quinta-feira, novembro 25, 2010

 

É preciso mudar de política.

Escrevi no Semanário Grande Porto o seguinte texto:


A Greve Geral foi um estrondoso sobressalto cívico contra políticas que não promovem o desenvolvimento, que aumentam o desemprego, que tornam os pobres mais pobres, retirando apoios sociais, e que negam a negociação colectiva. O desprezo deste Governo pelo papel social dos sindicatos é sintomático das opções políticas de um governo, dito socialista.


É um escândalo que a crise esteja a ser um peso apenas para os mais pobres que nada fizeram para que a mesma surgisse e cuja resolução se apoie apenas na diminuição de salários e no aumento de impostos. É um escândalo que este Governo exija sacrifícios patrióticos aos que menos têm e faça aprovar na Assembleia da República uma disposição que exclui os que mais ganham da diminuição de vencimento que aos outros é feita; isto é, exclui os que mais ganham de contribuírem para a resolução da crise ou, por outras palavras, dispensa-os de serem patriotas.


Neste contexto, ninguém, esclarecido politicamente, esperaria que a contestação grevista não tivesse a dimensão que teve (cerca de três milhões), mesmo feita com sacrifícios enormes para quem muito pouco ganha, mesmo com trabalho precário e intimidações de toda a espécie.


Todas as expectativas criadas por jovens, por trabalhadores, pela classe média, por todas as profissões foram, por este Governo, dito socialista, frustradas. Só havia uma resposta: contestar as políticas deste Governo para o fazer reflectir. Mas fica a pergunta: será que quem nos Governa tem a grandeza suficiente para se interrogar: «por que deixamos chegar o País a este estado?»


Conh-Bendit, um dos rostos do Maio de 68 em França, publicou há tempos, no diário francês Libération, um manifesto: "Mudar a política para mudar de política".


É necessário “mudar a política para mudar de política”, mas será isso possível com um Governo descredibilizado, com falta de transparência, permitindo que a corrupção vá minando os fundamentos do estado de Direito, protegendo apaniguados e pondo em causa os princípios da igualdade perante a lei?


Este Governo rompeu o pacto entre cidadãos e governantes, deslegitimando o que funda a democracia, e tornou a acção política num exercício de cinismo: diz que tem preocupações sociais, mas converte os que não são rentáveis em “vidas sem valor”, gerando a indiferença pelo bem-comum, a desconfiança nas instituições, a ideia de que o Estado é vilão, a política inútil e a democracia negativa.


Precisamos urgentemente de debater o modo de fazer política para mudar a situação política que vivemos, o futuro do País e o papel dos partidos.


Só com outras formas de fazer política poderemos sair desta crise.

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