sexta-feira, setembro 20, 2013

 

O messias e o herege

Escrevi para o Semanário Grande Porto, o seguinte texto que, hoje, vem publicado. "Para quem se dê ao trabalho de ler as frases que os cartazes sustentam nesta campanha autárquica terá ficado com um problema: perceber se estamos numa campanha política ou na propaganda de uma seita religiosa. A ambiguidade e o vazio dos slogans é o espelho do que se passa no país: silenciosamente, como não se dando conta, deixamos de pensar politicamente. Não é um problema da política, mas da falta de espaço para a exercer. Deste vazio, não é responsável a política, mas os políticos que, no interior dos sistemas partidários, se vão profissionalizando por arranjos aparelhistas, sempre à margem da vida civil, real, e sem se sujeitarem a critérios de mérito. Este pântano acompanha a crise financeira, gerando um paradoxo terrível: quem tem ideias para governar e se orienta por princípios não chega ao poder; só chega ao poder quem nenhuma ideia tem para governar e a nenhum princípio é capaz de obedecer. O esvaziamento da política, como espaço público de debate, acentuou-se com a crise, o desemprego, o corte de salários, a fome e a miséria. E a precaridade vai cavando o desânimo, a tendência para desistir da actividade cívica e política de debater problemas e lutar pela sua resolução. É neste terreno que o populismo e a demagogia se alastram como ervas daninhas. Um outro paradoxo surge: quanto mais cresce o número de cidadãos que desistem do debate político, mais a política fica entregue a burocratas, aldrabões, politiqueiros e demagogos. O debate é, então, substituído pelas promessas salvíficas, o político pelo messias: um fulano espetacular, uma espécie de salvador que torna supérflua a reflexão responsável, a luta e a solidariedade. Para este “messias” a sociedade é uma soma de indivíduos, ele pensa por todos e salvará cada um das penas deste mundo. E se aparece alguém independente com valor, que emerge das elites locais, fez currículo na vida empresarial, ganhou prestígio social e quer abrir espaço à política, é considerado herege e diabolizado pelos fanáticos do “messias”. Isso está a acontecer com a candidatura de Rui Moreira à Câmara do Porto. Não só foi colocado fora dos “sound bytes” dos títulos dos jornais e dos canais da TV (que só vão aonde aparecem os líderes partidários ou governantes), como, para dar largas à imaginação perversa, se escondem os resultados duma auditoria à Sociedade de Reabilitação Urbana (SERU) que o prestigia. Aqueles que ainda há pouco tempo louvavam o seu trabalho como gestor e empresário, admiravam a sua liderança na Associação Comercial do Porto e as suas propostas para o Porto de Leixões e Aeroporto Francisco Sá Carneiro, hoje silenciam tudo isso e fazem dele um herege, pondo em causa a sua genuína vontade de servir a sua Cidade, onde nasceu e a sente como Leal e Invicta. Mas pergunta-se: o que esperam, numa época de terrível austeridade, de uma propaganda feita de churrascos e Quins Barreiros, com cartazes por todo lado, ultrapassando já 70% de gastos do limite fixado por lei? Será que depende da vontade pessoal de um candidato que deixou o concelho vizinho na bancarrota, com o custo mais elevado do país de um bem primário, como a água, baixar em 30% as rendas dos bairros sociais, cobrir 65 recintos desportivos, construir túneis rodoviários e não sei mais o quê? Será que os cidadãos da Sempre Leal e Invicta Cidade não entendem que os custos da campanha de Meneses e as suas promessas vão ser apresentadas aos contribuintes e não ao bolso pessoal do candidato? Será que os portuenses vão recusar a oportunidade de terem à frente da sua cidade um gestor de reconhecido mérito, com ideias e que faz das boas contas o seu compromisso com os eleitores? Penso que os munícipes da Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto não se vão deixar infantilizar nestas eleições e o seu voto será determinado pela reflexão responsável e não pelo primarismo das emoções populistas.

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