quinta-feira, janeiro 06, 2011

 

Um Presidente diferente

Enviei para o Semanário Grande Porto, que sai amanhã, Sexta-Feira, o seguinte texto:



Um Presidente diferente


Portugal vive uma profunda crise. Não é só uma crise financeira ou económica: é, essencialmente, uma crise de esperança e de valores.


Vivemos apreensivos quanto ao nosso futuro, ao futuro dos nossos filhos e do nosso País. Cada um de nós sente-se deprimido como um mosquito perdido no interior de uma garrafa. Procura a saída pelos trilhos habituais e não percebe por que o meteram nesse negro desalento.


Dizem os antigos que o homem é um ser sem memória, incapaz de aprender com os erros e só confia nos hábitos. Habitua-se a ver o mundo com as mesmas lentes, a aceitar com resignação a corrupção, o mau governo e a política a subordinar-se ao poder económico. Mas é possível olhar de outra forma o modo de fazer política.


Como diria Nietzsche, se nos fixarmos no modo dominante de pensar, vamo-nos tornando rebanhos. Perdemos a confiança que configura a nossa vontade, os nossos valores e a nossa dignidade. Ficamos abúlicos numa sociedade vazia, sem esperança e sem solidariedade.


Para sair desta depressão colectiva, que nos tira o direito à esperança, precisamos de um outro paradigma, outra forma de olhar para nós, ver o mundo, a vida e a política.


E o ponto dessa viragem está, agora, ao nosso dispor: é possível escolher um novo presidente da República que vá contra a corrente, coloque a economia ao serviço da política, ponha travão ao egoísmo e à corrupção e ajude-nos a sair da depressão que nos diminui e faz de nós peças de uma mera máquina do poder.


Não basta que o presidente da República tenha talento para a economia, saiba ser árbitro nos jogos de poder ou possua a arte de bem falar. O fundamental é que saiba combater o que faz a injustiça, o que nega o direito e não abre portas ao futuro. A economia, se não gera felicidade, é uma maleita do egoísmo; e a palavra, mesmo bem elaborada, num tom poético, se não brota da humildade e do espírito de serviço, é um adorno que tanto ilustra um fidalgo como um plebeu.


Precisamos de um Presidente que seja um homem, verdadeiramente humano, que não pense só com o cérebro, nem se sirva apenas da retórica para indicar o que está mal. É necessário que pense também com todo o corpo: com as mãos para auxiliar necessitados, com o coração para sofrer com os que sofrem, com os pulmões para dizer, bem alto, o que faz falta, com o sangue para ferver com a injustiça, com os olhos para perceber o direito a um horizonte de felicidade que vive em cada homem.


Fernando Nobre não tem os vícios dos políticos. A sua vida é feita de um testemunho de solidariedade e generosidade. Só ele pode mudar a política de paradigma: ligando-a ao mundo da vida dos que desesperam por um emprego, pela justiça, pela saúde e por uma escola de rigor. E é disso que precisamos.


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