sexta-feira, agosto 24, 2012

 

Senhora da Aparecida.

A Freguesia de S. João da Folhada, onde me dedico á agricultura, tem uma história interessante. A sua Igreja Matriz foi construída em 1.084 e, pelo decreto 1.757, tornou-se no local das festas e procissões reais.

Nas inquirições pombalinas de 1758 era considerada terra fértil, devido às águas que descem a encosta da Serra da Aboboreira, boa para a pastorícia ovina e caprina e para a cultura do centeio; e, no seu sopé, do milho, do feijão, do trigo, da azeitona e da vinha.

Por alguma razão, ainda se aprecia o queijo da Aboboreira, o divinal cabrito assado e ganharam fama os vinhos de algumas quintas da Folhada, entre as quais o da Quintam (naquele tempo), hoje Quintã, tornada turismo rural.

Em muitos locais do seu subsolo possui vestígios de minerais fulgurosos, como o enxofre, cujas flutuações terão a ver com as fontes de águas termais que surgiram nas Caldas de Canaveses, abandonadas, mas em tempos consideradas as principais águas arsenicais da península, indicadas para combater doenças da pele, do reumatismo, etc.

Não admira, por isso, que gente que fez a história de Portugal fosse oriunda desta Terra, a minha Terra. No lugar do Barral, perto da minha casa, nasceu em 1556 Frei Gonçalo Dias, também conhecido por S. Gonçalo de Amarante, missionário que ficou conhecido como o pai dos pobres do Porto de Callao. E do Solar do Vinhal, hoje desaparecido, saiu, como se diz nas inquirições, muita nobreza para Portugal e Espanha. São lembrados, entre outros, Gonçalo Gil e Sousa Chichorro.

A Paróquia, no princípio do séc. XVIII, pagava uma renda de 400 mil reis aos Jesuítas. Mas, o ideal da vida beata pregado por essa Congregação foi olhado pelo reformismo iluminista como causa do atraso cultural do povo e, apoucados os padres inacianos, a renda foi reduzida para 200 mil reis.

O conflito entre Jesuítas e a Coroa, particularmente com o Marquês do Pombal, agravou-se tragicamente com o Terramoto de 1755. E tudo começou com as explicações das causas do fenómeno. O Pombal via no Terramoto um fenómeno físico e natural, enquanto os jesuítas explicavam-no pela ira de Deus contra os escândalos e desordens do reino.

É neste contexto que, no dia 13 de Maio de 1557, apareceu nesta Freguesia, tal como quase dois séculos depois em Fátima, Nossa Senhora.

Diz o relato das inquirições pombalinas “hua hora antes do occazo do sol, andando três creaturas de idade menor de menos de doze anos, apacentando huas ovelhas no sitio chamado o Outeiro do Preiro, sem que nada vissem, ouviram hua voz que as chamava cada coal por seo próprio nome, que eram duas marias e hua Thareza.(…) Logo a todas encomendou fossem a seo lugar e nelle dissessem a todos jejuassem a pão e agoa as primeiras sestas Feiras e Sábados”.

Para os crentes, o desígnio da Santa Senhora foi fomentar a vida piedosa tão abandonada pelos desvios do racionalismo ímpio da Corte, mas para outras perspetivas nessa aparição estava uma crítica ao rumo da política de pombal.

Talvez, as sanguinárias perseguições do Marquês tivessem abafado os apelos de Nossa Senhora da Aparecida, como é hoje conhecido o local, onde logo nesse tempo, em seu nome, foi erguida uma capelinha. Caso contrário, teríamos, hoje em Portugal dois grandes santuários: o de Fátima e o de S. João da Folhada.

Entretanto, nos próximos dias 31de Agosto, 1 e 2 de Setembro, a capelinha enche-se de devotos peregrinos: uns, muito pios e outros muito mais interessados na história e na riqueza da paisagem, como eu.

Se quiserem, apareçam por lá! Na quinta do Ribeiro, eu tenho sempre um copo de verde e um naco de presunto à espera de um amigo.


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