quinta-feira, setembro 22, 2011

 

Eureka!

Ao saber que o Governo e o patronato propunham que se introduzisse na lei laboral o conceito de despedimento por menor produtividade, labutei para perceber a que critério se sujeitaria tal norma.

Sabia que o ministro da reforma da legislação laboral era um académico conhecedor das melhores fórmulas científicas. E isso obrigou-me a transcender-me na minha mediocridade. Servi-me, então, de todos os algoritmos para encontrar o que melhor me desse a justificação apropriada para tal enigma.

Estava quase a desistir, quando o telefone, mesmo há coisa de uma hora, tocou. A minha mulher pediu-me para a ir buscar ao Marquês.

Parei o carro junto ao Colégio da Paz e logo de seguida ouvi dois toques no vidro. Abri a porta e deparei-me com uma senhora que me disse: “são dez euros”. Olhei para ela, percebi a situação, e quase instintivamente meti a mão ao bolso, retirei os 10 euros e entreguei-lhos. Ela desapareceu, mas passado algum tempo voltou e com um ar espantado interrogou-me: “então não vem?!”

– Ó minha senhora, não quero nada, vá para casa coma uma sopinha e descanse.

Com um ar que não sei bem explicar, respondeu-me: “não posso ir, está lá o meu companheiro e se for cedo ele bate-me”

-- Fez-se, então, luz na resolução do enigma e, mais alto que Arquimedes, exclamei: eureka!

Tinha percebido que a troika -- Governo, patronato e companheiro daquela senhora -- tinham encontrado o mesmo critério para fazer do trabalho uma puta de vida.

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