quinta-feira, dezembro 28, 2006

 












nada os meus olhos deixarão na cinza
das vastas folhas envidraçadas: nem
o astrológico número das horas
autorizadas pela autoridade e sua penumbra.
a “penumbra da autoridade” vem vestida
de muitos horizontes com, aqui ou além, um barco
de velas estilhaçadas, ou a capa de um livro
de viagens na vitrina.
então o amor mistura-se com as coisas breves,
os pássaros, o rumor dos alicates na gaveta branca.
foi esta a sua história? esta canção pertence-lhe?
a “greve” alourou-lhe as sobrancelhas? estes olhos
têm plástico ao contrário. e o ruído
das torneiras no balde, mesmo
à beira do precipício,
é um inconveniente que convém manter
sob vigilância.

António Franco Alexandre
in “Poemas”, Assírio & Alvim
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Enviado por AméliaPais
http://barcosflores.blogspot.com/
http://cristalina.multiply.com/

Comments:
O poema é bonito e o nome faz lembrar as divindades gregas.
 
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