segunda-feira, junho 09, 2014

 

Teixeira de Pascoais não merecia!

Fui ao Junho, a festa tradicional de homenagem a S. Gonçalo de Amarante. As homenagens, agora, como noutros tempos, têm muito que se lhes diga!... S. Gonçalo de Amarante, possivelmente, nunca existiu! Durante o Renascimento, os nobres precisariam de construir uma efabulação para enaltecer virtudes que raramente tiveram. A estória de S. Gonçalo de Amarante terá sido a narrativa que precisavam, sobretudo os que estavam ligados aos pregadores do Santo Ofício. É que só se conhecem referências a S. Gonçalo a partir do séc. XVI, pertencendo ele ao séc. XII! Convenhamos que tanto tempo sem se dar conta dele é de desconfiar e se suspeite ter sido uma criação que visava o objetivo referido, quando D. João III determinou a Construção do Convento, cujas obras duraram 80 anos, tempo suficiente para a estória criar raizes populares. Mas não vale a pena escandalizarmo-nos! Cavaco Silva vai homenagear (no chamado “Dia da Raça” e, para outros, como gosto mais, “Dia de Camões”) um homem que com a Goldman Sachs foi responsável pela falcatrua das contas da Grécia. E, tal como acontece com um castelo de cartas, os bancos foram os que mais sofreram. Mas em vez de se pôr o capital financeiro a responder por essa vigarice, o governo, com Cavaco na Presidência da República e Durão Barroso a ver as armas de destruição maciça, pôs todos os portugueses, sobretudo velhotes e funcionários públicos, a pagarem do seu bolso a falcatrua desse senhor. E no ”dia da raça” Cavaco vai homenageá-lo. É certo que tem a ver com os Bórgias, essa raça de banqueiros que deu que falar! Mas nós nada temos a ver com isso! Nem foram as estórias dessas raças que o Junho de Amarante me pôs a pensar. A festa ainda mantinha as tradições do meu tempo. Só Teixeira de Pascoais é que não merecia as partidas que lhe fizeram! O Poeta gostava da solidão, da harmonia cósmica e via nessa beleza a manifestação divina. Pois, rodearam-no de uma fauna pimba, com TVI a filmar esforçadas meninas em saltos estonteantes, pedidos de telefonemas para prémios de não sei quantos milhares de euros e piadas sacadas de tipo tira-rolhas. Ele, Teixeira de Pascoais, sentado, ali bem em frente, impávido, ficou a aguentar tudo isso! Despedi-me desse grande Poeta, que alguns consideram superior a Fernando Pessoa e vim a congeminar o que ele estaria a dizer: "que mal teria feito para me atormentarem com este vendaval pimba! Que saudade tenho do tempo em que Unamuno admirava comigo a beleza do Marão e lhe li este excerto de um dos meus poemas": Como eu ficava mudo E triste, sobre a terra! E uma vez, quando a noite amortalhava a aldeia, Tu gritaste, de susto, Olhando para a serra: — Que incêndio! — E eu, a rir, Disse-te — É a lua cheia!... E sorriste também Do teu engano.

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