domingo, dezembro 18, 2016
Dia de caça
Reconheço
que tenho amigos que detestam a caça.
Vêem nesse desporto resquícios do barbarismo. Mas não têm razão. E se um dia
comerem das perdizes que cá por casa se cozinham percebem que o produto
cinegético é divinal, nada tendo a ver com a carne desses animais que, sem
hipótese de fugir, morrem à má fila com um ferro espetado na cabeça ou, então,
com o choque eléctrico.
Além
disso, não há matéria mais divertida do que as estórias dos caçadores. E essas
estórias, desde os primórdios dos tempos, sempre se contaram como verdadeiras.
E isso foi logo uma vantagem que os políticos copiaram, só com uma grande
diferença: a de que nos querem fazer crer que a verdade é uma boa-estória.
A
caça foi a primeira actividade a que o homem se pôde dedicar para preencher a
vida com gozo. E foram os primeiros a
praticar conhecimentos em interactividade: no entusiasmo pela procura da rês,
cada elemento conjuga com os restantes esforços, enfrenta cansaços, desafia
perigos e assume livremente o papel de tudo fazer para que, na faina, a rês se
dirija para quem do grupo esteja melhor colocado para a segurar.
Arriano Xenofonte, (92/ 175 d.C.), historiador da
Roma Antiga, no Cynegeticos (ou Tratado de Caça) descreveu as caçadas dos
Celtas e, já nessa narrativa, a criação de cães para a faina cinegética era
ambição maior do melhor gosto. E colocavam o cão de tal maneira ligado à vida
do caçador que até queriam o cão ao seu lado na sepultura, coisa que não vejo o
PAN reivindicar.
Até o cozinhar no monte exige dos caçadores muita perícia!
Nem nos restaurantes gourmet há as
exigências que são levadas a cabo pelos nossos cozinheiros de serviço. Aliás,
diga-se de passagem, não há melhor cozinheiro do que um caçador. O meu grupo
pode testemunhá-lo. Nesta caçada não foi só o eng. Moita e o sr Álvaro que levaram a cabo essa tarefa.
Eu mesmo tive de me aperfeiçoar para encontrar o talher apropriado: um pau de
giesta em forma de fisga para recolher o bacalhau e o frango divinalmente assados, sempre
acompanhado pelo branco ou tinto do companheiro Afonso Bica. Mas também houve champanhe,
aguardente velhinha, queijo da Serra da Estrela, doces de Tondela e café. Tanto assim foi que me encostei a uma árvore e
entrei logo na “sossega”, só acordando quando, junto a mim, passou em grande
velocidade, tipo corrida de S. Silvestre,
aí umas trezentas vaquinhas,
brancas e negrinhas, que faziam da serra uma aguarela impressionista.
No final, no hotel onde costumamos ficar, fizemos a
nossa tradicional de natal com a indumentária ajustada!
Com a Revolução Industrial, a cultura, os hábitos e
os costumes da vida rural foram perdendo importância. O crescente monopólio da
cultura urbana passou a repudiar a caça. E é pena!...