sexta-feira, maio 13, 2011

 

O "crime" compensará?

Escrevi para o SEMANÁRIO GRANDE PORTO, o seguinte texto:

O “crime” compensará?

Paradoxalmente, este período pré-eleitoral, em vez de servir para clarificar os problemas do País, está a contribuir para confundir os eleitores, não se discutindo as verdadeiras causas duma crise que a todos atormenta.


Há três ideias centrais que estão presentes nos tratados clássicos sobre o bom-governo: o bom-governo é o que diminui o sofrimento dos que mais sofrem; não há desenvolvimento social (condição do estado social) sem crescimento económico; sem a poupança compatível com os recursos necessários ao financiamento dos investimentos não é possível o crescimento económico.


Naturalmente, quando os responsáveis pela gestão da “coisa pública” gastam mais do que o País produz, necessariamente têm de procurar nas instituições financeiras o dinheiro que lhes falta. E, como “em economia não há almoços grátis”, os empréstimos significam endividamento que gera perda de soberania e empobrecimento: os juros multiplicam a dívida e provocam o recurso ao aumento da carga tributária que, por sua vez, penaliza a qualidade de vida dos cidadãos e asfixia o crescimento económico.

Estas ideias têm sido desprezadas pela falta de sentido de Estado dos que geram os dinheiros públicos. Eles sabem que o povo gosta de “pasmar” com obras e, sem qualquer preocupação com uma ética da responsabilidade (avaliar consequências), fazem-lhe a vontade com investimentos que agradam à vista, servem os interesses da propaganda política, mas não constroem um Futuro melhor.

Foi com esta lógica que os governos de Sócrates aumentaram para o dobro (mais 82,9 mil milhões de euros) a divida pública que receberam, fazendo com que ela, hoje, atinja cerca de 160 mil milhões de euros. E não pega o embuste de culpar a crise global.

Foi também com essa lógica que, segundo dados de 2008, as autarquias se endividaram em 71 mil milhões de euros. Há, no entanto, uma excepção que, sem preconceitos ideológicos ou fanatismos partidários, deve ser enaltecida. Apesar de ter recebido uma pesada dívida, em grande parte associada às despesas com o Euro 2004 (que tantos elogios deram aos autarcas que o antecederam), Rui Rio conseguiu, em 2010, com menos receitas, reduzir a divida em 4,3 milhões de euros. E, por isso, há quem diga que era o melhor primeiro-ministro para esta situação de bancarrota.


Se a preocupação de Rui Rio fosse seguida por todos os autarcas e pelo Governo, a falta de sustentabilidade financeira do País não acabaria por rebentar em cima dos mais frágeis nem hipotecaria o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos.


E o mais confrangedor é que nós, com o nosso voto, não só não soubemos acautelar os seus direitos, como parece que nos preparamos para dar um triste sinal aos políticos: o de que o “crime” compensa!

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