terça-feira, julho 19, 2016

 

Uma releitura do que escrevi


Num livro “Horizontes da ética” que publiquei há mais de dez anos, a que o comentador Marcelo Rebelo de Sousa se referiu na altura (sem o ler, penso eu!) escrevi isto, que, ao reler, julgo actual e me apetece transcrever:

Perante o sofrimento, a “banalidade do mal”(como chamou Hannah Arendt ao holocausto judeu), nasce a consciência de que a vida humana não tem sentido sem o respeito pela dignidade humana e pelo direito a procurar a felicidade.
Já Aristóteles dizia há mais de dois mil anos: «todos os homens aspiram à felicidade». Mas, se perguntássemos «o que é a felicidade?», teríamos concepções completamente diferentes umas das outras. Para muitos, a felicidade está na posse de bens materiais, para outros, na saúde, na paz, etc. Não há um conceito único de felicidade, porque a felicidade e indefinível.
Segundo os romanos, são três os princípios de uma existência feliz: «honeste vivere; alterum non ladere e suum cuique tribuere». Ou seja, viver honestamente, não causar dano a ninguém e dar a cada um o que é seu. Poderíamos dizer que esses princípios são os princípios que tornam a moral necessária.
Kant considerou que o importante não é ter direito à felicidade nem ser capaz de a conquistar de algum modo, mas tentar resolver aquilo que em nós, no nosso eu, é um obstáculo à felicidade.
Isto é, o horizonte da felicidade está no saber querer. O excesso de generalização «os outros agiram dessa maneira, por que é que não posso agir de forma igual?» ou de particularismo (eu sou assim) não emergem de um saber pessoal que nos abre aos horizontes da felicidade.
A felicidade não está na ligeireza com que nos deixamos conduzir na vida, nem no «fechamento» do homem sobre si mesmo. O que o homem quer no mais fundo de si mesmo é não ser coisa, mas sujeito. Para isso, tem, no interior da sua própria consciência, de perguntar a si mesmo: “a minha acção confirma a minha «não-coiseidade»?”. Isto é, a minha acção abre-me à humanidade, tratando os outros como fins em si mesmos, tal como quero que me tratem, e não como um meio, um instrumento?!...Ora, a resposta a esta questão pressupõe a necessidade da ética.

Só a ética (ou a moral), como uma cultura de postura humana, nos abre a uma ideia universal de dignidade, bondade, justiça, solidariedade e cidadania.

Se a pergunta vier de fora, isto é, do que os outros pensam, perde-se aquilo que é específico na dimensão pessoal da ética e da moral e não nos torna dignos da felicidade.

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