domingo, agosto 06, 2006

 

Ainda o Rivoli

Há dias na RTPN assisti a um debate sobre o Rivoli entre o vereador da cultura da Câmara do Porto, uma representante da Plateia e um Professor Universitário ligado às questões culturais.

Foi significativo o debate.

O vereador, presumo que economista, falava num tom presunçoso, onde não faltava para início do discurso um “efectivamente” para dar mais musicalidade às suas intervenções.Garantiu ser fã da privatização, mas a um vereador só se esperaria que fosse fã do serviço público. E não compreendendo isso, não conseguia esconder a ignorância sobre questões culturais. Recorria à citação de espectáculos que tinha visto, como se isso fosse uma autoridade em matéria de política cultural. Significativamente, não deixou que o tempo de antena terminasse para, num rasgo que fazia lembrar os caixeiros-viajantes dos anos cinquenta, assegurar à representante da Plateia: «gostei muito de falar com V. Excelência». Foi -- o que se pode chamar-- um verdadeiro artista.

A representante da Plateia era arguta, mas com a preocupação de chamar o vereador ao seu ponto de vista acabou por confundir o essencial com o secundário e a dar cobertura à vacuidade do vereador.

O Professor Universitário sabia do que falava, mas, como é costume a quem é competente, deram-lhe poucas oportunidades para dizer o que deveria ser dito. Entretanto, foi deixando a ideia de que o futuro do Rivoli só se justifica como um instrumento de uma política cultural da autarquia portuense, mas como esta não sabe o que isso é, só pode ver o Rivoli em termos de receitas e despesas.

Na verdade, o Rivoli justifica-se como um instrumento indispensável ao serviço da rede de escolas das artes do espectáculo que existem na cidade do Porto e que vão da dança, à música, ao teatro e ao cinema. Deveria servir (já que não há outra casa de espectáculos com aquela qualidade) para dar expressão a essas manifestações culturais e promover espectáculos de referência que permitissem desenvolver e aprofundar a qualidade e competência dessa rede.

Nada disso foi claramente expresso no debate e nada disso consegue preocupar um vereador da “cultura”que recorre persistentemente ao “efectivamente” para desenvolver a sua musicalidade palavrosa, mas desconhece a importância fundamental duma política cultural.

Mas também não nos podemos admirar: no seu trauliteirismo cronical, Vasco Pulido (e não polido!) Valente também, hoje, para pôr cobro a uma "multidão subsidiada", defende,no "Público", pura e simplesmente, a entrega do Rivoli a uma gestão privada.

Só admiro, como ainda não se defendeu a entrega a privados das próprias autarquias: é que elas constituem as mais despesistas instituições do País (as que verdadeiramente susidiam multidões de boys)e absorvem o maior bolo das nossas contribuições. E, pelo mesmo prisma, precisam, como diria o valente Pulido, de uma autêntica vassourada.


Comments:
Estou completamente de acordo com o texto do Primo. É preciso continuar a remar contra o vento, esmagador, mas não vencível do conformismo actual, que conduziu à manutenção no cadeirão do contabilista merceeiro.
Um abraço!!
 
Aseante disse: Claro que no comentário queria dizer "não invencivel"...
 
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