terça-feira, março 19, 2019

 

A questão dos Templários

O que terá levado Brenton Tarrant, o suspeito terrorista da Nova Zelândia, a visitar a Ordem dos Templários? Não se sabe, mas conhecem-se histórias interessantes que estiveram na origem dessa Ordem em Portugal.

Durante o Papado de Avinhão, conhecido por Grande Cisma do Ocidente (1309-1417) vieram ao de cima as grandes contradições que existiam no interior da Igreja e a promiscuidade entre poder temporal e espiritual, com interferências recíprocas. Tudo começou com Filipe IV, de França (1268-1314), cognominado o Belo. Devido ao desmesurado esbanjamento com a vida de luxúria e espavento da corte, os cofres do seu reino foram ficando vazios e a coroa, cheia de dívidas, tinha, como maior credor, a Ordem dos Templários que regressara á Europa depois da perda dos últimos bastiões na Terra Santa.

Esta Ordem tinha sido fundada em 1096 com o propósito de proteger os cristãos que se dirigiam para Jerusalém após a sua conquista. Os seus membros faziam voto de pobreza, entregavam todos os seus bens à Ordem e, durante o tempo em que as cruzadas empolgaram a Europa, foram-lhes doadas milhares de propriedades. Desenvolveram uma intensa actividade económica, criando, nos locais por onde seguiam os peregrinos, uma rede de postos bancários onde, com uma carta de crédito, se poderia levantar em moeda o equivalente depositado na Ordem.

Era conhecida a fortuna colossal que os templários detinham. Sabendo disso, Filipe IV, para fazer face às dificuldades financeiras do seu reino, recorreu aos templários para obter um empréstimo fabuloso que lhe permitisse resolver os problemas financeiros do reino. Mas, mesmo assim, não conseguiu saldar as dívidas. Decidiu-se, então, pelo confisco dos bens dos judeus e banqueiros e lançou um imposto sobre o clero e mosteiros. O Papa Bonifácio VIII, alertado para esta situação, emitiu a bula Clericis Laicos, onde declarava a superioridade do poder espiritual sobre o temporal, proibindo aos príncipes seculares aplicar ao clero qualquer imposto, o que retirou legitimidade ao Rei de França para os impostos que lançara. Irritado, Filipe IV tentou por intrigas e acusações várias demover o Papa. Não o conseguindo, enviou uma força armada a Roma para o depor. A violência com que foi tratado, acabou por levá-lo à morte. Depois de um período conturbado, o Rei de França conseguiu que fosse eleito o cardeal francês Clemente V, que, submisso ao Rei, transferiu a sede do papado para Avignon, com toda a sua estrutura  institucional, nomeadamente o Tribunal da Inquisição, ficando para a ortodoxia romana conhecido como antipapa.

Como a dívida aos Templários era enorme, Filipe IV fez deles inimigos da ortodoxia cristã, visando extinguir a Ordem para extinguir a dívida. Aproveitou a capacidade de influenciar o Papa para acusar os Templários de pregar heresias, praticar a sodomia e de levarem uma vida devassa.

Fazendo insistentemente estas acusações, conseguiu que Clemente V, o papa de Avinhão (que lhe era submisso) colocasse os inquisidores que agradavam ao Rei a averiguar o caso no Tribunal do Santo Ofício.

A Ordem foi sujeita a torturas para confirmar as acusações de Filipe IV de França. Nada adiantou aos 573 cavaleiros que, em defesa da verdade, afirmaram que as confissões tinham sido arrancadas pela tortura e as acusações eram difamantes.

Filipe IV não descansou e conseguiu que o (seu) papa, pela bula Vox Clamantis, em 1312, extinguisse  a Ordem e sentenciasse os seus principais cavaleiros à prisão perpétua. Ao ouvirem a sentença, o grão-mestre Jacques Molay e outros, em pleno Tribunal, levantaram a voz para bradarem sua inocência e denunciarem o labéu. Devido a esse acto, considerado de insubmissão, nesse mesmo dia, armou-se uma fogueira e foram queimados vivos.

Extinta a Ordem, o Rei ficou sem o seu credor e, por isso, achou prescrita a dívida e os bens, que os Templários dispunham, foram distribuídos pela coroa e pelo papado.

Nessa altura, o rei de Portugal, D. Diniz, não só disponibilizou o Reino para receber os perseguidos, que chegavam de França e de outros países, como transferiu todo o património, que os Templários ainda conseguiram juntar, para uma nova Ordem, a Ordem de Cristo, que lhes foi entregue. E disponibilizou-lhes o castelo de Tomar para se organizarem em Portugal. Com os Templários difundiu-se em Portugal os conhecimentos adquirido no transporte de peregrinos entre a Europa e o Oriente Médio,  bem como tecnologia náutica, mapas e livros de viagens que, mais tarde, o Infante D. Henrique soube aproveitar para o desenvolvimento da expansão marítima.

Fracassada a tentativa de reconciliação com um concílio em Pisa, em 1409, o Cisma passou a ter três papas rivais à cabeça da cristandade: o de Roma, Gregório XII, apoiado pela Itália, Inglaterra, Polónia, Hungria e Portugal; o de Avignon, Bento XIII, apoiado pela França, Castela, Aragão, reino da Sicília e de Chipre; o de Pisa, o Arcebispo de Milão, o grego Petros Filargis, apoiado pela Grécia e por uma parte de Itália, que escolhe o sobrenome de Alexandre V.

Oito anos depois, em 1417, com o apoio de Sigismundo Imperador Romano-Germânico, foi convocado o Concílio de Constança. Foi acalmada, então, a vontade secular dos monarcas e tornou-se consensual a necessidade dos três papas abdicarem para ser escolhido um terceiro que, definitivamente, ficaria em Roma. E foi eleito Otto de Colonna como Papa Martinho V, colocando-se uma pedra no Grande Cisma Papal do Ocidente. E Tomar continuou com os Templários, antigos cavaleiros da Guerra Santa contra os infiéis!

This page is powered by Blogger. Isn't yours?