quarta-feira, março 14, 2012

 

O mundo da vida gera um modo de proceder

O homem configura, no seu dia-a-dia, de modo inconsciente, um modo de ver. Este modo de ver e interpretar a relação do homem com os outros, o mundo e a existência pertence ao que os fenomenólogos chamam ”mundo da vida”.

Fazem-nos falta filósofos sistemáticos que, à luz do mundo da vida e dos saberes do tempo, rompessem uma interpretação da história e rasgassem ideias sobre o futuro.

Os filósofos são, de certa forma, profissionais do “saber pensar” e isso é o mais importante para a vida de cada um de nós. O último a instituir um discurso inovador do “saber pensar” foi Heidegger. Mas ficou emudecido perante o horror do holocausto. Foi como achasse que a História, o caminhar cronológico do tempo, tivesse encontrado um “buraco negro”. Não havia explicação para tanta crueldade.

De certa forma, o pragmatismo, tendo como único critério de valoração o interesse imediato, retirou ao tempo a sua configuração ideológica. Criou a ideia de “Fim das ideologias”, “Fim da história”, o que é o mesmo que negar a memória, as nossas raízes, o mundo da vida. Mas há sempre um modo de ver que herdamos e desenvolvemos para nos orientar no dia-a-dia, dar sentido aos acontecimentos e fazer história.

Esse “fundo cultural” é, quase sempre, ignorado nos novos cientistas sociais: apenas se interessam pela análise matemática dos factos.

Se estamos dois a almoçar e só um come um frango, a matemática não diz a verdade, se estatisticamente assegurar que cada um comeu meio frango.

O sentido dos factos, dos comportamentos, dos fenómenos, não vem da sua materialidade, mas do tal “fundo cultural” que dá um horizonte de sentido. Só á luz desse “horizonte” cultural podemos desocultar a “ideologia” que carrega o tempo e constrói a história. E ela é diferente, conforme as culturas que emergem do mundo da vida.

O Homem oriental vê no tempo uma fuga da existência e o Homem ocidental uma vitória sobre a morte, o que tem consequências diferentes na forma como cada um deles interpreta (culturalmente) o desespero da vida.

Um oriental, ao imolar-se pelo fogo, fá-lo na esperança de uma vida melhor para além da morte; enquanto um ocidental achará que terá de se “desenrascar” e se o desespero chegar ao limite, a revolta é a melhor forma de romper a falta de sentido para a existência.

Esta reflexão, pode parecer sem interesse, mas é, para mim, um apoio a uma análise crítica de alguns estudos sociológicos que ultimamente têm sido feitos sobre a adaptação das atitudes ou comportamentos dos portugueses face à crise.
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=544159

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