
Acabei de ler “As amantes de D. João V”. Sabia que naquele
tempo mandar a filha para freira era o recurso dos fidalgos que não encontravam
para ela um par ideal. Percebo que Soror Paula na angústia libidinosa que a
falta de pontualidade do Rei na alcova lhe criara, tenha estilhaçado no chão o
relógio que apostrofou com a colérica sentença: “Relógio que tanto mente,
parte-se assim!” Compreendo que pagasse ao senhor, seu deus, o esbagaxado
galanteio às suas freiras e às damas dos nobres da sua corte, passando das mães
para as filhas, os sacos de reis das bulas que o Papa Clemente XI lhe mandava
para aliviar a consciência. Compreendo que fizesse do casamento com a marquesa
Maria Ana de Áustria um aperitivo da voluptuosidade que o atirava para os conventos
de freiredo. Compreendo que o Rei tenha sido o touro de cobrição de Odivelas, só
não entendo que castigasse o seu confessor por censurar a sua volúpia endiabrada, mandando
que lhe servisse a todas as refeições apenas galinha, esperando o seu enjoo
para lhe dizer: ”nem sempre galinha, nem sempre rainha”.
Este Rei encheu Palhavã de meninos que
vieram a ser bispos, padres, toureiros e inquisidores na linha dos que tornaram
os autos de fé a festa da corte de D. João V, onde “enquanto as carnes dos cristãos-novos
rechinam, as damas refrescam-se bebendo água-de-neve.
Este Rei era tirano, um debochado, levou o reino à
bancarrota, punha perucas vindas de França por 10 reis e até na semana de
Pentecoste,de calções de seda e rendas de linho, mandou prender o seu médico
por não lhe ter na hora as cantaridas que lhe eram o melhor afrodisíaco.
D. João V não era um rei, era um magnânimo garanhão!
# posted by Primo de Amarante @ 11:42 da tarde
