domingo, agosto 13, 2006

 

É altura de ir para férias.

A paz no Médio-Oriente parece possível: aguardamos que Israel cumpra os acordos, perceba que o seu belicismo só agrava os seus problemas com os àrabes e o diálogo vá construindo um entendimento entre culturas diferentes e evitando o regresso da barbárie.

Assistimos ao concerto dos Rolling Stones e do mais fundo da nossa memória regressaram, quase conspirativamente, lendas e luas míticas trazidas por velhos temas que, num ritmo alucinante, despertavam impulsos que nos forçavam a entrar na vertigem frenética da interpretação genuína dos Stones.

O espectáculo deslumbrante terminou com "Satisfaction".

Mick Jagger, Keith Richards e os outros elementos da banda continuam iguais na sua energia. A bruma dos muitos anos que nos acompanham (somos da mesma idade dos Stones) furtou-se à inevitabilidade do tempo e perdemo-nos no ritmo alucinante dos Stones. Foram duas horas inesquecíveis e os nossos músculos dão hoje sinais de algum ressentimento.

Precisamos de férias!

Vamos somar a esta noite mais mil e uma. Na quarta – feira partimos para Marrakech e depois visitaremos Agadir.

Esperamos, nessas poucas noites que por aí vamos estar, reencontrar os sonhos que em outros tempos pisaram os canteiros das nossas fantasias, mirando as fortalezas daqueles véus que guardavam as mulheres mais belas do mundo.

Com os marroquinos, gente com um modo de ser muito parecido com o nosso (não tivessem eles andado durante alguns séculos por esta banda e não fosse um português a erguer a fortaleza de Agadir), também temos a expectativa de reconfortar energias perdidas.


Não sei se o reconforto é a palavra acertada: o que espero é sentir que me foram devolvidas as noites em que me perdi de poesia, que retome o barco que lançou a minha geração numa praia à procura de pássaros azuis em campos verdes que anunciassem a primavera de um mundo mais justo, mais humano e mais feliz.

Até aos finais deste mês.


Termino com um poema que me enviou por e-mail Amélia Pais:













Ao gosto da vida

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!
Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!

Miguel Torga

Até breve! Sejam felizes.

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