segunda-feira, julho 11, 2016

 

Uma certa perversão!


Quando, há já bastantes anos, apresentamos o primeiro plano de actividades da Associação dos Amigos do Concelho do Marco de Canaveses, indicávamos, como uma das iniciativas, a criação da confraria do anho assado com arroz no forno. Explicávamos, na altura, que essa iniciativa teria os seguintes objectivos: difundir a gastronomia que fazia a identidade do Concelho, promover os restaurantes que mantinham a tradição de seguir a receita do anho com arroz no forno, desenvolver o turismo gastronómico e estimular a preservação de uma receita que vinha dos nossos avós e foi por eles recebida dos seus antepassados.

Para nós, a Confraria só tinha sentido se recuperasse o significado que lhe foi dado em tempos medievais: ser uma associação de gente generosa, solidária e só interessada em defender a causa dos que mais precisam: neste caso, a restauração tradicional. Naturalmente, aceitávamos “fardarmo-nos” com os velhos adereços dos confrades, ícones da tradição, mas o mais importante era manter a memória do gosto que o anho assado com arroz no forno deixava sempre que íamos a um dos restaurantes tradicionais: ao Ferrador, à Pensão Magalhães ou outros. Estávamos longe de imaginar que a confraria se tornasse numa feira de vaidades, num cerimonial longo, chato e cansativo, com discursos intermináveis que se sucedem a outros discursos tão intermináveis como os primeiros, com protocolo (o que contraria o espírito confrade)  e desligada dos próprios restaurantes que são a razão de ser da manutenção do património gastronómico.

Dizem-me que não é assim noutras terras, onde as confrarias são expressão de um exercício de cidadania e convívio desensarilhado da vida mundana, como aliás, é já o estilo do actual presidente da República. A perversão parece vir da sofreguidão dos homens do poder político que querem estar em bicos de pé e investir na visibilidade da sua gente para colher frutos na faina eleitoral.  Talvez, por isso, os partidos anti-sistema, os que são contra uma democracia que vai perdendo as suas virtudes (o que não quer dizer antidemocráticos) ganhem cada vez mais força.
Fico triste que assim aconteça e percebo por que é que a Associação (cultural e cívica) dos Amigos do Marco lhe faltam os melhor estímulos.

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