quinta-feira, outubro 19, 2017
A hipocrisia deveria ter limites!
A direita que eu conheci,
orientava-se por princípios e preferia quebrar do que torcer. Era essa a
característica que eu mais detestava nela. Sempre achei que a tolerância é a
virtude social do diálogo que permite a coesão. Mas havia uma altura que eu
sentia que torciam mesmo: diante do sofrimento, a direita que eu conheci, sabia
comunicar solidariedade pelo silêncio. Muitas vezes, vi o meu pai, o meu avô e
muitos dos seus amigos apertar a mão de quem sofria e, olhos nos olhos afivelar
nos rostos, um silencioso, quase místico - “estamos juntos!..”
Esta direita, da Sra. Cristas, nada
tem a ver com a direita que eu conheci. Aproveita o sofrimento que se abateu
com as mortes ceifadas pelas labaredas do fogo e grita, num ruído obsceno, que
é preciso mudar de governo. A Sra. Cristas, conhecida por Misse eucalipto (pela
fervorosa defesa que, no governo a que pertenceu, fazia da expansão do
eucalipto, cuja produção de riqueza comparava ao “petróleo”), perturba o único
sentimento, a única manifestação que podemos ter para com os que nesta altura
mais sofrem: entregar-lhes, com o silêncio dos olhos, a solidariedade do
coração. É isso que a sociedade civil, párocos, organizações socias e
empresários estão, neste momento, nos lugares mais atingidos pelo fogo, a fazer:
vão ter com essas pessoas, abrem espaço ao silêncio que manifesta a solidariedade,
e deixam-lhes o que mais precisam para atenuar a dor.
Para que serviria nesta altura substituir
Costa por outro qualquer primeiro-ministro? Por certo não ficaríamos melhor! A
herança de Cristas e do governo a que Sra. pertenceu deixou marcas de
arrogância, incompetência e insensibilidade humana que ninguém hoje quer ver repetir.
Se é certo que houve falhas, estou certo que muito maiores seriam se fosse o governo
anterior a gerir esta terrível tragédia!
Deixem António Costa, apesar do seu metálico
feitio, governar. Este governo tem prestigiado, como se sabe, Portugal. É uma
referência por toda a Europa, até para o Sr. Schauble, e arrancou-nos de uma crise que, se virmos bem, foi tão terrível como os
incêndios que neste verão devastou o País. E não pensem que também não causou
mortes!...
Só a sofreguidão de chegar ao poleiro
do poder pode justificar a censura que a Madame Eucalipto vai apresentar na
próxima terça-feira, perturbando o silêncio do coração que devemos aos que
neste momento mais sofrem. A hipocrisia deveria ter limites!