terça-feira, janeiro 31, 2012

 

Não há bancarrota para direitos adquiridos, sem haver bancarrota para a própria democracia

Os direitos adquiridos são uma herança civilizacional conquistada com prisão, tortura e morte. Identificam-se com os próprios direitos humanos. Marcam, no seu conjunto, o fundamento da democracia e a diferença entre a barbárie e a humanidade. Não se pode separar os direitos individuais, dos socais ou dos políticos, porque todos os direitos adquiridos estão interligados na valorização da dignidade humana, na sua dimensão individual, social e política.

Representam o melhor que os nossos antepassados nos deixaram e constituem um património que não pode ser confiscado sem ser diminuída a nossa própria dignidade.

Temos o imperativo dever de deixar este património às gerações vindouras, pelo menos como o recebemos. E nesta matéria não pode haver bancarrota.

Ainda bem que no dia da abertura do ano Judicial o P.S.T.J.tenha lembrado o que constitui o fundamento da justiça, da liberdade, da democracia e da dignidade do ser humano.
http://economico.sapo.pt/noticias/ha-limites-ate-para-as-solucoes-excepcionais_137089.html

domingo, janeiro 29, 2012

 

Assim vai este País da sociedade Passos&RelvasRuas de resp.ilim!

Já se percebeu que a Miguel Relvas foi entregue a pasta de perpetuação do poder. Chama-lhe “choque reformista” e está eivada duma retórica que brande a cenoura de “servir melhor os cidadãos”.

Com a azáfama conhecida, a que lhe alargou um furacão de amigos, que vão do Brasil do mensalão às redes de comunicação da Angola de Isabel dos Santos, Relvas está a levar a sério essa tarefa: a organização territorial vai sendo configurada de modo a constituir o fato regional que quer vestir este PSD da sociedade “Passos &Relvas/Ruas e companhias limitadas”; e, como são os partidos (as oligarquias que os possuem) a escolher os autarcas, uma pequena interpretação semântica (limitar os mandatos dos autarcas ao território concelhio e não à função) permitirá que os presidentes de Câmara e presidentes de junta, ao fim de três anos, caiam, pelos partidos, de pára-quedas noutros territórios concelhios e mantenham a função até à eternidade.

O Homem que conseguiu maior número de rotundas por metro autárquico agradece. Meneses, deixa a autarquia de Vila Nova de Gaia falida e vai fazer a mesma “obra” para o Porto. Os contribuintes, sobretudo os mais pobres (como quer o ultra-neoliberal das Finanças) pagarão com mais impostos o esbanjamento e os basbaques (sem repararem que no bolso já só lhes fica o cotão) arregalarão os olhos, exclamando: “Este..., pelo menos faz obra!!!...”.

No apuramento final, Miguel Relvas rejubilará: “os nossos” continuam a “gerir” o país e cada vez tenho mais poder de influência!

Assim vai este País da sociedade Passos&RelvasRuas r.il.!
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?t=Miguel-Relvas-avanca-com-choque-reformista-nas-autarquias.rtp&headline=20&visual=9&article=485102&tm=8

sábado, janeiro 28, 2012

 

Bem precisamos!

Arménio Carlos, novo líder da CGTP é um homem inteligente, com um raciocínio e uma linguagem clara e manifesta inegável empenho nas causas que defende. Mas será que isso chega? Será que a Carta Reivindicativa que vai levar ao Governo, chega?

O sindicalismo de hoje não pode ser interpretado como o vivido durante a revolução industrial. O capitalismo é, sobretudo, financeiro e a desindustrialização promoveu o trabalho disperso, ilegal e precário. Cresce assustadoramente o número de desempregados, os que nunca conseguiram emprego e, neste caso, as vítimas são essencialmente jovens filhos da classe média, com formação académica. Não se sentem representados nos partidos, as palavras de ordem tradicionais dos sindicatos não os motiva e a linguagem da luta de classes pouco lhes diz. Desapontados, vão-se afastando progressivamente dos sindicatos, dos partidos e até da democracia. Encontrámo-los nos movimentos inorgânicos, como os ocupas, os precários e os indignados.

Embora Arménio Carlos represente a única forma de sindicalismo credível, não tenho a certeza que chegue a sua persuasão, o seu entusiasmo emocional, a sua capacidade de luta, num mundo desideologizado que está com um terrível paradoxo: o capitalismo está em crise e quem paga as favas é a esquerda e quem vive do seu trabalho ou procura trabalho para viver.

A democracia precisa de sindicatos fortes, com capacidade de lutar contra este rolo compressor que se apoia num pensamento único para promover a destruição de valores civilizacionais e cavar uma miséria imerecida.

Desejo que a minha preocupante dúvida não faça sentido e que Arménio Carlos consiga que a CGTP responda aos desafios que lhe são colocados. Bem precisamos!

quinta-feira, janeiro 26, 2012

 

O meu abraço

Já há muitos anos que nos encontramos. Primeiro, era mensalmente e, depois, de vez em quando.

Une-nos a amizade. Nunca precisamos de discutir o que ela é. Reconhecemo-nos iguais e livres, mas isso não basta para sermos amigos. É certo que a amizade é a única relação que não precisa de ser justificada. E quando o é, já transbordou para o interesse: se eu preciso de demonstrar que sou amigo é porque há uma falha na amizade que o interesse quer resolver. Não somos amigos de quem queremos e não é certo que os amigos se escolham.

Seguindo as pisadas da fenomenologia, não é a amizade que existe, mas o modo como a sentimos.

Talvez, por isso, o cimento da amizade não é objectivo, não há razões para a fundamentar. Sou amigo dos meus amigos, porque os meus amigos me consideram assim. Mas a amizade não se fica por aqui. Entre amigos há coisas que não se podem tolerar. Não há um direito especial dos amigos ao erro, ao vício, à corrupção, à desonra. E, por muito que se diga que a compaixão é uma virtude da amizade, o verdadeiro amigo não gosta de ser alvo dela. É certo que gera conforto, mas o compadecimento é, de certa forma, padecer por eles e isso pode ter uma conotação com uma protecção que os infantiliza.

A tolerância, a compaixão e a solidariedade só cimentam a amizade se forem confundidas com a generosidade.

Muitas vezes, associamos a generosidade à virtude da dádiva. Mas dar coisas sem postular reciprocidade não significa ser amigo. A generosidade entre amigos é magnânima, nada espera receber, nada quer em troca: alimenta-se duma reciprocidade cúmplice.

A magnanimidade faz com que, na amizade, se associe a generosidade à liberdade. É o afivelar de um sorriso sem uma causa.

Em quase todos os nossos encontros há uma manifestação de magnanimidade: surpreendemo-nos, uns aos outros, repartindo uns desenhos, umas pinturas, uns versos, uns postais ou mesmo umas fotos.

Neste nosso último encontro, o Roldão trouxe um opúsculo, a “Sépia Azul I”. Cada exemplar referenciava a década a que cada um de nós pertencia: 60,50 e 40. Vinha com memórias que recortavam pedaços de vida e, como escreve o Roldão, eram “para a fauna que gosta de começar a noite a conversar”.

Precisei de fazer esta reflexão, sobre o nosso encontro de HOJE, para ter presente que, quando a desilusão resistir, a utopia falhar e até sentir que Deus se afastou em silêncio, ainda há uma saída: convocar a vida da memória num encontro entre amigos: Roldão, Maia, Domingues e os outros que desta vez falharam.

O meu abraço.

domingo, janeiro 22, 2012

 

Um cinismo insuportável!

A ideia do “fim das ideologias”, separou a política da vida e isso (consubancia as políticas deste Governo) é tão cruel e artificial como insuportavelmente cínico. E, quando os que assim pensam, querem por razões tácticas, artificialmente, ligar a vida à política acabam por reforçar esse cinismo e artificialidade.

Foi o que fez Cavaco Silva: querendo dizer que é um cidadão igual aos que sofrem no dia-a-dia o peso insuportável da crise, recorreu à populista e demagógica afirmação de” não saber se o que ganha dará para as despesas”. Este recurso ao populismo demagógico, só serviu para confirmar a sua insensibilidade, artificialidade, cinismo hipócrita e falta de sentido de Estado.

Escondeu que optou pelo salário que melhor lhe convinha (renunciou ao vencimento de 6mil euros como P.R. para ficar com cerca de 10mil que lhe vem das pensões) e escondeu que tem transportes de borla, casa luz e roupa lavada de borla, médico de borla, segurança de borla, viagens e alimentação de borla, secretárias e conselheiros de borla, etc., etc.

Não dignificando tudo isso, Cavaco Silva fez do cargo de Presidente da República uma máscara do que deve ser e colocou-se ao nível dos borlistas, o que é degradante!

sexta-feira, janeiro 20, 2012

 

A propósito dos "Pedreiros Livres"

Regressando ao tema da maçonaria, escrevi para o Semanário Grande Porto o seguinte texto, que hoje foi publicado:
"Está na ribalta a questão dos pedreiros livres. O pensamento iluminista fez da razão a única fonte de certeza e acusou de obscurantismo todas as crenças que não eram elaboradas pela razão. Mas como é impossível, por édito ou mandato policial, impedir que, interiormente, o crente se “religue” ao que o transcende, o espírito religioso vestiu-se de uma racionalidade para poder escapar às perseguições fratricidas das sangrentas guerras religiosas, que dilaceraram a Europa desde o séc.XVI.

No séc. XVII, um incêndio, de grandes proporções, destruiu Londres. Atribuiu-se a esse incidente trágico intuitos criminosos que visavam, com a destruição das catedrais, apagar os símbolos das religiões em conflito.

A construção de locais de culto esteve sempre associada a narrações misteriosas. Aliás, os primeiros cristãos reuniam-se em segredo para louvar a Deus nos capítulos, lojas ou células e tinham fórmulas de se reconhecerem através de figuras, como, por exemplo, o peixe (Ichthys), e símbolos.

Para fugir à conotação religiosa, muitos pedreiros guardaram em segredo os símbolos e ritos que acompanhavam as técnicas de construção de catedrais. O compasso e o esquadro, por exemplo, eram ícones de uma simbologia que atribuía à geometria um papel sagrado e integravam-se numa narrativa que orientava a construção das catedrais, sempre viradas para onde o Sol nascia, numa missão antropocósmica.

Esses pedreiros, que se consideravam livres (independentes das contendas religiosas) estavam organizados em obediências de fraternidade. Foram chamados para reconstruir as catedrais e encararam essa tarefa com o espírito de contribuírem para harmonizar a respectiva construção com a narrativa do grande arquitecto das almas, o arquitecto de um mundo mais fraterno, mais livre, mais igual e mais de acordo com a beleza e ordem cósmica.

Nessa narrativa, contavam os ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade que levaram à Revolução Francesa. Por alguma razão, os maçons do grande Oriente Lusitano, a mais antiga obediência maçónica, estiveram sempre na primeira linha das lutas liberais, contra as ditaduras e a opressão.

Com a grande depressão do capitalismo, nos anos trinta, esta maçonaria foi alvo de terríveis perseguições. Hitler, Franco, Mussolini e Salazar olharam para a maçonaria e para o comunismo como inimigos a banir.

Em 19 de Janeiro de 1935, na recém-inaugurada Assembleia Nacional, o deputado José Cabral, visando o extermínio da maçonaria, apresentou um projecto de lei que proibia as associações secretas, sob pena de aplicação de uma sanção que ia da prisão ao degredo.

Fernando Pessoa, que se diz ter sido “rosacruz” (uma associação do estilo maçónico) escreveu um texto brilhante de defesa do segredo maçónico. Denunciou o paradoxo do projecto de José Cabral ao pretender condenar associações secretas, esquecendo que o conselho de ministros também poderia ser condenado, uma vez que muito do que lá se discute fica debaixo de segredo.


Os propósitos da maçonaria, a sua história e a luta que os maçons travaram, em épocas de intolerância, miséria, obscurantismo e opressão, estão, hoje, referenciados em muitas publicações. E pode-se reconhecer a dimensão iniciática dos pedreiros livres na beleza sublime do património arquitectónico, musical e pictórico que recebemos dos nossos antepassados.

Naturalmente, as preocupações maçónicas que marcaram a arte e a luta contra a opressão e a miséria, são incomensuravelmente diferentes das que têm os actuais candongueiros de interesses que se alojaram em células maçónicas.

E é esta diferença que marca muitos equívocos e, tal como referiu Fernando Pessoa, o antimaçonismo não se deve apenas às nódoas da infiltração oportunista que a(s) descredibiliza, mas também do facto de se falar da maçonaria(s) sem nada se conhecer a seu respeito.

Obs:


Hoje, chamaram-me a atenção para o seguinte: em Portugal, começa a fazer sentido as organizações secretas. Na verdade, se as maçonarias querem perder a conotação com as máfias que ultimamente lhes está associada, pois podem, agora, recuperar o espírito nobre que as enalteceu e justificou o segredo operativo: coloquem-se do lado dos que sofrem o rolo compressor deste governo que nos retira direitos e oprime até ao limite da barbárie. E discutam, em segredo (não pode ser de outra forma. Em tempos de miséria e medos de perder o pouco que se tem não são possíveis as grandes manifestações de luta), nas suas lojas, a forma de dar volta a esta situação, porque a liberdade fundamental, a que nos cria condições para sermos senhores do nosso próprio destino, está em causa.

É só acabar com o clube de “chicos-espertos” e fazer da Maçonaria o que foi sua vocação. Será que haverá gente para isso?!...

quinta-feira, janeiro 19, 2012

 

Significativamente estranho!

O líder da UGT diz que “foi incentivado por dirigentes da CGTP a assinar o compromisso com o governo”.

Por que será que ao Eng. João Proença não bastam as suas convicções na decisão de aprovar o acordo de concertação social?

Invocar o “incentivo” só pode ser compreendido como um alívio de consciência. E se foi para criar problemas à CGTP, teve um efeito de boomerang: virou-se contra a UGT, pois é estranho que alguém considere que para os outros é um erro, o que para si considerou um bem.

A UGT coloca às suas costas a CGTP e com isso só dá razão aos argumentos da CGTP de que o acordo é péssimo e um regresso civilizacional.

Processar a UGT pode ter algum sentido para a CGTP, mas não me parece necessário: a UGT já se condenou a si própria. Só falta aos trabalhadores filiados nesta organização sindical saber tirar as devidas conclusões.

 

quando se torna em retórica parlamentar é um nojo...

Ouvi um deputado do PSD falar em “ditadura dos direitos adquiridos”. O rapaz não sabe o que foi a generosa luta travada pelos dos nossos melhores antepassados pela dignificação do valor da dignidade humana. E não os respeita, nem respeita a história das prisões que sofreram, das torturas até à morte a que foram submetidos. E não só eles mas a também a sua própria família.

Esse deputado é a imagem do que são certos deputados, cuja mediocridade vai ao ponto de ignorarem o que é uma ditadura, o que é a dignidade humana e para terem uns segundos de “glória” não se coíbem de emporcalharem os que, pelas suas lutas, possibilitaram a democracia, um Estado de Direito e ele próprio ser deputado. A ignorância é atrevida e quando se torna em retórica parlamentar é um nojo.

Não há nada que mais prostitua um cargo do que o não saber respeitá-lo. Há quem lhes chame deputedos. Talvez, por isso, ninguém se pode espantar de notícias como esta: “só 56% dos portugueses defende democracia
http://economico.sapo.pt/noticias/satisfacao-com-democracia-atingiu-minimo-de-sempre_136270.html

quarta-feira, janeiro 18, 2012

 

Álvaro acredita ser um génio e já é uma interpretação autorizada pelo Governo

O Álvaro, mais propriamente o Ministro da Economia, não é um génio qualquer. Eu sabia isso, mas faltava-me a prova de ciência feita. Encontrei-a, hoje, ao ler um texto do meu amigo António Cândido de Oliveira, no “Público”.

Tudo tem a ver com a sua paixão: a preocupação com a produtividade, competitiva e criatividade. E nesta paixão o Álvaro, como gosta de ser chamado, é um pastor que leva a boa nova para a resolução de todas as crises.

Com esse intuito, escreveu um daqueles livros que revela a sua estatura intelectual, de economista e estrangeirado que ficará para a história.

A obra tem o título: “O medo do insucesso nacional”. Foi publicada em 2009 e terá contribuído, de forma decisiva, para que o sagaz Passos Coelho, naturalmente com a anuência do seu intelectual orgânco Miguel Relvas,  tenha escolhido o autor para gerir os destinos da nossa economia e fazer subir o PIB.

Como se verificará pelo argumentário da obra, uma trilogia (competitividade, criatividade e produtividade) brilha nos neurónios do Álvaro.

O mecenato do tempo, antecipadamente, já lhe deu razão: muito embora o volume do verbo da escrita seja sumptuoso, trezentas páginas, atribuiu-lhe o preço competitivo de três euros nas livrarias e 50 cêntimos em alfarrabistas. Já hoje o procurei, mas não encontrei este best-seller. Também não percorri todos os alfarrabistas, mas receio que se tenha esgotado ou, então, por alguma orientação invejosa, colocado fora das prateleiras das livrarias.

Vale a pena ler!

Depois de elogiar vivamente uma empresa nacional que introduziu, de forma inovadora, o artefacto, do papel higiénico preto (p.132), não esqueça preto,esclarece, logo de seguida, uma questão fundamental para a competitividade nacional, muito mais importante que a dos pastéis de nata.

Merece muita atenção o que vou transcrever. É da sua lábia:

“Durante séculos, a majestosa cidade de Braga especializou-se na produção de um produto: padres. Basta percorrer as monumentais ruas da cidade para perceber a importância que a religião e a Igreja Católica têm para a região. São edifícios e mais edifícios (muitos deles de grande dimensão) dedicados à produção e formação de sacerdotes. Hoje em dia, a indústria de produção de sacerdotes bracarense está em declínio (…) Por quê?!...”

E a penetrante resposta, de quem consegue fazer luz sobre os mais ignotos e escuros problemas que nem o eureka de Arquimedes se poderá assemelhar, responde:

“A grande causa do declínio da Igreja Católica em Portugal é simplesmente a falta de competitividade. A indústria de produção de padres perdeu competitividade, pois os custos de produção de novos sacerdotes são demasiado altos e o preço do sacerdócio é extremamente elevado.”

Senhor Cardial Patriarca, Senhor Arcebispo de Braga, Senhores Cónegos, Senhores Abades e restantes membros da Igreja: toca a produzir, competir e inovar, como o pastor Álvaro dix.

Foi preciso aparecer Passos Coelho, para que aparecesse um ministro da economia à altura deste governo PSD/CDS.

Talvez, por isso, Álvaro acredite ser um génio e já é uma interpretação autorizada pelo Governo.

 

Um (des)acordo em defesa do PSD

Ouvir o Ministro da Economia a falar sobre o acordo de concertação social é sentir os nervos a esfrangalhar. Álvaro dos Santos Pereira ou o Álvaro não responde ao que lhe é perguntado: martela o que quer transmitir com chavões e interpreta o memorando da troika como um Aiatola interpreta o Alcorão.

Não entendi nada das vantagens que a UGT apregoou do acordo. Talvez a UGT o tenha compreendido pela pressão que o PSD exerceu dentro desta confederação sindical.

Parece um franchising de pastéis de nata para os mercados em vez de um acordo. Vai atirar para a valeta da vida os que precisam de trabalhar para viver. E não vai resolver os problemas da economia nem vai contribuir para uma paz social.

Se neste acordo em defesa do PSD, a UGT parece ter abandonado os trabalhadores, é normal que os trabalhadores abandonem a UGT.

http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=39072

terça-feira, janeiro 17, 2012

 

O conceito de "empresa-cidadã" desapareceu.

Foi alcançado um acordo. Naturalmente, quem só dispõe do trabalho para viver vai ficar mais prejudicado e diminuído nos seus direitos. A dimensão de interesse público da exploração empresarial perdeu-se.

O lucro, com este governo PSD/CDS, passou a justificar-se por si mesmo, ganhando apenas um significado puramente financeiro, como pensava Milton Friedman (“a única responsabilidade da empresa é utilizar os seus recursos para maximizar lucros”. Foi considerado o pai do neo-liberalismo e nos anos 70 esteve no Chile, tornando-se amigo de Pinochet que adoptou muitas das suas ideias neo-liberais sobre economia).

Falar em “empresa-cidadã” perdeu sentido, como perdeu sentido pensar-se que o objectivo dos negócios é servir clientes com sentido de missão, onde todos os esforços se orientam pela ideia de “bem-servir”.

Regressamos aos finais do séc. XVIII. Pode ser que, tal como nessa altura, apareça quem se insurja contra a “miséria imerecida” de que falou Leão XIII na encíclica “ Rerum Novarum.

Não achei bem que a CGTP tivesse abandonado a reunião de Concertação Social. A luta nunca deve ficar a meio, nos terrenos que nos são propostos.
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=38977

segunda-feira, janeiro 16, 2012

 

A propósito dos "pedreiros livres"

Está na ribalta a questão dos pedreiros livres. O pensamento iluminista fez da razão a única fonte de certeza e acusou de obscurantismo todas as crenças que não eram elaboradas pela razão. Mas como é impossível, por édito ou mandato policial, impedir que, interiormente, o crente se “religue” ao que o transcende, o espírito religioso vestiu-se de uma racionalidade para poder escapar às acusações fundamentalistas que geravam guerras e perseguições.

No séc. XVII um incêndio, de grandes proporções, destruiu Londres. Atribuiu-se a esse incidente trágico intuitos criminosos que visavam, com a destruição das catedrais, apagar os símbolos das religiões em conflito.

Dizem que, para fugir à conotação religiosa, muitos pedreiros guardaram em segredo os símbolos e ritos que acompanhavam as técnicas de construção de catedrais. O compasso e o esquadro eram, por exemplo, ícones de uma simbologia que atribuía à geometria um papel sagrado e estavam integrados numa narrativa que orientava a construção das catedrais.

Esses pedreiros, que se consideravam livres (independentes das contendas religiosas), foram chamados para reconstruir as catedrais e encararam essa tarefa como uma missão: harmonizar a construção das catedrais com a narrativa do grande arquitecto das almas, o arquitecto de um mundo mais fraterno, mais livre e mais igual.

Vale a pena contemplar com esta referência algumas das grandes catedrais portuguesas.

A beleza esculpida por pedreiros livres, ajudam-nos a compreender uma narrativa que fez a sua história com grandeza e generosidade e é incomensuravelmente diferente dos actuais candongueiros de interesses que se alojaram em células maçónicas.
http://www.rotadascatedrais.com/pt/visitas-virtuais

sábado, janeiro 14, 2012

 

"A construção da máfia portuguesa (1)"

Num texto que Pacheco Pereira publica, hoje, no Público (A construção da Máfia portuguesa -1) escreve: “O modelo partidocrático actual (…) produz duas coisas interligadas:

1.- a mediocratização do pessoal político (de facto, a nova classe política é gerada pelos media — gente muitas vezes vista, torna-se “BEM-VISTA”) ;

2.- os bloqueios a determinado tipo de reformas, todas as que tenham como efeito impedir o funcionamento dos mecanismos de clientelas e de gestão de pequenos poderes (e digo eu, como, por exemplo, os que rodearam a loja Mozart e a indicação de boys) sobre os quais se alicerça o poder partidário.(…)

E termina: “não tenho dúvidas que se está a reforçar uma tendência da partidocracia para passar para o privado, um privado muito especial, porque se conserva bem dentro da decisão política”.

Na verdade, é neste quadro que a máfia portuguesa se constrói.
Vale a pena ler este texto que continuará para a semana, e, brevemente, aqui: http://abrupto.blogspot.com/

 

O que será que nos espera?!...

Não se compreende que um Governo seja eleito para ser bom aluno de um grupo que lhe empresta dinheiro. Mas foi isso que traçou a orientação política deste Governo e não o programa que sujeitou aos eleitores. Esta submissão indecorosa tem já consequências inequívocas:

1º - Como alguns previam, os insuportáveis impostos, os elevadíssimos juros dos empréstimos e a ausência de reformas estruturais ( e não à la carte, como tem acontecido!) só poderiam levar a um abaixamento do rating e Portugal, para efeitos de empréstimos, é já considerado lixo;

2º- Nos seis países que sofrem medidas de austeridade (Portugal, Grécia, Irlanda, Estónia, Itália e Espanha), segundo estudos já publicados, o governo do PSD/CDS foi o que procedeu a uma maior disparidade na distribuição dos sacrifícios: os mais pobres perderam 6,1% dos seus rendimentos e os mais ricos apenas 3,9. Além disso, o índice de pobreza em Portugal já ultrapassa 40%.

Sei que há sempre uma retórica para tudo iludir, mas, segundo o Banco de Portugal, a baixa do rendimento da população, entre 2010 e 2013, será mais de10%.

Parte muito significativa dos nossos concidadãos vive, hoje, numa situação de indigência ou perto disso, enquanto os que pertencem à “área de negócios politizados” (como designa Pacheco Pereira) vão aumentando os seus proventos, com salários e lucros escandalosos.

E, agora, com a redução do rating de Portugal a lixo, o que esperarão os mais pobres, os doentes, os desempregados, os reformados e o resto de uma classe média que sobrevive neste aperto de cinto para pagar uma crise de que não têm culpa?

Será que continuamos a ouvir obscenamente proclamar uma “ética da austeridade social”?

Estamos habituados ao cinismo e à falta de vergonha, mas os limites já foram ultrapassados.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

 

Apetecia-me soltar um grito de Ipiranga!

Apetecia-me perguntar à Srª Ferreira Leite se só quem tem dinheiro tem direito a viver; apetecia-me comparar a situação dos mais pobres (os desempregados, os que não têm dinheiro para medicamentos, passam fome e não conseguem pagar a renda da casa), com o obsceno e estrondoso ordenado de Catroga e dos seus companheiros do PSD ao serviço do capitalismo de estado chinês; apetecia-me lembrar o que disse Catroga sobre a moralidade da gestão socrático; apetecia-me referir os boys que o PSD e CDS vão descarregando da sua nomenclatura para a mesa do orçamento que impiedosamente sai dos impostos que escravizam o contribuinte; apetecia-me exercer o direito à indignação, mas já não tenho forças.

Hoje, só me vem à alma um desabafo: gostava de o soltar num grito de Ipiranga, mas a palavra que me aperta a garganta é tão feia que prefiro segurá-la só para mim, num sentimento de vencido e amargurado.

Se partilha do meu sentimento, faça com que ele se multiplique até ter a força do eco que Ipiranga lhe deu e que eu, vencido e amargurado, já não consigo.

domingo, janeiro 08, 2012

 

Um livro que está a interessar-me.

Já li duas centenas de páginas. Quero conhecer melhor a história da China. Como se sabe, os povos fazem, no desenrolar do tempo, o seu currículo. E conhecendo o currículo de um povo, sabemos do que ele é capaz.

“1421, o ano em que a China descobriu o mundo” é o título do livro de Gavin Menzies. Nesse ano, os monstruosos barcos de Zhu Di, com 36 pés de altura (dimensão superior à da caravela Niño, em que mais tarde Colombo deu a volta ao mundo), equipados com armas de fogo, canhões de bronze, etc., já asseguravam o domínio sobre a Europa, Ásia e África. E não precisavam de agências de rating.

O imperador chinês, o grande líder, desconhecia o materialismo histórico, não se achava representante de operários, agricultores, soldados e marinheiros, mas os chineses já acreditavam que recebia um mandato do Céu. Por isso, aos mandarins e reis que visitavam o Grande líder era imposto o know-tow: curvarem-se numa vénia, encostando a testa ao chão.

O domínio sobre praticamente todos os povos do mundo, nesse ano, 1421, é de repente cortado: todos os navios, todos os governadores, foram, por édito robusto (como agora se diz), obrigados a abandonar os negócios e a regressarem. A China fechou-se sobre si própria, sem que, até hoje, se saiba porquê!

A leitura está a interessar-me: já vejo Catroga, Mexia, Ilídio Pinho, Braga de Macedo, Celeste Cardona, Paulo Teixeira Pinto, Rocha Vieira e Fernando Masaeva, com galos na testa por tanta persistência nos know-tow ao grupo chinês Three Gorges.

E, inspirando-me na sabedoria milenar dos chineses, vou criando a expectativa de que a história se repita e, daqui por algum tempo, veja o Grande Dragão, com olhos de tigre, corpo de serpente e chifres de veado, a pôr termo às agências de rating e, num colossal barco, levar para a China as lojas que proliferam por todo o lado, o grupo Tree Gorges, e, com toda esta gente, os mandarins (já com a testa achatada) que o PSD colocou a serviço dos chineses e, se possível, o próprio governo com muitos galos na cabeça pelos buracos que foi cavando coma sua sujeição ao know-tow.

sexta-feira, janeiro 06, 2012

 

Um abraço de saudade

Nasceu no Porto. Estudou na faculdade de engenharia, mas acabou por se decidir pela música. Esteve ligado a grandes nomes da música popular, tais como Paulo de Carvalho, Sérgio Godinho, Fernando Tordo, Carlos do Carmo, Carlos Paredes, Rui Veloso, Rita Guerra, Carlos Mendes, Herman José, Lúcia Moniz, Xutos e Pontapés, etc...

Com Carlos Moniz e o meu conterrâneo, amigo e compadre Alfredo Vieira de Sousa fundou o Grupo Outubro.

Fez música para cinema e teatro, nomeadamente para uma peça de Berthold Brecht.

Mário Soares atribuiu-lhe o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique, Cavaco Silva a comenda da Ordem da Liberdade e a Ministra da Cultura Gabriela Canavilhas agraciou-o com a Medalha de Mérito Cultural.

Pessoalmente não o conhecia, mas admirava-o como música, pessoa de bem e empenhado em causas.

Pedro Osório deixou-nos aos 72 anos. Aonde estiver, um abraço de saudade.
http://www.youtube.com/watch?v=FyRUwKUigMo

quinta-feira, janeiro 05, 2012

 
Não há tempo de antena que chegue para tantos comentadores, técnicos de marketing e fiscalistas lavarem a imagem do Pingo Doce e do seu patriota e moralista líder, Soares dos Santos. Até o democrata cristão João de Almeida já disse que não disse o que disse, quando apelou ao boicote aos produtos do Pingo Doce. Mas uma questão resiste ao argumentário: se Portugal não serve para sede do Pingo Doce, por que raio de água há-de o Pingo Doce servir para Portugal?
Bom, este raciocínio só faria sentido, se Portugal fosse dos portugueses! Justifica-se, assim, o silêncio do Primeiro-ministro.
http://www.agenciafinanceira.iol.pt/empresas/jeronimo-martins-soares-dos-santos-pingo-doce-capitais-empresas-agencia-financeira/1314758-1728.html

terça-feira, janeiro 03, 2012

 

Uma fiscalização pelo blá..., blá...

O PS, em coerência com a sua prática, joga pelo “Seguro” (o seu grande líder): por um lado, dúvida da constitucionalidade do corte dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos e pensionistas; por outro, não quer saber do Tribunal Constitucional para uma fiscalização sucessiva do orçamento.

Mas, marca a sua diferença em relação ao PSD e CDS: garante que vai dar prioridade a uma fiscalização política permanente do orçamento. Isto é, aposta num blá…, blá…, blá…, que, sujeito a votação, não serve para nada.

Quem o garante é o camarada Junqueiro.
http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=37742

domingo, janeiro 01, 2012

 

Crise ou trespasse?

Jürgen Habermas recentemente, numa conferência, alertou para o risco da democracia estar em perigo na Europa. Tudo, porque a U. E. deixou de ser uma aliança dinâmica na solidariedade, no desenvolvimento económico e na defesa dos valores humanos e direitos sociais, dos quais, desde 1945, se regozijava.

Por falta de líderes, foi arrastada pela lógica neoliberal da globalização do mercado, uma espécie de darwinismo social que tanto agradou, paradoxalmente (ou talvez não!), ao capitalismo de estado chinês.

A China está a adquirir empresas europeias privadas pelo melhor preço e só coloca, na direcção da gestão das suas organizações económicas, chineses. Imitam, em grande escala, o que fazem os chineses nas pequenas lojas de comércio (onde até dormem).

As consequências estão à vista: nenhuma empresa poderá concorrer com as empresas chineses, se não descer a fasquia dos direitos sociais para o nível da economia chinesa.

Se quer compreender para que servem, na Europa, as crises das dívidas soberanas, reveja, então, o modo de funcionamento do capitalismo de estado chinês e pense no que diria o PSD e o CDS sobre a venda da EDP, se ela fosse concretizada pelo PS (o que, aliás, não era de espantar!): 

http://www.youtube.com/watch?v=KqTAU996Vm0&feature=related

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