quinta-feira, julho 08, 2010

 

Falar verdade

O semanário “GrandePorto” publicará amanhã o seguinte texto que escrevi:

Falar verdade.


Cavaco Silva aconselhou, há dias, os que quisessem conhecer a verdade sobre a situação económica do País, consultarem o site da sua Presidência. Em causa estava a polémica sobre a ideia de insustentabilidade da situação económica, declarada pelo Presidente da República.

As reacções não se fizeram esperar. Sócrates, para quem (presume-se!) a verdade não galvaniza os portugueses, confessou que “se sente sozinho a puxar pelo País”. Manuel Alegre, mais incisivo, defendeu o Primeiro-ministro, considerando que ao Presidente da República “cabem não palavras de depressão, que desmobilizem os portugueses, mas uma palavra de confiança”. Mário Soares, num tom mais “soft”, considerou que, na sua óptica, um Presidente da República deve apenas dizer o que pensa que devem fazer os governos e não entrar em diagnósticos.


Falar ou não verdade, dizer meias verdades (que também são meias mentiras) tornou-se num problema nacional.

Mas esta questão não é nova. Karl Popper, na sua magnífica obra “A sociedade aberta e os seus inimigos” defende que, em democracia, o que é fundamental é a consciência de responsabilidade e ser responsável é falar verdade e dar resposta às críticas. Alexandre Koyré, num texto intitulado “Reflexões sobre a mentira”, esclareceu que a mentira foi sempre uma “arma de guerra”: mentia-se ao inimigo para o poder vencer. Mas, impunha-se uma condição para usar a mentira: não fazer do embuste uma arma contra os amigos e aliados. Na paz, surge, na política, associada à propaganda. E refere Koyré: “se nada é tão refinado como a técnica de propaganda moderna, nada é tão grosseiro quanto o conteúdo das suas afirmações, que revelam um absoluto e total desprezo pela verdade. E mesmo pela simples verosimilhança. Desprezo que não tem igual senão nesse outro – que ele implica – pelas faculdades mentais daqueles a quem ela se destina”.

Na verdade, a palavra fez o homem, segundo a religião e a própria antropologia. Por alguma razão, se diz que uma pessoa honrada é um homem de palavra; isto é, não falta à verdade.

A importância da verdade nas relações intercomunicacionais é decisiva para a coesão social e o bom funcionamento das instituições. Toleramos o engano, aceita-se a verosimilhança, mas toda a gente repudia a mentira.

Nunca sentimos tanto desencanto, tanta frustração e ausência de energias para encarar o Futuro, como hoje. Nunca na política se mentiu tanto!

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