sexta-feira, novembro 25, 2011

 

Falando comigo mesmo!

Estava a subir, hoje, a Rua 31 de Janeiro e ouvi um senhor ao meu lado a dizer, sozinho, palavrões. Percebi, então, que também falava sozinho.

A solidão obriga-nos a ouvir-nos a nós próprios já que ninguém mais nos ouve. Foi assim com o Sermão aos Peixes do Padre António Vieira!

Há fantasmas que surgem em noites de solidão: veio-me à memória a divisão salazarenta entre situacionistas e oposição a quem se recusava o direito a pensar de forma diferente. Era até acusada de ser comandada por forças estranhas.

Configurava-se a OPOSIÇÃO no pensar diferente. E assim, demonizavam-se os sindicatos e poucos lhes queriam reconhecer que afirmavam a solidariedade contra o egoísmo, poucos queriam reconhecer a importância que, por exemplo, a social-democracia deu ao diálogo com os sindicatos, com vista à correcção de políticas, a melhor servir os cidadãos e evitar que o descontentamento deslizasse para a violência da revolta. Poucos queriam compreender que, na história da humanidade, a luta por um bom governo gerou-se sempre pela necessidade que todo o homem tem, dentro de si, de diminuir o sofrimento que lhe é imposto; e que um bom governo sempre foi o que diminui o sofrimento dos que mais sofrem.

A ideologia situacionista alimenta-se do medo e o medo fantasia-se na criação de inimigos: o pensamento divergente, os sindicatos, a oposição.

Esses fantasmas voltaram e foi, com um sentimento de profunda frustração, que ia dizendo para comigo mesmo: esta gente que critica a greve, não percebe a importância histórica dessa luta na institucionalização da sociedade moderna, na conquista dos direitos sociais e de quem trabalha; essa gente que vê nos indignados, marionetas comandadas por forças estranhas, com hora marcada, continua a julgar que o único pensamento, as únicas emoções, com direito à expressão, são as do situacionismo.

Pensava comigo mesmo em voz alta, com a voz de quem ergue o repúdio de fantasmas num deserto onde tudo é areia agreste, sem as diferenças que os cravos vermelhos riscam num clamor por primaveras.
http://www.youtube.com/watch?v=ex7OherCoek

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