quinta-feira, julho 12, 2007

 

Sobre a Escola Pública!...

Hoje, no “Público”, Maria Luísa Abreu escreveu um artigo (“Sobre a ignorância dos sofistas do séc. XXI”) que eu muito gostaria de ter escrito. É uma resposta a um artigo de José Miguel Júdice, publicado no mesmo jornal, no passado dia 6 de Julho.

Júdice vê a Escola com os olhos que orientam a sua vida. Acusa os professores de fazerem lobby (e ainda por cima poderoso!!...) para defender meros interesses de classe. Não sabe o que é a vida de um professor numa Escola e, como diz, Maria Luísa Abreu, fala do que ignora. Não entende o papel social dos professores nem o seu apego à dignificação da Escola Pública. E como poderia entender este valor, quem na sua vida de estudante furava greves para olhar pela sua vidinha?!...

Ninguém mais do que um professor da Escola Pública sente a necessidade (para sua realização profissional) de tornar a Escola numa referência do ensino, como foi em outros tempos. Tal não acontece, porque os interesses privados, a incompetência e a falta de sentido de Estado dos governantes têm vindo a esvaziar a dimensão de serviço público da Escola e a desvalorizar a autoridade profissional do professor.


Em volta da Escola Pública, foram-se instalando muitos negócios que não servem os seus interesses nem o prestígio dos professores. Em vez de responder aos apelos do futuro dos jovens e do País, a Escola consome-se a interpretar directivas, a responder a interpelações de inspectores, directores e muita outra gente que nunca deu aulas mas vai justificando o seu posto de trabalho à custa de uma burocracia desorientadora e frustrante.

O Governo do PS degradou, ainda mais, a situação da Escola Pública. Parece que escolheu para definir políticas de educação os “merceeiros”, os que nunca souberam viver a situação da Escola por dentro, porque só a conheceram de “raspão” e através do cifrão.

A Escola Pública tem um objectivo: formar cidadãos responsáveis e profissionais competentes.
Mas, para isso, é necessário devolver-lhe a autonomia que ela precisa para se organizar em função dos seus problemas específicos.

Não faz sentido, p.ex., que a Escola Pública não possa levar à prática o princípio da igualdade de oportunidades para alunos diferentes, dispondo da competência para formar turmas com o número de alunos que se harmonize com a capacidade dos professores responderem a problemas disciplinares ou de aprendizagem. Não faz sentido a extensão de programas que, muitas vezes, repetem matérias em diferentes disciplinas. Não faz sentido uma pesada carga horária (à custa do despedimento de professores) que não abre espaço, nem disposição para o trabalho de casa que promove a responsabilidade pessoal no sucesso escolar. Não faz sentido o frenesim da “reunite” que dispersa os professores do fundamental e desenvolve a cultura da “mise-en-scène”. E é um escândalo que a escolha de manuais tenha deixado de ser um acto pedagógico para se tornar num negócio feito entre lanches e cocktails nos hotéis de luxo.

Os professores precisam de sentir que a sua profissão tem dignidade e que a Escola Pública é um lugar de realização pessoal e não de tormenta e frustração.

Comments:
Escola do cadela não há como ela ... as meninas de cinco olhos, as orelhas de burro ... as estações, os apeadeiros, as serras, os rios, os afluentes ... as províncias ... ai que saudades do meu Portugal! Viva ! Viva ! [um filósofo não pode fazer crescer uma copa tão grande tão grande que dê sombra em ambas as margens... a não ser que o rio já não seja o Tâmega, afluente do Douro ...]
 
Não se pode confundir a forma com o conteúdo. A escola de, hoje, não faz “escola”: é um lugar por onde se passa ou que serve de armazém de meninos, enquanto os pais trabalham. A escola já foi um lugar de trabalho de reflexão, de desenvolvimento de competências, de aprendizagem de regras e de saber conviver no respeito mútuo. Não deu só instrução, deu também formação. João de Deus não toleraria a escola de hoje.

As sombras junto ao Tâmega não escondem ninguém: apenas ajudam a refrescar a mente.
 
Pondo entre parênteses o primeiro período [informa=conteúdo] que não acrescenta, sempre quero emendar: afinal o filósofo ainda empunha a palavra. Quanto ao que mais é dito, admito com 'mas'. Não posso esquecer quem se fez com essa escola e o exemplo não se recomenda. Essa escola ajudou a anestesiar várias gerações de bem comportados cidadãos. O resultado está hoje à vista. O que vem sendo publicado nesta "margem esquerda" faz eco disso mesmo, indignando-se.

Sem sombra de dúvida, por questão de método…
 
Penso que tem razão no que se prende com a ideologia. A escola, durante o fascismo, foi um instrumento ideológico de domesticação. Eu repudio isso. O lado positivo que eu vejo não está aí. Refiro-me à escola no sentido da aprendizagem, de fazer entender aos alunos que o estudo implica trabalho, o saber resulta da reflexão e que o aluno, tal como muitos de nós defendíamos nas manifestações que fazíamos no dia do estudante (14 de Março), é um jovem trabalhador intelectual, com direitos e deveres. Hoje estudar é uma actividade lúdica e os professores perderam toda a autoridade e dignidade.

Repare o que são, hoje, as associações de estudantes!... Não lutam por uma escola ao serviço do País, mas por minudências, privilégios e nesses movimentos vão ganhando a visibilidade que lhes permite o carreirismo político e um lugar na mesa do orçamento pago pelos contribuintes.

A escola do facilitismo e do embuste é pior do que a outra escola. É que a escola fascista obrigava-nos a pensar no regime, a repudiá-lo e a sermos solidários na luta pela democracia. Esta escola desenvolve o individualismo, o egoísmo, a indiferença e o vazio.
 
E é um escândalo que a escolha de manuais tenha deixado de ser um acto pedagógico para se tornar num negócio feito entre lanches e cocktails nos hotéis de luxo.

Tudo de bom (no muito pouco que existia) tem deixado de o ser, para dar lugar às instaladas e portentosas vaidades disto, daquilo e daqueloutro ... E porque se faz da Escola, das crianças e do Ensino, um negócio!
Há pouco tempo precisei de um livro, editado pela Texto Editora e desloquei-me à Avenida dos Estados Unidos aqui em Lisboa... e fiquei impressionada com o trato, se fosse professora era uma coisa, se não fosse era outra, ou seja, duas formas distintas de se consumir o livro de uma editora para escolas. Às crianças e pais, o espaço era insignificante e não existia promoções e estratégias do vendável e os dois empregados eram malcriados e aos professores o espaço que existia era digno, grande e confortável, mas descaradamente vendável com os respectivos funcionários mais bem preparados, com aqueles estúpidos, exagerados e falsos sorrisos a quererem impingir tudo e mais alguma coisa…
Choquei-me com este estar do NEGÓCIO assim num aparato de uma imagem nada exemplar e que nada interessa, nem valoriza o Ensino, a Aprendizagem e a ESCOLA e o futuro dos nossos filhos e das crianças deste país...
E pensei, então mas isto é descaradamente um absurdo, e os responsáveis de todas estas áreas não se insurgem, é possível isto ???
O que se está a «fazer» à volta do Ensino é mais grave do que pensamos.
E até neste que poderá ser considerado um pequeno pormenor, mas que tem o seu grande significado a tudo dizer e que é relativamente ao peso dos livros nas mochilas das crianças, para se exibir um grafismo exagerado em desnecessários espaços em branco num tudo se consumir em exagero!!!
Até quando isto vai durar ou nós permitiremos que tal continue a acontecer a deixarmo-nos enganar assim ???

Abraço
 
Minha amiga: E a revolta de quem escreve, há muitos anos, manuais, numa pequena editora, como a Afrontamento!..
 
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