sexta-feira, setembro 23, 2011

 

Este mundo não é para pobres?!...

Vem, hoje, no Semanário Grande Porto, o texto que escrevi:

O que me impressiona nas entrevistas aos governantes é a pecha dos entrevistadores pressuporem sempre que as perguntas têm de se enquadrar num pensamento único: o de que só há uma maneira de ver a crise e de a resolver.


Mas as maneiras de ver o mundo, organizar a economia, responder às crises são pontos de vista e não há pontos de vista privilegiados. E quanto mais sentido de responsabilidade, mais necessidade há de abertura a pontos de vista diferentes.


A consciência de responsabilidade está na origem da própria democracia. Significa não tomar decisões sem avaliar as suas consequências; e, para que isso aconteça, é imprescindível saber ouvir pontos de vista diferentes e responder às críticas.

Hoje, o próprio controlo das nossas existências parece não depender de cada um de nós, escapar-nos. A Troika tomou conta do nosso futuro. O Estado foi capturado pelo mercado financeiro e pelos interesses privados. Foi a gula pelo capital que criou esta crise. No entanto, fazem-nos crer que uma espécie de fatalismo, criado pelo desígnio dos deuses, obriga os que não são culpados pela crise a serem os que mais suportam o seu peso.

Por que será que os madoffs do B.C.P. e outros, os que foram administradores de empresas do Estado e municipais (que a si próprios atribuíram ordenados milionários), os que por uns dias de trabalho receberam reformas milionárias, os jardins que por aqui fazem do Estado uma coutada que vão empenhando em troca, nuns casos de proveito próprio e noutros de vaidades, não são responsabilizados pelo deficit?


É preciso levantar estas questões, esclarecer se nesta compulsão pelos impostos não há uma esquizofrenia que nos arrasta para a miséria; se o caminhar para o desenvolvimento de um país pode seguir o rumo de empobrecimento dos seus cidadãos; se o chavão ”menos estado, mais sociedade” não significa abrir as portas a um darwinismo social, como aconteceu no Chile; se a ocultação da divida por Jardim não significa o pântano da vida política; se a responsabilidade política não é uma farsa; se a possibilidade de banqueiros arrolarem duzentas (e por que não duzentas mil?) testemunhas não significa o lodaçal do sistema jurídico.


Precisamos de saber se não há neste mundo lugar para pobres, doentes, reformados; se têm de ser lançados no caixote do lixo os princípios do estado social em nome dos quais os nossos melhores antepassados quiseram que se construísse um mundo mais justo e mais humano.


Estas questões são tão importantes, quanto é importante que cada cidadão perceba que os impostos que paga são justos, que os mesmos não servem para desresponsabilizar o crime, a burla, o chico-espertismo.


Sem uma clarificação destas questões, naturalmente, a resistência ao pagamento insuportável de impostos acabará por se impor no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

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