sexta-feira, outubro 05, 2012

 

Libertemos a República

A República faz parte da minha natureza, mas hoje sinto-a presa a uma noite escura. Foi comemorada à porta fechada, de pernas para o ar e isso não é comemorar a República.

Tendo sido, em julgamento, perguntado a um soldado da revolução do 31 de Janeiro o que era para ele a República, respondeu como quem sente fazer parte daquilo que se ama muito: “é a minha mãe”. Por alguma razão, mãe também significa terra.

A República sempre foi um torrão comum, onde todos poderiam partilhar preocupações, afectos, memórias e criar expectativas. A República foi-nos confiscada. Sobre a República caiu, hoje, uma pesada mortalha, já não tem luz nem sonhos e celebrá-la só pode ser como Ana Maria, hoje, a cantou:

“Pedra em que a vida se alicerça,
Argamassa e nervo,
Pega-lhe como um senhor
E nunca como um servo”.

Ser, hoje, republicano é ser resistente, sonâmbulo numa noite triste, com lágrimas latejando uma profunda revolta e nos lábios a soletrar a continuação da canção com que Ana Mari a nos devolveu a capacidade de resistir, apelar a que a República de pernas para o ar não continue a sangrar a nossa dignidade de portugueses, a “não deixar que o travor das lágrimas embargue a nossa voz”:

“Não seja o travor das lágrimas
Capaz de embargar-te a voz;
Que a boca a sorrir não mate
Nos lábios o brado de combate”.
http://www.youtube.com/watch?v=fKY8oplEH8w

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