domingo, abril 01, 2012

 

Um reencontro com um amigo.

Foi por mero acaso. Disseram-me que no espaço do Emmaús havia roupas, móveis e livros à venda. A crise obrigou-me a passar por lá para procurar alguns móveis para uma casa da aldeia. O espaço estava cheio de clientes. Procuravam auxílio para as precaridades que a vida lhes traz, mas havia também quem já não tivesse braços para tantos livros. Eram alfarrabistas que os compravam por uma “côdea” para depois os venderem por  um “dinheirão”. Comprei quatro livros. A “Cabra cega” de Rogger Vailland (livro que perdi há muitos anos), um dos primeiros livros de poemas de Eugénio de Andrade e um outro de Sophia. Tudo por 4 euros. Comprei ainda dois móveis.

Mas do que mais beneficiei foi o ter encontrado o Padre Serafim. Já não o via há mais de meio século. Fez questão de me levar os móveis, depois de um grande abraço, aquele abraço que traz consigo a nostalgia dos sulcos da partilha de alegrias, das boas e más horas, das tristezas e esperanças e nos faz sublinhar o que Aristóteles, na Ética a Nicómaco, escreveu: “Sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que houvesse outros bens.” Veio com dois companheiros de gestos fraternos, mas de rostos sombrios, como quem tinha por madrasta uma vida. Fiquei a conhecer a obra dos companheiros de Emmaus e interroguei-me: o que seria de tanta gente, nossos irmãos, que suportam a crise no limite da pobreza, sem padres Serafim? Para que servirá um governo que não toma por fundamental da governação de um povo diminuir o sofrimento dos que mais sofrem?

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