sexta-feira, novembro 20, 2015
Dia Mundial da Filosofia
Dizem que hoje, dia 19, é o “Dia Mundial da Filosofia”. Mas
a filosofia só é filosofia se pertencer a todos os dias e a todos os homens.
Foi no interrogarmo-nos, no perguntar por quê, que o saber ligado à vida se
tornou filosofia. Sócrates comparava a filosofia a uma parteira, por produzir luz
na razão.
A filosofia sempre se opôs a um saber feito, ao pensamento
único. A lógica do rebanho não é a da filosofia: só o saber crítico, pessoal, é
filosófico.
A filosofia é um instrumento da dignidade humana: só na
filosofia o Homem é ele próprio e não o outro ou os outros a pensarem por si.
A filosofia, como um pensamento sistemático, que constrói um
saber sobre o homem com os outros homens, a vida e o mundo, terá terminado com
Heidegger. O pragmatismo, com o seu critério da utilidade, pretendeu pôr fim à
filosofia. Mas o Homem não pode viver sem horizontes e estes só aparecem com o
pensar critico, a que chamamos filosófico.
Em todas as épocas existiram grandes filósofos. Alguns são
pouco conhecidos, mas tiveram grande influência em todos os tempos. Estou-me a lembrar
de La Boétie, do seu “Discurso sobre a Servidão Voluntária”. Contrariou Maquiavel
e inspirou Montaigne. E, ainda hoje vale a pena reflectir sobre o que escreveu.
Reparemos, por exemplo, na interrogação que coloca na pág. 19:”Que vício, que
triste vício será este: um número infinito de pessoas não só a obedecer mas a
servir, não governadas mas tiranizadas, sem bens, sem pais, sem filhos, sem
vida a que possam chamar sua? Suportar a pilhagem, as luxúrias, as crueldades,
não de um exército, não de uma horda de bárbaros, contra os quais dariam sangue
e a vida, mas de um só?”
E, agora, reparem nesta ideia: “Os eleitos procedem como
quem doma touros, como quem se senhoreia de uma presa a que têm direito.”
Dizem que foi Maquiavel que criou a filosofia política
moderna, mas a modernidade nasceu do desafio kantiano: “ousar pensar!”. E é
isso o apelo de La Boétie.
A confusão reside no facto da pós-modernidade recuperar
Maquiavel, o político que defende o “vale-tudo” e despreza o direito ao pensamento
próprio!
No pensamento pós-moderno é inconveniente que o Homem
procure saber ver mais claro para conhecer diferenças e assim melhor se
orientar no mundo, na vida, na sua relação com os outros homens.
Hoje quer-se a lógica do rebanho, a que faz com que um só
homem possa dominar os outros homens como se doma touros, como se o outro
homem, os outros homens, não fossem seus semelhantes, mas uma presa ou presas a
quem têm direito à posse.
Precisamos da Filosofia para sermos livres. É que a
liberdade não é não ter entraves à sujeição do domínio pelos outros. A
liberdade é saber escolher e, para isso, é necessária a filosofia.