terça-feira, agosto 07, 2012

 

Marx morreu e Jesus Cristo não anda nada bem!

Inspirado em algumas reflexões que fiz por aqui, enviei o seguinte texto para o Semanário Grande Porto.

Marx morreu e Jesus Cristo não anda nada bem.

A queda do muro de Berlim foi um passo importante na construção de um mundo mais livre. Mas, a liberdade é instrumental: é um meio para promover os valores que protegem a dignidade humana. E quando os fins últimos são traídos, a história sofre um revés. Foi isso que aconteceu: os que depois da Segunda Guerra Mundial esperavam o derrube do muro para construírem uma Europa unida, solidária e ao serviço do bem-estar dos cidadãos, devem sentir uma frustração tremenda.

Fizeram-se acordos com os países emergentes que destruíram o capitalismo produtivo, desapareceu um bloco ideológico que fazia frente ao pensamento neoliberal e abriu-se a porta ao pensamento único que anestesia a capacidade crítica e alimenta a gula do capitalismo financeiro. Um novo Leviatã ergueu-se com agências de rating e os goldmen sachs, sugando, como um vampiro monstruoso, o sangue dos povos do Sul. Deitou-se ao caixote do lixo a utopia marxista de uma sociedade sem exploradores nem explorados, onde todos os homens fossem tratados de igual forma e vivessem com mais liberdade, mais igualdade e mais justiça. E os poderosos já não receiam a luta contra um capitalismo que trata o homem na produção e no consumo, como simples meio ou instrumento, uma “coisa” ou “mercadoria”, alienada e desumanizada. E de Jesus Cristo já quase só D. Januário Torgal lembra o Sermão da Montanha, defende os princípios morais da justiça proclamados no séc. XIII por S. Tomás de Aquino: o da justiça comutativa, segundo o qual o trabalhador tem direito ao preço justo, ao salário justo e à participação nos lucros; e o da justiça distributiva, defendendo que os bens devem ser distribuídos segundo as necessidades das pessoas e não na medida do mercado. Porque, como bem já sabia S. Tomás, numa sociedade onde a riqueza é melhor distribuída, o dinheiro circula mais e a qualidade de vida é melhor.

Só D. Januário parece compreender isto e ter força para lembrar a máxima da escolástica: “Os bens são de uns, mas são para todos” e a corrupção destrói a coesão social, fere os princípios da honra e da dignidade do Estado.

Quem, para além do Bispo das Forças Armadas, é capaz de frisar que o Estado tem a responsabilidade social de promover o bem-comum e o dever de propiciar os meios indispensáveis para que o homem, que vive do seu trabalho, seja defendido na sua dignidade e possa ser feliz nesta vida, como escreveu o papa Leão XIII na encíclica “Rerum Novarum”?

Hoje, estamos voltados de costas uns para os outros. Karl Marx morreu e Jesus Cristo já não anda nada bem. A política tornou-se numa profissão de má fama entregue a uma oligarquia que se transmite de pais para filhos sem escrúpulos, a corrupção corrói, como um cancro, os alicerces do Estado e o pensamento único serve de bandeira a um neoliberalismo que torna os mais pobres cada vez mais pobres e em maior número, e os mais ricos cada vez mais ricos e em menor número.

Já ninguém fala da Europa de Leste e de Oeste. Um capitalismo financeiro criou a Europa dos ricos e a dos pobres, a do Norte e a do Sul.

É este o revés histórico do fim das ideologias que a queda do muro de Berlim provocou.


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