sábado, dezembro 31, 2016

 

Vem novo ano, vem
Aquece-nos com flores de Abril
Coloca no futuro sonhos renovados

Vem novo ano,  vem
Faz erguer o pássaro primaveril
Desprende-nos das noites do passado

Vem novo ano, vem
Surpreende-nos no amanhecer
Dá asas ao destino esperado


sexta-feira, dezembro 23, 2016

 
Gostava de escrever um poema de Natal
Que não falasse da acidez das lembranças
Não fosse uma reluzente operação de fantasia

Gostava de escrever um poema de Natal
Com três cravos na mão apenas!
E uma brisa de amor por companhia.

Gostava de escrever um poema de Natal
Sem as ondas raivosas nos rochedos
Sem a voz dos magoados silêncios do medo

Gostava de escrever um poema de Natal
Onde as palavras gravassem uma melodia
E fizesse a transfiguração da noite em dia

Gostava de escrever um poema de Natal
Que recolhesse dos gestos abandonados
As carícias que nas sombras se perderam

Gostava de fazer um poema de Natal
Onde falassem por mim os pássaros e o vento
E da vida se fizesse um sonho completo
Onde bebêssemos o azul da ternura que invento.

terça-feira, dezembro 20, 2016

 

Negócio a misturar ética dá sempre vigarice!


Podiam falar baixo e não me permitiam que estivesse atento ao que lia durante o café , hoje, de manhã. O sujeito que tinha a seu cargo a despesa da conversa era um rapaz  novo, talvez dotado de todas as técnicas de argumentação que se aprendem para vender casas, conquistar votos ou  ser comentador na TV de política ou desporto, coisas que andam sempre muito ligadas. Falava alto, argumentava que era incapaz de prejudicar sicrano ou beltrano, porque sempre colocou a ética acima dos negócios, etc. Nesta altura, o meu ouvido direito levou para dentro de mim o conselho que sempre dei aos meus alunos: “Quando ouvirem argumentar com a ética metam a mão ao bolso e certifiquem-se se a carteira não fugiu”!
E o sujeito da despesa da conversa continuava, continuava… Depois de quase uma hora, baixou o nível dos decibéis e, como se estivesse num lugar sagrado, cresceu para junto das cabeças dos seus coloquiantes e disse: se o senhor me resolver isso (compra de uma casa) recebe um envelope com 5.mil euros e a senhora recebe outro.
Confirmou-se que continuo a ter razão nos meus conselhos! E percebo por que Trump e outros trumpistas ganham eleições!

domingo, dezembro 18, 2016

 

Dia de caça


Reconheço que tenho amigos que  detestam a caça. Vêem nesse desporto resquícios do barbarismo. Mas não têm razão. E se um dia comerem das perdizes que cá por casa se cozinham percebem que o produto cinegético é divinal, nada tendo a ver com a carne desses animais que, sem hipótese de fugir, morrem à má fila com um ferro espetado na cabeça ou, então, com o choque eléctrico.

 

Além disso, não há matéria mais divertida do que as estórias dos caçadores. E essas estórias, desde os primórdios dos tempos, sempre se contaram como verdadeiras. E isso foi logo uma vantagem que os políticos copiaram, só com uma grande diferença: a de que nos querem fazer crer que a verdade é uma boa-estória.

A caça foi a primeira actividade a que o homem se pôde dedicar para preencher a vida com gozo.  E foram os primeiros a praticar conhecimentos em interactividade: no entusiasmo pela procura da rês, cada elemento conjuga com os restantes esforços, enfrenta cansaços, desafia perigos e assume livremente o papel de tudo fazer para que, na faina, a rês se dirija para quem do grupo esteja melhor colocado para a segurar.
Arriano Xenofonte, (92/ 175 d.C.), historiador da Roma Antiga, no Cynegeticos (ou Tratado de Caça) descreveu as caçadas dos Celtas e, já nessa narrativa, a criação de cães para a faina cinegética era ambição maior do melhor gosto. E colocavam o cão de tal maneira ligado à vida do caçador que até queriam o cão ao seu lado na sepultura, coisa que não vejo o PAN reivindicar.

Até o cozinhar no monte exige dos caçadores muita perícia! Nem nos restaurantes gourmet  há as exigências que são levadas a cabo pelos nossos cozinheiros de serviço. Aliás, diga-se de passagem, não há melhor cozinheiro do que um caçador. O meu grupo pode testemunhá-lo. Nesta caçada não foi só o eng. Moita e  o sr Álvaro que levaram a cabo essa tarefa. Eu mesmo tive de me aperfeiçoar para encontrar o talher apropriado: um pau de giesta em forma de fisga para recolher o bacalhau e o frango divinalmente assados, sempre acompanhado pelo branco ou tinto do companheiro Afonso Bica. Mas também houve champanhe, aguardente velhinha, queijo da Serra da Estrela, doces de Tondela e café.  Tanto assim foi que me encostei a uma árvore e entrei logo na “sossega”, só acordando quando, junto a mim, passou em grande velocidade, tipo corrida de S. Silvestre,   aí umas trezentas vaquinhas, brancas e negrinhas, que faziam da serra uma aguarela impressionista.
No final, no hotel onde costumamos ficar, fizemos a nossa tradicional de natal com a indumentária ajustada!
Com a Revolução Industrial, a cultura, os hábitos e os costumes da vida rural foram perdendo importância. O crescente monopólio da cultura urbana passou a repudiar a caça. E é pena!...

quinta-feira, dezembro 15, 2016

 

O entardecer chamou o frio,
e a neblina virou-me a cidade para dentro.
Não há inquietude, apenas silêncio e chuva
no puro caminho de uma interioridade.
A cidade afaga-me com a sua nostalgia,
e as utopias, os amigos e os afectos de outros tempos
chamam por mim em cada passo do meu destino.
E neste intimismo nasce o dialogo
de mim para a cidade que vive em mim.
Acordo a saudade nas ruas adormecidas
E nas cinzas do tempo o amor renasce.
A cidade é o espirito de um tempo.
E, por dentro, como é linda a minha Cidade!...
jbmagalhaes

terça-feira, dezembro 06, 2016

 

Deixem-me este desabafo:


Sou do tempo em que lavrador era a condição social mais baixa, quase uma ofensa chamar a alguém lavrador. O que dava prestigio era ser operário. Quem não se lembra da Internacional Socialista?!.... Até o estudante era considerado um trabalhador intelectual e a capa e batina um sinal de elitismo pequeno-burguês. Depois veio o tempo dos doutores. Quem passasse por Coimbra e quisesse ter um tal tratamento de excelência, bastava procurar um engraxador de sapatos. Os doutores emergiram por todos os lados, como cogumelos, com as universidades privadas.
Fabricava-se doutores como quem fabrica botões. Desses doutores de aviário, uns viram morrer os seus sonhos nos call-centres outros foram para a política. Dizia-me um chico esperto: “já disse ao meu filho para se inscrever no PSD”.
Os que se formaram como trabalhadores, isto é, com muito estudo e investigação, emigraram e quase todos já não voltarão para Portugal. O contribuinte pagou esse investimento que foi para Inglaterra, França, Alemanha, etc.
Não deveria merecer um voto quem inculca a ideia de que ser estudante é mais do que ser agricultor ou operário. O elitismo chateia-me e já não tenho idade para essas merdas!.....

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