terça-feira, março 13, 2012

 

Uma preocupação!

Honestidade intelectual, no meu entender, significa ligar o procedimento, que resulta do conhecimento, à moral. Penso que isso surge num processo aberto a um esclarecimento constante de concepções e posturas.

Estou a reler “O essencial sobre D. António Ferreira Gomes”, da autoria do Prof. Arnaldo de Pinho, um seu secretário. Conheci o Bispo do Porto. Fui um entusiasta leitor da sua carta a Salazar e das suas homilias, e senti necessidade de confrontar o que pensava do Bispo do Porto com aquilo que dele escreveu quem o acompanhou durante muitos anos e o conheceu bem, fazendo uma das suas teses de doutoramento sobre a sua obra.

Vale a pena ler este livrinho que a Imprensa Nacional-Casa da Moeda publicou. Muitas das críticas que D. António fez, podem servir de base a uma reflexão sobre o tempo que vivemos. Fez do seu lema “De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens” o projecto da sua vida e, por isso, foi mal entendido pela direita e também pela esquerda. Na crítica à “condição dos trabalhadores” associou a legislação laboral do tempo a um disfarce da “Carta del Lavore”.

Fui reler este texto de Moussolini que pretendia superar a autonomia dos sindicatos pela colaboração entre trabalhadores e patrões. Reparei que não é nova a pressão para fazer depender as organizações dos trabalhadores dos interesses dos governos, eufemísticamente designados interesses nacionais.

E, como não posso referir tudo o que este livrinho me fez pensar, só deixo três apontamentos colhidos de D. António: o primeiro, “não há ser pensante e volitivo que não tenha uma ideologia, senão é mesmo de reconhecer que tem várias e variadas”. Outro: ”dizer que não se faz política, que não se quer saber política, é a pior maneira de a fazer, mesmo que aquelas expressões fossem conscientes e sinceras: será fazer política como Mr. Jordain fazia prosa” Convém lembrar que na peça de Moliére, Mr. Jourdain fazia prosa sem o saber. Por último, um apelo que configura uma ideia-bandeira: “a liberdade enraíza numa ética de serviço e comunhão, e não apenas na afirmação dos direitos individuais”.

”O essencial sobre D. António” é um livrinho que se lê em duas horas, mas abre-nos para uma reflexão que nos ajuda a organizar a nossa preocupação com a honestidade intelectual.

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