sexta-feira, dezembro 08, 2006

 

A autobiografia do mundo de Carolina

Não sei por que há quem se espante com as declarações da ex-mulher de Pinto da Costa!

O espanto para mim só está na menina Carolina Salgado ter publicado uma autobiografia do seu mundo. Tirou o véu àquilo de que, em surdina, muita gente suspeitava.


Sabia-se que algumas máfias com interesses cruzados na política e no futebol eram capazes de tudo para calarem as vozes incómodas que se erguiam no direito/dever de exercerem a cidadania. Pois é do exercício da cidadania que se trata, quando Ricardo Bexiga denunciou a promiscuidade entre a política e o futebol, ou quando Gil Mendes e, depois, eu próprio, denunciamos as arbitrariedades e ilegalidades do ex-presidente da Câmara do Marco.

Na altura, Gil Mendes foi convidado a ir à autarquia receber um subsídio e saiu de lá todo partido, com uma tareia. O Tio de Gil Mendes, que havia testemunhado algumas denúncias, foi agredido violentamente junto à sua casa comercial e eu recebi, durante meses e meses, telefonemas anónimos com ameaças (sabia-se bem de quem só poderiam vir e isso foi, por mim, denunciado. Um critico de Avelino, conhecido pela tára de escrever cartas anónimas tornara-se seu assessor). E repare-se: numa das primeiras vezes consegui apanhar o número do telemóvel e esse número, inclusivamente, apareceu quando fazia, diante de agentes da PJ, as denúncias e imediatamente disse aos agentes: «olhem, cá está ele!» E nada resultou.

De tudo isto foi dado conta a quem de direito e tornado público. Muita gente assobiou para o lado. Não se conheceu, com excepção do Bloco de Esquerda (nada tenho a ver com esta força política), nenhuma reacção dos partidos, muito embora todas as denúncias tivessem a ver com determinada forma de estar na política, fazer política e utilizar dinheiros dos contribuintes. O que diz muito da qualidade da democracia e das preocupações dos partidos.


Aliás, não sei se seria mais correcto falar em oligarquias partidárias: os líderes de uns partidos cruzem famílias com os de outros partidos, saltam para a coluna dos notáveis partidários e aí ficam para a eternidade (sempre exigindo que lhes agradeçamos o favor de se terem por alguém), são sempre os mesmos a serem ouvidos pela comunicação social e escolhidos para cargos importantes, dizem as mesmas coisas (só variando o pólo em que se encontram) e há já famílias a dominar territórios partidários (como é o caso do PS no Porto).

Voltando ao fundamental: não sei se o “Caso Carolina”, como ficará para a história, terá consequências! Só me recordo do processo que me foi movido, onde a acusação dizia que eu “sabia muito bem que era mentira o que afirmava”, coisa que eu, sinceramente, não sabia!


Fui a julgamento. Durante o julgamento, o Avelino era tratado por Doutor e eu por sr. … Além disso, Avelino permitiu-se afirmar em pleno tribunal que eu "não tinha corpo para duas latadas”. Nada lhe aconteceu.

A absolvição disse-me tanto como se fosse condenado. E, por que até hoje nada aconteceu ao Avelino, continuo a pensar que, em matéria deste género, deveriam dar uma comenda ao Avelino. Já, agora, a todos os Avelinos da Carolina ou de outras carolinas.

Como imaginam, em expecativas de se fazer justiça, eu estou aviado.

Só há, no “caso carolina” um pormenor que me satisfaz: o sorriso que estou a ver desprender-se do magistrado honesto e com sentido profissional que se empenhou neste caso. O seu sorriso vale a autobiografia do mundo de Carolina.

Se valesse a pena, ainda emigrava!


A bem da Pátria, espero, pelo menos, que os Gatos Fedorentos tirem partido destas cenas e dos capítulos que lhes sucederão.

Comments:
Grande texto, Primo de Amarante.

Aquilo que em conjunto você, o Gil Mendes e outros, fizeram para denunciar e para demolir poderes arbitrários no Marco de Canaveses, foi de tal importância que é (como deve ser) absolutamente impagavél.

A politica misturada com o futebol é uma "merdice", porque as pessoas nesta terra são "merdosas" só pensam em "futeboys", não sabem o que é efectivamente importante, falta-lhes um olho no meio da testa, como tinha o CASIMIRO do Sérgio Godinho.

Cada governante é o "espelho" do povo que governa.

Portanto, penso que aqueles que não concordavam com a governação FERTOR e denunciavam a suas atrucidades, têm qualquer coisa de intelectualmente superior.

São os nossos CASIMIROS, já agora, aceite este meu convite e ouça com cuidado a letra da canção do CASIMIRO do Sérgio Godinho e certamente concordará comigo.

Passe pelo quidmarco.blogspot.com
 
E a vida era guerra civil a todas as esquinas…
Vive le mélodrame oú Margot a pleuré!
Caem as folhas secas no chão irregularmente,
Mas o fato é que sempre é outono no outono,
E o inverno vem depois fatalmente,
há só um caminho para a vida, que é a vida…

Esse velho insignificante, mas que ainda conheceu os românticos,
Esse opúsculo político do tempo das revoluções constitucionais,
E a dor que tudo isso deixa, sem que se saiba a razão
Nem haja para chorar tudo mais razão que senti-lo.

Viro todos os dias todas as esquinas de todas as ruas,
E sempre que estou pensando numa coisa, estou pensando noutra.
Não me subordino senão por atavisnio,
E há sempre razões para emigrar para quem não está de cama.

Ao contrário de Álvaro de Campos, a quem pertence o trecho que deixo, não tem razões para emigrar. Se não as teve à data dos factos que descreve porque haveria agora de transformar-se em emigrante??!!
ln
 
Caro Madureira: não o conheço, mas já ouvi falar em si. Há por aí muita gente que pensa que a política é ter muita lábia para justificar tudo o que o partido a que pertence faz e criticar tudo o que faz o partido contrário e com estas duas medidas colocar-se em bicos de pé para amanhã ter um cargo que lhe dê importância, ser candidato à autarquia, andar com ministros, etc. Esta concepção de política anda muito por aí. E quem tem esta noção não tem sensibilidade à solidariedade, à justiça, ao bem-comum, ao sofrimento dos que mais sofrem, à injustiça, etc. Tal gente tem sempre o “eu” na boca (eu faço, eu fiz, se não fosse eu, etc), Só sabe olhar para o seu umbigo e não repara nos problemas dos outros. Mas a política só faz sentido por causa dos outros e não por causa de nós próprios. A política é um compromisso com a polis e polis, para os gregos, é o espírito de vida em comum. E o “espírito” é a manifestação de valores. Os valores (do espírito) de vida em comum são os valores da justiça, da fraternidade e da solidariedade. Tomar politicamente a palavra só faz sentido se for usada como uma profilaxia contra as doenças da nossa vida em comum, como são a injustiça, a pobreza, o desemprego, a miséria, o sofrimento desnecessário, a opressão, a perseguição, etc.
Repare que a palavra na política ficou oca, porque já não é genuína: é um truque para convencer os outros de que quem a usa é melhor do que ninguém. Já não há na política a palavra com o sentido que lhe dava um «homem de palavra». Em lugar da palavra há a lábia, uma espécie de cacarejar: diz agora uma coisa e depois outra. Isso mete-me pena. Por isso, o Marco de que tanto gostei faz-me triste sempre que lá vou.
Não conheço o meu amigo: sei que é jovem e licenciado. Se lhe pudesse pedir alguma coisa, era o seguinte: veja se dá a volta a esse vírus de que enferma muitos pseudolíderes da nossa Terra. Diga-lhes que mais do que cacarejar é necessário saber ouvir problemas, perceber o terrenos que pisam e debater ideias: as melhores ideias nunca são as nossas, mas as que resultam de muitas trocas, muitas partilhas com os outros.
Caso contrário, o Resineiro voltará para o Marco. É que já há muita gente a pensar que o politico que se segue é sempre pior do que o anterior.

Um abraço para si.

A minha amiga “in” é aquele grande coração que eu não conheço, mas é como a tivesse conhecido na primeira incarnação. Nunca quer que eu me sinta em baixo. Mas é das circunstâncias da vida, da história que a vida vai tecendo que a amargura naturalmente nasce. Eu, francamente – e não volto a dizer isto-- sinto-me velho, por vezes chato e muito desiludido. Procura enganar-me e por isso blogueio na distracção.
 
Tem razão, Caro Primo. Não gosto de ver pessoas em baixo, menos ainda se esse estado é de amargura – como referiu. Portanto, deixe-se de “lamúrias” ou já sabe: ter-me-á aqui a reclamar e a ingerir-me onde não devo!! Quanto ao conteúdo do texto, como percebi tratarem-se de lutas pessoais preferi não opinar. Estas situações individuais, concretas e nominadas como as que relatou, porque são a prova provada da promiscuidade, da impunidade, da devassidão, etc, etc, deixam-me absolutamente indignada, impotente e descrente.
Que fazer? Pois, não sei. Talvez seja uma privilegiada pelo facto de nunca ter sido arrastada para as malhas da política, do futebol, da justiça e, por conseguinte, desconheço o alcance e a dimensão do “modus operandi” dos grandes grupos e, ao que leio, dos próprios partidos.
Gostei da análise que o Caro “o hóspede” fez e subscrevo-a. Reconheço que alguns dos casos que têm, ultimamente, vindo a lume servem para mostrar uma justiça permeável, influenciável e, até, promotora de algumas das situações ignóbeis que se ouvem.
Isto: “O que tudo isto nos mostra é que não encontramos na nossa sociedade um pilar que possamos considerar ética e moralmente seguro.” é verdadeiramente dizimador. Tenho-me abstido, não por falta de vontade mas por ausência de domínio profundo de alguns temas, de comentar ou opinar sobre os comportamentos dos Srs Magistrados. Mas lembro-me, por exemplo, duma discussão que há não muito tempo se fez no blog do verbojuridico, a propósito dum texto do jornalista Jorge Van Krieken, e que revelou comentários e atitudes que a serem de magistrados deixam-me sérias dúvidas sobre muitas coisas internas...
Esta consciência, agora reforçada por este sublime comentário do Hóspede, deixa-me dizimada!
Confesso que, por vezes, já me apetecia preterir o conhecimento à ignorância por esta ser a mais confortável. Agora, então, resta-me ficar sitiada e espreitar pela janela...
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Ou talvez não...
Quem sabe, não me sobra ainda a esperança de que imigrem para cá alguns "Baltasares Garzons"!
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Ainda isto: espero que a Carolina Salgado esteja devidamente apoiada e tenha, sobretudo, planificado ou curado ao milímetro esta história da publicação do livro e das denúncias que o mesmo contém. Espero mesmo, para bem dela, da família dela, e da justiça... Antevejo dias complicados...
Quanto às motivações, talvez o tempo se encarregue de esclarecer uma série de coisas que são agora, pelo menos para mim que estou de fora, prematuras.
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Afinal, na III República, existem "máfias"? Estou pasmado! Eu que julgava que o 25 de Abril tinha aberto as portas aos cidadãos honestos! Afinal, parece que abriu grandes avenidas por onde passam os intocáveis deste regime!!!

Eu, quando os vejo na televisão, arrogantes, alguns que eram sargentos e roubavam batatas da messe, hoje permitem-se cuspir nas instituições vigentes! Olhe, Primo, Vexa vai-me desculpar, mas esses não gozavam no Estado-Novo, que logo lhes tratava da saúde...

Lamento a sua posição no Tribunal, Primo. Acho que deveria, em pleno Tribunal, puxado dos "galões" e exigir igual tratamento cerimonioso! Enfim, tempos...
 
O mesmo tema em http://diesdomini.blogspot.com/

Um abraço!
 
Caro amigo Cabral Mendes. Fico contente em vê-lo por cá. Eu não poderia pedir igual tratamento ao do Avelino: é que o Avelino é, para além de casca grossa, quase analfabeto.

Quanto às "máfias", se pensa que na segunda República não haviam, está enganado. Havia e eram terríveis. Não pense que o "botas" fazia que o país respirasse virtudes. Começava logo, pela forma imoral como governava. Todos os regimes autoritários são imorais e servem de cobertura a muita podridão. Simplesmente, a falta de liberdade de imprensa e a polícia política escondiam essa podridão. Tem dúvidas?!...
 
Pois...eu, descrente do ser humano e da sua bondade, pese embora pessoas concretas que conheço e que são maravilhosas ( Vexa é uma delas - olhe quando vier a Lisboa, avise ok? - o tlf eu dou-lhe de novo via mail não vá tê-lo perdido...)por vezes até já nem sei para onde virar-me...mas penso que nos tempos actuais isto está um pouco fartar vilanagem, não é assim? Parece que o pessoal ensandeceu ou perdeu a vergonha, não sei...
 
Agora reparei: acima disse "O mesmo tema em http://diesdomini.blogspot.com/" mas referia-me ao Pinochet, respeitante ao seu outro postal...
 
Um abraço. A democracia constroi-se, porque deixa sempre uma margem de liberdade, e é o empenho de todos que a fará mais limpa. As ditaduras, porque têm uma visão negativista do homem, recusam a liberdade e submetem com a ameaça de ferros as vontades.

Obrigado pelo seu convite.
 
Li, hoje, no público "Pinto da Costa refugiou-se no dia anterior a apresentar-se a Tribunal na casa de um juiz conselheiro, em Vila Nova de Cerveira".

Li isto três vezes e copiei este excerto com o público à frente (pg 2. primeira coluna do lado esquerdo, penúltimo parágrafo).

Diziam-me que o triângulo da máfia era "casas de alterne, futebol, políticos". Agora já não sei o que diga!

O 25 de Abril vivi-o totalmente. Nos três dias antes de acontecer e depois de acontecer. Poucos sabem o que foi o regime fascista de Salazar. Tentam lavar a imagem do “botas” e já há quem diga que não houve fascismo, baseado nos manuais das características desse regime. Mas a história não se faz com um manual na mão: faz-se com a luta do dia a dia. O 25 de Abril foi capturado pelos seus próprios inimigos. É triste, mas é verdade. Aconteceu ao 25 de Abril o mesmo que aconteceu a Camões: a servir-se do 25 de Abril muita gente ficou rica, enquanto o 25 de Abril vai ficando na miséria das expectativas que criou. A servir-se do que Camões escreveu, muita gente ficou rica, enquanto o poeta morreu pobre, desamparado e na miséria.
 
Também li, uma vez apenas e a minha perplexidade terá sido menor.
Não podemos pedir aos Srs Magistrados que abdiquem de ter amigos ligados ao futebol, à política, etc, ou podemos? Podemos escolher-lhes os amigos?
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Caro Hóspede, Vexa deve ter lido os meus escritos enquanto naveguei no Incursões, que eu também lá o via...portanto, deve saber o que penso. Eu ambém faço uma pequena ideia do seu pensamento e resta-me respeitá-lo. Nomeadamente, penso que nesta III República o "pessoal" perdeu toda a vergonha, todo o pudor, e são precisamente aqueles que mais gritam pela "democracia" e pelas "liberdades", estes feirantes (que políticos honestos não são) se servem dela e do 25 Abril para os seus fins pouco límpidos - para a corrupção moral cívica e política de toda uma sociedade desorientada porque precisamente se vê orfã de representantes da Nação (ui! palavra proibida...)dignos desse nome. Seia necessário termos pessoas com ideais nobres e não saloios, chicos espertos da política e da economia, pessoas que tivessem visão a longo prazo, com uma ideia concreta da História e do próprio mundo, com um rumo traçado para o País e não analfabetos travestidos de pessoas respeitáveis. Sabe, a desilusão é já muito grande...e entretanto caminhamos para o abismo...mas cada um escolhe o seu destino...bom, isto dava panos para mangas mas estou muito cansado...talvez um outro dia...
 
"Não podemos pedir aos Srs Magistrados que abdiquem de ter amigos ligados ao futebol", mas exigimos-lhe que não encubram foragidos e que cultivem uma imagem de distanciamento em relação às paixões ou conflitos futeboleiras, políticos, etc, Exigimos-lhe que pratiquem o que a lei exige de nós.
 
O meu comentário anterior foi uma maldadezinha intencional. :-)
Quis acicatar a sua resposta. :-) Confesso que esperava algo mais demolidor, mas esteve bem, foi objectivo e conciso.
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PRIMO DE AMARANTE: Se com a sua frase: "veja se dá a volta a esse vírus de que enferma muitos pseudolíderes da nossa Terra." está a referir-se a quem eu penso que seja, nomeadamente ao actual lider da CPC do PS, da minha parte está fora de questão, não consigo dialogar com arbitrariedades e tiranias. Apenas as enfrento, que foi exactamente o que já fiz e continuarei a fazer.
E sem qualquer intenção de liderar seja o que for, porque para tal não teria competência.
Mas não posso respirar dentro de uma estrutura partidária onde não se pode debater e dialogar condignamente. E onde se oferecem apoios a troco de cabeças e vice versa. Infelismente a ganância pelo poder leva a atitudes repugnantes que violam os interesses dos partidos e que afastam a gente nova.
Cumprimentos.
 
Estou de acordo consigo. Muito gostava de o ver na Associação dos Amigos do Marco. Está adormecida e precisava de dinamismo.
 
Temos que marcar um dia para falar sobre isso, sabe que eu sempre achei que é necessário o movimento associativo.

E penso que aliás, que o associativismo sendo mais desconprometido com a ânsia do poder, permite uma discussão e intervenção mais saudável nos assuntos. Sem segundas intenções.

E sabe que com as nuvens que voltam a pairar pelo Marco é necessário uma associção que apenas promova o interesse do Marco!

Cumprimentos.
 
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