domingo, setembro 30, 2007

 

A LUZ

Não se pode prever. Sucede sempre
quando menos o esperas. Pode acontecer que vás
pela rua, depressa, porque se faz tarde
para pôr uma carta no correio, ou que
te encontres em casa de noite, a ler
um livro que não consegue convencer-te; pode
acontecer também que seja verão
e te tenhas sentado na esplanada
de um café, ou seja inverno e chova
e te doam os ossos; que estejas triste ou fatigado,
que tenhas trinta anos ou sessenta.
É imprevisível. Nunca sabes
quando nem como ocorrerá.


Decorre


tua vida igual a ontem, comum e quotidiana.
«Um dia mais», dizes para ti. E de súbito
desata-se uma luz poderosíssima
dentro de ti e deixas de ser o homem que eras
há só um momento. O mundo, agora,
é para ti diferente. Dilata-se
magicamente o tempo, como naqueles dias
tão longos da infância e respiras à margem
de seu escuro fluir e seu estrago.
Pradarias do presente, por onde erras livre
de cuidados e culpas. Uma agudeza insólita
mora em teu ser: tudo está claro, tudo
ocupa o seu lugar, tudo coincide e tu,
sem luta, compreende-lo.


Talvez dure


um instante o milagre; depois as coisas voltam
a ser como eram antes que essa luz te desse
tanta verdade, tanta misericórdia.
Mas sentes-te calmo, puro, feliz, salvo,
cheio de gratidão. E cantas, cantas.

Eloy Sánchez Rosillo


(Espanha, 1948) -trad. José Bento
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"Uma das certezas que se colhe na leitura dos versos de Sánchez Rosillo é a confiança que mostra na poesia que revela o homem e o mundo em que ele vive, supõe viver ou anseia viver, na linguagem que ele procurou, ainda que o leitor seja um outro, que terá um entendimento próprio e acaso diferente do que moveu o poeta. Esta questão põe-se num poeta que pela sua aparente simplicidade tem corrido o risco de ser julgado fácil, imediato, talvez por enfrentar a complexidade sem se esconder e tentar brilhar na complicação."
- José Bento no prólogo do livro

In: As Coisas como Foram”. -assírio e alvim

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Enviado por Amélia Pais

sábado, setembro 29, 2007

 

LSD

Luís Filipe Meneses chegou, como já se esperava, à liderança do PSD. O seu estilo harmoniza-se com o de Sócrates e, como sabemos, dois pólos com a mesma energia repelem-se.

E foi isso que intuíram as bases do PSD e vai perceber o eleitorado português, na esperança de encontrar uma oposição truculenta ao Governo. É que está na cabeça de todos os portugueses insultar Sócrates sempre que a sua lábia nos trata por atrasados mentais. Estou certo que as próximas sondagens darão conta disso. Não sei se com isso ganhará alguma coisa o País!!!...

A melhor solução seria os apoiantes de Filipe Meneses juntarem-se aos de José Sócrates e com essa soma formarem um novo partido. Poderia chamar-se LSD (Luís/Sócrates/democracia).

A palavra democracia serve, hoje, para tudo e depois do L de Luís Filipe Meneses e do S de Sócrates sempre se poderia somar o D (que serve para tudo) e assim configurar um partido que se harmonizasse em perfeitas condições com uma liderança de efeitos alucinógenicos, tal como acontece com o populismo e a demagogia.

E esta circunstância sempre poderia provocar o choque cívico necessário a um realinhamento partidário que trouxesse ideologia, princípios e valores á política.

sexta-feira, setembro 28, 2007

 


 
É porque ninguém me ouve
e ninguém me vigia
e ninguém me acolhe
que a minha imaginação é livre
e o meu espaço permanentemente novo
Se algum deus habita este vazio
é o deus do vazio
um deus que perdeu a sua densidade enigmática
e é apenas o espectro de uma radiografia branca

Ergo como um insecto
as frágeis antenas para o espaço
Sinto a ébria lucidez
da minha liberdade
Posso dizer tudo porque a leveza é transparente
porque reconheço
os anéis do silêncio o leque
de uma linguagem nova
Na minha garganta abriu-se o poço do oásis
e o vento da imaginação sublevou-se nas minhas veias
Sei que habito as palavras com os meus lábios solares
ou os seus lábios de noite
É por elas que sinto o sabor do pão e da terra
e vejo as cintilantes arcas das constelações
Tudo é puramente imaginado tudo é prodigiosamente real

Ninguém me segreda os nomes que irei dizer
com a limpidez do sal ou duros e negros como a obsidiana
Ninguém me impede que envolva num arco
a cruel doçura de um sexo vermelho e puro
Ninguém me proibe que me multiplique que me dilate
para ser cada vez mais a floração do espaço
na sua liberdade de ser cada vez mais espaço

António Ramos Rosa

in: Os Animais do Sol e da Sombra
seguido de O corpo Inicial
edições: quasi
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Enviado por Amélia Pais

quinta-feira, setembro 27, 2007

 

Espelho dos partidos

Refere Filipe Meneses: «em 24 horas, passam de 80 para 1200 militantes com as quotas pagas. Uma recôndita cidade da Amazónia de que nunca ninguém ouviu falar tem 200 militantes do PSD. Devem ser os índios yanomani, com certeza!...».

O que diz Filipe Meneses poderia dizer Marques Mendes ou outro dirigente dum outro partido. O PSD é o espelho dos partidos. Não me preocupa que um militante pague as quotas de outro militante. O tempo é de crise!!!.. O que me enoja é ouvir falar que há empresários que subsidiam campanhas internas de partidos, pagando passeios, almoços e quotas a militantes, sejam do PSD, do PS ou do CDS - dos que podem ser poder!

Votar é um acto que implica distanciamento, ponderação, reflexão e determinação consciente. Mas nos partidos é uma” faina obscura e obscena com regabofes” Quem não se lembra dos passeios pelo Douro acima, com almoço e viagens pagos a militantes que apoiassem determinado candidato à Federação Distrital do PS?!...

Este “obsceno regabofe” funciona como a técnica da cenoura para arrebanhar votos, mas nada tem a ver com a democracia.


Nunca se viu ser alguém penalizado por se servir deste expediente que acaba por colocar os partidos na mão de interesses privados. Até quando compensará a lógica, que vem dos partidos para a governação: “já ganhei, o resto que se lixe!"

Não admira, por isso, que muita gente já nada tenha a ver com os partidos: não se quer ver envolvida em eventuais espaços de “má fama".

quarta-feira, setembro 26, 2007

 

O Tormento de Deus

Deus disse: "Se tal vos repugna,
não acrediteis em mim,
mas ficaria feliz
se encontrásseis algum encanto
num ou noutro ser da minha lavra:
o búzio, onde dorme a música,
o plátano, que cresce para lá das estrelas,
o mar, que diz cem vezes: "Eu sou o mar."

Sinto-me muito humilde:
o meu universo não é mais belo
do que um poema perdido."


Alain Bosquet
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Enviado por Amélia Pais

terça-feira, setembro 25, 2007

 

Assim vai a política da educação….

Fecharam-se escolas, despediram-se professores, saturaram-se os alunos com aulas e o resultado não podia ser outro: milhares de alunos do 2º e 3º ciclos do Ensino Básico ficam, este ano, com uma carga horária de dez horas de aulas seguidas, situação que nos faz lembrar a exploração do trabalho infantil na China.

Muitas crianças ficam das 08:00 da manhã às 18:00 da tarde na escola e, muitas vezes, nem a hora de almoço é respeitada. E que os professores que restaram são obrigados a leccionar muitas disciplinas.


O que dirão disto os muitos psicólogos, pedagogos e outros “cientistas da educação” que proliferam pelas repartições do M.E.?!... Não poderão explicar à Ministra que esta situação é perversa para o desenvolvimento biopsicológico das crianças, desmotiva-as da escola e influencia negativamente a capacidade de aprendizagem?!...

Na chamada revolução tecnológica também as costuras da propaganda do governo estão a rebentar. Os alunos que acabaram os cursos de informática não têm emprego. O mercado já está saturado. Será que ninguém soube prever esta situação?!...

 

ELEFANTE

O enorme elefante
é o animal mais infeliz
da floresta


Todos
até a pulga minúscula
e
asquerosa
lhe trepam no lombo


Homem que engole tudo
é como o pobre elefante:
de nada lhe vale
ser trombudo

João Melo-Fabulema
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Enviado por Amélia Pais

segunda-feira, setembro 24, 2007

 

A minha aposta!

Ontem passei o dia em Guribanes, uma pequena aldeia da freguesia de Mascarenhas, em Mirandela. Fui à largada de perdizes e faisões promovida pela Associação de Caçadores dessa Terra.

Quem quiser ter uma ideia desta Terra que a seus pés recebe o Rio Tuela depois de emigrar dos glaciares de Castela e Leão para se espreguiçar em Guribanes numa linda praia, antes de se juntar ao Rio Rabaçal para se alargar no Rio Tua, tem de falar com D. Estêvão Roriz. Perguntar-lhe por que o Povoador o tornou Cavaleiro de Mascarenhas e ouvir dele as terríveis façanhas que o levaram a conquistar aos árabes (berberes) este entreposto comercial, terra onde as aves acordam os forasteiros, os animais pachorrentamente passeiam pelos campos, abundam as cerejas, os figos, o bom vinho e a saborosa amêndoa; e, onde dos olivais, brota o fino azeite que delicia a boa mesa e ajuda a confeccionar os enchidos com que os judeus enganavam os mais fundamentalistas da religião cristã. E o petisco resistiu à perseguição e conseguiu ganhar o estatuto de deliciosa alheira.

Por todas estas razões, não é despiciendo que o Bispo de Bragança e Miranda colocasse aí a sua reitoria e aí também ficasse a sede de uma comenda da Ordem de Cristo. Sabemos bem que os bispos e as ordens de cavalaria sempre souberam tirar proveito para o enriquecimento das suas almas do sustento que os mouros escorraçados sabiam cultivar.

Isso justifica que Mascarenhas tenha sido terra de progresso e futuro. Nos anos 60, ali havia 8 lagares de azeite, seis produtores de frutas, uma Casa do Povo, uma hospedaria, três mercearias, uma mina de antimónio, três professores e um Julgado de Paz.

Hoje, só por lá param poucas centenas de pessoas, desapareceram os professores, o médico só o podem consultar em Mirandela, o próprio padre já só lá vai de vez em quando e Guribanes já não tem mais que três residentes.

Tal como a pneumónica devastou o País, a política de educação, de saúde e agrícola de Sócrates devastou o interior.

Mas, como diz o poeta, «há sempre alguém que resiste» e ali permanece um excelente restaurante, muito aproveitado para abrilhantar eventos, como largada de perdizes e faisões, com que os filhos da Terra enaltecem a memória dos costumes dos seus antepassados.


Fiquei fã desta Terra e a feijoada à transmontana que os caçadores de Mascarenhas nos ofereceram no restaurante de Guribanes terá de ser repetida, mesmo que não cacemos perdizes ou faisões ou o Meneses ajude a eternização de José Sócrates, o Despovoador.

É esta a minha aposta!


Vejam como sabe receber Mascarenhas em: http://www.acpnsviso.blogspot.com/

sábado, setembro 22, 2007

 

isto é uma carta de amor


Mas não sei dizer-te que espécie de amor.
As flores brotam do campo de golfe.
Estou no carro a ouvir não sei
O quê; o que é? Oiço . Aleluias, fortíssimo,
Pianoforte, um forte de conhecimento, reconhecimento,
Piano, leve, pianos em queda,
Inofensivos. Como pude sentar-me
à mesa contigo, se já saciada?
Talvez quisesse só sentir a comida nos dentes.
A soprano vira a página.
A trompa. Escuta: Amen, amen.
A Academia de Saint Martin in The Fields,
O que está no campo, bolas de golfe?
Sir Neville Mariner dirige,
Dirigindo, Rua Mariner abaixo.
Quando é que se abre a porta aberta?
Há quanto tempo te conheço nesta vida de cão?
Dirijo-me para sul; as luzes acompanham o ritmo.
Há um bálsamo
Há uma história que te quis contar.
Em Gilead o telhado está a arder
Não haverá um bálsamo nos meus lábios
A cor é de cena
As luzes mudam
Há um bálsamo
Agarro-me de olhos fechados a uma ideia de ti
Numa rede e o rádio sempre a tocar
Há um bálsamo
O retrato da Virgem Mãe de pé
Aos pés da cruz, Rossini,
Perto, escuta, existe, há um bálsamo há
de pé uma virgem.

elizabeth burns

poesia do mundo
tradução de graça capinha

afrontamento1995
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Enviado por Amélia Pais

sexta-feira, setembro 21, 2007

 

Dia mundial da Doença de Alzheimer

Calcula-se que até 2050, uma em cada 85 pessoas do planeta poderá sofrer da Doença de Alzheimer, o que significará que 100 milhões de pessoas (quatro vezes mais do que os 26 milhões da actualidade) sofrerão de alterações da sua personalidade devida à morte das células cerebrais. De início surge a perda da memória e, logo a seguir, deterioram-se outras funções mentais, como deficiências visuais, desorientação de tempo e espaço e esquecimento de vocabulário associado a uma incapacidade de expressão verbal.

Já se diz que o envelhecimento da população e a ausência de medicamentos eficazes, estão a tornar o Alzheimer na crise da saúde do século XXI.

Aproveitemos este dia para tomar consciência dos riscos desta doença e manifestar a nossa solidariedade à Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer (APFDA).

quarta-feira, setembro 19, 2007

 

Questões sem resposta!

Os debates do “Prós & Contras” sobre a educação teimam em não rasgar ideias para o futuro. Mesmo que a propaganda adocique o inventário de problemas, ficamos sempre perplexos com a displicência com que se fala do número de escolas que fecham, de professores que são dispensados, dos níveis de perda de autoridade e desencanto da profissão de ensinar, do espectáculo ridículo da distribuição a granel de computadores e da diminuição crescente de oportunidades de emprego.

Esta é a síntese de todos os “Prós & Contras” sobre a educação. E este último não faltou à regra. Duas perguntas continuam, entretanto, por fazer à Ministra da Educação e os sindicatos persistem em não lhas colocar. E são simples: o que aconteceria a uma empresa que despedisse 17 mil trabalhadores que nela trabalhavam há 10 anos?!... Sabemos que há mais de 40 mil professores no desemprego e cerca de 100 mil diplomados sem trabalho. Tudo isto já é um escândalo! Mas, não será preocupante que 17 mil docentes ligados ao ensino, durante cerca de 10 anos, tenham perdido este ano o seu emprego, sem que a entidade empregadora se preocupe?!... Se isto acontecesse numa empresa privada, não haveria um sobressalto social?!... Não será este caso o exemplo flagrante da situação deplorável em que se encontra quem trabalha no sector público?!...

A segunda pergunta também é simples: imensos cursos de formação promovidos por entidades privadas foram financiados pelos fundos europeus. Esses cursos foram, agora, integrados no sistema de ensino público que não tem despesas acrescidas com pessoal, nem com instalações nem com professores, como acontecia no privado. Que faz o Ministério com essas verbas astronómicas que recebe da CE?!... Será que os fundos europeus estão a ajudar a cobrir o deficit?!...Imagine-se o que aconteceria a uma empresa privada que recorresse a fundos europeus para pagar a credores!...

Não percebo, por que é que estas questões não foram colocadas à Ministra da Educação!!!

terça-feira, setembro 18, 2007

 

Um rumo para Portugal

José Sócrates sempre conseguiu nesta sua visita aos Estados Unidos um rumo para Portugal que vai servir de exemplo para todo o Mundo. Ouçam o que diz o todo poderoso George W. Bush:
«Apreciei o exemplo que (Sócrates) deu ao seu povo e ao mundo, fazendo jogging logo pela manhã. Apreciei isso, para mais numa altura em que já completou 50 anos».

Podemos acordar descansados!

segunda-feira, setembro 17, 2007

 

Make Love, not war!

Sócrates é dado a deslumbramentos e, agora, na sua visita aos States, ficou fascinado por aquilo que o Senhor da Guerra tem feito pelo mundo e assegurou de forma entusiasmada: “George Bush é bem-vindo a Portugal!”.

Se por “bem-vindo” quer significar que os portugueses estão magnetizados pelo fulgor do Senhor da Guerra, devo confessar que a maioria de nós apreciaria antes que o P. M. fosse fascinado, na sua relação com Bush, pelo apelo ao velho slogan: make love, not war.

É que neste mundo, nem para o amor (entre os povos), se quer a guerra(a menos que seja a brincar!).

sábado, setembro 15, 2007

 
(...) A máquina do papai batia taque-taque... taque-taque-taque... O relógio acordou em tin-dlen sem poeira. O silêncio arrastou-se zzzzzzz. O guarda-roupa dizia o quê? Roupa-roupa-roupa. Não, não. Entre o relógio, a máquina e o silêncio havia uma orelha à escuta, grande, cor-de-rosa e morta. Os três sons estavam ligados pela luz do dia e pelo ranger das folhinhas da árvore que se esfregavam umas nas outras radiantes.

Encostando a testa na vidraça brilhante e fria olhava para o quintal do vizinho, para o grande mundo das galinhas-que-não-sabiam-que-iam-morrer. E podia sentir como se estivesse bem próxima de seu nariz a terra quente, tão cheirosa e seca, onde bem sabia, bem sabia uma ou outra minhoca se espreguiçava antes de ser comida pela galinha que as pessoas iam comer.

Houve um momento grande, parado, sem nada dentro. Dilatou os olhos, esperou. Nada veio. Branco. Mas de repente num estremecimento deram corda no dia e tudo recomeçou a funcionar, a máquina trotando, o cigarro do pai fumegando, o silêncio, as folhinhas, os frangos pelados, a claridade, as coisas revivendo cheias de pressa como uma chaleira a ferver. Só faltava o tin-dlen do relógio que enfeitava tanto. Fechou os olhos, fingiu escutá-lo e ao som da música inexistente e ritmada ergueu-se nas pontas dos pés. Deu três passos de dança bem leves, alados. (...)

- Papai, que é que eu faço ?

- Vá estudar.

- Já estudei.

- Vá brincar.

- Já brinquei.

- Então não amole !
(...)

Clarisse Lispector

IN: "Perto do Coração Selvagem"
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Enviado por Amélia Pais

sexta-feira, setembro 14, 2007

 

Uma vergonha!...

Se alguém encontrar este senhor, diga-lhe que Scolari, de quem todo o mundo fala, é o treinador da nossa Selecção de Futebol. Diga-lhe ainda que ele, Gilberto Madail, é o presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

É que o silêncio do organismo máximo do Futebol Português envergonha-nos!

quinta-feira, setembro 13, 2007

 

Descanso

Quando durmo, nada sinto,
e em mal e bem indistinto
nada posso conhecer:
não sei aquilo que sou,
nem o que fui, nem se vou
saber o que devo ser.

Pierre de Ronsard (1524-1585)

in: Alguns amores de Ronsard
Trad. Vasco Graça Moura, ed. Bertrand, 2003.
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Enviado por Amélia Pais

quarta-feira, setembro 12, 2007

 

“No melhor pano cai a nódoa”.

A Selecção Nacional de Futebol empatou (1-1) com a Sérvia. Jogou mal, mas não foi isso o pior: o pior foi a reacção do seleccionador nacional.

Luís Filipe Scolari deixou cair aquele ar de anjinho e revelou a sua verdadeira face: em horas de contrariedade parece o Avelino Ferreira Torres. E, depois, não é capaz de assumir os seus erros.

Pessoalmente, sempre me irritou a postura infantilizada deste homem a tratar-nos por atrasados mentais.

Com essa postura de anjinho “carunchoso” vai ganhando milhões, entrando-nos em casa, pela mão da TV, a fazer propaganda de instituições, como a Banca e outras. Mas agora, essa cara de Santa Teresa do Menino Jesus será contraditada com esta imagem de troglodita que nos deixou no final de um jogo com a Sérvia.

Homens deste quilate não servem a imagem da dignidade das instituições nem do País nem os interesses do desporto.

É altura de lhe ser passada uma guia de marcha!

 

Repúdio

Para D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, o Ocidente fica «embriagado por chinesices» quando está em causa a defesa dos Direitos do Homem. Considera que Dalai Lama é uma «rara personalidade espiritual e a sua luta assemelha-se à de D. Ximenes Belo pela independência de Timor».

Ana Gomes, eurodeputada socialista, lamenta que o Governo «ceda a pressões da China para não receber o Prémio Nobel da Paz». Lembra que outros países, «com mais relações comerciais do que o nosso, têm recebido Dalai Lama e realizado cerimónias oficiais para este líder espiritual». E adverte: “Quem cede a pressões normalmente não é respeitado”

 
“Sempre que houver uma discussão ou um conflito, em vez de usarem a violência, conheçam-se, falem, ouçam… incluindo o Bin Laden. (…) Há pessoas más no Islamismo, no Catolicismo, no Budismo. Não podemos generalizar”

Dalai Lama

 

Mais palavras para quê?!...

Nem o Governo, nem o Presidente da república vão receber o prémio Nobel da Paz e líder espiritual do Tibete, Dalai Lama que, a partir de hoje, se encontra em Portugal para falar sobre “O Poder do Bom Coração”.

Entretanto, o sanguinário presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, que colocou o seu povo a um nível infra-humano de subsistência e oferece carros aos chefes tradicionais em função dos votos que angariarem nas próximas eleições, vai ser recebido com pompa e circunstância.

A defesa dos direitos humanos não passa da retórica e os valores que justificam a acção política são lançados no caixote do lixo, em nome da realpolitik. O bom governo não visa promover as condições que façam com que os que mais sofrem sofram menos, mas a ganhuça. E isso é óbvio para um Ministro dos Negócios Estrangeiros de um governo socialista!

Também já não ficamos perplexos!...

terça-feira, setembro 11, 2007

 

Vida é mesmo assim

Em dia de reclusos
pela Maria e filhos passa um carro.
Um filho diz – Mamã
vai ali um amigo do papá
ele viu-nos e virou a cara.

E a Maria apenas disse - É a vida meus filhos.
Vocês hão-de ver. Quando o vosso pai sair
todos esses vão ser amigos dele outra vez.
A vida, meus filhos, é mesmo assim ...

José Craveirinha

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Enviado por Amélia Pais

segunda-feira, setembro 10, 2007

 

Enfeites governativos

No interior foram fechados pelo Governo escolas, maternidades, centros de saúde, postos da GNR, etc. Fez o que se chama uma “descriminação negativa”

Agora, com pompa e circunstância, Sócrates anuncia um aumento de benefícios fiscais (de 10 para 15 pontos percentuais a abater no IRC) para as empresas que forem criadas nesse mesmo interior.

Como nessas regiões falta tudo o que configura uma vida nos tempos modernos, supõe-se que a medida socratina vise a criação de “parques jurássicos” ou "reservas de indígenas”. E a isto Sócrates chama “descriminação positiva”.

Convenhamos que é interessante este enfeite governativo da retórica socrática para preparar as eleições de 2009.

sábado, setembro 08, 2007

 

ÁRVORES DO ALENTEJO

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis do horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
– Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!

Florbela Espanca

in: Charneca em Flor
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Enviado por Amélia Pais

 

Julgam-nos parvos!!!!...

Todos os dias, responsáveis políticos fazem afirmações que, se parassem para reflectir sobre as mesmas, com algum distanciamento e dignidade, corariam de vergonha. Mas como o disparate não paga impostos e só tem sentimentos de vergonha quem se orienta por padrões de dignidade, temos de aguentar os seus disparates. Disparates que são ditos com o à vontade de quem nos julga parvos!

É neste contexto que se situa a explicação de Paulo Portas para a onda de criminalidade que surgiu nos últimos dias. Segundo este polémico ex-dirigente duma empresa de sondagens da Universidade Moderna e actual líder do CDS/PP, “a causa dessa onda de criminalidade está no facto de a GNR ter tido uma atitude passiva em relação aos manifestantes que destruíram um hectare de milho transgénico”.

Paulo Portas julga que a ordem só se impõe á cacetada, como em outros tempos, e tem diferentes critérios para avaliar o cumprimento da lei ou a invasão da propriedade privada.


Frequentemente é noticiado a invasão e destruição da propriedade privada por empresas públicas ou privadas, como a EDP, as empresas que constroem auto-estradas, autarquias (como aconteceu no Porto na preparação do circuito automobilistico), etc. Eu próprio vi destruído pelo catrapillar de um pato bravo os muros de um terreno da minha família. E, perante os protestos, respondeu-me que recorrsse para os tribunais, desafio que, no seu entender, significa nunca mais ver o problema resolvido. No entanto, também nesses casos, "não é aceitável que se destrua património particular de uma pessoa" e os “Paulo Portas” que andam por aí só parecem preocupados com os Verdes-Eufémia.

Se quisermos ser rigorosos temos de aceitar que os militantes do Verde Eufémia seguiram, de certa forma, a mesma lógica que segue quem destrói as plantações de cannnabis ou de cânhamo ou de ópio. O que os orientou (é certo que á margem da lei) foi a utopia do bem-comum, combatendo o impacto negativo dessas plantações na saúde humana e no equilíbrio do ecossistema.


E não se diga que está cientificamente provado que os produtos geneticamente transformados não têm impacto sobre a saúde humana! Nem toda a comunidade científica está de acordo com essa “pseudo-certeza” e a própria ciência só nos pode falar do que investigou até ao presente e nada nos pode dizer sobre o que no futuro se descobrirá.

Além disso, há desde já outros problemas: sabendo-se que só as multinacionais podem produzir as sementes de milho geneticamente transformadas, colocar os lavradores dependentes dessas organizações é pôr em causa a própria independência nacional no campo agrícola.

É curioso que um Paulo Portas (e outros fariseus da política) muito orgulhoso dos sentimentos nacionalistas, ignore isso!...

sexta-feira, setembro 07, 2007

 

Eleições no PSD

As eleições no PSD são o espelho deste País.

Filipe Menezes diz de Marques Mendes o que Marques Mendes pode dizer de Filipe Menezes. E os dois dizem de Sócrates, o que Sócrates pode dizer de cada um deles. São uma espécie de rábula uns dos outros.

Nenhuma ideia produzem que possa interessar a este País.

 

Mundo cão!!!....

Nada se sabe sobre o que terá acontecido a Maddie, criança de 4 anos que desapareceu da Praia da Luz há mais de quatro meses!

Entretanto, a sua mãe, Kate McCann, ao entrar, hoje, nas instalações da Polícia Judiciária de Portimão foi vaiada e assobiada. Não sei se aquele rosto pesado e triste de uma mãe terá percebido a recepção que teve.

A “populaça” já está a julgá-la.

Que mundo cão!!!....

quinta-feira, setembro 06, 2007

 

Um dia diferente

Ontem dei uma volta pelas encostas escarpadas do Rio Douro, percorrendo, com a minha mulher, o espectáculo deslumbrante da região vinhateira que vai de Alijó passa por Carrazeda de Ansiães, desvia para S. João da Pesqueira e termina em Tabuaço.

Almocei no Cepa Torta. Este Restaurante aparece nas revistas da especialidade e isso cria curiosidade para quem está sempre aberto ao marketing de uma culinária geralmente desenvolvida pelo Turismo. Eu sou fiel a uma cozinha tradicional, com gostos tradicionais e vinho que deixa marcas nos guardanapos e na mesa.

Mal acabei de almoçar, logo senti que tinha razão. Lembrei-me do Artur de Carviçais e do Leitão da Mealhada, mas já de nada valiam as minhas especulações pantagruélicas.

A nossa idade e os trinta e tais anos de casados, que festejávamos, já começam a aconselhar outras formas de celebrar a efeméride.

Para contrariar os percalços dos modernismos culinários, estou apostado, no próximo ano, em reduzir a festividade a uma leitura de um poema e, no final, um chã com três torradas, deixando a última para aquele ritual: «é para ti»…. - «Não, não, é para ti!».

Ou, então, ouvir, em homenagem a esse grande Tenor, Luciano Pavarotti, que hoje nos deixou, a Ave Maria de Schubert http://www.youtube.com/watch?v=2uYrmYXsujI&mode=related&search= e esperar pela horinha da sossega.

Mas, hoje, é dia de deixar por Pavarotti “ una furtiva lagrima".


Prestem-lhe comigo essa sentida homenagem e ouçam:
http://www.youtube.com/watch?v=KxyrphGgLH4

terça-feira, setembro 04, 2007

 

Ângelo Correia, mandatário nacional de Menezes

«Não temos os barões, mas temos os generais», foi desta forma irónica que Filipe Meneses anunciou o mandatário nacional da sua candidatura, Ângelo Correia.

E o ex-ministro da Administração Interna não esteve com meias-medidas: afirmou que Luís Filipe Menezes “é claramente o melhor” face a Marques Mendes. ...

E esta, hein?!!...

 

O estilo faz a governação

A Ministra da Educação diz que «não se pode impedir ninguém de seguir a carreira de professor», como se fosse uma mera questão desportiva adquirir um diploma para dar aulas e ficar no desemprego.

Foi esta lógica que levou universidades privadas e públicas a “venderem” cerca de 40 mil diplomas de professor, inclusivamente com estágio pedagógico, para o desemprego, sem que nenhum governo impedisse tal logro. E como o “negócio” está em decadência, o ME já conseguiu para as Universidades uma nova fonte (contraditória) de rendimento: obrigar os novos professores (com diploma que os habilita) a fazerem mais um exame para poderem leccionar.

Segundo a Ministra da Educação acabou a instabilidade nas escolas e os professores necessários ao normal funcionamento da ensino foram colocados atempadamente.

No entanto, há professores, com mais de 10 anos de serviço, que ficaram no desemprego e são necessários ao desenvolvimento das actividades lectivas. É isso que ouvimos de elementos dos conselhos directivos que estão no terreno a elaborar horários, conjugando as disciplinas, os cargos e os professores disponíveis.

Este divórcio, entre o que diz a Ministra e o que é sentido nas escolas, só tem uma explicação: autismo e incapacidade de programar.

Os problemas na abertura do ano escolar vão surgir, mas o ME já nos habituou a dissolver os problemas com o espectáculo da retórica.


É este o estilo da governação socrática.

domingo, setembro 02, 2007

 

Despondency

Deixá-la ir, a ave, a quem roubaram
Ninho e filhos e tudo, sem piedade. . .
Que a leve o ar sem fim da soledade
Onde as asas partidas a levaram. . .


Deixá-la ir a vela, que arrojaram
Os tufões pelo mar, na escuridade,
Quando a noite surgiu da imensidade,
Quando os ventos do Sul se levantaram. . .


Deixá-la ir, a alma lastimosa,
Que perdeu fé e paz e confiança,
À morte queda, à morte silenciosa. . .


Deixá-la ir, a nota desprendida
Dum canto extremo. . . e a última esperança. . .
E a vida. . . e o amor. . . deixá-la ir, a vida!


1886, Antero de Quental

Enviado por Amélia Pais

sábado, setembro 01, 2007

 

Justa homenagem

Hoje são as provas finais da Fórmula 1 do ar. Nenhuma circunstância seria mais oportuna do que esta para homenagear o comandante Sarmento de Beires.

Ficará patente, na Biblioteca Almeida Garrett uma exposição biobibliográfica sobre este pioneiro da aviação portuguesa, engenheiro militar, piloto (do "Cavaleiro Negro", do "Pátria" e do "Argos"), escritor, jornalista e democrata convicto.

José Manuel Sarmento de Beires nasceu em Lisboa, a 04 de Setembro de 1893, foi aluno do Colégio Militar e terminou o curso de Engenharia Militar da Escola de Guerra em 1916 no mesmo ano em que se apresentou na Escola de Aeronáutica Militar em Vila Nova da Rainha. Frequentou depois, em França, as escolas de Chartres, Chateauroux e Avord.

Colocado no grupo de Esquadrilhas de Aviação da República foi o primeiro português a realizar um voo nocturno. Planeou os raids aéreos portugueses, de 1924 a Macau e 1927 ao Brasil, que foram considerados como alguns dos feitos aeronáuticos mais importantes do século XX.

Conviveu com o professor Ruy Luís Gomes, esteve ligado ao MUD e conspirou contra Salazar, organizando a revolta de 26 de Agosto de 1931. Preso nos finais de 1933 e julgado pelo Tribunal Militar Especial em 1934 foi condenado a sete anos de desterro.

Fixou-se, durante parte do seu exílio, no Brasil onde manteve uma intensa actividade de jornalista, escritor, tradutor e cronista de guerra em várias estações de rádio durante a Segunda Guerra Mundial.

Dirigiu a revista Portugalia, que havia sido fundada por Ricardo Severo e Alberto Sampaio.


Em 1972, dois anos antes da sua morte, foi reintegrado na Força Aérea, com o posto de coronel.

Hoje, com um mar de gente a saudar o piloto britânico, Steve Jones, por ter conquistado o primeiro lugar do pódio da Red Bull Air Race, é reconfortante saber que José Manuel Sarmento de Beires também foi lembrado, tendo a Cidade homenageado o seu exemplo de profissional competente e cidadão responsável.

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