quinta-feira, fevereiro 02, 2017
Escrevi este texto para o blog da Associação dos Amigos do Concelho do Marco. Espero que ajude a conhecer melhor a minha terra
Soalhães terá já existido como povoado muito antes da formação da nacionalidade. E a sua toponímia recebeu-a de sunilanis ou suylanes, palavra que deve ter a ver com o facto de ser um local soalheiro, de terras muito férteis e irrigadas. Foi uma vila romana e, por certo, mais tarde ocupada pelas invasões dos muçulmanos e reconquistada pelos cruzados. Não é por acaso que um documento de 865 refere a existência em Suylanes de um mosteiro de freiras e frades da ordem de S. Bento. O seu fundador parece ter sido um tal Sancho Ortíz ou Ortiga que tudo indica ser um importante cruzado que por aqui andasse a defender os cristãos contra os mouros. Foi buscar ao bispo de Tour, S. Martinho, o patrocínio do Mosteiro, precisamente porque este alto clérigo, que viveu no séc. IV, era filho de um comandante romano e converteu-se ao cristianismo. Muito venerado pelos seus milagres (quem não se lembra do dia de S. Martinho!) e por ter fundado o mais antigo mosteiro conhecido na Europa. E Ortiz terá querido divulgar o exemplo do Bispo e manifestar a devoção que lhe prestava ou pagar-lhe alguma promessa com a construção do mosteiro e a doação, para a sua subsistência, da sua quinta de Ortiz, entre outros bens.
À medida que o poder real se foi concentrando, os reis promoveram inquirições para conhecer as terras, os seus proprietários e tomarem decisões de entregar terras a nobres da sua confiança. Para afirmar o seu poder D. Afonso III empreendeu as inquirições de 1258 que geraram muitos conflitos entre a nobreza e o clero. D. Fernando, por carta de Julho de 1373 pôs termo a esses conflitos, decidindo doar as terras de Soalhães a Gonçalo Mendes de Vasconcelos, que ali construiu um apalaçado edifício que veio dar lugar ao Solar de Quintã, concluído, tal como o temos hoje, em 1742, ainda no tempo de D. João V.
Bernardo de Santareno, pseudónimo do médico de Santarém, Dr. António Martinho do Rosário, era um homem de esquerda, que se preocupava com a sorte dos desfavorecidos. Foi médico junto da frota bacalhoeira portuguesa e conhecia bem os problemas sociais do seu País. O seu interesse por estas questões estimulava-o a escrever sobre as condições de existência da gente mais humilde . Sensibilizado com esta tragédia escreveu o livro “O Crime da Aldeia Velha”, que mais tarde, Cunha Telles, o grande promotor do cinema novo, transformou num projecto para o cinema e Manuel Guimarães concretizou-o.
Soalhães terá já existido como povoado muito antes da formação da nacionalidade. E a sua toponímia recebeu-a de sunilanis ou suylanes, palavra que deve ter a ver com o facto de ser um local soalheiro, de terras muito férteis e irrigadas. Foi uma vila romana e, por certo, mais tarde ocupada pelas invasões dos muçulmanos e reconquistada pelos cruzados. Não é por acaso que um documento de 865 refere a existência em Suylanes de um mosteiro de freiras e frades da ordem de S. Bento. O seu fundador parece ter sido um tal Sancho Ortíz ou Ortiga que tudo indica ser um importante cruzado que por aqui andasse a defender os cristãos contra os mouros. Foi buscar ao bispo de Tour, S. Martinho, o patrocínio do Mosteiro, precisamente porque este alto clérigo, que viveu no séc. IV, era filho de um comandante romano e converteu-se ao cristianismo. Muito venerado pelos seus milagres (quem não se lembra do dia de S. Martinho!) e por ter fundado o mais antigo mosteiro conhecido na Europa. E Ortiz terá querido divulgar o exemplo do Bispo e manifestar a devoção que lhe prestava ou pagar-lhe alguma promessa com a construção do mosteiro e a doação, para a sua subsistência, da sua quinta de Ortiz, entre outros bens.
Seria estranho construir-se um Mosteiro, se por ali perto não houvesse um povoado relevante. Os mosteiros construíam-se sempre fora dos povoados para que os monges não fossem perturbados na sua meditação, mas precisavam sempre que bem perto ficasse um povoado para exercerem testemunho da sua vida espiritual e suprirem as carências necessárias à vida do dia a dia. É até muito possível que esse povoado tivesse derivado da muito remota ocupação da Aboboreira iniciada por povos da pré-história, que as dezenas de mamoas e dolmens dão testemunho.
Por volta do séc. IX, na altura em que se julgou terem sido descobertos os restos mortais do Apóstolo Santiago, que deu o nome a Santiago de Compostela, este lugar rapidamente se tornou numa alternativa às grandes peregrinações a Roma e a Jerusalém e ganhou jurisdição religiosa sobre as dioceses da Galiza.
Por Soalhães, fizeram caminho muitos dos peregrinos que vinham de diferentes partes, seguindo antigas vias romanas que levavam nomeadamente a Braga, principal entroncamento de peregrinações, da qual se dizia: “ Braga reza… e os céus enchem-se de cânticos e louvores ao apóstolo Santiago”. A capela de Santiago testemunha esse itinerário de peregrinos.
O Mosteiro de S. Martinho ganhou muito prestígio e dispunha de rendas abundantes. Só isso justifica que no ano 1029 os frades do Mosteiro tivessem ido a Castela queixar-se ao Rei, Fernando Magno, da apropriação do direito de padroado que lhes queria fazer o cavaleiro secular Garcia Moniz, neto (só no séc. XVI, com o concílio de Trento, apareceu o celibato na Igreja) do bispo Gonçalo Moniz que conquistou o Porto aos Mouros e se achava senhor das terras que iam até Riba Douro.
Os conflitos de jurisdição de padroados eram frequentes nos séculos XI, XII e XIII. A maioria das terras pertenciam à Igreja e o bispo era uma autoridade não apenas religiosa, mas também politica. Podia decidir a entrega de terras a seu bel-prazer e isso gerava por vezes conflitos. E quando isso acontecia, recorria-se ao Rei e depois ao Papa. Talvez, por isso, em 1103, o papa Paschoal II, numa bula enviada ao arcebispo de Santiago, D. Diogo Gelmires, que tinha jurisdição sobre as dioceses de Braga e do Porto, extinguiu o mosteiro de Soalhães.
Entregou o padroado do Mosteiro à família Moniz, da qual haveria de fazer parte Gonçalo Viegas de Porto Carreiro, um nobre cavaleiro, que instituiria o morgadio de Soalhães. No ano 1238 já não se fala do Mosteiro, mas de uma igreja diocesana, a Igreja de S. Martinho de Soalhães, que nessa altura dispunha de uma arquitectura diferente da que é hoje: possuía espaços majestosos e uma elegante torre para sinos e relógio, separada do corpo da igreja e com um espaço que servia de aljube. O seu prior, pela importância que tinha a igreja, era Abade com cruz peitoral e isso significava que tinha ascendência sobre outras freguesias. Nesse ano, D. Sancho II retirou o padroado a Porto Carreiro e entregou-o ao Bispo do Porto, D. Pedro Salvador, que, por querer paz, o trocou com D. João Martins de Soalhães, bispo de Lisboa, familiar de Moniz e Porto Carreiro. Por sua vez, este Bispo, que tinha vários filhos, entregou estas terras a Vasco Annes de Soalhães, que foi legitimado filho de D. João Martins, pelo rei D. Dinis, a 18 de Janeiro de 1308. Ficou sepultado na capela-mor da igreja.
Igreja de Soalhães
À medida que o poder real se foi concentrando, os reis promoveram inquirições para conhecer as terras, os seus proprietários e tomarem decisões de entregar terras a nobres da sua confiança. Para afirmar o seu poder D. Afonso III empreendeu as inquirições de 1258 que geraram muitos conflitos entre a nobreza e o clero. D. Fernando, por carta de Julho de 1373 pôs termo a esses conflitos, decidindo doar as terras de Soalhães a Gonçalo Mendes de Vasconcelos, que ali construiu um apalaçado edifício que veio dar lugar ao Solar de Quintã, concluído, tal como o temos hoje, em 1742, ainda no tempo de D. João V.
D. Manuel I, por carta do dia 15 de Julho de 1514, concede o foral de Concelho a Soalhães, que passou a abranger as seguintes freguesias: Folhada, Fornos, Mesquinhata, Soalhães, Tabuado e Várzea de Ovelha (Aliviada). Dispõe de um pelourinho e de uma administração da Justiça idêntica á do Concelho de Canaveses. Será talvez interessante saber que foram capitães-mor de Soalhães António Vieira de Magalhães, capitão da companhia do couto de Soalhães em 5 de Maio de 1781, António de Vasconcelos Corte-Real, capitão-mor em 2 de Março de 1795 e Inácio de Moura Coutinho da Silva Montenegro, em 11 de Setembro de 1830, último a desempenhar este cargo.
Soalhães é uma das maiores freguesias do Concelho. Ficou célebre por um crime, cometido em 1934, instigado por um bruxo de Ermesinde. Uma jovem epiléptica, que pertencia a uma família pobre do lugar de Oliveira, por “receita” do bruxo foi queimada por familiares na presunção de que ressuscitaria sem os ataques de epilepsia. No julgamento, o advogado de defesa, nas suas alegações, bem implorou aos magistrados que no banco do réu estivesse o verdadeiro autor do crime e não aquela gente humilde que só queria a saúde da sua familiar, mas não foi isso que aconteceu. Os réus foram condenados a pena maior. Por se tratar de gente honrada, o peso do sofrimento, da revolta e da vergonha fez com que toda a família dessa jovem desventurada desaparecesse de Soalhães, desconhecendo-se, ainda hoje, o seu paradeiro.
Casa de Quintã - Soalhães
Bernardo de Santareno, pseudónimo do médico de Santarém, Dr. António Martinho do Rosário, era um homem de esquerda, que se preocupava com a sorte dos desfavorecidos. Foi médico junto da frota bacalhoeira portuguesa e conhecia bem os problemas sociais do seu País. O seu interesse por estas questões estimulava-o a escrever sobre as condições de existência da gente mais humilde . Sensibilizado com esta tragédia escreveu o livro “O Crime da Aldeia Velha”, que mais tarde, Cunha Telles, o grande promotor do cinema novo, transformou num projecto para o cinema e Manuel Guimarães concretizou-o.
Não é uma “peça” que apouque Soalhães ou o Marco de Canaveses, mas um trabalho de denúncia do regime salazarista, da exploração da ignorância e das crenças. Só por má-fé, numa construção sofistica, se pode tomar esta tragédia pela maldade de uma terra. O que aconteceu em Soalhães poderia ter acontecido numa outra terra qualquer, onde as circunstâncias fossem as mesmas. Soalhães e Marco de Canaveses foram sempre, na sua história, terra de gente boa e de honra e quem dela tem dado má imagem ou nunca teve nela raízes ou foram pervertidos por vigaristas que no Marco estenderam arraiais!