quinta-feira, dezembro 08, 2011

 

É preciso filtrar a engrenagem que nos instrumentaliza e manipula.

A coisa está estudada e este Governo utiliza-a bem. Não admira, as faculdades de comunicação social só têm (ou quase só têm!) como armazéns de escoamento do seu produto os lugares de assessores de ministros. E eles estudaram a maneira de dar a volta aos problemas da governação para fazer crer aos cidadãos o que é mais conveniente para o governo.

Chamemos-lhe propaganda ou, então, o que é mais preciso, manipulação ou, numa linguagem mais fria, “controlo social”. Chomsky, a propósito, escreveu:“a propaganda representa para a democracia aquilo que a cassete significa para o estado totalitário”.


A propaganda utiliza o jogo de sedução, a cassete a repetição exaustiva. Nos manuais dos grandes manipuladores são aos montes as técnicas de sedução manipuladora. Lembro três estratégias:

1ª- a estratégia da distracção: leva os media a fazer estrondo com factos sem valor de verdade, deixando submersas questões políticas relevantes. Por exemplo, a orgia da notícia do estripador conduz à desatenção para os efeitos perversos da “Casa dos Segredos” ou das questões relativas aos novos boys do CDS/PSD.

2ª- a estratégia do diferido: faz-se aceitar uma decisão impopular, fazendo crer que é dolorosa, mas necessária e que a solução apresentada pelo Governo é a única possível e foi já aceite por todos os cidadãos. A forma como tornam necessários os impostos, a alteração das leis do trabalho, os cortes nos salários e nos apoios sociais é um exemplo claro dessa estratégia.

3ª- a estratégia do apelo ás emoções em vez da reflexão: é uma estratégia clássica para chantagear. Os nossos validadores de argumentos não são racionais, mas emocionais (“O coração tem razões que a razão desconhece”, dizia Pascal). Geralmente, é pelas falácias que se condiciona a aceitação de argumentos: “se criticas o governo, fazes o jogo da oposição”.”Se pertences aos indignados, és anarquista”, etc. Com estes condicionamentos, o Governo não só define comportamentos convenientes, como nos impõe uma ideologia. Quem se manifesta contra essas medidas não quer combater a dívida soberana ou é anarquista. O próprio conceito de dívida soberana é um conceito-armadilha, na medida em que sugere todos os cidadãos responsáveis por uma divida que só foi contraída por alguns.

Para além destas estratégias, há a utilização de adjectivos que forçam desvios para uma interpretação do que é dito que convenha ao Governo. Aristóteles chamava-lhes topoi. São os “lugares do preferível” que criam a predisposição do auditório para aceitar o que é dito da forma que convém ao emissor.

E estas técnicas, com os avanços da neurociência, todos os dias são mais sibilinas. Lá nos interstícios, as estratégias estudam o tom, o contexto ambiental, a própria luz e o timbre da voz que pode condicionar melhor a nossa vontade, as nossas emoções e a nossa razão.

Se não quisermos ser tratados por mentecaptos, se não quisermos empobrecer mecanizando-nos, se não quisermos pertencer a um puzzle de um jogo que nos desumaniza, nos coisifica e nos acinzenta, colocando-nos em saldo numa feira de espantalhos de pele e medo e sem pátria, compete-nos desenvolver o espírito crítico que sirva de filtro à engrenagem que nos instrumentaliza e manipula.

Comments:
Pena que só agora, com este governo, tenha "descoberto" a marosca!
Ele há coisas do diacho!
 
Está completamente enganado. Pode confirmar que o que diz não passa de uma "boca", se ler o que aqui está escrito durante o consulado (semelhante a este) de Sócrates. Não me pode acusar de tendencioso, como é a sua "boca".
 
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