sexta-feira, julho 22, 2016
Estamos em guerra. mas numa guerra de guerrilha.
Estou farto das análises dos politicólogos de serviço, estou
farto da aceitação tácita do fatalismo terrorista, estou farto da ideia de que
o terrorismo veio para ficar e que a humanidade está dividida em bons e maus. Também
não vale a pena meter a cabeça na areia e ficarmos aterrorizados: estamos em
guerra, uma guerra de guerrilha que deve ser tratada como tal. Não basta
treinar polícias, equipar os Estados com a tecnologia mais sofisticada de
controlo social, olhar para o que é diferente de nós como um terrorista, deixar
que o medo seque a nossa respiração, etc. É preciso olhar para esta guerra,
como ela é; precisamos de contar com a colaboração dos que têm uma religião, uma
cultura, tradições, usos e costumes diferentes dos nossos para não sermos
surpreendidos. Só tendo do nosso lado a
solidariedade dos que são diferentes de nós podemos vencer esta guerrilha.
O princípio da igualdade e da individualidade com que, após
a Segunda Guerra Mundial, se procurou combater a xenofobia, o racismo e a
exclusão social tem de ser recuperado. O multiculturalismo, com o
reconhecimento de especificidades culturais, tem de acompanhar o
interculturalismo, que abre as culturas diferentes ao diálogo e promove a
abertura aos valores da dignidade humana.
Precisamos de confiar nas Instituições, porque a colocamos
ao serviço do interesse público; precisamos de uma pedagogia do respeito pela
dignidade humana, acima das diferenças de cultura, de raça ou de religião; precisamos
de fazer compreender que a pobreza, a exclusão não é uma fatalidade. Mas isto
não se faz, se os problemas socioeconómicos não forem resolvidos, se as instituições
funcionarem em função de interesses privados, se os pobres forem esquecidos e
cada vez mais pobres e em maior número, e se os ricos forem cada vez mais ricos
e em menor número. Precisamos de combater a ostensiva exposição de riqueza, o
darwinismo social e defender a solidariedade a todos os níveis para que, na
luta contra a guerrilha terrorista, recuperemos os marginalizados para o nosso
lado.
E esta luta faz-se na escola, na universidade, nos locais de trabalho, na rua,
nos transportes, no ministério dos assuntos sociais, com políticos competentes,
com sentido de estado, valorizando o bem-comum, com a integração e promoção
social. Sem políticos com espírito de serviço, sem políticas de integração
social e sem o espírito de solidariedade, as armas dos polícias, o Estado Big Brother
com suas tecnologias de controlo social, não serão capazes de nos defender.