segunda-feira, março 08, 2010

 

Tinha 12 anos. Não teve quem o ajudasse a reagir ao "bullying"

Leandro esperava ser feliz em Mirandela, na sua escola, como são as expectativas de qualquer menino, em qualquer escola do mundo, com 12 anos.

E a escola existe para isso: promover a boa convivência que possibilite gostar de aprender para ser um dia um profissional competente e um cidadão responsável.

Mas não aconteceu assim: Leandro, sem pássaros nem sonhos para ser feliz, fugiu, para sempre, às bárbaras sevícias dos “maiores” atirando-se ao rio Tua.

Esta tragédia não nos deveria deixar só na revolta: é preciso pensar as suas causas. Dizem que sempre houve “bullying” nas escolas, tal como sempre houve praxes violentas, mas o que nos distingue da barbárie é o promover o fim dos hábitos desumanos ou das tradições que não respeitam os elementares direitos das crianças ou dos cidadãos a não serem molestados, amesquinhados ou sofrerem qualquer tipo de violência gratuita.

Muitas são as causas ou factores do “bullying”: desestruturação da família, ausência de vigilância, cultura do “super-homem” que se afirma pela agressão, desprezo pelas regras de boa convivência e auto-exclusão que leva a agredir os outros como forma de afirmação de “superioridade”, etc.

Pode haver, no entanto, uma outra explicação. O “bullying” é um sucedâneo da “cultura” de “groupthink”que aparece em alguns manuais de gestão.

O sociólogo Irving Janis no seu livro “Victims of Groupthink” expõe os efeitos nefastos da cultura “groupthink”que surge nos conselhos de administração das empresas, mas também entre “bandos” que frequentam escolas, nas claques de futebol e, até, na política.

O conceito surgiu a Irving Janis, quando reflectia sobre a catástrofe do Challenger, tentando perceber por que é que um eminente grupo de cientistas tomou uma decisão trágica (lançar a nave espacial), mesmo quando todas as evidências de risco se tornavam claras, pois faltava testar os anéis da nave com as temperaturas que iriam sofrer.

Verifica que o fenómeno “groupthink” tem uma cultura própria, à qual se subordinam todos os seus elementos. Não se abre à crítica e recusa a autocrítica, gerando quatro efeitos nefastos: 1º, sob forte pressão da coesão, o grupo auto-exclui-se e cultiva uma lógica de “super-homens”, acossados por inimigos, invejosos ou indignos de partilhar com eles qualquer proximidade; 2º, a ordem do chefe é cegamente seguida e o que ele faz é imitado pelos seus sequazes; 3º,a opinião do chefe inviabiliza outras; 4º, Estudar, criticar, avaliar são consideradas formas de perder tempo.

Em casos extremos, o “groupthing” conduz a comportamentos desviantes de que o nazismo é um exemplo radical.

A escola está desmotivada e sem meios. Nas suas actividades desportivas ou disciplinares, não promove a educação dos sentimentos, a critica e autocrítica de comportamentos ou juízos, não ensina a saber lidar com as emoções e a saber argumentar em situações de conflito. Muito menos desenvolve o sentido da cooperação, da confiança mútua e da partilha de ideias para a formação de competências que geram lideranças de mérito. Não se discute o que deve ser um líder e o que, naturalmente, vão surgindo, sobretudo entre os repetentes, são “chefes” que desprezam regras, não se subordinam aos princípios da democracia e seguem a lógica “quem não está comigo é contra mim”.

É neste contexto que aparece o “bullying”, como sucedâneo do “groupthing” . E o pior é que mais tarde encontramos este tipo de “chefes” e seus seguidores nas claques futebolistas, nas empresas e até na política (onde o sucesso se faz, quase sempre, sem mérito), molestando os mais frágeis e tomando por inimigos, os diferentes, os que não pensam como eles.

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