quinta-feira, junho 16, 2011

 

A Escola em tempo de crise

Escrevi para o Semanário Grande Porto o texto que transcrevo:


Um dos desafios mais decisivos para o futuro do País que o pós-socratismo tem de encarar a sério, é , sem dúvida, o sistema educativo.

O modelo das direcções gerais, como nicho de boys que trata a educação como instrumento de marketing governativo, tem de ser substituído por outro que confie na autonomia das escolas, promova a dignificação do papel social dos professores, desburocratize o sistema, crie rigor na aprendizagem e promova nos alunos sentimentos de confiança no potencial da educação.


A escola não pode continuar a ser o local onde não se estimula o valor da competência, do trabalho, do dever, da honra e da solidariedade, onde a actividade de ensinar é uma frustração, o aprender uma maçada, o sucesso uma questão de estatística e o diploma uma inutilidade.


A crise económica e financeira que vivemos, empobreceu a classe média, tornou o trabalho num bem escasso quase só acessível aos mais talentosos. O impacto desta crise nas “perfomances” dos alunos é uma evidência.


O desígnio da escola forçosamente terá de ser o de propiciar a todos os alunos, nomeadamente aos mais fragilizados pela crise, os estímulos que precisam para ganharem confiança em si mesmos, fazendo da escola um lugar de vida e de esperança no Futuro. Mas isso só é possível, rompendo com o facilitismo, a hostilização e desautorização dos professores, o “experimentalismo” pseudo-pedagógico”, o desajustamento de programas e uma burocracia que obriga os professores a ocuparem o tempo, que lhes falta para preparação das aulas, em reuniões iníquas.

Muitas vezes, confunde-se a dignificação da imagem do professor com o seu vencimento. Mas a valorização dos professores está sobretudo associada ao reconhecimento social e político do papel da educação na formação de profissionais competentes e cidadãos honrados. Para desempenhar este papel, o professor não pode estar amargurado com a instabilidade profissional ou com a pressão irracional (e muitas vezes contraditória) dos despachos que emanam das direcções gerais.

O professor só pode estar empenhado e satisfeito com a sua profissão, se a centraliza no aluno e na disciplina que lecciona. Foi para isso que estudou, se licenciou e estagiou. E são essas as expectativas que os pais criam em relação aos professores dos seus filhos.


A escola socrática deslocou o centro das preocupações educativas para os interesses de propaganda do governo. Esperamos que a era pós-socrática rompa com esta situação e faça com que, em tempos de crise, a escola seja de rigor e rasgue horizontes de esperança.

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