quinta-feira, junho 27, 2013

 

Numa manhã de um dia de greve

“Que memória é essa que nos guarda” diz o poeta e escorreu-me logo a lembrança de velhas histórias, quando hoje, de manhã, acompanhado do Teixeira Pinto, recebi de braços abertos um velho amigo, Rui Braz. Foi um dos criadores do cinenima, festival que se realizava em Espinho. Chegou a ir com um filme ao Festival de Cannes.

Como é bom encontrar-se velhos amigos que a memória guardou de velhas noites, pesadas noites que lembram tempos que julgávamos não voltar e ameaçam regressar.

A memória trouxe-me o pesadelo de horas que ainda me assustam em sonho: há muitos anos atrás, convidou-me para ir falar à Universidade da Beira Interior sobre revoluções científicas. Tinha na altura publicado um livro sobre isso!

A comunicação era para mestrados, mas entraram na sala velhos professores e eu senti, de repente, a inutilidade do que ia dizer. Levava um texto escrito e um esquema que pensava seguir. Optei por ler o texto. Li-o e pareceu-me que nunca mais acabava de ler aquela meia dúzia de páginas. Transpirei com arrepios de um mal-estar. Saí-me melhor no debate, mas, ainda hoje, tenho pesadelos daquela vergonha. Quis-me entregar uma verba que tradicionalmente era destinada a essas iniciativas. Recusei-a decididamente, como quem recusa meter a mão no bolso de quem não ganhou confiança para isso. Recordamos este facto, mas como é amigo, um bom amigo, aliviou-me do pesadelo e disse-me que correi tudo muito bem.

Subia a Praça da Liberdade, quase deserta, como fosse domingo, mas um domingo feio de tristeza. O encontro com o amigo, escondeu a tristeza e como abrigo dos dias magoados, em que se partilhava uma luta contra o austericidio, ficou este feliz encontro.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?