sexta-feira, outubro 14, 2011
É fácil hostilizar os trabalhadores nos períodos de grande desemprego e miséria!
Um dia concorri a um emprego numa determinada empresa. Foi antes do 25 de Abril. Soube que tinha sido preterido e o lugar entregue a uma pessoa com menos competências do que as que eu dispunha. Procurei saber a razão. Disseram-me que não podiam entregar o cargo a um comunista. E nessa altura, como hoje, era de esquerda, mas não comunista.
José Manuel Fernandes, hoje, no “Público” espanta-se com o facto de nenhuma manifestação ter sido convocada para o Funchal. Se se lembrasse dos tempos em que não era um arrependido de esquerda percebia que a ausência de manifestações na Madeira não reverte contra as pessoas que se querem manifestar, mas contra o regime Jardinista. As pessoas têm medo e o medo significa não ter oportunidades de emprego ou perder o emprego. E para as pessoas que precisam de trabalhar para comer, perder o emprego é perder o sentido da sua própria vida.
No regime salazarista, poucas pessoas participavam nas manifestações e isso não significava, como bem sabe o Jornalista, que apoiassem o regime.
Tão longe e tão perto estamos do velho tempo e, por alguma razão, o referido Jornalista já não compreende isto!
É fácil hostilizar os trabalhadores nos períodos de grande desemprego e miséria!
José Manuel Fernandes diz que “sem capitalismo não há liberdade”. Mete no mesmo saco tipos diferentes de capitalismo. Eu não sei se houve algum regime que não fosse capitalista. O próprio comunismo foi um capitalismo de Estado. O capitalismo a que se converteu o Jornalista e comentarista é o capitalismo financeiro, com a visão do lucro que tinha o capitalismo da primeira revolução industrial: sem submissão a regras, trabalhar para enriquecer o patrão e sujeitar a política aos interesses do capital. Tal capitalismo selvagem gerou e gera uma “miséria imerecida” e é contra esse capitalismo que os indignados se manifestam.
Acresce que a crise que vivemos, não provém apenas do agiotismo, mas também das vigarices dos madoffes, das negociatas, do regabofe de muita gente que agora prega moralidade e devia estar na cadeia. O dinheiro injectado no BPN dava para manter todos os 13º e 14º meses que nos vão roubar.
José Manuel Fernandes, na sua castidade política, não vê isto nem percebe a tremenda e injusta “miséria” que as medidas deste governo estão a criar e que só vão aumentar ainda mais a crise que vivemos.
Qualquer medíocre contabilista não precisava de mais imaginação para fazer o que este Governo faz. Esta política tornou-se num pesadelo e é preciso romper o medo para que uma nova política acenda luz no fundo deste tenebroso túnel.