sábado, setembro 03, 2011

 

A vitória da pouca-vergonha sobre a muita vergonha.

Nem sempre damos conta da revolução semântica que trouxe este capitalismo sem rosto, neoliberal. No tempo em que os capitalistas tinham rosto, sabíamos o nome do empresário, do banqueiro, etc. Uma falência era uma tragédia para o empresário e sua família.

Um falido era um homem triste, isolado pelo seu sentimento de culpa, no rosto espelhava-se a vergonha e a diminuição na honra. Quando se ouvia dizer “fulano faliu” associava-se a circunstância a uma mistura de “falta de cabeça”, desprezo e misericórdia. Neste capitalismo sem rosto, das sociedades anónimas, já não há falidos, mas insolventes que fecham uma empresa para se libertarem dos trabalhadores e dos calotes e abrem outra ao lado.

Os insolventes são homens felizes, olhados com consideração e respeito, referência para todos os que querem subir na vida e, por vezes, convidados para fazerem análises económicas e financeiras. Aparecem nas revistas cor-de-rosa, transportam-se em carros de topo de gama, têm um estilo de vida associados a um elevado estatuto social, são independentes num partido e têm um saber feito sobre a liberdade do mercado, a flexibilização do emprego, a revisão das leis laborais, a diminuição do tempo de férias e como o país seria mais rico e próspero se deixassem o mercado funcionar livremente, houvesse menos estado, menos sindicatos e mais sociedade.

De facto, é grande a diferença semântica entre insolventes e falidos.

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