quinta-feira, julho 28, 2011

 

Dá que pensar!...

Escrevi para o Semanário Grande Porto o seguinte texto:
No País onde se entrega o Prémio Nobel da Paz, onde se julgava dominar a tranquilidade e se repudiava o espírito securitário, uma bomba e rajadas de metralhadora criaram o caos e mataram dezenas de inocentes. Não foi obra da Al-Quaeda, mas de um fascista terrorista da extrema-direita.

Sempre se pensou que o terrorismo é a arma dos pobres, mas a Noruega é um país rico e pacifista; sempre se pensou que o racismo e a xenofobia eram uma consequência do etnocentrismo que “ghetizava” raças e crenças, mas, na Noruega, a miscigenação promoveu uma convivência intercultural, tolerante e pacífica.


De onde virá, então, o ultradireitismo fundamentalista e islamofóbico de Anders Behring Breivik? De onde virá o espírito de cruzada à Bin Laden desse tresloucado “Cavaleiro dos Templários”?
O que aconteceu em Oslo e em Utoya levanta muitas questões e, nenhuma delas, só por si, pode explicar a crueldade deste acto terrorista.

O caldo onde se desenvolve a extrema-direita mais radical foi sempre uma mistura entre xenofobia e desemprego, descrédito dos políticos e ausência de esperanças no futuro, nacionalismo chauvinista e globalização, multiculturalismo e perda de valores tradicionalistas, pobreza e corrupção.

Oslo não vivia isso, mas sabe-se que a extrema-direita cresce por todo o lado e faz romagens às sepulturas de nazis. Breivik parece um produto dessa mentalidade ao acusar o partido trabalhista norueguês de ser responsável por todas as “calamidades” europeias. E achou que era sua missão cometer os actos sanguinários que concretizou contra esse partido.

Não se trata, portanto, de um mero acto tresloucado, mas de uma ideologia fascista e terrorista.
Por que será que a Europa não cria os anti-corpos necessários à luta contra tal ideologia? Por que será que os serviços secretos subestimam o terrorismo da extrema-direita, mesmo depois do que aconteceu em Oklahoma?

Naturalmente, não é só com polícias que se combate uma ideologia. Esta impregna-se na mente humana com a força de uma crença que a mera perseguição acaba mais por reforçar do que esmorecer. A resposta tem de ter uma vertente cultural e política.

A crise económico-financeira da Europa é a crise do pensamento egoísta. Precisamos de abandonar o pragmatismo que tudo reduz ao útil, que transforma as pessoas em meras peças de uma máquina; precisamos de políticas que dêem um sentido à vida em sociedade, gerem sentimentos de confiança, de tolerância e de solidariedade; precisamos de uma Europa de valores e não de oligarquias burocráticas.

Só uma Europa humanista pode combater o terrorismo, seja ele de esquerda ou de direita.

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