duas medalhas de ouro, uma nos 100 metros e agora nos 200 metros, fazem de Francis Obikwelu o atleta português mais medalhado nos Europeus de Atletismo

O atleta português teve uma prestação invejável nos Europeus de Atletismo de 2006, vencendo as duas provas onde competiu, com novos recordes nacionais (9.99 segundos nos 100 metros e 20.01 nos 200 metros).

Parabéns, Obikwelu!

quinta-feira, agosto 10, 2006

 

Rolar não é tudo na vida

 

Parabéns Francis Obikwelu!

A medalha de ouro já foi conseguida e Obikwelu já está na segunda ronda nos 200 metros dos Campeonatos da Europa de Gotemburgo.

 

Uma questão metafísica

O líder do PSD não critica o facto de um avião israelita, em tempo de guerra, ter estado nas Lajes.

Só exige explicações pelas explicações.

Isto é, a sua preocupação não é saber se Portugal quebrou ou não a neutralidade que lhe é exigida, se Portugal dá ou não cobertura ao facto de Israel estar a destruir barbaramente um país, só porque dois soldados seus foram raptados pelo Hezbollah: apenas tem uma preocupação metafísica.

É claro: a metafísica não constrói alternativa política e, por isso, o PSD está à altura do seu líder.

quarta-feira, agosto 09, 2006

 

Que política de neutralidade?!...

Um avião militar cargueiro de Israel, transportando «material bélico não ofensivo», fez uma escala na base militar das Lajes, nos Açores, na semana passada.

Material não ofensivo significa que não consta de munições, nem de armamento, mas pode ser, p.ex., peças para armamento.

Será que a diplomacia portuguesa se orienta pela hipocrisia: envia medicamentos e apoia a guerra?

Como compreender esta situação?!..

Ninguém pede esclarecimentos?!


 

A crise não é para todos

Noticia, hoje, o Jornal de Negócios:

Os lucros dos cinco maiores bancos portugueses somaram, no primeiro semestre do ano, 1.345,5 milhões de euros. BCP, Caixa Geral de Depósitos (CGD), Santander Totta, BES e BPI viram os seus resultados líquidos aumentar entre Janeiro e Junho, em média, 31,5% relativamente ao mesmo período de 2005.

terça-feira, agosto 08, 2006

 

A monstruosidade do MAL

Segundo Fernando Nobre «as bombas e o ambiente de guerra reforçam o Hezbollah».

A guerra, o sofrimento e a devastação causada pelo exército israelita tem afectado sobretudo crianças, idosos e mulheres. Esta situação tem provocado uma indignação geral, nomeadamente no mundo árabe, e fez desencadear a solidariedade das ONG e uma forte «união do povo libanês». O Médico da AMI diz ter assistido a situações de «alguns xiitas que foram acolhidos pelos sunitas e pelos cristãos».

Entretanto, generaliza-se a revolta pelo facto da solidariedade das organizações não governamentais estar impedida de chegar ao sul do Líbano. A própria ONU considera que não há condições de segurança para a distribuição de ajuda, pois Israel, para além de bombardear estradas e pontes, avisa que atingirá todos os veículos que estejam em movimento nessa área.

Um general israelita dizia, hoje, que os seus bombardeamentos não atingiam as populações. O que significará, então, esta denúncia da AMI e da ONU?!... E os cerca de mil mortos de civis?!...

Quem se lembra de factos semelhantes ocorridos durante a Segunda Guerra?!...

É preciso estar sempre do mesmo lado: do lado dos que mais sofrem com a guerra.

segunda-feira, agosto 07, 2006

 

Nova lei da Paridade

Foi, hoje, promulgada pelo Presidente da República a Lei da Paridade.

Esta lei resulta da revisão da lei anterior que o PR se recusou a promulgar. Impõe a «representação mínima de 33,3% de cada um dos sexos nas listas» candidatas às eleições legislativas, autárquicas e europeias.


Os partidos que não cumprirem as quotas estabelecidas arriscam-se a perder 50% da subvenção a que tinham direito a receber em função dos votos obtidos. Esta «pena» é mais leve do que a inicialmente proposta pela bancada do PS - a exclusão pura e simples da lista, considerada excessiva pelo PR.


Segundo a nova lei do PS, «se um dos sexos estiver representado na lista de candidatura em percentagem igual ou superior a 20% e inferior a 33,3%», esse corte de 50% diminui para 25%. Na legislação há, porém, excepções. Listas que concorram a freguesias com 750 eleitores ou menos ou concelhos com 7.500 ou menos eleitores não são obrigadas a cumprir a quota.

Conforme já referi em Post do dia 05 de Julho “não é por imposição de uma lei que as mulheres cultas, competentes e com sentido de dignidade se vão interessar pela política. Sem uma reforma do sistema político que obrigue a uma harmonização dos directórios partidários com o melhor da sociedade civil, a paridade serve para “assistência social” a alguns políticos ou fazer com que a política se faça por famílias, (como de certa forma já acontece com o PS no Porto) mas não vai promover a dignificação da mulher”


domingo, agosto 06, 2006

 

Ainda o Rivoli

Há dias na RTPN assisti a um debate sobre o Rivoli entre o vereador da cultura da Câmara do Porto, uma representante da Plateia e um Professor Universitário ligado às questões culturais.

Foi significativo o debate.

O vereador, presumo que economista, falava num tom presunçoso, onde não faltava para início do discurso um “efectivamente” para dar mais musicalidade às suas intervenções.Garantiu ser fã da privatização, mas a um vereador só se esperaria que fosse fã do serviço público. E não compreendendo isso, não conseguia esconder a ignorância sobre questões culturais. Recorria à citação de espectáculos que tinha visto, como se isso fosse uma autoridade em matéria de política cultural. Significativamente, não deixou que o tempo de antena terminasse para, num rasgo que fazia lembrar os caixeiros-viajantes dos anos cinquenta, assegurar à representante da Plateia: «gostei muito de falar com V. Excelência». Foi -- o que se pode chamar-- um verdadeiro artista.

A representante da Plateia era arguta, mas com a preocupação de chamar o vereador ao seu ponto de vista acabou por confundir o essencial com o secundário e a dar cobertura à vacuidade do vereador.

O Professor Universitário sabia do que falava, mas, como é costume a quem é competente, deram-lhe poucas oportunidades para dizer o que deveria ser dito. Entretanto, foi deixando a ideia de que o futuro do Rivoli só se justifica como um instrumento de uma política cultural da autarquia portuense, mas como esta não sabe o que isso é, só pode ver o Rivoli em termos de receitas e despesas.

Na verdade, o Rivoli justifica-se como um instrumento indispensável ao serviço da rede de escolas das artes do espectáculo que existem na cidade do Porto e que vão da dança, à música, ao teatro e ao cinema. Deveria servir (já que não há outra casa de espectáculos com aquela qualidade) para dar expressão a essas manifestações culturais e promover espectáculos de referência que permitissem desenvolver e aprofundar a qualidade e competência dessa rede.

Nada disso foi claramente expresso no debate e nada disso consegue preocupar um vereador da “cultura”que recorre persistentemente ao “efectivamente” para desenvolver a sua musicalidade palavrosa, mas desconhece a importância fundamental duma política cultural.

Mas também não nos podemos admirar: no seu trauliteirismo cronical, Vasco Pulido (e não polido!) Valente também, hoje, para pôr cobro a uma "multidão subsidiada", defende,no "Público", pura e simplesmente, a entrega do Rivoli a uma gestão privada.

Só admiro, como ainda não se defendeu a entrega a privados das próprias autarquias: é que elas constituem as mais despesistas instituições do País (as que verdadeiramente susidiam multidões de boys)e absorvem o maior bolo das nossas contribuições. E, pelo mesmo prisma, precisam, como diria o valente Pulido, de uma autêntica vassourada.


sábado, agosto 05, 2006

 

Teremos uma Ministra da Educaçao ?!...

Houve críticas muito duras e pouco fundamentadas, mas valeu a pena porque a duplicação das positivas a Química é para mim uma enorme satisfação” , disse a Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, ontem, na apresentação dos resultados ...

É curiosa a “enorme satisfação” da Ministra pela duplicação (só para certos alunos) de notas positivas a Química!!!...

Será que não lhe dá alegria fazer respeitar o princípio da igualdade de oportunidades que caracteriza um Estado de direito?!...

Não sei se temos uma Ministra da Educação!!!!

 

Na Biblioteca da Escola depois da Guerra

Ao entrar sinto a cara a arder:
montes de livros, migalhas de culturas e de beleza
juncam o chão como espigas calcadas
após a passagem de um brutal furacão.

A poeira da guerra veio pousar nos lábios
dos homens de génio. Vozes incorruptíveis
a troar por cima do espaço e do tempo.
Mas incapazes de esmagar as botas do fantasma.

Apanho o livro pouco espesso furado
por uma bala. A chaga é horrível.
Todas as folhas estão manchadas de sangue.


Abro. Leio. Não posso reter as lágrimas
quando o título vem dançar diante dos meus olhos:
«Os sonetos sangrentos de Hviezdoslav».

julius lenko
Trad. de Ernesto Sampaio- in Rosa do mundo. Assírio e Alvim

Enviado por Amélia Pais

quinta-feira, agosto 03, 2006

 
O EQUÍVOCO DO SÁBIO FRANCÊS
Primo Levi

“É provável que aquele sábio francês, cujo nome eu esqueço e que afirmava estar certo de existir por estar seguro de pensar, não tenha sofrido muito na vida, porque de outro modo teria construído o seu edifício de certezas sobre uma base distinta. Com efeito, muitas vezes quem pensa não está seguro de pensar, seu pensamento ondula entre a vigília e o sonho, foge-lhe das mãos, nega-se a se deixar aprisionar e fixar no papel em forma de palavras. Entretanto quem sofre, sim, quem sofre jamais tem dúvida, quem sofre está sempre seguro, seguro de sofrer e, logo, de existir.”
Do conto “Um testamento”, em 71 contos de Primo Levi.
Tradução de Maurício Santana Dias.
São Paulo: Companhia das Letras, 2005
Enviado por Amélia pais.

 

Dois mundos de costas viradas

O secretário-geral da Organização da Conferência Islâmica, o turco Ekmeleddin Ihsanoglu, afirmou, hoje, que o mundo muçulmano se sente «ultrajado» face à «parcialidade» demonstrada pela comunidade internacional na sua reacção à ofensiva israelita no Líbano.

«Estamos perplexos face à parcialidade flagrante demonstrada pela comunidade internacional» na sua reacção à ofensiva israelita no Líbano, acrescentou.

Ihsanoglu sublinhou a necessidade de estabelecer um cessar- fogo imediato que será seguido de uma troca de prisioneiros e de um processo de pacificação por intermédio de uma força internacional, supervisionada pelas Nações Unidas.

quarta-feira, agosto 02, 2006

 

Palavras do Papa Bento XVI

O Papa Bento XVI, depois de emitir um comunicado defendendo os direitos dos libaneses de terem a sua soberania respeitada e dos palestinos "terem um país livre e soberano", bem como os israelistas, apelou, hoje, perante milhares de fiéis na Praça de São Pedro, ao “fim de todas as hostilidades e actos de violência” e pediu "uma solução política definitiva capaz de garantir um futuro mais sereno e mais seguro para as gerações futuras”.

Afirmou, ainda: “Nada pode justificar o derramamento de sangue inocente seja ele de que lado for. (…) Os nossos olhos estão cheios de imagens assustadoras de corpos martirizados de muitas pessoas e em particular de crianças. Penso em particular em Qana, no Líbano".

 

Despachem o "complex" Valter Lemos!!!

Em 13 de Julho, Valter Lemos ( ex-vereador -- pouco assíduo -- pelo CDS na Câmara de Penamacor e actual Secretário de Estado pelo PS) despachou a abertura de um regime excepcional para os exames nacionais de Química e Física (novos programas), permitindo a repetição dos exames na segunda fase e aos alunos concorrer, com a melhor das notas obtidas, à primeira fase de acesso ao ensino superior.

O Secretário de Estado desconhecia (como é seu timbre!...) que um despacho que não está regularizado é uma determinação arbitrária, sem força legal.

Por isso, o diploma do Governante gerou polémica entre pais, sindicatos e partidos que o consideraram anti-constitucional.

Para regularizar e corrigir a “leviandade” do membro do governo, o Conselho de Ministros aprovou um decreto-lei, promulgado sexta-feira pelo Presidente da República, que prevê a generalização deste regime excepcional no futuro.

Obviamente, o decreto-lei impõe a publicação de "um despacho fundamentador” do regime especial.

O Secretário de Estado foi, então, obrigado a emitir um segundo despacho que corrigisse a nulidade do primeiro.

Entretanto, o Provedor de Justiça, Nascimento Rodrigues, considera que a excepção veio desvirtuar o processo de candidaturas à Universidade e, para corrigir o complex da situação, recomendou a criação de vagas adicionais no ensino superior, uma vez que, no limite, "determinado aluno pode obter o lugar que antes caberia a outro".

Em síntese, tantos despachos e uma lei só veio complicar tudo. Seria tudo mais simples, se fossem abertas mais vagas no ensino superior para os alunos dos novos programas.

Concluindo: se Sócrates quer pôr a funcionar o simplex, tem de despachar do ME o complex Valter Lemos .

terça-feira, agosto 01, 2006

 

Um aviso clarividente

O ministro finlandês dos Negócios Estrangeiros, Erkki Tuomioja, considera que a expansão das acções militares israelitas no Líbano, apoiada por Bush, é inaceitável. No seu entender, a acção dificilmente vai dar o triunfo militar a Israel e só promoverá mais apoio a favor do Hezbollah e de outros extremistas da região

As palavras de Erkki Tuomioja foram ditas antes de uma reunião dos chefes da diplomacia dos 25 países da EU que, hoje, se realiza.


Como se vê, quem critica Israel não é necessariamente um anti-semita encapotado, como pensa certa gente.

A esquerda está do lado do coração, quando é livre e pensa pela sua própria cabeça. Não há holocaustos melhores do que outros e a história regista muitos e em diferentes povos e em diferentes ideologias.

Sofrer um hediondo holocausto não dá o direito a poder infligir sofrimento a outros. Um erro não justifica outro erro.

Por isso, consideramos que a vida de cada libanês morto ou ferido pelos bombardeamentos israelitas vale exactamente o mesmo de cada israelita morto ou ferido por ataques do Hezbollah. Simplesmente, a desproporção entre uns e outros está a ser enorme.
Daí o lado do coração, o lado esquerdo, pender para os que mais sofrem, os que sentem que o Libano se vai tornando na dor, lágrimas e sangue da cidade de Qana.

 

O presidente dos EUA, George W. Bush, exigiu, hoje, que Irão e Síria parem de apoiar a Hezbollah.

E em relação a Israel ?!... Será que os EUA darão o exemplo?!...

Não se entende!...

 

OS POEMAS













Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

in Esconderijos do Tempo
Mário Quintana
Poeta brasileiro (1906-1994)
_________________________

Enviado por Amélia Pais

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