terça-feira, junho 09, 2015

 

Festas de Amarante


As festas de Amarante foram sempre uma referência da minha infância e da minha adolescência. Em Folgoso, uma localidade a poucos quilómetros da Cidade, viviam os meus tios. E o meu avô tinha uma casa que dividia Amarante do Marco, a casa da Quintã, hoje de turismo rural.

Ficou-me, desde pequeno, a ideia de que a minha família escorregou das fraldas da Aboboreira, onde viveu o S. Gonçalo Dias, para as terras de S. Gonçalo de Amarante. Talvez, por isso, o meu santo de preferência é Gonçalo Dias.

Coisas da vida separam um santo do outro. S. Gonçalo de Amarante era dos lados de Vizela, de linhagem nobre, diz-se que era da família de D. Nuno Alvares Pereira. Pertenceu aos dominicanos, esses pregadores que se ligaram à pouca santidade da Inquisição. O meu, Gonçalo Dias, nasceu nas fraldas da Aboboreira, em S. João da Folhada, uns metros acima da minha casa. Guardou rebanhos na Aboboreira, mais tarde abraçou a uma ordem mendicante, os mercedários. Conviveu com fugitivos da inquisição no Perú, onde vivia em situação de pobreza. Dizia-se, inclusivamente, que era filho de um padre. E aqui, “ser ele e as circunstâncias” tem muito peso: é acrescentar ao pecado original o pecado da circunstância, que é muito mais grave! E ser santo com toda esta carga é preciso produzir muita virtude, o que, convenhamos, não é para qualquer um!

Nunca fui chauvinista! Mesmo não sendo natural de Amarante, o S. Gonçalo não travou as frequentes idas a esta Cidade, de bicicleta, de comboio e até a pé. Admirei sempre Amarante. É certo que é de lá um tal Ferreira Torres que foi presidente da Câmara do Marco e nomeado senador por  esse homem de grande verticalidade, Paulo Portas , e ultimamente adquiriu um outro defeito, o de lá ter nascido Francisco, não o santo e amigo dos pobres, mas o político mais neoliberal que socialista. Há, entretanto, uma atenuante: o pai de Assis era do Marco e de gente boa, até um seu tio protegeu a infância de Carmem Miranda, o que alivia um pouco.

Como se vê, algo nos astros continua a haver contra Amarante. O seu Mosteiro, durou cerca de 70 anos a ser construído, a sua ponte várias vezes destruída e  reconstruída até ter o brilhantismo arquitectónico que hoje tem e lá nasceu Ferreira Torre e Assis. Só espero que a paranóia de construir barragens onde houver um rio, não venha a dar cabo da Terra de Pascoais.

Estive no Zé da Calçada, um velho e simpático Restaurante. De lá vi o fogo, mas o que mais me tocou na alma foi aquele divinal bacalhau assado que me caiu no prato acompanhado pelo vinho do sr. Monteiro. E tive sorte, porque a GNR, que estava em força a fazer os testes de alcoolémia, não me fez paragem, enquanto conduzia o carro, com alguma displicência,  na direcção do Salvador, por volta das duas de manhã.

Por tudo isto, foi agradável estar com amigos numa terra que é a dos meus afectos.

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