domingo, outubro 15, 2017
Não é normal!
Estive
ligado durante alguns anos à Direção dos Bombeiros do Marco. Sempre me deprimia
ouvir as sirenes, ver correr os bombeiros a tentar apagar labaredas que
pareciam engolir tudo à sua frente. Nessa altura, não havia muitos incêndios
nos montes. Havia sempre gente a olhar pelas suas terras e talvez isso
desmotivasse os incendiários. Hoje, andei à caça na Serra da Aboboreira. Andei
acompanhado pelas minhas duas cadelas. O terreno que não estava ardido era um matagal
fechado, entupido por silvas e tojo, que até as minhas cadelinhas gemiam por
terem dificuldade em passar. Não vi viv´alma. No ano passado ainda via
caçadores, encontrava-me com eles e festivamente bebíamos um copo acompanhado
de um naco de chouriço. Hoje, não vi literalmente ninguém! Sei que diminuiu imenso
o número de caçadores pelas dificuldades que os “urbanos” foram criando à caça,
tornando-a quase um “crime de guerra”. As consequências estão à vista: da minha
terra até ao Porto, por todo o lado, só se viam incêndios e a atmosfera estava saturada
por uma pesada nuvem de fumo. Como é que se poderão evitar os fogos nos montes,
nas serras, se, por lá, já não anda ninguém?
Não é
possível que tantos fogos não tenham origem em mão criminosa e não me venham
dizer que são os pastores para abrir espaço à verdura dos pastos. Os fogos têm
origem criminosa e não me admirava muito que fosse uma estratégia para pôr em
causa este governo. São demasiados!... E não andam por aí pirómanos que cheguem
para atear tanto fogo. Mas a culpa, também é de quem vai dificultando o prazer
de andar no monte, de sentir a alegria de conviver na caça com velhos amigos. Já
não é possível que alguém escreva como Pascoais: “
“Ó natureza, qualquer coisa existe
De íntimo entre o meu peito e a tua essência!
Se medito, se canto, se estou triste,
Eu sinto, dentro de mim, tua existência”.
De íntimo entre o meu peito e a tua essência!
Se medito, se canto, se estou triste,
Eu sinto, dentro de mim, tua existência”.
Se os
incêndios nos tornam mais pobres, não é só pelo que arde (o que já é terrível!)
mas também pelo que vamos perdendo da ligação afetiva a esta casa-comum, que é
a natureza.