sábado, setembro 08, 2012

 
Regressado da Folhada, acabo de ler as novas medidas do Governo. Não sei porquê, dei comigo a pensar no seguinte: tenho de promover uma estátua para o homem que muito roubou na minha Terra: Zé do Telhado. Roubava, como refere Camilo, aos ricos para dar aos pobres.

É certo que os pobres são muitos e muitos e um bocadinho a cada um faz um roubo milionário. Mas para Zé do Telhado ser pobre já era sorte má: não merecia ser roubado e não era vantagem nenhuma: a polícia não chateia quem rouba aos pobres, os tribunais desconfiam que a culpa é dos pobres porque não sabem guardar o dinheiro e os políticos dessa área dizem sempre o mesmo: não há outra forma de ajustar a economia e um rico precisa sempre de muitos pobres para ser rico.

Naturalmente, há uma explicação para o procedimento do Zé do Telhado: Zé do Telhado tinha sido um grande trabalhador num trabalho que no fim do dia se vê o produto do mesmo: era jornaleiro, rachava lenha, rasgava a terra com o arado e muito cedo, de manhã, abria poças para que a água desse boa produção aos campos. Conhecia por isso o valor e o significado do ganhar a vida com o suor do rosto. Os zés do telhado que temos hoje, viveram sempre de expedientes, passaram a vida a cacarejar, nunca transpiraram, tal como os ricos, que procuram imitar, aprenderam muito cedo a vestirem fatos azuis e gravata, só usam sabonete e repudiam o sabão amarelo, tiraram cursos pelo telemóvel, olham com desprezo para quem trabalha, e, por isso, seguem o caminho mais fácil: roubam aos pobres para darem aos ricos, sempre com o fito de amanhã se tornarem tão ricos como aqueles para quem roubam.

Pouca sorte a nossa com os estadistas herdeiros do Zé do Telhado!


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