terça-feira, julho 31, 2007

 
Deixo-vos um poema.

Até ao meu regresso do Algarve!


VOZES DO MAR

Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d'oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...

Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?

Tens cantos d'epopeias? Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!

Donde vem essa voz, ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!

Florbela Espanca
Poesia Completa
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000

domingo, julho 29, 2007

 

Diz-me como estás a ser criado e dir-te-ei o homem e o mundo que terás amanhã.

A prestigiada revista Esprit dá conta, num dos seus últimos números, das consequências terríveis que um modelo de crescimento económico, centrado nas sofisticadas tecnologias e na deslocação da produção para os países ou regiões, onde a mão-de-obra tem menos custo, cria: redução da produção da riqueza ao comércio e aos serviços, desertificação do interior, centralismo, abandono da agricultura, desemprego e a necessidade de impor a mobilidade e a flexibilização na legislação laboral.

Este modelo, copiado, em primeiro lugar, dos Estados Unidos e genericamente designado por globalização, está a entrar em ruptura. No entanto, Sócrates com o seu inglês técnico e falta de imaginação vai-o (e é vaiado!...) copiando. Não admira, por isso, que deteste ouvir falar em desemprego, crise social, desertificação do interior e outros males que a sua vocação para o new look promove obstinadamente!

Entretanto, teremos de perguntar: como serão os homens e as mulheres produto deste modelo?!...

A educação dos sentimentos desenvolve-se, em primeiro lugar, na família, no modo como os pais estão atentos aos seus filhos, os vestem, os alimentam, os colocam no colo e os ensinam a andar e a relacionar-se com os outros.

Mas, o desemprego, o ter de trabalhar sem horários e longe de casa vai evitando que os casais possam ter filhos e reduzindo o sentido e o papel da família. A maioria dos pais
são obrigados a deixár os filhos quase todo o tempo em creches ou jardins de infância, recolhendo-as, apenas, durante a noite.

Obviamente, com o copianço socrático de um modelo económico que não tem em conta o nosso Futuro colectivo, não nos podemos queixar da desertificação populacional do País e de que os homens de amanhã não tenham empatia, sejam frios, desinteressados pelos outros, egoístas, agressivos e insensíveis ao que se passa à sua volta.

Como dirão os pedopsiquiatras, diz-me como estão a ser criadas as crianças e dir-te-ei o homem e o mundo que terás amanhã.

sábado, julho 28, 2007

 
“Podemos explicar as palavras de alguém tanto mais facilmente, quanto melhor conhecermos o seu talento e o seu carácter”

Baruch de Espinosa

sexta-feira, julho 27, 2007

 

"Caso Charrua"

No “caso Charrua” andou mal a Ministra da Educação, pessimamente a Directora Regional da Educação do Norte e, agora, o próprio Charrua. Seria interessante que este professor de inglês, já que exige uma indemnização por danos pessoais e profissionais, também explicasse a forma como conseguiu entrar na DREN, o que de importante por lá fez e por que se incompatibilizou, em temmpos passados, com outro director regionail do PS?. E, como o PSD parece querer alimentar indefinidamente esta telenovela, seria também interessante que explicasse as razões que levaram, durante o seu governo, colocar Charrua nesta Direcção!

Ou será que a memória é curta!?...

quinta-feira, julho 26, 2007

 

Saturados da sua melodia

Não sei se Sócrates convenceu alguém no pseudo-debate que teve, ontem, na SIC.

A sua retórica é melodiosa, estudada para se tornar num espectáculo encantatório, tal como foi o das crianças que com ele representaram a "escola do futuro". Mas tudo isso, por ser demasiado artificial, já se tornou cansativo.

Toda a gente já percebeu a técnica argumentativa do Primeiro-ministro: desvaloriza as críticas dos adversários, usando a falácia habitual de atacar a pessoa, o seu feitio, justificar o erro com iguais erros, em vez de defender princípios ou refutar argumentos com razões. Desvalorizou os argumentos de Manuel Alegre, como aquele aluno que justifica as suas más notas pelo feitio do professor.

José Sócrates veste bem, fala com a concentração de quem está a ouvir a sua própria melodia, mas ainda não percebeu que isso não chega e que as suas falácias não só se viram contra si, mas também contra a própria democracia.

Os validadores da argumentação são afectivos e cresce, com grande velocidade, o sentimento de que os dirigentes partidários “são todos iguais” e este Primeiro-ministro é mentiroso.

A eficácia da retórica não está nos “truques” falaciosos que são aduzidos, mas depende do que é presumidamente admitido por aqueles a quem se dirigem os argumentos. E os portugueses sentem, no dia a dia, que a “lábia” de Sócrates contradiz os factos e, por isso, já não o querem ouvir.


E os factos demonstram isso: a entrevista do Primeiro-ministro não teve grande audiência. Os valores registados ficaram muito abaixo da audiência conquistada pela entrevista de José Sócrates na RTP1, em Abril deste ano. Ontem, a liderança de programas coube à telenovela da TVI "Ilha dos Amores" e José Sócrates ficou em oitavo lugar.

quarta-feira, julho 25, 2007

 

Pátria

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar dedentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrandonem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexode astro em silêncio escuro de lagoa morta.[.]

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam navida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades domesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.

Obs: Enviado por
Filipe Rodrigues

terça-feira, julho 24, 2007

 

A postura esperada

A directora da Direcção Regional de Educação do Norte declarou que a decisão da ministra da tutela de arquivar o processo disciplinar instaurado pela sua direcção ao professor Fernando Charrua "foi bem tomada".

Costumam ser assim, os disciplinados “boys”: subservientes para com os que lhe estão acima e sobranceiros para com os que lhe estão “abaixo”.

A bem da Nação, nunca se espere que tirem conclusões das consequências dos seus actos, porque nenhuma dignidade saberão dar aos mesmos.

 

O mérito da ERC

O “Público” de ontem referia a nova jurisprudência do Direito de Resposta adoptado pela Entidade Reguladora da Comunicação Social. Sempre que uma notícia não está de harmonia com o que pretende o “produtor” do facto, este tem direito de resposta.

E o referido jornal trouxe o exemplo do copo meio cheio ou meio vazio. Se a notícia referir que fulano tinha na mão um copo meio cheio, isso pode merecer, segundo a ERC, o recurso ao direito de resposta: basta que o visado sustente que a expressão “meio cheio” atinge a sua reputação e, por isso, deve ser substituída por “meio vazio”. E pouco interessará saber se o visado cambaleava ou não, quando o copo ficou meio cheio ou meio vazio!

O conceito “reputação” recupera, pela própria decomposição da palavra, novas paternidades. Percebe-se, por isso, a justeza da nova jurisprudência.

Imaginemos o argumento da “reputação” na seguinte paternidade:

Foi noticiado que as Estradas de Portugal declararam que o número de vítimas, nas nossas estradas, “tinha baixado cerca de trezentos por cento”. Filha da boa reputação, as E.P. podem exigir que o jornal corrija, dizendo p.ex, que o que disseram foi que “em 100 sinistros não houve trezentas mortes”. E quando alguém lhes disser que o disparate continua, pode, em nome da sua reputação, voltar a usar o direito de resposta, esclarecendo, p. ex., que deve ser entendido que “os 100 sinistros eram com autocarros de passageiros”. E, se isso ainda atingir a sua reputação, podem continuar a usar o direito de resposta, até que as matemáticas batam certo.

Como se vê, não fazem sentido três acusações que já fazem à Entidade Reguladora da Comunicação Social: 1ª que fecha a notícia numa interpretação unívoca e transforma os jornalistas em meros recadeiros; 2º que desconhece as contribuições da semiótica e da hermenêutica contemporânea para o entendimento do contexto interpretativo; 3º que coloca no “produtor” dos factos a interpretação dos mesmos, tornando o direito de resposta num direito a torcer a notícia até a "lavar" dos disparates que cometeu.

Impõe-se, portanto, o reconhecimento do mérito da ERC e esperar que o Presidente da República o sublinhe.

segunda-feira, julho 23, 2007

 

Fumo

Ligeiro fumo alado! Ó ave de Ícaro,
fundindo as asas na ascenção da fuga,
pássaro mudo, anúncio da alvorada,
sobre as aldeias como em torno a um ninho;
Ou sonho a despedir-se, impura forma
de nocturna visão, erguendo a túnica;
Pela noite, as estrelas encobrindo,
e pelo dia denegrindo o sol;
Vai tu, incenso meu, suplica aos deuses
que nos perdoem tão formosa chama.


Henri David Thoreau

( EE.UU da América ... 1817 - 1862)

Pensador libertário,amante da natureza e homem livre.

No "Ensaio sobre a desobediência civil" escreveu:

“Quando alguém é injustamente detido na prisão, o dever de cada homem livre é ir para a prisão”

«Quando descobri que o máximo que podiam fazer era prender meu corpo, percebi a extensão da minha liberdade»
_________________

Enviado por Amélia Pais

domingo, julho 22, 2007

 

Degradante!...

O debate sobre o estado da Nação tornou-se insuportável. Fica a ideia de que todos os partidos mergulham na mesma lama, com os mesmos defeitos e que os erros de uns justificam os erros de outros. Tem-se a sensação que esta classe política não quer corrigir erros. Não faz debate, porque não há confronto de ideais, mas permanente lavagem de roupa suja.

Num outro registo, a Madeira de Jardim recusa-se, mais uma vez, seguir as leis da República. Não aplica a lei sobre o aborto, mesmo depois dessa lei ser objecto de um referendo. Esta discricionariedade desafia o próprio Presidente da República e este parece encolher-se, lavando as mãos desta situação, ao empurrar a solução das mulheres que querem interromper voluntariamente a sua gravidez para os Tribunais.

A autoridade do Estado ficou sem zelo.

A imagem deste País é, no mínimo, degradante.

sábado, julho 21, 2007

 


sexta-feira, julho 20, 2007

 

Crise ou enfermidade?!...

Santana Lopes apela à reflexão sobre o caminho futuro do PSD. Paulo Portas está em quarentena para preparar o seu caminho futuro. Sócrates e António Costa julgam que estão no bom caminho. José Miguel Júdice pensa que a fusão do PSD com o CDS é o único caminho para a direita alcançar o poder.

Como se vê, há só um caminho a preocupar os políticos: o do poder e dos seus jogos. E é nisto que julgam residir a crise. Mas a crise não é do caminho dos partidos: nesse caminho só correm os interesses de uma oligarquia dividida em facções que travam uma renhida luta por pedaços da “esfera pública”.

A crise existe de forma clara e notória na questão da representatividade da pequena e média burguesia. Esta classe, que deu sentido aos partidos do centrão, está proletarizada e abandonada: não tem quem represente a defesa das suas expectativas, preocupações e problemas.

Tal como aconteceu à criança que foi lançada fora com a água que a lavou, assim aconteceu à pequena e média burguesia, com o seu lançamento ao abandono por parte dos partidos que criou.

Um darwinismo social foi enfraquecendo a Nação, configurada nas expectativas duma maioria formada pelo proletariado e pela pequena e média burguesia. Esta grande maioria ficou sem quem a represente e, por isso, perdeu o sentido de votar, de ouvir a retórica publicitária do Primeiro-ministro e, muito menos, da curiosidade pelo debate do estado da Nação.

A crise não é dos partidos, mas de sentido para a Nação, a política, o Estado e a própria democracia.

Não há uma crise, mas uma enfermidade.

quinta-feira, julho 19, 2007

 

Uma boa solução

Não percebo a estrondosa ideia de que há uma profunda crise no PSD. Demonstrada a evidência que a política cada vez mais se assemelha ao futebol, quer nas respectivas tácticas, quer nas estratégias, a solução parece-me óbvia. Se o avançado do centro do PSD, isto é, o seu líder Marques Mendes, joga bem a retórica com os pés, mas não está à altura de meter golos com a cabeça, faça-se as contratações ajustadas.

Naturalmente, não é Filipe Meneses que resolve o problema: ele faz o jogo que convém ao adversário, corre mal e já demonstrou que é habilidoso na retórica, mas é muito previsível no cabecear. Rui Rio vai brutalmente às canelas do adversário, é muito conflituoso, não respeita os árbitros e corre o risco de fazer má figura nos jogos da primeira liga. Pedro Aguiar Branco não tem corrida e confunde-se nos derives mais exigentes. O melhor para o PSD é contratar Sócrates. Ele insere-se bem neste team, já deu provas de saber fazer o jogo deste “clube” e podia até levar com ele a sua equipa que está preparada para mudar de campo.

Estou convencido que os administradores das respectivas SADS não se importariam. Era uma boa contratação e o País futebolístico e político não perdia mais tempo com uma crise inutil e só lucrava com isso!

quarta-feira, julho 18, 2007

 

Não há democracia sem liberdade e imprensa

Viviane Reding, comissária europeia para as questões de media, não tem dúvidas: “A imprensa escrita livre é a base da nossa sociedade democrática e os governos não devem intervir na regulação da imprensa escrita. É uma regra sem a qual não há democracia. A auto-regulação e a co-regulação é um sistema que, de facto, funciona”. Isto é, deixem aos órgãos que representam a imprensa defenderem a credibilidade da própria informação.

Nunca percebi por que é que um governo socialista desenvolveu tão acerrimamente o preconceito de que todo o jornalista é um manipulador que é preciso controlar, através de comissões de fiscalização, imposição de segredos desnecessários e leis que punem e criminalizam por tudo e por nada. Diz-se que foi o “trauma” do caso “Casa Pia”, mas custa aceitar que a deriva “controleirista” tenha razões pouco racionais.

Não há notícia “espelho ou cópia da realidade”. Toda a notícia configura uma das possíveis interpretações de um facto ou da realidade. E, como os meios de comunicação constituem espaços públicos de informação, os conflitos de interpretação devem ser resolvidos nesse espaço pelo direito á resposta, com as colunas de correcção de erros, pelos provedores dos leitores ou outros órgãos da imprensa que fazem a intermediação de queixas e reparações de erros.

A liberdade de imprensa, antes mesmo de ser um direito de profissionais e de empresas ligadas a essa actividade, é um bem da sociedade. Sem liberdade de expressão a verdade não aparece, nem se desenvolve o espírito crítico que produz conhecimento.

A informação é uma das componentes do que hoje se designa por sociedade da informação e é por vida desta que se desenvolve a ambicionada sociedade do conhecimento.

terça-feira, julho 17, 2007

 

Semelhanças na diferença

Perguntou-me, hoje, um amigo, médico de profissão e dos sete costados social-democrata :

- Já leu o livro de Zita Seabra?!...

Respondi-lhe:

- Não, nem sequer o comprei!
- E leu o livro de Carolina Salgado?

- Esse li-o. Um pouco na transversal, mas li-o.

- Pois, se ler o livro de Zita Seabra vai notar o seguinte: Zita Seabra está para o Cunhal e para o P.C.P, como Carolina Salgado está para o Pinto da Costa e para o F.C.P. Ambas interpretam a memória do seu passado à luz dos “diabos vermelhos”. Só há uma pequena diferença: terá sido a própria Zita a escrever a sua autobiografia!

E é capaz de ter razão!

segunda-feira, julho 16, 2007

 

excepção

Todos chegam ao seu destino
o rio, o comboio
a voz, o navio
a luz, as cartas
o telegrama de condolências
o convite para jantar
a mala diplomática
a nave espacial
Todos chegam ao seu destino
Excepto…os meus passos ao meu país
.

Mourid Barghouti

(poeta palestiniano contemporâneo)

_______

Enviado por Amélia Pais

domingo, julho 15, 2007

 

Vitória esperada

António Costa ganhou as eleições para a Câmara de Lisboa. Nada de estranhar!

De novo há três factos: uma abstenção estrondosa que revela o divórcio entre os partidos e os eleitores; o papel crescente que vão desempenhando os movimentos cívicos e a enorme generosidade do aparelho socialista: preparou, para um vitória sem grande significado, um banho de multidão a António Costa e a Sócrates, com gente que enfiou em muitas camionetas em Trás-os-Montes, Minho, Douro e Beiras.

É obra!!!... Os guardadores de tamanho rebanho terão, por certo, a sua recompensa.

Não sei porquê, mas veio-me á memória estratagemas que julgava ultrapassados!...

 

Basta de "preconceito"!...

As vítimas são sempre os mesmos: os funcionários públicos.

A necessidade de ir a uma Junta Médica tocou, agora, a uma funcionária duma escola de Matosinhos. Diagnosticaram-lhe quatro tumores e um deles na medula. Suporta dores horríveis e, por isso, com cerca de 40 anos de serviço, pediu a reforma.

Conta ao JN a sua história: "em Outubro do ano passado, quinze dias depois de ter sido operada e onde me extraíram um tumor na medula, fui obrigada a apresentar-me ao serviço, porque a Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) informou o meu marido que, se eu não fosse trabalhar, ficaria um ano sem receber o salário. Aconselharam-me a ir, nem que fosse de maca!".

E acrescenta: “lá fui, o meu marido ia levar e buscar-me à escola e durante um mês não fiz nada, limitei-me a estar deitada numa cama, no interior de um gabinete. Toda a gente da escola foi muito solidária comigo e ajudou-me muito, mas a situação tornou-se insuportável"


Por que é que isto acontecerá?!...

Este governo tem em relação aos funcionários públicos um inqualificável preconceito. Pressupõe: a Administração Púbica não tem sido rentável, porque os funcionários públicos são "mandriões”. Logo, não faltam porque estão doentes, mas por “malandrice”!

O objectivo político tornou-se no governar para os cifrões e não para as pessoas. Quem faltar não "produz" e, por isso, justifique ou não a sua falta, é penalizado na sua carreira.

Naturalmente, as juntas médicas apenas aplicam a “receita”. Depois, como fica bem perante as câmaras da televisão, Sócrates diz-se “horrorizado”!...

Mas quem deu o mote?!... Quem quer que o preconceito seja levado a sério?!....

Chega de hipocrisia!!!...

sábado, julho 14, 2007

 

Queda da Bastilha

Comemora-se, hoje. a “Queda da Bastilha”. Este acontecimento revolucionou a história do mundo e criou esperança num mundo melhor a milhões de seres humanos que se sentiam descriminados e explorados.

O dia 14 de Julho de 1789 marca o início do movimento revolucionário pelo qual a burguesia francesa, consciente de seu papel preponderante na vida económica e cultural, se determinou a conquistar o poder a um aristocracia apoiada numa monarquia absolutista e corrupta que se endividada para manter uma corte pomposa, rodeada de uma nobreza parasitária.

A França era nesta altura, finais do século XVIII, um país essencialmente agrário. A industrialização vai-se desenvolvendo, permitindo a formação de uma nova classe, a burguesia.

A sociedade está dividida em três grupos básicos. O clero é o Primeiro Estado, a nobreza, o Segundo, e os cerca de 95% restantes da população, que inclui desde ricos comerciantes até camponeses, formam o Terceiro Estado. E é este último que, estimulado pelos ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, se revolta contra os privilégios da minoria.

sexta-feira, julho 13, 2007

 

Deixa-me ser assim

Deixa-me ser assim, assim humanamente,
que faça dos meus versos montanhas de promessas
com ondas de esperança, algumas já dispersas
no rio que me envolve na força da torrente.

Nasci para sofrer, e vivo a reflectir
orgulhos, preconceitos... e tudo que seduz,
não sou senão a sombra em busca duma luz
no mundo que se esvai de mim sempre a fugir.

Sofri desilusões, agruras e torpezas;
nasci para ser pobre e quero ser assim,
o meu orgulho é este: ser só senhor de mim,
alheio a preconceitos, desprezando riquezas.

Deixai que a morte seja torre de marfim
e leve no seu manto meus sonhos de tristeza,
ficando só no tempo um facho de beleza
dos versos magoados, sentidos só por mim.

António Baptista (1921-2004)


Nasceu em Pinhel (distrito da Guarda). Residiu em Barcelos desde os 20 anos, onde foi bibliotecário da Biblioteca Municipal de Barcelos entre 1958-1965. Posteriormente foi convidado por Branquinho da Fonseca a dirigir a Biblioteca Itinerante nº12 da Fundação Calouste Gulbenkian. Faleceu em Barcelos em 19 de Abril de 2004
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Enviado por Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com/

quinta-feira, julho 12, 2007

 

Sobre a Escola Pública!...

Hoje, no “Público”, Maria Luísa Abreu escreveu um artigo (“Sobre a ignorância dos sofistas do séc. XXI”) que eu muito gostaria de ter escrito. É uma resposta a um artigo de José Miguel Júdice, publicado no mesmo jornal, no passado dia 6 de Julho.

Júdice vê a Escola com os olhos que orientam a sua vida. Acusa os professores de fazerem lobby (e ainda por cima poderoso!!...) para defender meros interesses de classe. Não sabe o que é a vida de um professor numa Escola e, como diz, Maria Luísa Abreu, fala do que ignora. Não entende o papel social dos professores nem o seu apego à dignificação da Escola Pública. E como poderia entender este valor, quem na sua vida de estudante furava greves para olhar pela sua vidinha?!...

Ninguém mais do que um professor da Escola Pública sente a necessidade (para sua realização profissional) de tornar a Escola numa referência do ensino, como foi em outros tempos. Tal não acontece, porque os interesses privados, a incompetência e a falta de sentido de Estado dos governantes têm vindo a esvaziar a dimensão de serviço público da Escola e a desvalorizar a autoridade profissional do professor.


Em volta da Escola Pública, foram-se instalando muitos negócios que não servem os seus interesses nem o prestígio dos professores. Em vez de responder aos apelos do futuro dos jovens e do País, a Escola consome-se a interpretar directivas, a responder a interpelações de inspectores, directores e muita outra gente que nunca deu aulas mas vai justificando o seu posto de trabalho à custa de uma burocracia desorientadora e frustrante.

O Governo do PS degradou, ainda mais, a situação da Escola Pública. Parece que escolheu para definir políticas de educação os “merceeiros”, os que nunca souberam viver a situação da Escola por dentro, porque só a conheceram de “raspão” e através do cifrão.

A Escola Pública tem um objectivo: formar cidadãos responsáveis e profissionais competentes.
Mas, para isso, é necessário devolver-lhe a autonomia que ela precisa para se organizar em função dos seus problemas específicos.

Não faz sentido, p.ex., que a Escola Pública não possa levar à prática o princípio da igualdade de oportunidades para alunos diferentes, dispondo da competência para formar turmas com o número de alunos que se harmonize com a capacidade dos professores responderem a problemas disciplinares ou de aprendizagem. Não faz sentido a extensão de programas que, muitas vezes, repetem matérias em diferentes disciplinas. Não faz sentido uma pesada carga horária (à custa do despedimento de professores) que não abre espaço, nem disposição para o trabalho de casa que promove a responsabilidade pessoal no sucesso escolar. Não faz sentido o frenesim da “reunite” que dispersa os professores do fundamental e desenvolve a cultura da “mise-en-scène”. E é um escândalo que a escolha de manuais tenha deixado de ser um acto pedagógico para se tornar num negócio feito entre lanches e cocktails nos hotéis de luxo.

Os professores precisam de sentir que a sua profissão tem dignidade e que a Escola Pública é um lugar de realização pessoal e não de tormenta e frustração.

quarta-feira, julho 11, 2007

 
Que o tempo passe, vendo-me ficar
no lugar em que estou, sentindo a vida
nascer em mim, sempre desconhecida
de mim, que a procurei sem a encontrar.

Passem rios, estrelas, que o passar
é ficar sempre, mesmo se é esquecida
a dor de ao vento vê-los na descida
para a morte sem fim que os quer tragar.

Que eu mesmo, sendo humano, também passe
mas que não morra nunca este momento
em que eu me fiz de amor e de ventura.

Fez-me a vida talvez para que amasse
e eu a fiz, entre o sonho e o pensamento,
trazendo a aurora para a noite escura.

Lêdo Ivo - in: Uma lira dos vinte anos

(encontrado em amoralva -
http://jorgevicente.blogspot.com)
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Enviado por Amélia Pais

terça-feira, julho 10, 2007

 

O prodígio do telejornal!...

Desde há bastante tempo que os media haviam denunciado dois casos desumanos e chocantes: as juntas médicas da Caixa Geral de Aposentações obrigaram uma professora de Aveiro com leucemia e um docente de Braga com cancro na traqueia a trabalharem nas respectivas escolas praticamente até à data da morte.

Sócrates só deu conta desses desumanos factos, hoje ou ontem, possivelmente pelo telejornal.


Nenhum ministro lhe deu conta disso nem sequer o director geral da Caixa de Aposentações e muito menos um dos assessores daquele bando que se atropela nos corredores dos ministérios soube do caso. Ninguém, mesmo ninguém do governo ou do partido que o suporta, fez chegar a notícia desses casos ao Primeiro-ministro ou levou o ministro da tutela a corrigir atempadamente essas monstruosidades de desumanidade. As cartas, os ofícios das escolas e os requerimentos das vitimas ninguém sabe onde param!

Felizmente que Sócrates teve ocasião de ser como o S. Tomé: viu o telejornal e disse: «não gostei de ver estes casos e penso que merecem uma resposta política».


E, graças ao que viu no telejornal determinou: "uma auditoria a todas as juntas médicas da área da Caixa Geral de Aposentações por forma a verificar se há ou não procedimentos que estão errados e que têm conduzido a esses resultados" e anunciou a mudança na legislação que regula a composição das juntas médicas.

Como seria esta governação sem noticiários?!...

Que sorte em termos telejornais!!!...

 

(esta) DEMOCRACIA


As vantagens da democracia são
assaz evidentes nas Berlengas.
A liberdade de expressão é aí perfeita,
muito embora a conversa das gaivotas
possa parecer um pouco frívola e gutural.
Mas liberalmente mergulham sem entraves
na liberdade similar dos carapaus.
Melhor só mesmo o caso das Desertas,
onde os lobos-marinhos são poetas
na república do oceano a meditar.

Graça Videira Lopes-n.1952
Enviado por Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com/
http://cristalina.multiply.com/

segunda-feira, julho 09, 2007

 

Até os Bispos já protestam!...

Geralmente, a Igreja procura não hostilizar os poderes políticos, mas os bispos portugueses já acham que este Governo ultrapassou os “limites”. Estão reunidos em Fátima para denunciar as malfeitorias deste Governo no plano da comunicação, solidariedade social, educação, trabalho, segurança social, etc.

Sócrates já foge das multidões e, agora, terá de rever aquele ar,
que “debita” para os canais da TV, de um "demo-samaritanismo", sempre pronto para "ouvir" aqueles com quem nunca dialoga. A Igreja, que sempre verberou contra os filisteus, já não vai na sua conversa, como aliás a maioria dos portugueses.

O seu “ diáfano manto”, fabricado nos estúdios da TV, parece ter –se diluído na crua e fria realidade do desemprego, da confusão entre interesses partidários e interesses do Estado, da prepotência, da arrogância e da ausência de esperança para um Futuro melhor para todos e não apenas para os boys do PS.

Sócrates e o seu Governo já não convencem ninguém. E o dramático é não termos uma oposição capaz de capitalizar este descontentamento.

É preciso uma grande reforma dos partidos para que haja alternativas e não meras alternâncias do “mesmo”.

domingo, julho 08, 2007

 

Marc Chagall

Faria ontem anos!

Marc Chagal nasceu na Bielorrússia a 7 de Julho de 1887.

Aprendeu com um retratista não só as técnicas de pintura, como a gostar e a exprimir a arte. Frequentou a Academia de Arte de São Petersburgo.

Em Paris (cidade-luz) entrou em contacto com as vanguardas modernistas e conheceu
Amedeo Modigliani , La Fresnay e Guillaume Apollinaire, de quem se tornou grande amigo

Nesta altura, Chagall pinta dois dos seus mais conhecidos quadros: Eu e a aldeia e O Soldado bebé, pintados em
1911 e em 1912, respectivamente.

Após a explosão da guerra (1914), Marc Chagall regressa à Rússia e é mobilizado para as trincheiras dos combates.

Depois da Revolução Socialista, que pôs fim ao regime autoritário czarista foi nomeado comissário para as belas artes e inaugurou uma escola de arte. Mais tarde demitiu-se do cargo e regressou a Paris, onde iniciou mais um período de grande produção artística, tendo, inclusivamente, ilustrado uma Bíblia e Fábulas de La Fontaine. São também deste ano as suas primeiras paisagens.

Em 1935, com a perseguição dos judeus e com a Alemanha prestes a entrar em mais uma guerra, começa a retratar as tensões e depressões sociais e religiosas que sentia na pele, pois também era judeu.

Segue o percurso dos intelectuais do seu tempo, refugiando-se nos Estados Unidos. Só dois anos depois de ter terminado a segunda guerra mundial é que regressa definitivamente a França.

Faleceu em Saint-Paul-de-Vence, no sul da França, em
1985. Foi um dos melhores pintores do séc. XX.

Recordemos a sua obra em:


http://www.famousartistsgallery.com/gallery/chagall-fc.html

 

Esteve II

Sócrates arrisca-se a ficar na história como o Esteve II.

O primeiro sinal dessa denominação surgiu, hoje, com a inauguração da Ponte da Lezíria.

Evitando as enormes ondas de apupos e assobios que a sua presença junto de multidões desencadeia, revelando de forma evidente o divórcio entre o governo e os cidadãos, Sócrates começou a inaugurar sem avisar (ou mandando a polícia interditar a aglomeraçâo de multidões), tornando-se num Esteve II.

Sujeita-se a que, tal como aconteceu ao Esteve I, o das botas, sempre que nos noticiários o jornalista diga que Sócrates esteve a inaugurar uma ponte, se ouça em coro nos lugares públicos, nas esquinas das ruas ou nos convívios familiares (já que nas repartições do Estado é perigoso) o velho refrão: “podia empurrá-lo!?...”

sábado, julho 07, 2007

 

Live Earth

Em 125 países estão, hoje, a decorrer “shows do Live Earth”. O evento pretende chamar a atenção de todo o mundo para os problemas ambientais e muito particularmente para a crise climática.

Está à disposição de todas as pessoas a “Carta de Compromisso do Live Earth.

Esta Carta é uma petição a nível mundial com sete princípios que apelam a um compromisso na correcção dos problemas ambientais:

Leia-a e faça como eu: subscreva-a no site que lhe deixo.

EU ME COMPROMETO:


1.A exigir que meu país participe de um tratado internacional nos próximos 2 anos, que reduza em 90% a poluição responsável pelo aquecimento global nos países desenvolvidos e em mais de 50% em todo o mundo, para que a próxima geração herde um planeta saudável;

2.A assumir atitudes individuais para solucionar a crise climática, reduzindo ao máximo as minhas emissões de CO2 e neutralizando o restante para me tornar uma pessoa "carbono neutra";

3. A lutar pela suspensão da construção de qualquer gerador de energia movido a carvão, que não tenha a capacidade de reter e armazenar o CO2 com segurança;

4.A trabalhar por um aumento significativo na eficiência do uso de energia da minha casa, trabalho, escola, espaço religioso e nos meios de transporte que utilizo;

5.A lutar por leis e políticas públicas que ampliem o uso de fontes de energia renováveis para reduzir a dependência do petróleo e carvão;

6.A plantar novas árvores e me unir a outras pessoas na preservação e proteção das florestas;

7.A comprar produtos de empresas e apoiar líderes que compartilham do meu compromisso em solucionar a crise climática e construir um mundo próspero, justo e sustentável para o século 21.
http://www.avaaz.org/po/climate_pledge/?cl=13348638
PS: Você ainda se pode inscrever para organizer uma festa:
http://www.avaaz.org/po/live_earth/?cl=13348638
ou participar numa festa:
http://www.avaaz.org/po/live_earth_parties/?cl=13348638

sexta-feira, julho 06, 2007

 

Diário Político 56

Com a respectiva vénis, transcrevo o seguinte texto do blog:
http://www.incursoes.blogspot.com/

“se a rosa tivesse outro nome, teria um diferente perfume?*

«Ainda não tinha secado a pobremente metafórica tinta do meu anterior diário e já uma criatura parlamentar me dava sobejos motivos para continuar. Basta compulsar o “Público” de quinta-feira, dia 5, para termos notícia da jubilosa existência de um senhor deputado Ricardo Gonçalves.

Supõe-se que a referida sumidade seja de Braga, terra barroca por excelência, e com uma profícua tradição de “varrer feiras a varapau” se é que Júlio Dinis, por acaso um médico, retratou com fidelidade o morgado Joãozinho das Perdizes.Mas que fez este ornamento da vida pública nacional para merecer referência de tão apagado croniqueur?Pois apelidou de bufo a pessoa que terá informado os deputados do Bloco e do PC sobre a interessante peripécia vivida em Vieira do Minho.Vejamos: não chamou bufo a quem informou as autoridades competentes sobre a existência infamíssima de um cartaz onde, depois de reproduzidas as palavras imorredoiras do dr. Correia de Campos, se teceriam perigosas graçolas de cunho acentuadamente moscovita e conspirativo.

Esse acto terá, sempre na óptica sagaz e filantrópica do senhor deputado, sido patriótico, altamente social e defensor do progresso das instituições e do são respeito que se deve aos pais da pátria.Bufo seria o funcionário que informou encapotadamente os deputados anti-nacionais do PC e do Bloco. Os funcionários, na óptica do senhor deputado Gonçalves, devem restringir-se a funcionar obedientemente e não morder a mão que lhes paga desmesuradas mordomias quais sejam o ordenado, o subsídio de almoço, o subsídio de férias, o desgaste do relógio de ponto e outras mil facilidades que o exercício da vida profissional lhes concede em dose imoderada e imerecidamente.Eu não conhecia esta eminência de S Bento até ao momento, gozoso entre todos, Deus seja louvado!, em que assistindo a um noticiário, o vi esbracejar, segredar, tocar no ombro majestoso do Dr Alberto Martins, soerguer-se do assento, virar-se para trás, voltar à primeira forma, enfim, um inteiro filme épico, durante o confronto na Assembleia.

Tudo o que lera sobre a sua participação na comissão de saúde adquiriu outra cor depois de o ver ao vivo. Se, na comissão, Sª Exª gritara, exigira “respeito pela política e pela casa” (sic) e indispusera os restantes colegas de partido que, vergonha vergonhosa, se submetiam como cordeiros às imprecações odiosas e odientas dos restantes partidos, aqui no plenário, injustamente amordaçado (eu disse amordaçado e não açaimado), percebi a grandeza da personagem.Presumindo que já tenha ultrapassado os quarenta anos e que, inclusive, já não esteja longe dos cinquenta, dei por mim a pensar que S.ª Ex.ª terá vivido alguns anos no chamado antigo regime. Não os suficientes para exercer o seu talento e coragem cívicos na luta contra o Estado Novo mas também não tão poucos que desconheça o significado da palavra bufo.

Claro que nesses tempos ignominiosos, “bufo” era o informador das autoridades, o que, sabendo de um segredo, ia logo contá-lo a quem de direito (ou de torto) para com isso conseguir uma benesse e, concomitantemente, o castigo dos conspiradores. Se se aplicasse esse conceito ao caso sub-judice, teríamos que o bufo seria a criatura que foi fazer a denúncia do cartaz anti-patriótico e da directora desleal.Mas os tempos mudaram, claro, e o conceito sofreu uma curiosa evolução semântica, como brilhantemente o demonstrou o senhor deputado Gonçalves. Agora o bufo é o que apanha a merecida bordoada e sai da mesa do orçamento.

Será a directora demitida e desleal ou o médico facecioso e faccioso ou algum amigo de ambos. Ou todos juntos!Acho mesmo que o senhor deputado deveria ser nomeado para a Comissão de Acompanhamento do Tratado Ortográfico Luso-Brasileiro, se existe. E se não existe que se crie para o país poder aproveitar os frutos da prodigiosa mente de S.ª Ex.ª.À margem desta crónica fica entretanto um outro apontamento.

Entre as criticas (justíssimas, claro!) à Directora desleal duas chamam particularmente a atenção.

A primeira é que ela não era licenciada em Medicina.

A segunda é que ela, antes de ser provida no lugar, pelo anterior poder, era funcionária da secretaria do referido centro.

Ora vejamos: a lei anterior não punha como condição de nomeação para o cargo de director de um centro médico, a licenciatura em medicina mas uma qualquer licenciatura. Mesmo da Universidade Independente, inglês técnico, incluído. Portanto a criatura fora bem nomeada. O facto de ser funcionária da secretaria e dedicada esposa do vice-presidente da Câmara local, eleito pelo PPD não me parece mais grave do que a pertença do actual director do mesmo centro ao PS mesmo como independente e vereador substituto na Câmara de Ponte da Barca.

De certeza que isso não favoreceu o referido senhor que, é uma suposição, terá de fazer todos os dias a penosa viagem Ponte da Barca-Vieira do Minho, a horas impossíveis para poder estar à hora da abertura no seu posto.

De onde só sairá depois do último funcionário para poder verificar se algum cartaz malicioso vnão se expõe infame aos olhos da população sofredora. Além do que ainda terá de, a horas mortas, continuar a prestar o seu precioso contributo como edil na municipalidade barquense. Uma violência! Um sacrifício!Já o facto da referida directora ter sido preterida (num concurso em que obteve o primeiro lugar) para chefe de repartição pela segunda candidata (não licenciada e sem ter três anos na carreira, segundo o jornal) que actualmente o desempenha em regime de substituição (Público, sexta, dia 6) deve-se a uma distracção das autoridades do Ministério da Saúde que os tribunais sanarão quando for possível.

Se for... E se for a tempo... O facto da segunda concorrente poder pertencer a um partido político, mormente ao PS, deverá ser considerado como manobra traiçoeira do jornal que, desde a célebre OPA do senhor Belmiro de Azevedo, não poupa o nosso esforçado governo à critica rasteira e impudente.

Finalmente: o senhor deputado Alberto Martins respondeu às criticas destemperadas de uma oposição desnorteada e espuriamente aliada, com serenidade e elegância exemplares. Disse S.ª Ex.ª, e cito, “pela história, autoridade e razão de ser, o PS não recebe lições de democracia de ninguém.” E acrescentou: “não há ninguém, pela história em Portugal, capaz de defender melhor a democracia que o PS”.

À maneira do meu colega J M Júdice, aqui vai o meu registo de interesses: Tive o privilégio de conhecer o Dr Alberto Martins, nos anos 60. Fizemos juntos a crise de 69 e o primeiro MES. Julgo que somos amigos, já que não somos camaradas de partido, visto eu não pertencer ao PS. Temos votado da mesmíssima maneira desde há um bom par de anos. E digo isto porque eu comecei a votar no PS em fins de 70 enquanto o Dr Alberto Martins só o terá começado a fazer depois das primeiras eleições presidenciais em que Mário Soares, o meu candidato, derrotou a Drª Lurdes Pintassilgo que ele, Martins, garbosa e cavalheirescamente, defendeu.

Fico todavia perplexo com as palavras que ouvi, na TV e que o jornal reproduz: que história, que autoridade, que razão de ser refere ele? Melhor, que PS diz representar. Aquele em que ele e alguns poucos companheiros (16%) votaram numas eleições internas contra a facção dominante hoje no poder? Ou esta? Ou ambas? Ou este partido agora precariamente solidificado, porque vencedor, mas que dará o golpe de rins à primeira derrota (como tem sido sua tradição... e sua história)?Os cidadãos comuns, que não frequentam S Bento, nem se habituam às metáforas vaporosas que se produzem no plenário, olham para o PS do senhor primeiro ministro Sócrates e não lhe vêm, decerto por miopia política, os traços do PS de Ferro, ou do de Constâncio, do de Sampaio para já não falar no de Soares.

Quererá o dr Alberto Martins dizer no seu “não dito” que o PS é uma espécie de albergue espanhol onde o preço da hospedagem varia com as estações e com a cara dos viandantes que o demandam? Ou, mais subtilmente, quererá Martins, com estas palavras avulsas de sentido e de oportunidade, dizer do seu absoluto incómodo e da sua natural perplexidade perante os casos, que dia pós dia, se vão revelando e que, traduzem algo muito ao arrepio da tal “razão de ser, história e autoridade (?) do PS”?

Mais: está Martins de acordo com Gonçalves ou disse o que disse para não permitir a Gonçalves dar o espectáculo da política como diria algum velho conhecido “situacionista” (da Internacional Situacionista de saudosa memória e não desta situação que cada vez mais adquire o toque e os tiques esponjosos do “pântano” de que falava Guterres)?

do vosso enviado especiald' Oliveira »

Lisboa, 5/6 de Julho

* citação livre de Shakespeare: “Romeu e Julieta”,

 

O glorioso na sua versão maoista


 

Ai Timor!...

O presidente do CNRT, Xanana Gusmão formalizou uma coligação maioritária (inclui a ASDT/PSD de Xavier do Amaral e de Mário Carrascalão, o Partido Democrático de Fernando de La Sama e a Undertim de Cornélio da Gama) contra a Fretilin, partido que venceu as eleições de sábado.

É muito possível que o Presidente Ramos Horta aceite a proposta de Xanana, mas não é preciso ser “cientista político” (como hoje se diz) para prever as consequências desse “golpe”: todo o descontentamento vai ser capitalizado por um só partido.

Pobre Timor!....

quinta-feira, julho 05, 2007

 

Joaquim de Sousa Ribeiro foi eleito juiz do TC .

A Assembleia da República elegeu hoje o professor de Direito Joaquim de Sousa Ribeiro juiz do Tribunal Constitucional (TC).

Conheço o Sousa Ribeiro há muitos anos. Fomos colegas e somos amigos. Admirei sempre a sua honestidade intelectual e a sua simplicidade.

Parabéns Sousa Ribeiro.

 

Um Símbolo de Portugal em Espanha

O Governo Português anunciou que irá encerrar o Consulado Geral de Portugal em Sevilha. Esse encerramento implica a perda de um Edifício Histórico Português, que foi construído para albergar o Pavilhão de Portugal na Exposição Universal de Sevilha de 1929 e cuja propriedade será devolvida ao Ayuntamiento de Sevilha.

Este Edifício Histórico está localizado no centro da cidade de Sevilha, ao lado do Hotel Alfonso XIII, um dos melhores de Espanha e é cobiçado por grandes interesses espanhóis e internacionais. Nós que o temos na mão, por direito, decidimos abandoná-lo.

Será que o Governo entende que temos demasiadas referências culturais portuguesas em Espanha?
Será que, decididamente, preferimos acabar com todos os símbolos nacionais? Como este que a Espanha nos cedeu gratuitamente há quase um século, no centro de uma das suas mais importantes e bonitas cidades?
Um Consulado não se mede só pelos serviços que presta. Conta por ser uma presença de um País numa cidade amiga. Uma cidade onde trabalham Portugueses, onde estudam Portugueses, onde se ensina o Português a centenas de estudantes espanhóis. Uma cidade Amiga. Por isso e por estar num Edifício Histórico Português, pode ser também uma Referência da Cultura Portuguesa, a melhor Marca de Portugal. Em Espanha.

Todo o Português que vai a Sevilha se orgulha de ver o seu País, a sua Imagem, o seu Símbolo no centro da Cidade-Monumento.
O Governo Português vai acabar com ele. E sem ganhar nada com isso. Provavelmente veremos em breve no seu interior uma delegação do "Gungenheim" ou do "Rainha Sofia". É que os Espanhóis tratam bem o que têm.

Denuncie esta situação aos seus amigos. E se conhecer o Presidente da República, ou o Primeiro-Ministro envie-lhes também. Para que não digam que o Povo não os avisou. Não envie é para Amigos Espanhóis. Por vergonha.

Grupo Promotor doCírculo de Portugal em Sevilha

quarta-feira, julho 04, 2007

 

Ora aí está uma boa solução!...

Já que o crescimento económico no Japão é um exemplo a imitar, os novos “gurus” da política devem estar atentos aos sinais que nos chegam da Terra do Sol Nascente.

O futuro pode ser lido mais rapidamente, se houver atenção e sensibilidade para prever as novas tendências. E elas são claras: a ex-apresentadora de TV japonesa, Yuriko Koike, vai substituir o ministro da defesa Fumio Kyuma. O inverso também marcará os novos tempos.

E se Sócrates, cuja virtude de intuir novos tempos é incontestável, fosse capaz de se adiantar à moda japonesa e substituísse os apresentadores do canal público da TV por alguns ministros?!...

Já estão escrutinados pelo povo (o escrutínio é uma intenção do novo estatuto dos jornalistas) e resolvia-se, de forma perfeita, a pulsão que os ministros têm para saírem da discrição com disparates e evitava-se a enorme turbulência que causam sempre que se transvestem de governantes socialistas!

terça-feira, julho 03, 2007

 

para um livro de leituras escolares

não leias odes, meu filho, lê antes horários:
são mais exactos. desenrola as cartas marítimas
antes que seja tarde, toma cuidado, não cantes.
o dia vem vindo em que hão-de outra vez pregar as listas
nas portas e marcar a fogo no peito os que digam
não. aprende a passar despercebido, aprende mais do que eu:
a mudar de bairro, de bilhete de identidade, de cara.
treina-te nas pequenas traições, na mesquinha
fuga quotidiana, úteis as encíclicas
mas para acender o lume, e os manifestos
são bons para embrulhar a manteiga e o sal
dos indefesos, a cólera e a paciência são precisas
para assoprar-se nos pulmões do poder
o pó fino e mortal, moído por
aqueles que aprenderam muito

e são meticulosos por ti.

hans magnus enzensberger

poesia do século XX(de thomas hardy a c.v. cattaneo)
tradução de jorge de sena-lembrado em
http://canaldepoesia.blogspot.com/
______________
Enviado por Amélia Pais

segunda-feira, julho 02, 2007

 

«Sophia»

Conheci Sophia. Faz, hoje, três anos que a poeta Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu. Era uma figura de excelência. Ouvi-a a falar aos jovens no Liceu Alexandre Herculano. O anfiteatro estava repleto e a sua voz ouvia-se como de uma melodia se tratasse. Tive pena de não ter ido com a minha mulher (que preparou essa acção) levá-la a Miramar. Mas quis ser simpático com algumas colegas que desejavam estar com a Poeta mais algum tempo.

Estou ansioso por ler o livro «Sophia» que reúne 70 textos de homenagem à autora de “A menina do mar”.

 

A prioridade das prioridades na Governação!

Há um ditado popular que diz: «se queres conhecer o vilão mete-lhe a vara na mão». Vilão tem aqui um sentido medieval, significando pessoa de baixa condição. Ora, como numa sociedade democrática, todos as pessoas são de igual condição, o ditado só pode ter o sentido que é expresso no Princípio de Peter: «numa hierarquia todo o funcionário tende a ser promovido até ao seu nível mais alto de incompetência».

Mas, como a ideia de “confiança política” ou mais especificamente de “jobs for the boys” subverteu a subida na escala das diferentes categorias, colocando o incompetente directamente no topo, este tem a tendência de aplicar nas suas funções o primeiro corolário do Princípio de Peter: «trocar a ideia de competência pelo medo dela».

É neste contexto que os casos se vão sucedendo: afastamento de Charrua, o processo movido ao prof. João Pedro Caldeira, autor do blog “portugalprofundo”, a demissão da directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, a determinação dada pela coordenadora do Sub-região de Saúde de Castelo Branco, em ordem interna, para ser aberta pelos serviços a correspondência dos funcionários, etc., etc-.

Tudo isto se harmoniza com o segundo corolário do Princípio de Peter: «À medida que o Princípio de Peter invade as nossas instituições mais importantes e mais pessoas vão atingindo os seus níveis de incompetência, mais aumenta a necessidade da sua regulamentação”.

Os funcionários incompetentes, os serviços de “bufos”, etc., etc., devem ser regulamentados. É que, como diz o terceiro corolário do Princípio de Peter, «as regras não originam competência, mas protegem a organização, mesmo quando os regulamentos proliferam na sua própria e complexa hierarquia de incompetência».

Desta forma, se atingirá o último corolário do Princípio de Peter: «a “nata” deve subir até ficar azeda».

Esperamos que este receituário seja a prioridade das prioridades na Governação! É preciso que esta “nata” vá azedando e até cheire mal, para que alguma coisa de importante possa mudar.

domingo, julho 01, 2007

 

Outra corrida…

Pensei que era a corrida dos calhambeques, mas tratava-se de outra corrida. A Boavista, há pouco, estava repleta de polícias, dizem-me que são cerca de 6OO, e muitas centenas de trabalhadores com faixas de protesto.
Pretendem que Sócrates, antes de receber na Casa da Música a comitiva da União Europeia, ouça os seus protestos contra a flexisegurança e outros desmandos para quem trabalha.

 

Atacar o mal pela raíz!...

Os calotes dos municípios já não espantam ninguém.

As autarquias são o reflexo mais pacóvio da política espectáculo. Basta lembrarmo-nos da moda das rotundas á entrada de vilas e cidades, das obras e mais obras em vésperas de eleições, das inúmeras festas para juntar papalvos, dos boys que proliferam a assessorar autarcas e das publicações, onde pagina sim, página sim, o presidente perfila-se em diferentes poses. E, como o dinheiro vai faltando e é preciso mostrar obra, já surgiu a peregrina ideia de um medalhanço geral: a autarquia do Marco, presidida por Manuel Moreira, entrega, durante as festas do Concelho, mais de meia centena de medalhas, umas de ouro e outras de prata. Isto é obra!... De uma só vez, nem trinta dez de Junho conseguiam tal!...

O resultado do esbanjamento foi denunciado por um estudo da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas. Dois terços dos municípios, isto é, cerca de 227 autarquias, não dispõem de meios financeiros para respeitar compromissos. Por outras palavras: são caloteiras.

Entretanto, a falência das autarquias tem um efeito de carrossel sobre a saúde de muitas empresas que para elas trabalham.

Percebe-se, então, que políticos caloteiros vejam na ideia neo-liberal de “estado-mínimo” a solução para a sua incapacidade de gerir; e, então, entreguem os serviços que deveriam prestar aos contribuintes a empresas privadas: é o caso do abastecimento de água, da recolha de lixo, etc.

Só perguntamos: se os serviços fundamentais de uma autarquia vão sendo privatizando, por que não se corta a direito: privatize-se as próprias autarquias!

Ataca-se o mal pela raiz!

É que o País já é, como se vai constatando, uma coutada de alguns.

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